Boa notícia para quem estava com saudade dos filmes de espionagem mais tradicionais: “007 Contra Spectre” retoma o velho estilo leve, aventuresco e cheio de clichês, desenvolvido ao longo dos anos pela franquia. Mas é uma má notícia para quem considerava um grande acerto os filmes sérios, dramáticos e trágicos mais recentes, como “007 – Cassino Royale” (2006) e “007 – Operação Skyfall” (2012), que traziam algo de novo para uma franquia que parecia destinada à repetição.
Este quarto filme estrelado por Daniel Craig continua a apresentar um Bond mais humano, mais sofrido, mas também mais forte e intenso nas cenas de ação. Nesse aspecto, pelo menos, a franquia mantém o rumo e Craig continua muito bem. O problema é o roteiro desinteressante e cheio de lugares comuns. O ator ter que dizer que o nome dele é “Bond, James Bond” é uma repetição que, em sua boca, fica parecendo uma incômoda obrigação contratual, já que a ideia dos novos tempos seria fugir do aspecto satírico da franquia.
Ele também continua exageradamente irresistível às mulheres. Dentro de poucos segundos, Monica Bellucci (“Irreversível”) já está entregando o ouro pra ele para, logo em seguida, desaparecer da história. E só demora um pouquinho para que Léa Seydoux (“Azul É a Cor Mais Quente”) já esteja dizendo que o ama, sem que sintamos qualquer aprofundamento no envolvimento afetivo dos dois, que se desenrola muito rápido dentro de uma situação de mistério, envolvendo o pai de sua personagem e uma organização terrorista.
Talvez com medo de descaracterizar o personagem antes de um novo reboot, os produtores sentiram a necessidade de uma volta às origens, de trazer de volta a Spectre, que tanto sucesso fez nos filmes estrelados por Sean Connery e Roger Moore, assim como o retorno de um certo vilão clássico. Com a diferença que aqui o vilão aparece bem menos caricato, por mais que Christoph Waltz (“Django Livre”) seja quase que um ator de um papel só. Se a gente pensar no mal que ele fez ao herói, deveríamos ter raiva do vilão, mas não é isso que ocorre. O que sentimos é mesmo indiferença.
A produção até começa bem, com um prólogo na Cidade do México, uma boa ambientação no Dia dos Mortos e uma situação divertida envolvendo um avião. Até daria para traçar um paralelo com o prólogo de “Missão Impossível – Nação Secreta”. Mas quando entram em cena os tradicionais créditos com a música de abertura, o clima brega se instala. Sem falar que a canção-tema, “Writing’s on the Wall”, de Sam Smith, é bem pouco expressiva.
Algumas cenas de ação se destacam, como uma perseguição de automóveis e principalmente a luta do herói com o brutamontes vivido por Dave Bautista (“Guardiões da Galáxia”). Juntando a cena do prólogo, pode-se contar essas três como as mais empolgantes, por assim dizer.
Mas entre trancos, barrancos, abismos e explosões, “Spectre” abandona o realismo buscado anteriormente, investindo numa jornada que não se preocupa muito em ser verossímil, apesar de tratar tudo com muita seriedade.
Quando surge um resquício de humor no filme, ele é muito sutil, até pela essência desse novo Bond, traumatizado pela morte de pessoas queridas. Mas como não ironizar um supervilão fanfarrão que faz questão de explicar coisas que não fazem muito sentido? “007 Contra Spectre” erra o tom, ao levar a sério uma aventura à moda antiga de James Bond.