A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas reagiu rapidamente às críticas contra a falta de diversidade entre os indicados ao Oscar 2016. Historicamente avessa à mudanças, sempre buscando alterações sutis e de forma lenta, a entidade surpreendeu com um anúncio de medidas radicais. Antes mesmo de considerar o aumento de candidatos nas categorias da premiação, visando acomodar as minorias, a Academia optou por sacudir suas próprias estruturas.
A presidente Cheryl Boone Isaacs, que havia se declarado “desapontada” com a lista dos indicados pelo segundo ano consecutivo, tomou uma decisão histórica, com apoio de sua diretoria, para alterar as regras de filiação, que dão direito ao voto no Oscar. Uma mulher negra será responsável por trazer mais mulheres e minorias à tradicional instituição americana.
No anúncio feito na sexta-feira (22/1) em Los Angeles, a principal novidade foi que o voto dos acadêmicos – profissionais da indústria cinematográfica que somam cerca de 7 mil membros – não será mais perpétuo. Os integrantes da Academia terão direito a votar no Oscar por dez anos desde sua filiação, prolongando este direito por nova década se permanecerem ativos – isto é, se continuarem filmando ao longo do período. Apenas aqueles que tiverem uma carreira de mais de três décadas manterão o direito de votar permanentemente no Oscar, independente de sua aposentadoria.
Com isso, vários membros atuais perderão o direito a votar no Oscar 2017, eliminando um dos maiores obstáculos para as mudanças desejadas. Ao mesmo tempo, a Academia tentará buscar maior diversidade ao convidar novos integrantes para ocupar suas vagas.
De acordo com relatos da mídia, as premiações do Oscar sempre refletiram o gosto de homens brancos idosos. Os dados são brutais: 94% dos integrantes da Academia são brancos, 77% do sexo masculino e a média de idade entre os votantes é superior a 60 anos.
Por isso, por mais que incluísse representantes de minorias entre os votantes nos últimos anos, a maioria formada pelo veteranos da indústria continuava a barrar qualquer alteração significativa no conservadorismo do Oscar.
Além dessas mudanças entre os eleitores, a Academia adicionou três novos assentos para mulheres e minorias no conselho de sua administração. Assim, a governança da entidade passará a contar com 54 membros, que serão responsáveis por aprovar novas reformas no Oscar, visando dobrar o número de mulheres e minorias até 2020.
“As novas regras relativas à governança e votação terão impacto imediato e darão início ao processo de mudança significativa de nossa composição”, disse Isaacs.
Mais mudanças ainda serão discutidas em nova reunião da governança da Academia, marcada para terça (26/1), que, segundo apurou o site The Hollywood Reporter, deve abordar o aumento de candidatos nas categorias do Oscar 2017.
Com o anúncio de reformas, a Academia reage às críticas relativas à falta de artistas negros entre as indicações do Oscar deste ano. Pela segunda vez consecutiva, os eleitores da Academia esqueceram completamente de incluir negros nas principais categorias da premiação, embora tenham selecionado integrantes brancos de filmes dirigidos e estrelados por afro-americanos.
A ausência de negros inspirou um movimento de boicote, ensaiado pelo diretor Spike Lee e o casal de atores Jada Pinkett Smith e Will Smith, e até críticas de astros brancos, como George Clooney e Mark Ruffalo. Mais significativa, porém, foi a decisão do veterano compositor e produtor Quincy Jones de condicionar sua presença no evento, após ser convidado a entregar um prêmio, ao direito de discursar sobre o assunto.
A reação rápida de Isaacs também visa impedir que outros convidados se sintam estimulados a acrescentar comentários potencialmente danosos à reputação da Academia, durante a exibição da premiação, que é transmitida para todo o mundo.
A cerimônia de premiação do Oscar 2016 acontecerá no próximo dia 28 de fevereiro em Los Angeles, com apresentação do comediante Chris Rock e transmissão no Brasil pelos canais Globo e TNT.