As salas de cinema recebem nove lançamentos nesta semana. E entre os três filmes americanos, destinados aos shopping centers, encontram-se os piores da lista, por coincidência escritos pelo mesmo roteirista, Max Landis, que parecia promissor quando estreou com “Poder Sem Limites” (2012). Tanto “Victor Frankenstein” quanto “American Ultra” são derivativos, com premissas que remetem à séries de TV canceladas: respectivamente, a Inglaterra vitoriana dos monstros e da ciência fantasiosa de “Drácula”, e o subúrbio pitoresco do balconista/super-agente secreto de “Chuck”. O texto é tão ruim que permite a seus intérpretes bancar os canastrões – James McAvoy (“X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”) até diverte como cientista louco, mas a leseira de Jesse Eisenberg (“Truque de Mestre”) é apenas irritante.
Melhor entre os filmes de shopping center, “A Visita” marca a volta de M. Night Shyamalan (“Depois da Terra”) ao terror, aderindo à estética “found footage”. O longa usa câmeras amadoras e FaceTime para registrar as férias de um casal de crianças na casa dos avós, que logo se revelam sinistros. Com alusões à fábulas encantadas, em que as bruxas são sempre velhas, a trama brinca com aparências, dá bons sustos e mantém as surpresas características dos roteiros do cineasta.
A programação ainda inclui outro lançamento do gênero, mas em circuito limitado. “Para o Outro Lado” é a nova obra do mestre do terror japonês Kyoshi Kurosawa (“Pulse”). Lento e contemplativo, o drama sobrenatural acompanha o reencontro de um morto e sua antiga namorada, num lugar que tanto pode ser o Japão atual quanto o mundo do além. Foi vencedor do prêmio de Direção da mostra Um Certo Olhar, no último Festival de Cannes, e está mais para cinema de arte que horror.
Os destaques do circuito limitado, porém, são outros.
Também premiado neste ano em Cannes, na mostra Quinzena dos Realizadores, “Três Lembranças de Minha Juventude” configura-se como a obra mais fluída do cineasta francês Arnaud Desplechin, que traz Mathieu Amalric de volta ao personagem de “Como Eu Briguei (Por Minha Vida Sexual)” (1996). O filme é exatamente o que diz seu título, juntando três flashbacks episódicos para considerar o aspecto seletivo da memória e a importância que momentos diferentes da vida podem ter na formação da personalidade e do caráter. Na verdade, esta descrição não faz justiça à qualidade do longa, que atinge o sublime ao evocar a lembrança do grande amor da vida do protagonista.
Mas é um filme brasileiro que merece maior atenção dos cinéfilos. “Ausência”, de Chico Teixeira (“A Casa de Alice”), impacta com impressionante sutileza, ao acompanhar a vida de um adolescente suburbano, que se vê trabalhando desde cedo para ajudar a pagar as contas, após o pai sair de casa, levando tudo, até a televisão, e a mãe se revelar alcoólatra. A solidão é contornada por amizades, flertes, mas também permite abusos de confiança. A construção do personagem é tão consistente que rendeu ao jovem Matheus Fagundes o troféu de Melhor Ator no recente Festival do Rio.
Completam o circuito três documentários brasileiros, dos quais o mais fraco é justamente o de maior distribuição, “Chico – Artista Brasileiro”, sobre o vaidoso cantor, compositor e escritor Chico Buarque – após ele já ter sido objeto de uma exaustiva minissérie documental. Como perfil, “Ídolos” presta serviço mais relevante ao celebrar Nilton Santos, jogador mítico do Botafogo, eleito pela FIFA como melhor-lateral esquerdo de todos os tempos. Mas é “Iván” o projeto mais cativante. Simples em sua premissa e grandioso em sua execução, o filme acompanha um velho sobrevivente da 2ª Guerra Mundial, fugitivo dos campos de trabalhos forçados, numa viagem de volta ao seu país natal, a Ucrânia, após sete décadas vivendo no Brasil. O enfoque humanista, lindamente fotografado, recebeu os prêmios de Melhor Filme e Direção no Festival de Maringá.
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