Joel Schumacher (1939 – 2020)
O cineasta Joel Schumacher, de “Batman Eternamente” (1995) e “Batman e Robin” (1997), faleceu nesta segunda-feira (22/6) aos 80 anos, enquanto enfrentava um câncer. Schumacher teve uma longa carreira em Hollywood, iniciada como figurinista de “O Destino que Deus Me Deu”, dramédia estrelada por Tuesday Weld em 1972. Ele chegou a Los Angeles após ter trabalhado como desenhista de roupas e vitrinista em Nova York, e se estabeleceu rapidamente na indústria cinematográfica, quebrando o galho até como cenografista em “Abelhas Assassinas” (1974). Após assinar figurinos de filmes de Woody Allen – “O Dorminhoco” (1973) e “Interiores” (1978) – , foi incentivado pelo cineasta a escrever e, eventualmente, tentar a direção. O incentivo rendeu os roteiros da famosa comédia “Car Wash: Onde Acontece de Tudo” (1976) e do musical “O Mágico Inesquecível” (1978), versão de “O Mágico do Oz” com Diana Ross e Michael Jackson, dois sucessos absurdos dos anos 1970. Com essas credenciais, conseguiu aval para sua estreia na direção, que aconteceu na comédia sci-fi “A Incrível Mulher que Encolheu” (1981), logo seguida por “Taxi Especial” (1983), produção centrada na popularidade do ator Mr. T (da série “Esquadrão Classe A”). O trabalho como diretor começou a chamar atenção a partir do terceiro filme, quando Schumacher demonstrou seu raro talento para escalar atores. No drama “O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas” (1985), ele juntou uma turma jovem que marcou a década de 1980: Demi Moore, Rob Lowe, Emilio Estevez, Judd Nelson, Andrew McCarthy e Ally Sheedy – apelidados de “brat pack” pela mídia. O sucesso comercial veio com dois terrores inventivos, que viraram exemplos da chamada “estética MTV” no cinema. Ele usou elementos de clipes para dar uma aparência juvenil aos temas sobrenaturais. Em “Os Garotos Perdidos” (1987), filmou uma história de vampiros delinquentes, reunindo pela primeira vez os atores Corey Haim e Corey Feldman, que formariam uma dupla inseparável ao longo da década, ao mesmo tempo em que explorou a imagem de Jim Morrison, cantor da banda The Doors, como referência para uma juventude vampírica que se recusava a envelhecer. Em “Linha Mortal” (1990), juntou o então casal Kiefer Sutherland (seu vilão em “Os Garotos Perdidos”) e Julia Roberts num grupo de estudantes de Medicina (com Kevin Bacon, William Baldwin e Oliver Platt) que decide colocar a própria saúde em risco para descobrir se havia vida após a morte. Os dois filmes tornaram-se cultuadíssimos, a ponto de inspirarem continuações/remakes. Entre um e outro, ele ainda explorou o romance em “Um Toque de Infidelidade” (1989), remake do francês “Primo, Prima” (1975), com Isabella Rossellini, e “Tudo por Amor” (1991), com Julia Roberts. E assinou clipes de artistas como INXS, Lenny Kravitz e Seal – a tal “estética MTV”. Já tinha, portanto, uma filmografia variada quando se projetou de vez com o thriller dramático “Um Dia de Fúria” (1993), um dos vários filmes estrelados por Michael Douglas que deram muito o que falar no período – durante sete anos, entre “Atração Fatal” (1987) e “Assédio Sexual” (1994), o ator esteve à frente dos títulos mais controvertidos de Hollywood. O longa mostrava como um cidadão dito de bem era capaz de explodir em violência, após o acúmulo de pequenos incidentes banais. A projeção deste filme lhe rendeu status e o convite para dirigir o terceiro e o quarto longas de Batman. Mas o que deveria ser o ponto alto de sua trajetória quase acabou com ela. O personagem dos quadrinhos vinha de dois filmes muito bem-recebidos por público e crítica, assinados por Tim Burton, que exploraram uma visão sombria do herói. Schumacher, porém, optou por uma abordagem cômica e bem mais colorida, chegando a escalar o comediante Jim Carrey como vilão (o Charada) e introduzindo Robin (Chris O’Donnell) e até Batgirl (Alicia Silverstone). Ele também deu mais músculos ao traje usado por Val Kilmer em “Batman Eternamente” (1995) e mamilos ao uniforme de George Clooney em “Batman e Robin” (1997) – o que até hoje rende piadas. Abertamente homossexual, Joel Schumacher acabou acusado por fanboys de enfatizar aspectos homoeróticos de Batman. Diante do fiasco, a Warner se viu obrigada a suspender a franquia, que só voltou a ser produzida num reboot completo de 2005, pelas mãos de Christopher Nolan. Em meio à batcrise, o diretor também filmou dois dramas de tribunal, “O Cliente” (1994) e “Tempo de Matar” (1996), inspirados por livros de John Grisham, que tampouco fizeram o sucesso imaginado pelo estúdio, aumentando a pressão negativa. Sem desanimar, ele realizou o suspense “8mm: Oito Milímetros” (1999), juntando Nicolas Cage e Joaquin Phoenix, e ainda foi responsável por lançar Colin Ferrell em seu primeiro papel de protagonista no drama “Tigerland – A Caminho da Guerra” (2000). Ambos receberam avaliações positivas. Mas entre cada boa iniciativa, Schumacher continuou intercalando trabalhos mal-vistos, o que fez com que diversos momentos de sua carreira fossem considerados pontos de “retorno” à melhor fase. O elogiadíssimo suspense “Por um Fio” (2002), por exemplo, com Colin Ferrell basicamente sozinho numa cabine telefônica, atingiu 76% de aprovação no Rotten Tomatoes e assinalou o momento mais claro de “renascimento”. Só que em seguida veio o fracasso dramático de “O Custo da Coragem” (2003), com Cate Blanchett e – novamente – Ferrell, fazendo com que o trabalho seguinte, a adaptação do espetáculo da Broadway “O Fantasma da Ópera” (2004) fosse visto como mais uma chance de recuperação. Cercado de expectativa, o musical estrelado por Gerard Butler e Emmy Rossum se provou, contudo, um fiasco tão grande quanto as adaptações de quadrinhos, encerrando o ciclo de superproduções do diretor. O terror “Número 23” (2007), com Jim Carrey, foi a tentativa derradeira de recuperar a credibilidade perdida. E acabou-se frustrada. Schumacher nunca superou as críticas negativas a esse filme – 8% de aprovação no Rotten Tomatoes – , que tinha conceitos ousados, mas foi recebido como sinal evidente de fim de linha. Ele ainda fez mais três filmes de baixo orçamento, dois deles para o mercado europeu, abandonando o cinema ao voltar a Hollywood para seu último fracasso, “Reféns” (2011), estrelado por Nicolas Cage e Nicole Kidman. Na TV, ainda comandou dois episódios da 1ª temporada de “House of Cards”, ajudando a lançar o projeto de conteúdo original da Netflix em 2013. De forma notável, dezenas de pessoas que trabalharam com Schumacher, nos sucessos e nos fracassos, mobilizaram-se nas últimas horas para lembrar no Twitter que ele não é só o diretor dos piores filmes de Batman. O cineasta foi “uma força intensa, criativa e apaixonada” nas palavras de Emmy Rossum. “Ele viu coisas mais profundas em mim que nenhum outro diretor viu”, apontou Jim Carrey. “Ele me deu oportunidades e lições de vida”, acrescentou Kiefer Sutherland, concluindo que sua “marca no cinema e na cultura moderna viverão para sempre”. Muitos ainda lembraram dele como mentor e amigo. O roteirista Kevin Williams contou como foi convidado para ir a um set por Schumacher e recebeu conselhos que considera importantes para sua carreira. E Corey Feldman revelou, sem filtro, que “ele me impediu de cair nas drogas aos 16 anos”, citando como foi enquadrado e quase demitido pelo cineasta em “Os Garotos Perdidos”. “Pena que eu não escutei”.
