#Alive: Filme sul-coreano de zumbis vira primeiro blockbuster mundial pós-pandemia
A covid-19 não foi capaz de deter os zumbis na Coreia do Sul. Depois do blockbuster “Invasão Zumbi” e da impressionante série da Netflix “Kingdom”, a indústria audiovisual sul-coreana lançou outro fenômeno de mortos-vivos, “#Alive” (#Saraitda), que bateu recorde de público em sua fim de semana de estreia nos cinemas recém-abertos do país. O primeiro filme escrito e dirigido por Il Cho (co-produtor de “Assassino Profissional”) atraiu mais de 200 mil espectadores só no dia de estreia, quarta-feira passada (24/6), e continuou lotando cinemas. Neste domingo, a soma superou a marca de 1 milhão de espectadores. Os números fazem de “#Alive” o maior lançamento sul-coreano de 2020 e o primeiro blockbuster do mundo após o começo da pandemia de coronavírus. Além do fascínio sul-coreano pelos zumbis, a produção contou a seu favor com dois jovens astros muito populares no país, Yoo Ah-In (o protagonista de “Em Chamas”) e Park Shin-Hye (da série “Memórias de Alhambra”). Eles vivem sobreviventes ilhados em seus apartamentos quando zumbis tomam conta das ruas da cidade. Na trama, até descobrir Park Shin-Hye num prédio vizinho, o personagem de Yoo Ah-In credita estar sozinho em meio à horda de mortos-vivos. A descoberta faz os dois abandonarem seus planos de isolamento social em seus apartamentos para tentarem um encontro arriscado. Veja o trailer e quatro pôsteres da produção abaixo, que ainda não tem previsão de estreia em outros países.
Em Chamas é filme raro para ver, ler o livro e rever novamente
Veja o filme, leia o conto, reveja o filme. Não é sempre que a gente se sente compelido a fazer isso, graças a uma obra cinematográfica capaz de intrigar e maravilhar. Mas este é o caso de “Em Chamas”, do diretor sul-coreano Lee Chang-dong, cuja última obra para cinema havia sido “Poesia” (2010). Passou tanto tempo assim entre um filme e outro e acabou por preservar um cineasta de maior quilate. O conto que inspirou o longa, “Queimar Celeiros”, contido no livro “O Elefante Desaparece”, de Haruki Murakami, é bem sintético em sua trama. Chang-dong acrescenta muita coisa a partir de uma história aparentemente simples e que se passa em sua maior parte na varanda da casa do personagem Jong-su (Ah-in Yoo, de “Sado”), onde ele recebe o casal Hae-mi (a estreante Jun Jong-seo) e Ben (Steven Yeun, mais conhecido como o querido Glenn, da série “The Walking Dead”). O próprio Chang-dong confessa que destinou mais esforço e energia para esta cena e para a cena final. As demais, ainda que maravilhosas também, ele dirigiu dando menor importância. Isso não deixa de ser coerente com o que vemos no filme, mas também não deixa de ser impressionante, levando em consideração a grande quantidade de cenas estupendas da obra, mesmo em sua sutileza. Vendo o filme pela segunda vez, por exemplo, é possível notar certos detalhes e belezas que na primeira podem passar desapercebidos. A própria aproximação de Hae-mi com Jong-su é feita com esmero. A moça, que no início não parece ser tão interessante assim para o rapaz, passa a se tornar cada vez mais digna de seu afeto, embora no começo ele não saiba disso. Na casa de Hae-mi, quando os dois fazem sexo, e Jong-su, um aspirante a romancista, olha com atenção e interesse para os arredores e para a janela do quarto, é como se ele estivesse procurando entender e captar melhor aquele momento de sua vida. E depois há coisas um tanto surreais, como o gato que nunca aparece; ou o tal celeiro que, apesar de mencionado, também não é detectado, assim como a garota que desaparece. A história acontece depois que Hae-mi volta da África e conhece Ben, um rapaz que é tudo que Jong-su não é: confiante, rico, tranquilo e bem-sucedido. “Como ele mora em uma casa como essa tendo a idade que tem?”, Jong-su pergunta a Hae-mi, a namorada de Ben. E esse nem é um dos grandes mistérios que intrigam Jong-su. O desaparecimento de Hae-mi é que o atormenta e passa a ser a razão de sua existência. Assim como encontrar o tal celeiro queimado por Ben. Quanto à tal cena da varanda, ela é tão cheia de encantamento que faz o coração do espectador pulsar mais forte. Tanto no momento em que os três estão fumando um baseado, quanto na cena da dança de Hae-mi, que parece saída de um filme de David Lynch. Isso se dá principalmente pela inclusão de uma música de Miles Davis, a mesma que aparece em “Ascensor para o Cadafalso” (1958), de Louis Malle. O próprio Chang-dong disse que gosta muito do filme de Malle, em entrevista para a revista Cinema Scope (edição 75). Se há algo no filme capaz de empolgar menos são as cenas em que Jong-su tenta lidar com a prisão do pai. O reencontro com a mãe é interessante, mas toda a parte com o pai parece pequena diante da trama principal, quase como se fosse possível destacar. Funciona mais para acentuar o aspecto da solidão e abandono a que o personagem foi submetido. No mais, há muito o que se alimentar da riqueza de “Em Chamas”, seja tentando entender mais detalhes de sua trama, seja se aproveitando também das influências literárias (o próprio Murakami, William Faulkner, F. Scott Fitzgerald) e musicais, seja adentrando na profundidade e no abismo de seus personagens. Não é sempre que vemos um filme assim.

