Nem todos gostaram das mudanças anunciadas pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas após os protestos por mais diversidade entre os indicados ao Oscar. No anúncio feito na sexta-feira (22/1) em Los Angeles, a principal novidade foi que o voto dos acadêmicos – profissionais da indústria cinematográfica que somam cerca de 7 mil membros – não será mais perpétuo. Os integrantes da Academia terão direito a votar no Oscar por dez anos desde sua filiação, prolongando este direito por nova década se permanecerem ativos – isto é, se continuarem filmando ao longo do período.
Com isso, vários membros atuais perderão o direito a votar no Oscar 2017, eliminando um dos maiores obstáculos para as mudanças desejadas. Mas a solução já virou problema, originando uma nova controvérsia. Os eleitores mais velhos, que perderão o direito a votar, começam se insurgir contra a reforma, argumentando terem sido, injustamente, transformados em bodes expiatórios para um suposto racismo de Hollywood.
O cineasta Sidney J. Furie, de 82 anos, alega que sua geração foi pioneira ao premiar Sidney Poitier, o primeiro negro vencedor do Oscar de Melhor Ator, em 1963, e a indicar “No Calor da Noite”, estrelada pelo mesmo ator, como Melhor Filme em 1968. “Os mesmos que votaram para aqueles prêmios agora estão sendo acusados de serem entraves para a diversidade”, ele desabafou em um email.
Furie, entretanto, continua na ativa e não será afetado pela mudança das regras. O mesmo não acontece com o diretor Sam Weisman (“Perdidos em Nova York”), que não filma desde 2003. Ele assinou artigo na revista The Hollywood Reporter em que lista suas realizações, questionando porque deveria pagar o pato. “Estou sendo condenado por ter vivido quando vivi, após trabalhar duro e fazer sucesso o suficiente para me juntar à Academia. O torna a minha experiência de vida menos digna para não merecer um lugar ativo na Academia?”, ele questiona.
Segundo as publicações especializadas dos EUA, nos últimos dias a Academia recebeu diversas cartas raivosas. A ponto de Rod Lurie, diretor do remake de “Sob o Domínio do Medo” (2011), pedir “calma”. “A conversa se tornou muito violenta. Ninguém na Academia deve ser taxado de racista, mas obviamente há preconceitos criados pela demografia dos votantes”, disse, defendendo o ponto de vista da diretoria da entidade.
O fato é que a maioria dos membros da Academia não compreendem porque há uma insatisfação profunda pela falta de diversidade no Oscar. Afinal, até aqui, a premiação do Oscar sempre foi um consenso entre homens brancos idosos. De acordo com relatórios da mídia, 94% dos integrantes da Academia são brancos, 77% do sexo masculino e a média de idade entre os votantes é superior a 60 anos.
“Nós, os homens brancos, tivemos o poder nos últimos dez mil anos. Neste país, há pelo menos 250 anos. Você se acostuma a falar alto e a não ouvir ninguém. Então, essa insatisfação na Academia é semelhante ao barulho de dinossauros morrendo”, decretou o polêmico documentarista Michael Moore.