Paul Schrader lamenta que Spike Lee tenha recuado após defender Woody Allen
O sempre polêmico Paul Schrader não gostou do recuo de Spike Lee, que defendeu Woody Allen num programa de rádio e depois se desculpou ao ser atacado nas redes sociais. “É desapontador. Se alguém poderia enfrentar a multidão do linchamento neste momento seria o Spike [Lee]. Mas aparentemente não. Eu segui a história de Woody, li a sua autobiografia e, francamente, acho mais credível que o discurso de Farrow“, escreveu no Facebook o roteirista de clássicos como “Táxi Driver” (1976), “Touro Indomável” (1980) e diretor de “Gigolô Americano” (1980), “A Marca da Pantera” (1982), “Temporada de Caça” (1997) e “Fé Corrompida” (2017), entre outros. Spike Lee chegou a reclamar, durante uma entrevista no sábado (13/6) no programa “In the Morning”, da rádio WOR de Nova York, da campanha de cancelamento contra Woody Allen fomentada nas redes sociais. “Gostaria de dizer que Woody Allen é um grande, grande cineasta e esse tipo de cancelamento não é apenas com Woody. Eu acho que, quando olharmos para trás, veremos que, a menos que se mate alguém, não há como você apagar pessoas como se nunca tivessem existido”, ele disse. E ainda acrescentou: “Woody é um amigo meu, um colega fã dos Knicks, então eu sei o que ele está passando agora.” Não demorou muito para Lee começar a “passar” por isso também, com ataques nas redes sociais por ter “ousado” defender Woody Allen. Sua reação foi mudar de tom e se desculpar. “Peço desculpas profundamente. Minhas palavras estavam erradas. Eu não tolerarei e não tolerarei assédio, agressão ou violência sexual. Esse tratamento causa danos reais que não podem ser minimizados. Verdadeiramente, Spike Lee”, tuitou o cineasta na tarde do próprio sábado. Woody Allen sofre tentativa de “cancelamento” devido a alegações que o perseguem desde os anos 1990 e que foram revigoradas na era do movimento #MeToo, por conta das acusações da ex-mulher, Mia Farrow, de que teria abusado sexualmente da sua filha, Dylan, quanto ela tinha sete anos de idade. Como consequência dessa campanha, ele precisou processar a Amazon, que rompeu unilateralmente o contrato de produção e distribuição de seus filmes – deixando “Um Dia de Chuva em Nova York” inédito nos EUA. E enfrentou sabotagem do próprio filho, Ronan Farrow, contra a publicação da sua autobiografia. Ronan conseguiu, com cúmplices das redes sociais, que a editora original cancelasse o lançamento. Felizmente, outra editora assumiu o projeto e o livro se tornou um dos mais elogiados do ano. Intitulado “A Propósito de Nada”, a obra chega ao Brasil no segundo semestre. Nos últimos dois anos, Woody Allen também viu uma série de atores se declararem arrependidos dos filmes que fizeram com ele. Mas a verdade é que o caso responsável por essa revolta tardia chegou a ser investigado duas vezes em 1992, uma pela Agência Estadual de Bem-Estar Infantil e outra pela Clínica de Abuso Sexual Infantil do Hospital Yale-New Haven, e ambas concluíram que Dylan não havia sido abusado. Uma das investigações concluiu, inclusive, que a menina tinha sofrido lavagem cerebral da mãe, Mia Farrow, motivada por ódio de Woody Allen, porque o cineasta acabou se envolvendo e, posteriormente, casando-se com a filha adotiva dela, Soon-Yi Previn. Isso foi um escândalo e colocou a opinião pública contra ele. É o que, aparentemente, até hoje faz as pessoas duvidarem das investigações exaustivas da época e acreditarem em Dylan, que tinha sete anos quando o abuso supostamente aconteceu. Allen e Sun-Yi seguem casados até hoje. Os dois são pais de duas filhas já adultas, que, assim como todas as atrizes que trabalharam com o diretor durante mais de meio século, jamais reclamaram ou denunciaram o comportamento de Allen por “assédio, agressão ou violência sexual”. This is dispiriting. If anyone could stand up to the PC lynch mob at this moment it would be Spike. But apparently not…. Publicado por Paul Schrader em Domingo, 14 de junho de 2020
Spike Lee se arrepende de defender Woody Allen e pede desculpas
A defesa que Spike Lee fez do “amigo” Woody Allen durou poucas horas. Após a repercussão de sua fala numa entrevista em rádio nova-iorquina, Lee foi ao Twitter dizer que estava “errado” em se posicionar ao lado de Allen contra a cultura do “cancelamento”. Na prática, Spike Lee se arrependeu de dizer o que, tudo indica, pensa de verdade. Durante uma entrevista no sábado (13/6) no programa “In the Morning”, da rádio WOR de Nova York, Lee reclamou da forma como Allen estava sendo tratado pela opinião pública. “Gostaria de dizer que Woody Allen é um grande, grande cineasta e esse tipo de cancelamento não é apenas com Woody. Eu acho que, quando olharmos para trás, veremos que, a menos que se mate alguém, não há como você apagar pessoas como se nunca tivessem existido”, ele disse. E ainda acrescentou: “Woody é um amigo meu, um colega fã dos Knicks, então eu sei o que ele está passando agora.” Não demorou muito para Lee começar a “passar” por isso também, com ataques nas redes sociais por ter “ousado” defender Woody Allen. Demorou menos ainda para mudar de tom e se desculpar. “Peço desculpas profundamente. Minhas palavras estavam erradas. Eu não tolerarei e não tolerarei assédio, agressão ou violência sexual. Esse tratamento causa danos reais que não podem ser minimizados. Verdadeiramente, Spike Lee”, tuitou o cineasta na tarde do próprio sábado. Woody Allen sofre tentativa de “cancelamento” devido a alegações que o perseguem desde os anos 1990 e que foram revigoradas na era do movimento #MeToo, por conta das acusações da ex-mulher, Mia Farrow, de que teria abusado sexualmente da sua filha, Dylan, quanto ela tinha sete anos de idade. Ele teve que processar a Amazon, que rompeu unilateralmente o contrato de produção e distribuição de seus filmes – deixando “Um Dia de Chuva em Nova York” inédito nos EUA. E enfrentou uma campanha do próprio filho, Ronan Farrow, contra a publicação da sua autobiografia. Ronan conseguiu, com cúmplices das redes sociais, que a editora original