A Forma da Água conquistou o Oscar 2018, mas a grande vitória foi da inclusão e da diversidade

A conquista de “A Forma da Água” no Oscar 2018 representou a culminação daquela que possivelmente foi a cerimônia mais séria da história da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados […]

A conquista de “A Forma da Água” no Oscar 2018 representou a culminação daquela que possivelmente foi a cerimônia mais séria da história da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos. Com poucas piadas e muita politização, a 90ª premiação do Oscar fez mais que celebrar a diversidade em Hollywood, dedicando parte significativa da transmissão da noite de domingo (4/3) para demarcar terreno em questões de inclusão das mais variadas minorias.

Um “viva México” foi exclamado na vitória de “Viva – A Vida É uma Festa”, na categoria de Animação, e se estendeu nos discursos de Guillermo del Toro, como Melhor Diretor e produtor do Melhor Filme, com um conselho para jovens de outros países entrarem chutando a porta na indústria cultural dos Estados Unidos. Os “dreamers”, a geração de jovens imigrantes que Donald Trump também quer chutar – para fora dos Estados Unidos – , foram citados nominalmente em discursos, fazendo a bandeira da imigração tremular no palco do Dolby Theatre com várias cores.

O palco também reuniu algumas atrizes que denunciaram assédios, trazendo para os holofotes a parte mais sombria da indústria. Annabella Sciorra, Ashley Judd e Salma Hayek, que revelaram os podres de Harvey Weinstein, representaram o movimento #MeToo e a iniciativa Time’s Up com uma mensagem clara, sobre como serão os próximos 90 anos de cinema: definidos por “igualdade, inclusão, diversidade, internacionalidade”. E para ilustrar a pauta, apresentaram uma espécie de documentário, com depoimentos de cineastas em evidência – Greta Gerwig, Jordan Peele, Ava Duvernay, Barry Jenkins e Kumail Nanjiani – sobre o tema da representatividade. O vídeo evocou fato de, durante toda a vida, eles terem visto apenas filmes feitos por homens ou sobre brancos heterossexuais. Mas, de repente, passaram a ter “Pantera Negra”, “Mulher-Maravilha” e “Corra!”. E “não vamos embora”.

Como para reforçar esse discurso, Jordan Peele se tornou o primeiro negro a vencer o Oscar de Melhor Roteiro Original, por “Corra!”.

Por sua vez, Frances McDormand, ganhadora do Oscar de Melhor Atriz por “Três Anúncios para um Crime”, fez uma conclamação à indústria para prestar atenção às mulheres indicadas na cerimônia, que se ergueram sob seu comando, sugerindo que todas exigissem uma cláusula de inclusão em seus contratos – “inclusion rider” – , para que os sets sejam obrigatoriamente diversificados – como 50% mulheres e 50% homens, ou 50% brancos e 50% negros, ou outra combinação estatística. O termo “inclusion rider” imediatamente se tornou viral nas redes sociais, após o discurso.

A inclusão também se manifestou duplamente na premiação de James Ivory, pelo Roteiro Adaptado de “Me Chame Pelo Seu Nome”. A Academia não apenas considerou uma história de amor LGBT a melhor do ano, mas também fez de Ivory a pessoa mais velha já premiada com um Oscar, aos 89 anos de idade. E ele nem foi o mais idoso presente na cerimônia. Vários representantes da Terceira Idade marcaram presença, num sinal de que mudanças e respeito podem conviver em harmonia.

Para completar, a conquista do chileno “Uma Mulher Fantástica”, como Melhor Filme Estrangeiro, reforçou a latinidade que tornou o espanhol a segunda língua oficial da cerimônia, além da pauta LGBT.

É significativo que Harvey Weinstein só tenha sido citado no monólogo de abertura do apresentador Jimmy Kimmel. O decorrer da cerimônia deixou claro que o tempo dos protestos já ficou para trás. Vestidos pretos, broches e o Globo de Ouro parecem ter acontecido em outra época. Porque o Oscar 2018 só focou no futuro, reforçando que as mudanças começam já e esta é a nova Hollywood que os artistas querem construir, muito mais diversificada que as imagens dos clipes de filmes clássicos exibidos durante a transmissão.

Sim, Gary Oldman confirmou o favoritismo como Melhor Ator por “Destino de uma Nação”, Roger Deakins finalmente ganhou seu Oscar de Melhor Fotografia, em sua 13ª indicação, por “Blade Runner 2049″… Prêmios foram distribuídos (confira a lista completa abaixo), mas a verdade é que o Oscar 2018 não soou como um evento de celebração dos melhores talentos do ano passado. Foi mais que isso, um manifesto uníssono e grandioso contra o status quo e pelo futuro do cinema.

Hollywood nunca mais será a mesma.

Vencedores do Oscar 2018

Melhor Filme
“A Forma da Água”

Melhor Direção
Guillermo del Toro (“A Forma da Água”)

Melhor Ator
Gary Oldman (“Destino de Uma Nação”)

Melhor Atriz
Frances McDormand (“Três Anúncios Para Um Crime”)

Melhor Ator Coadjuvante
Sam Rockwell (“Três Anúncios Para um Crime”)

Melhor Atriz Coadjuvante
Allison Janney (“Eu, Tonya”)

Melhor Roteiro Original
Jordan Peele (“Corra!”)

Melhor Roteiro Adaptado
James Ivory (“Me Chame Pelo Seu Nome”)

Melhor Documentário
“Icarus”

Melhor Animação
“Viva – A Vida É Uma Festa”

Melhor Filme em Língua Estrangeira
“Uma Mulher Fantástica” (Chile)

Melhor Fotografia
Roger Deakins (“Blade Runner 2049”)

Melhor Edição
Lee Smith (“Dunkirk”)

Melhor Trilha Sonora Original
Alexandre Desplat (“A Forma da Água”)

Melhor Canção Original
“Remember Me”, de “Viva – A Vida É Uma Festa”

Melhor Direção de Arte
Paul Denham Austerberry, Shane Vieau e Jeff Melvin (“A Forma da Água”)

Melhor Figurino
Mark Bridges (“Trama Fantasma”)

Melhor Maquiagem e Cabelo
“O Destino de Uma Nação”

Melhores Efeitos Visuais
John Nelson, Gerd Nefzer, Paul Lambert e Richard R. Hoover (“Blade Runner 2049”)

Melhor Mixagem de Som
Mark Weingarten, Gregg Landaker e Gary A. Rizzo (“Dunkirk”)

Melhor Edição de Som
Richard King e Alex Gibson (“Dunkirk”)

Melhor Curta-metragem
“The Silent Child”

Melhor Curta de Animação
“Dear Basketball”

Melhor Documentário em Curta-metragem
“Heaven Is a Traffic Jam on the 405”