cancelasse o lançamento. Felizmente, outra editora assumiu o projeto e o livro se tornou um dos mais elogiados do ano. Intitulado “A Propósito de Nada”, a obra chega ao Brasil no segundo semestre. Nos últimos dois anos, Woody Allen também viu uma série de atores se declararem arrependidos dos filmes que fizeram com ele. Mas a verdade é que o caso responsável por essa revolta tardia chegou a ser investigado duas vezes em 1992, uma pela Agência Estadual de Bem-Estar Infantil e outra pela Clínica de Abuso Sexual Infantil do Hospital Yale-New Haven, e ambas concluíram que Dylan não havia sido abusado. Uma das investigações concluiu, inclusive, que a menina tinha sofrido lavagem cerebral da mãe, Mia Farrow, motivada por ódio de Woody Allen, porque o cineasta acabou se envolvendo e, posteriormente, casando-se com a filha adotiva dela, Soon-Yi Previn. Isso foi um escândalo e colocou a opinião pública contra ele. É o que, aparentemente, até hoje faz as pessoas duvidarem das investigações exaustivas da época e acreditarem em Dylan, que tinha sete anos quando o abuso supostamente aconteceu. Allen e Sun-Yi seguem casados até hoje. Os dois são pais de duas filhas já adultas, que, assim como todas as atrizes que trabalharam com o diretor durante mais de meio século, jamais reclamaram ou denunciaram o comportamento de Allen por “assédio, agressão ou violência sexual”. I Deeply Apologize. My Words Were WRONG. I Do Not And Will Not Tolerate Sexual Harassment, Assault Or Violence. Such Treatment Causes Real Damage That Can't Be Minimized.-Truly, Spike Lee. — Spike Lee (@SpikeLeeJoint) June 13, 2020
Spike Lee defende Woody Allen da cultura do cancelamento
O diretor Spike Lee defendeu o cineasta Woody Allen, a quem definiu como seu amigo, contra a cultura do cancelamento que tem sido popularizada nas redes sociais. Durante uma entrevista neste sábado (13/6) no programa “In the Morning”, da rádio WOR de Nova York, Lee reclamou da forma como Allen está sendo tratado pela opinião pública. “Gostaria de dizer que Woody Allen é um grande, grande cineasta e esse tipo de cancelamento não é apenas com Woody. Eu acho que, quando olharmos para trás, veremos que, a menos que se mate alguém, não há como você apagar pessoas como se nunca tivessem existido”, disse Lee. Ele ainda acrescentou: “Woody é um amigo meu, um colega fã dos Knicks, então eu sei o que ele está passando agora.” Apesar de ser perguntado mais sobre Allen, a conversa se voltou para o New York Knicks, o time de basquete da NBA de que Lee é fã de longa data. Woody Allen sofreu tentativa de “cancelamento” devido a alegações que o perseguem desde os anos 1990 e que foram revigoradas na era do movimento #MeToo, por conta das acusações da ex-mulher, Mia Farrow, de que teria abusado sexualmente da sua filha, Dylan, quanto ela tinha sete anos de idade. Ele teve que processar a Amazon, que rompeu unilateralmente o contrato de produção e distribuição de seus filmes – deixando “Um Dia de Chuva em Nova York” inédito nos EUA. E enfrentou uma campanha do próprio filho, Ronan Farrow, contra a publicação da sua autobiografia. Ronan conseguiu, com cúmplices das redes sociais, que a editora original cancelasse o lançamento. Felizmente, outra editora assumiu o projeto e o livro se tornou um dos mais elogiados do ano. Intitulado “A Propósito de Nada”, a obra chega ao Brasil no segundo semestre. Nos últimos dois anos, Woody Allen também viu uma série de atores se declararem arrependidos dos filmes que fizeram com ele. Mas a verdade é que o caso responsável por essa revolta tardia chegou a ser investigado duas vezes em 1992, uma pela Agência Estadual de Bem-Estar Infantil e outra pela Clínica de Abuso Sexual Infantil do Hospital Yale-New Haven, e ambas concluíram que Dylan não havia sido abusado. Uma das investigações concluiu, inclusive, que a menina tinha sofrido lavagem cerebral da mãe, motivada por ódio de Woody Allen. O cineasta acabou se envolvendo e, posteriormente, casando-se com a filha adotiva de Mia, Soon-Yi Previn. Casados até hoje, os dois são pais de duas filhas já adultas, que, assim como todas as atrizes que trabalharam com o diretor, jamais denunciaram o comportamento de Allen.
Bruce Jay Friedman (1930 – 2020)
O escritor, dramaturgo e roteirista Bruce Jay Friedman, que disputou o Oscar por “Splash: Uma Sereia em Minha Vida” (1984), morreu na quarta (3/6) aos 90 anos. A causa da morte não foi divulgada. Editor de revistas de Nova York, Friedman estreou como romancista em 1962 com “Stern”, o primeiro de seus oito romances, que escreveu inspirado em seu casamento atribulado com a modelo Ginger Howard. Ele também publicou sete coleções de contos. E foi uma de suas histórias curtas que lhe abriu as portas de Hollywood. O conto “A Change of Plan” acabou adaptado pelo dramaturgo Neil Simon na comédia “Corações em Alta”, de 1972. Dirigido por Elaine May, o filme acabou sendo indicado a dois Oscar e ainda ganhou um remake, “Antes Só do que Mal Casado” (2008), com Ben Stiller no papel principal. Graças a esse sucesso, ele virou roteirista, especializando-se em comédias. O primeiro roteiro, “Loucos de Dar Nó” (1980), com Gene Wilder e Richard Pryor, estourou as bilheterias. O segundo, “Doutor Detroit e as Mulheres” (1983), com Dan Aykroyd, não repetiu o feito. Outro conto de Friedman rendeu a comédia “Rapaz Solitário” (1984), com Steve Martin. Mas foi uma história original que lhe deu maior reconhecimento em Hollywood. Ele escreveu com Brian Grazer a clássica Sessão da Tarde “Splash: Uma Sereia em Minha Vida”, estrelada por Tom Hanks e Daryl Hannah, que não só lhe rendeu o Oscar como inspirou uma continuação – “Madison, a Sereia”, lançada pela Disney na televisão. Curiosamente, seu trabalho mais bem-sucedido também foi seu último roteiro para o cinema. Ele ainda continuou ligado a Hollywood, mas como ator, fazendo participações em três filmes de Woody Allen, “A Outra” (1988), “Maridos e Esposas” (1992) e “Celebridades” (1998), além de aparecer no blockbuster “Mensagem para Você” (1998), novamente estrelado por Tom Hanks.
Woody Allen diz que atores que o criticam são bobos e querem apenas seguir moda
Woody Allen diz ter poucas esperanças de que as pessoas acreditem que ele nunca molestou sua filha Dylan, graças à campanha de cancelamento que sofre. Ele imagina que a alegação será lida até no início de seu obituário. Em uma entrevista ao jornal The Guardian, publicada na sexta-feira (1/5), o cineasta abordou mais uma vez as alegações que o perseguem desde os anos 1990 e que foram revigoradas na era do movimento #MeToo. “Acredito que, pelo resto da minha vida, um grande número de pessoas pensará que eu fui um predador”, disse Allen. “Qualquer coisa contrária que eu disser soará egoísta e defensiva, por isso é melhor que eu apenas siga meu caminho e trabalhe”. Mas até trabalhar tem sido difícil. Ele teve que processar a Amazon, que rompeu unilateralmente o contrato de produção e distribuição de seus filmes – deixando “Um Dia de Chuva em Nova York” inédito nos EUA. E enfrentou uma campanha do irmão de Dylan, Ronan Farrow, contra a publicação da sua autobiografia. Ronan conseguiu, com cúmplices das redes sociais, que a editora original cancelasse o lançamento. Felizmente, outra editora assumiu o projeto e o livro se tornou um dos mais elogiados do ano. Intitulado “A Propósito de Nada”, a obra chega ao Brasil no segundo semestre. Ao longo dos últimos tempos, Woody Allen também viu uma série de atores se declararem arrependidos dos filmes que fizeram com ele, por conta das acusações de que teria abusado sexualmente da sua filha, quanto ela tinha sete anos de idade. Mas a verdade é que o caso chegou a ser investigado duas vezes em 1992, uma pela Agência Estadual de Bem-Estar Infantil e outra pela Clínica de Abuso Sexual Infantil do Hospital Yale-New Haven, e ambas concluíram que a garota não havia sido abusado. Uma das investigações concluiu, inclusive, que Dylan tinha sofrido lavagem cerebral da mãe, Mia Farrow, por ódio de Woody Allen. O cineasta acabou se envolvendo e, posteriormente, casando-se com a filha adotiva de Mia, Soon-Yi Previn. Casados até hoje, os dois são pais de duas filhas já adultas, que, assim como todas as atrizes que trabalharam com o diretor, jamais reclamaram do comportamento de Allen. Allen lamentou as críticas dos atores, que o renunciaram como se ele fosse o capeta, como Greta Gerwig, Rebecca Hall, Colin Firth, Marion Cotillard e Timothée Chalamet. “É muito bobo. Os atores não têm ideia dos fatos e decidiram adotar uma posição segura, pública e egoísta. Quem no mundo não é contra o abuso sexual de crianças?”, observou o diretor. “É assim que atores e atrizes são, e me denunciar se tornou a coisa mais na moda pra se fazer, como todo mundo de repente comendo couve”. Na entrevista, o diretor de 84 anos pontuou que sabe que nunca vai se livrar desse assunto. “É assim que as coisas são e tudo o que posso fazer é torcer para que as pessoas voltem a si em algum momento. Mas se não voltarem, tudo bem. Existem muitas injustiças no mundo muito piores que isso. Então você vive com isso”, completou.
Filme de Woody Allen lidera as bilheterias mundiais em plena pandemia
Woody Allen, quem diria, é o diretor do filme de maior bilheteria do mundo nesta semana. Inédito nos EUA, onde a “cultura do cancelamento” impediu seu lançamento, “Um Dia de Chuva em Nova York” tornou-se o filme mais visto do planeta nos poucos cinemas que estão em atividade. Segundo dados do site Box Office Mojo, o longa acumulou mais de US$ 340 mil na Coreia do Sul desde o seu lançamento em 6 de maio, o que o coloca no topo, já que o país de “Parasita” é o que tem mais cinemas abertos em todo o mundo. O governo sul-coreano não impôs o fechamento das salas durante a pandemia da covid-19, porque a população aderiu voluntariamente às medidas de isolamento social, o que manteve os cinemas vazios. A queda nas bilheterias do primeiro trimestre foi da ordem de 65%, comparado com o mesmo período do ano passado, já que os espectadores relutaram em sair de casa. Com uma política de testagem em massa, a Coreia do Sul conseguiu isolar contaminados e passar pelo pior, e aos poucos retoma algo similar à normalidade. Com isso, o público tem voltado, lentamente, aos cinemas. As bilheterias do fim de semana também contabilizaram ingressos vendidos na Noruega, que reabriu seu parque exibidor na última quinta (7/5), ainda que de forma bastante limitada. Foram 30 salas, o que representa cerca de 15% do total no país. Mesmo assim, 96% dos ingressos foram vendidos. Lá, porém, o filme mais visto foi a animação “Dois Irmãos”, da Disney-Pixar, com modestos US$ 17,2 mil. “Um Dia de Chuva em Nova York” foi exibido sem problemas nos cinemas brasileiros no ano passado. Entretanto, sofreu boicote nos EUA, onde virou alvo de uma campanha de ódio contra o diretor, alimentada por boatos e patrulheiros ideológicos, que ficaram do lado oposto da justiça, ao condenar publicamente Woody Allen por suposto abuso sexual de sua filha Dylan Farrow quando ela era uma criança nos anos 1990. Duas investigações públicas, que duraram meses, inocentaram o diretor da época, concluindo que a menina teria sofrido lavagem cerebral da mãe, Mia Farrow, com quem Allen lutava pela guarda dos filhos. O caso estava esquecido quando a acusação foi revivida por Dylan em 2018, pegando carona no movimento #MeToo, que teve como artífice seu irmão Ronan Farrow, autor de uma das reportagens que denunciaram os abusos de Harvey Weinstein. Sem maior cerimônia, os dois passaram a comparar Allen ao produtor-predador, mesmo que os casos não pudessem ser minimamente comparados. Nem os piores detratores de Allen o acusam de outro abuso, senão o que Dylan diz ter sofrido. O resultado foi que até atores do próprio filme condenaram ao diretor. Timothée Chalamet e Rebecca Hall recusaram-se a promover o longa e ainda doaram seus salários para caridade. Hall, que também estrelou “Vicky Cristina Barcelona”, ainda admitiu sentir “arrependimento” por ter trabalhado com Allen. Por outro lado, Jude Law disse que achava “uma terrível vergonha” o filme ter sido impedido de estrear nos EUA. “Eu adoraria ver isso. As pessoas trabalharam muito e se empenharam muito, obviamente ele próprio também”, disse o ator inglês ao jornal The New York Times em 2018. Mesmo sem a bilheteria americana, “Um Dia de Chuva em Nova York” já arrecadou mais de US$ 20 milhões no mundo, o que supera o faturamento total do filme anterior do diretor, “Roda Gigante” (US$ 15 milhões em 2017). Woody Allen já filmou seu próximo longa, “Rifkin’s Festival”, rodado na Espanha, e ele deve chegar aos cinemas após a reabertura do mercado.
Autobiografia de Woody Allen é lançada sem alarde nos EUA
Pouco mais de duas semanas após ter sido “cancelada” por pressão de politicamente corretos, a autobiografia de Woody Allen, “Apropos of Nothing”, foi publicada nos EUA. Chantageada pelo filho do diretor, Ronan Farrow e sob protesto de seus próprios funcionários, que abandonaram o trabalho para manifestar sua contrariedade o projeto, a editora Hachete devolveu os direitos da obra ao cineasta. E Allen negociou, sem alarde, com uma nova editora, chamada Arcade Publishing, selo da Skyhorse Publishing, responsável por lançar a autobiografia nesta segunda-feira (23/3). “O livro é um relato pessoal sincero e abrangente de Woody Allen e de sua vida desde a infância no Brooklyn até sua aclamada carreira em cinema, teatro, televisão e stand-up, além de explorar seus relacionamentos com a família e os amigos”, diz uma nota oficial da Arcade Publishing, sediada em Nova York. Com 400 páginas, as memórias de Allen investigam sua infância em Nova York, seus filmes, seu caso de amor com sua primeira musa, Diane Keaton, e as alegações de abuso sexual contra sua filha de 7 anos, Dylan Farrow. Elas também abordam seu relacionamento com Mia Farrow. “Apropos of Nothing” é dedicado a Soon-Yi Previn, sua esposa e filha adotiva da atriz. O repúdio contra Woody Allen se deve à uma acusação de abuso sexual que ele teria cometido contra a filha Dylan Farrow nos anos 1990. As acusações foram verificadas por um tribunal de justiça na época, com direito a duas investigações diferentes de seis meses. Ambas concluíram não ter havido abuso sexual. Allen alega que a denúncia foi fruto de raiva da ex, numa batalha legal pela guarda dos filhos, vencida por Farrow, e se manteve viva com o passar dos anos por lavagem cerebral diária promovida em Dylan Farrow. E vale observar que, com mais de 50 anos de carreira, Allen nunca teve problema com uma atriz sequer. “Eu nunca encostei um dedo em Dylan, nunca fiz nada que pudesse sequer ser confundido com abuso. [A acusação] foi fabricada do começo ao fim”, declara o cineasta na obra. A capa é preta, trazendo apenas o título e o nome do autor em letras brancas. Já a contracapa é ilustrada com uma foto recente de Allen, tirada por Diane Keaton, que continua a manter amizade profunda com o diretor. Veja abaixo.
Imprensa internacional se manifesta contra cultura do cancelamento após censura de Woody Allen
A censura sofrida por Woody Allen, que teve o lançamento de seu livro de memórias cancelado após um tuíte de Ronan Farrow iniciar uma onda de protestos, mudou o relacionamento da imprensa internacional com movimentos do tipo #MeToo. Os últimos dias viram surgir diversos editoriais e artigos opinativos condenando a “cultura do cancelamento”, originada nas redes sociais no rastro dos resultados positivos do #MeToo. A nova patrulha ideológica, que age em nome do “politicamente correto”, vinha assumindo grandes proporções sem receber criticas contundentes, mas isso mudou após atacar a liberdade de expressão, no caso emblemático de Woody Allen. O jornal americano New York Post publicou um editorial condenando a pressão exercida por Ronan Farrow, que chantageou o grupo editorial Hachette, ameaçando trocar de editora, e insuflou as redes sociais para conseguir seu objetivo pessoal. “Ronan acredita nas alegações de sua irmã Dylan de que Woody a abusou quando criança em 1992, embora duas investigações (uma pela Agência Estadual de Bem-Estar Infantil, outra pela Clínica de Abuso Sexual Infantil do Hospital Yale-New Haven) concluíram que a garota não havia sido abusado. Tudo é complicado no caso de Woody pelo casamento posterior com Soon-Yi Previn, a filha adotiva da mãe de Ronan (e amante de longa data de Woody). Mas, aparentemente, Woody Allen não pode contar o seu lado da história – ou qualquer história”, escreveu o conselho editorial do jornal. “Ronan Farrow… está errado. Por mais profunda que seja sua raiva, é obsceno que um jornalista esteja silenciando alguém. Ele alega estar contra os abusadores do poder – mas ele flagrantemente abusou do seu próprio poder”, acrescenta o texto. O apresentador Bill Maher também se pronunciou, ao defender outra vítima da cultura do cancelamento – seu colega Chris Matthews. “A cultura do cancelamento é um câncer do progressivismo”, ele apontou. O jornalista britânico Damian Wilson, conselheiro do Parlamento Europeu, publicou um editorial aberto em que chamou atenção contra a seletividade hipócrita dos novos moralistas. “Um protesto contra os editores das memórias de Woody Allen e a proibição do novo filme de Roman Polanski nos EUA são aplaudidos, mas o alegadamente predador sexual Michael Jackson continua a faturar milhões com seu legado”, ele observou. “‘Leaving Neverland’, o documentário de quatro horas que alega que Jacko era um pedófilo que se disfarçava como um amigo de confiança, ganhou grande reconhecimento de uma audiência global. Entretanto, estranhamente, ninguém se mobilizou para queimar suas biografias, discos ou impedir que suas canções sejam cantadas. Mas se você quiser ler as memórias de Woody Allen, aqueles que protestam negarão o seu direito, porque Allen é um conden… er, espere um minuto. Ele não foi condenado por nada… O diretor aclamado pela crítica nunca enfrentou um tribunal criminal por alegações de abuso sexual de sua enteada Dylan”, continuou. “Então, o que valida o protesto, com direito a walk out de funcionários do escritório da editora literária? Os círculos liberais tem certeza que Allen é culpado e se safou. Mas se safou do quê? Nunca saberemos, a menos que seu filho, Ronan Farrow, decida escrever uma reportagem abrangente, semelhante ao seu trabalho para expor o vergonhoso Harvey Weinstein”. Ele ainda lembrou que “Charles Dickens largou sua esposa, mãe de seus 10 filhos, para se casar com uma atriz muito jovem. William Golding admitiu que tentou estuprar uma menina de 15 anos. Norman Mailer esfaqueou a esposa, quase a matando. Paul Gauguin teve relações sexuais com meninas menores de idade no Taiti e transmitiu sífilis antes que as complicações da DST o matassem. Mas, no que diz respeito ao exército politicamente correto, não há problema em ter estantes de livros cheias de Dickens, Golding e Mailer ou reproduções de Gauguin penduradas na parede da sala. Eles recebem um passe livre dos politicamente corretos, assim como Michael Jackson”. Num texto opinativo, publicado na edição dominical do jornal australiano The Sydney Morning Herald, o jornalista Mark Mordue descreve as pessoas que propõe cancelamentos como personagens de desenho animado, que só consideram duas opções, estar do lado certo ou estar do lado errado. “Esses absolutos de desenhos animados são o conteúdo de uma nova moralidade millennial impulsionada por noções como os ‘sem plataforma’ e ‘cancelamento da cultura’. Seus objetivos são cortar as vozes sexistas, racistas, homofóbicas e completamente desagradáveis. Mas o que começa nos domínios da decência rapidamente se transforma em exigências de máfia, com um leve cheiro de neo-stalinismo, mccarthismo e os expurgos forçados da Revolução Cultural da China empestando o ar, à medida que essa cultura cresce em influência”. “Em 1936, F. Scott Fitzgerald observou de passagem: ‘O teste de uma inteligência de primeira classe é a capacidade de manter na mente duas idéias opostas ao mesmo tempo e ainda reter a capacidade de funcionar’… E gostaria de pensar que, como leitor, sou capaz de ter a inteligência de oposição sugerida por Fitzgerald e a capacidade de ler nas entrelinhas, quando olho para os outros e para mim mesmo. Não há necessidade de uma cultura de cancelamento para decidir por mim”. O artigo mais relevante foi publicado pelo jornal The Guardian, escrito por Jo Granville, diretora do English Pen, uma associação internacional de escritores, empenhada em promover e defender a liberdade de expressão em todo o mundo. Para ela, a censura sofrida por Allen “é preocupante para escritores e leitores”. “Os funcionários de Hachette, que protestaram na semana passada, claramente pensavam que estavam fazendo a coisa certa moralmente – protestando contra a publicação de um livro por um homem que foi acusado de abusar de sua própria filha. Mas, como já foi repetido muitas vezes, Woody Allen foi investigado em duas ocasiões e nunca foi indiciado. Embora Dylan e Ronan acusem Woody Allen, ele nunca foi considerado culpado. Nada foi provado. De fato, não há razão aceitável para não publicar o livro de Woody Allen”, apontou Granville. “Os funcionários da Hachette não se comportaram como editores, mas como censores. Eu assisto a filmes de Woody Allen desde criança e gostaria de ler o livro dele. Eu até gostaria de ler o livro dele se ele fosse considerado culpado, porque estou interessada no homem, em seu trabalho e em sua vida. Não checo a pureza moral ou o registro criminal de um escritor antes de lê-lo. Eu teria que despir minhas estantes de livros de alguns dos escritores que mais amo se fosse começar a aplicar os princípios dos funcionários da Hachette como parâmetro para o que pode ou não ser publicado. TS Eliot e Roald Dahl, para começar, eram anti-semitas. De fato, a maior parte do cânone inglês teria que ser jogada na fogueira com essa base”, explicou. “Os editores precisam ter coragem – a coragem de publicar livros que não se encaixem no clima moral e que expressem visões fora de moda. Nos anos 1970, os editores lutaram repetidamente pelo direito de publicar livros que atentavam a moral, enfrentando processos por obscenidade. Foram batalhas que testaram os limites da liberdade de expressão”, continuou. “Na sequência do #MeToo, passamos a ver a indignação moral como uma coisa boa – não a associamos a uma figura reacionária como a censora britânica Mary Whitehouse ou a enxergamos como uma barreira ao progresso. Cancelar as coisas, impedindo manifestações do tipo errado de visão, passou a ser admirado. É notável que um pequeno grupo de pessoas tenha conseguido convencer uma das maiores editoras do mundo a recuar, mas sua causa pode não ser tão moralmente correta quanto eles acreditam. Como editores, de fato, a conduta da equipe que protestou é altamente questionável”. “Não quero ler livros que sejam bons para mim ou que sejam escritos por pessoas cujas opiniões eu sempre concordo ou admiro. Eu sempre tenho medo quando uma multidão, por mais bem intencionada que seja, exerce poder sem qualquer responsabilidade, processo ou reparação. Isso me assusta muito mais do que a perspectiva de uma autobiografia de Woody Allen chegar às livrarias”, concluiu. Suzanne Nossel, diretora da sucursal americana da mesma organização, a PEN America, ainda avaliou, em comunicado, que “o resultado final é que este livro, independentemente de seus méritos, desaparece sem deixar vestígios, negando aos leitores a oportunidade de lê-lo e chegar a seus próprios julgamentos”. Em um balanço da cultura do cancelamento, o site The Post Millennial ainda lembrou que o livro de Woody Allen não foi a primeira vítima editorial das redes sociais. A turnê de divulgação de “American Dirt”, de Jeanine Cummins, foi cancelada devido a “preocupações de segurança”. E o livro “Blood Heir”, de Amélie Wen Zhao, foi recolhido depois que ela foi acusada de descrever a escravidão de forma “descaradamente racista”. O próprio Woody Allen já teve o lançamento de seu filme “Um Dia de Chuva em Nova York” cancelado nos EUA, junto com seu contrato de produção com a Amazon, sem que houvesse qualquer fato novo no caso de 30 anos atrás, do qual foi inocentado, apenas pressão das redes sociais. Quando o primeiro cancelamento aconteceu, porém, nenhum editorial foi escrito em protesto. Os artigos dessa semana são as primeiras reações à fogueira que arde nas redes sociais, onde milhares de posts são disparados por minuto para comemorar a decisão da Hachette de censurar Woody Allen. Eles representam uma mudança de paradigma, apontando que a cultura do cancelamento deixou de ser um movimento “legal”, ao assumir posições fascistas e comportamentos não aceitáveis diante da cultura. Vale observar que, em defesa de seus argumentos, a maioria dos censores voluntários tenta enganar seus seguidores e a si mesma alegando que sua pressão não é censura, já que não é exercida pelo estado. Mas a censura estatal não é a única forma de censura possível. Há censura econômica, quando uma corporação ou um magnata (digamos Harvey Weinstein) impede alguém de trabalhar ou reclamar – ou no mínimo prejudica a carreira para impedir bons contratos, como aconteceu com o diretor Orson Wells após a reação de William R. Hearst a “Cidadão Kane”. Há censura religiosa, autoexplicativa. E há a censura dos militantes, que pode ser violenta – como esquecer que fascistas brasileiros impediram a continuidade das apresentações da peça “Roda Vida” com agressões ao elenco nos anos 1960? – ou pode ser virtual, como a “cultura do cancelamento”. Os censores voluntários também tentam alegar que sua cruzada moral não é censura, porque Woody Allen poderia publicar seu livro em outra editora – como se não fossem fazer o mesmo tipo de pressão outra vez. Ou, então, poderia publicar o livro de graça na internet, garantindo a sua liberdade de expressão. Como se isso provasse ausência de censura. Na prática, impedir um artista de ganhar dinheiro com sua arte é censura. Ainda que Mao Tsé-Tung preferisse chamar de “expurgo”.
Stephen King lamenta censura à livro de Woody Allen: “O próximo é sempre mais fácil”
O escritor Stephen King lamentou a decisão do Hachette Book Group de cancelar o lançamento do livro de memórias de Woody Allen, cedendo aos grupos de pressão da internet. Ele publicou alguns posts sobre o assunto, dizendo que a decisão o fazia se sentir “muito desconfortável”. “A questão não é sobre ele. Não dou à minima para o Sr. Allen. Mas quem será o próximo é que me preocupa”, escreveu o autor de best-sellers. “Uma vez que você começa [a censurar], o próximo é sempre mais fácil”, acrescentou. A posição de King, claro, recebeu críticas. Muitas pessoas se manifestaram, defendendo um ponto de vista “politicamente correto” que justificaria a censura ao livro do cineasta e o cerceamento de sua liberdade de expressão. King respondeu a um dos comentários. “Se você acha que ele é pedófilo, não compre o livro. Não vá aos filmes dele. Não o ouça tocar jazz no Carlyle. Manifeste-se com sua carteira… mantendo-a fechada. Nos EUA, é assim que fazemos”, disse, defendendo o direito do cineasta de escrever e filmar, e também o do público de não pagar para ver. A Hachette anunciou na sexta-feira (6/3) que não lançaria mais o livro do diretor de cinema, previsto para abril, após sofrer pressão do filho do diretor, Ronan Farrow, que renegou seu contrato com a empresa, e protesto de seus funcionários, que abandonaram o trabalho na tarde de quinta para manifestar sua contrariedade com a decisão. A manifestação ganhou apoio de muitos escritores e até de editoras rivais. O caso representa uma importante manifestação no mundo real da prática do “cancelamento” virtual. O repúdio contra Woody Allen se deve à uma acusação de abuso sexual que ele teria cometido contra a filha Dylan Farrow nos anos 1990. As acusações foram verificadas por um tribunal de justiça na época, com direito a duas investigações diferentes de seis meses. Ambas concluíram não ter havido abuso sexual. Allen alega que a denúncia foi fruto de raiva da ex, numa batalha legal pela guarda dos filhos, vencida por Farrow, que a teria manteve viva com o passar dos anos por lavagem cerebral promovida em Dylan Farrow. Outro de seus filhos, Moses Farrow, confirma a versão do diretor. Dez anos mais velho que Ronan Farrow, ele diz se lembrar melhor dos fatos que os irmãos, que eram crianças na época. Dylan, por exemplo, tinha apenas sete anos quando o suposto abuso aconteceu, e Moses, que virou terapeuta de famílias, lembra os fatos de forma muito diferente. Para ele, sua irmã mais nova jamais foi molestada pelo pai, mas isso não a impediu de ter sido uma vítima – da manipulação da mãe, Mia Farrow. Tomando as dores da irmã, Ronan costuma comparar Woody Allen, jamais acusado de abuso ou assédio por nenhuma atriz com quem trabalhou em mais de meio século de carreira, com Harvey Weinstein, denunciado por mais de 100 mulheres e recentemente condenado por crimes sexuais pela justiça de Nova York. Ronan foi um dos responsáveis por essa condenação, ao publicar uma das primeiras reportagens sobre a atividade predadora de Weinstein na revista The New Yorker, que, inclusive, lhe rendeu o prestigioso prêmio Pulitzer e um contrato para livros com o grupo Hachete, que ele decidiu renegar após saber do livro do diretor – iniciando a campanha que resultou na censura. Muito do atual repúdio contra Allen se deve à campanha nas redes sociais comandada por Dylan, que resolveu retomar a acusação de abuso no final de 2017, aproveitando a repercussão da reportagem de seu irmão sobre Weinstein. No auge do #MeToo, ela fez questão de comparar Allen com Weinstein, e suas denúncias conseguiram criar uma reação de “cancelamento” contra o diretor, apesar de não trazerem nenhum fato novo à tona. Mia Farrow tomou ódio de Allen porque ele a trocou pela filha adotiva dela (mas não dele), Soon-Yi Previn. O diretor e Soon-Yi se casaram e estão juntos até hoje. O casal adotou duas filhas, que já são jovens adultas com 20 e 21 anos, e jamais denunciaram Allen por qualquer comportamento. Também vale observar que algumas mensagens raivosas, postadas nas redes sociais nos últimos dias contra a reputação do diretor, aludem ao fato de que uma nova reportagem-denúncia estaria prestes a emergir contra Woody Allen. Pode ser que sim, o que ajudaria a explicar a decisão inesperada da Hachette – o surgimento de fatos mudariam o entendimento da desistência. Entretanto, não seria a primeira vez que fake news viram munição de detratores de Allen, que acusaram até “Um Dia de Chuva em Nova York” de ser uma apologia à pedofilia, antes do mundo poder assistir ao filme. The Hachette decision to drop the Woody Allen book makes me very uneasy. It's not him; I don't give a damn about Mr. Allen. It's who gets muzzled next that worries me. — Stephen King (@StephenKing) March 6, 2020 Once you start, the next one is always easier. — Stephen King (@StephenKing) March 6, 2020 If you think he's a pedophile, don't buy the book. Don't go to his movies. Don't go listen to him play jazz at the Carlyle. Vote with your wallet…by withholding it. In America, that's how we do. https://t.co/znGZu0wJEF — Stephen King (@StephenKing) March 7, 2020
Editora cede à pressão e cancela lançamento de livro de Woody Allen
O grupo editorial Hachette anunciou nesta sexta (6/3) que não publicará mais o livro de memórias do diretor Woody Allen, cujo lançamento estava previsto para o próximo 7 de abril. A empresa cedeu à pressão do filho do diretor, Ronan Farrow, e ao protesto de seus funcionários, que abandonaram o trabalho na tarde de quinta para manifestar sua contrariedade com a decisão. “A Hachette Book Group decidiu que não publicará as memórias de Woody Allen, intitulada ‘Apropos of Nothing'” e “devolverá todos os direitos ao autor”, disse Sophie Cottrell, porta-voz da editora, em comunicado. “A decisão de cancelar o livro do Sr. Allen foi difícil. Na HBG, levamos muito a sério nosso relacionamento com os autores e não cancelamos livros por nada. Publicamos e continuaremos a publicar muitos livros desafiadores. Como editores, garantimos que todos os dias em nosso trabalho, diferentes vozes e pontos de vista conflitantes podem ser ouvidos. Também, como empresa, estamos comprometidos em oferecer um ambiente de trabalho estimulante, solidário e aberto para todos os nossos funcionários. Nos últimos dias, a liderança da HBG teve longas conversas com nossa equipe e outras pessoas. Depois de ouvirmos, chegamos à conclusão de que avançar com a publicação não seria viável para a HBG”, completa o texto, repleto de contradições. O cancelamento de “Apropos of Nothing” está sendo comemorado no Twitter como uma vitória do “politicamente correto” e se trata realmente de uma importante manifestação no mundo real da prática do “cancelamento” virtual, que tem acirrado ânimos nas redes sociais. Também é uma manifestação, em pleno século 21, da mentalidade de turba, com foices e forcados – ou fogueiras e forcas – , que ilustram linchamentos públicos em filmes clássicos. Uma caça às bruxas, em outras palavras. Não se deixem enganar, trata-se de uma vitória da censura contra a cultura. Uma censura de esquerda, não menos perigosa que a das ditaduras fascistas. Na prática, uma grupo de pressão conseguiu jogar um livro na fogueira, porque não concorda com seu suposto conteúdo. Algo como os nazistas fizeram nos anos 1930. Além de atacar a liberdade de expressão, os protestos dos justos, que falam em defesa da ética, visam impedir a defesa real de uma pessoa que está sendo atacada por todos os lados por algo que pode nem sequer ter feito. O objetivo é tão somente impedir que se conheça o “outro lado” de uma história, que algumas pessoas não admitem que seja conhecida e, para isso, não medem esforços para impedir a existência do contraditório. A decisão da Hachette abre um precedente assustador, ao demonstrar que fake news capazes de mobilizar a opinião pública podem gerar censura. Não que a denúncia contra Woody Allen seja fake news. Mas não é news, nos dois sentidos da palavra em inglês – notícia e novidade. O repúdio contra Woody Allen se deve à uma acusação de abuso sexual que ele teria cometido contra a filha Dylan Farrow nos anos 1990. As acusações foram verificadas por um tribunal de justiça na época, com direito a duas investigações diferentes de seis meses. Ambas concluíram não ter havido abuso sexual. Allen alega que a denúncia foi fruto de raiva da ex, numa batalha legal pela guarda dos filhos, vencida por Farrow, e se manteve viva com o passar dos anos por lavagem cerebral diária promovida em Dylan Farrow. Outro de seus filhos, Moses Farrow, confirma a versão do diretor. Dez anos mais velho que Ronan Farrow, ele diz se lembrar melhor dos fatos que os irmãos, que eram crianças na época. Dylan, por exemplo, tinha apenas sete anos quando o suposto abuso aconteceu, e Moses, que virou terapeuta de famílias, lembra os fatos de forma muito diferente. Para ele, sua irmã mais nova jamais foi molestada pelo pai, mas isso não a impediu de ter sido uma vítima – da manipulação da mãe, Mia Farrow. Tomando as dores da irmã, Ronan costuma comparar Woody Allen, jamais acusado de abuso ou assédio por nenhuma atriz com quem trabalhou em mais de meio século de carreira, com Harvey Weinstein, denunciado por mais de 100 mulheres e recentemente condenado por crimes sexuais pela justiça de Nova York. Ronan foi um dos responsáveis por essa condenação, ao publicar uma das primeiras reportagens sobre a atividade predadora de Weinstein na revista The New Yorker, que, inclusive, lhe rendeu o prestigioso prêmio Pulitzer e um contrato para livros com o grupo Hachete, que ele decidiu renegar após saber do livro do diretor – iniciando a campanha que resultou na censura. Muito do atual repúdio contra Allen se deve à campanha nas redes sociais comandada por Dylan, que resolveu retomar a acusação de abuso no final de 2017, aproveitando a repercussão da reportagem de seu irmão sobre Weinstein. No auge do #MeToo, ela fez questão de comparar Allen com Weinstein, e suas denúncias conseguiram criar uma reação de “cancelamento” contra o diretor, apesar de não trazerem nenhum fato novo à tona. Mia Farrow tomou ódio de Allen porque ele a trocou pela filha adotiva dela (mas não dele), Soon-Yi Previn. O diretor e Soon-Yi se casaram e estão juntos até hoje. O casal adotou duas filhas, que já são jovens adultas com 20 e 21 anos, e jamais denunciaram Allen por qualquer comportamento. Também vale observar que algumas mensagens raivosas, postadas nas redes sociais nos últimos dias contra a reputação do diretor, aludem ao fato de que uma nova reportagem-denúncia estaria prestes a emergir contra Woody Allen. Pode ser que sim, o que ajudaria a explicar a decisão inesperada da Hachette – o surgimento de fatos mudariam o entendimento da desistência. Entretanto, não seria a primeira vez que fake news viram munição de detratores de Allen, que acusaram até “Um Dia de Chuva em Nova York” de ser uma apologia à pedofilia, antes do mundo poder assistir ao filme. Toda essa polêmica pode até render mais um capítulo no livro de memórias do cineasta, que agora deverá ser oferecido para outra editora – e possivelmente publicado primeiro no exterior. Até o título pode ser mudado. A publicação, que seria lançada com o nome de “Apropos of Nothing” (a propósito de nada), virou “tudo” para seus detratores.
Funcionários de editora protestam contra publicação do livro de memórias de Woody Allen
Funcionários do grupo editoral americano Hachette promoveram um walk out, um protesto em que deixaram seus escritórios na tarde desta quinta-feira (5/3), manifestando seu desacordo com o anúncio da publicação de um livro de memórias do cineasta Woody Allen. A reação dos funcionários aconteceu após as recentes declarações de Ronan Farrow, filho de Allen, que repudiou o contrato da editora, acusando-a de “falta de ética e de compaixão por vítimas de agressões sexuais”. Allen foi denunciado por abusar da filha Dylan Farrow quando ela era uma criança. O diretor sempre negou e o caso tem bastidores conturbados, pois foi trazido à tona durante a separação do diretor e da atriz Mia Farrow. Em comunicado, a Hachette afirmou que respeita a opinião de seus funcionários e que irá “iniciar uma discussão mais profunda sobre o assunto assim que possível”. Dylan foi ao Twitter agradecer a manifestação de solidariedade. “Obrigada do fundo do meu coração”, ela tuitou. Além dos cerca de 75 funcionários, que abandonaram o trabalho e desceram para frente do prédio da Hachette, vários escritores se manifestaram em apoio ao protesto. Até editoras rivais prestaram solidariedade, numa expressiva condenação pública da reputação – o chamado cancelamento social – de Woody Allen. E à favor da censura. O repúdio contra Woody Allen se deve à uma acusação de abuso sexual que ele teria cometido contra a filha Dylan Farrow nos anos 1990. As acusações foram verificadas por um tribunal de justiça na época, com direito a duas investigações diferentes de seis meses. Ambas concluíram não ter havido abuso sexual. Allen alega que a denúncia é fruto exclusivo de lavagem cerebral promovida pela mãe da jovem, Mia Farrow. Outro de seus filhos, Moses Farrow, confirma a versão do diretor. Dez anos mais velho que Ronan, ele diz se lembrar melhor dos fatos que os irmãos, que eram crianças na época. Dylan, por exemplo, tinha apenas sete anos quando o suposto abuso aconteceu, e Moses, que virou terapeuta de famílias, lembra os fatos de forma muito diferente. Para ele, sua irmã mais nova jamais foi molestada pelo pai, mas isso não a impediu de ter sido uma vítima – da manipulação da mãe, Mia Farrow. Tomando as dores da irmã, Ronan costuma comparar Woody Allen, jamais acusado de abuso ou assédio por nenhuma atriz com quem trabalhou em mais de meio século de carreira, com Harvey Weinstein, denunciado por mais de 100 mulheres e recentemente condenado por crimes sexuais pela justiça de Nova York. Ronan foi um dos responsáveis por essa condenação, ao publicar uma das primeiras reportagens sobre a atividade predadora de Weinstein na revista The New Yorker, que, inclusive, lhe rendeu o prestigioso prêmio Pulitzer e um contrato para livros com o grupo Hachete, que ele decidiu renegar após saber do livro do diretor. O repúdio contra Allen se deve à decisão de Dylan de retomar a acusação de abuso no final de 2017, aproveitando a repercussão da reportagem sobre Weinstein do irmão. No auge do #MeToo, ela fez questão de comparar Allen com Weinstein, e suas denúncias conseguiram criar uma reação de repúdio generalizado contra o diretor, apesar de não trazer nenhum fato novo à tona. Mia Farrow tomou ódio de Allen porque ele a trocou pela filha adotiva dela (mas não dele), Soon-Yi Previn. O diretor e Soon-Yi se casaram e estão juntos até hoje. Mas vale observar que algumas mensagens raivosas, postadas nas redes sociais na quinta (5/6) contra o diretor, aludem ao fato de que uma nova reportagem-denúncia estaria prestes a emergir contra Woody Allen. Pode ser que sim. Entretanto, não seria a primeira vez que fake news viram munição de detratores de Allen, que acusaram até “Um Dia de Chuva em Nova York” de ser uma apologia à pedofilia, antes do mundo poder assistir ao filme. Toda essa polêmica deve alimentar o livro de memórias do cineasta, intitulado “Apropos of Nothing” (a propósito de nada) e descrito como “um relato exaustivo da vida de Woody Allen, pessoal e profissional”. Até segunda ordem, a publicação tem previsão de lançamento para abril nos EUA.










