Gary Nelson, diretor de clássicos da Disney, morre aos 87 anos
O cineasta Gary Nelson, que dirigiu os clássicos da Disney “Se Eu Fosse Minha Mãe” (1976) e “O Abismo Negro” (1979), morreu em 25 de maio de causas naturais em Las Vegas, aos 87 anos. Apesar do falecimento ter acontecido há mais de três meses, a notícia só foi comunicada por seus filhos neste fim de semana. Gary era filho de Sam Nelson, que atuou como assistente de direção em filmes marcantes como “A Dama de Shanghai” (1947) e “Quanto Mais Quente Melhor” (1959), e foi um dos co-fundadores do DGA, o Sindicado dos Diretores dos EUA. Ele também começou como assistente de obras icônicas. Seu primeiro trabalho na função foi simplesmente “Juventude Transviada” (1955), dirigido por Nicholas Ray e estrelado por James Dean. Depois disso, ainda foi assistente de John Ford em “Rastros de Ódio” (1956), de Stanley Donen em “Cinderela em Paris” (1957) e de John Sturges em “Sem Lei e Sem Alma” (1957), antes de passar para a TV. Na televisão, evoluiu de assistente em 66 capítulos de “Paladino do Oeste” para diretor da série em 1962. Mas essa transição contou com uma ajuda de sua futura esposa. Gary Nelson conheceu a atriz Judi Meredith (“O Matador de Gigantes”) nos bastidores da produção durante a primeira participação dela na série e os dois se apaixonaram quase instantaneamente. Quando os produtores quiseram trazê-la de volta, ela impôs uma condição: que Nelson dirigisse o episódio. Foi o começo da carreira do diretor. Nelson e Meredith se casaram, tiveram dois filhos e ficaram juntos por 54 anos, até a morte dela em 2014. Após dirigir seis episódios de “Paladino do Oeste”, ele passou a ser cotado para comandar séries icônicas como “The Patty Duke Show” (1963–1966), “A Ilha dos Birutas” (1964–1967), “Agente 86” (1965-1970), “Nós e o Fantasma” (1968–1970) e “Nanny” (1970-1971), assinando dezenas de capítulos, e logo foi trabalhar no cinema em faroestes B de produtoras independentes – “Molly and Lawless John” (1972) e “Santee – O Caçador de Recompensas” (1973). Em 1974, foi contratado pela Disney para dirigir o telefilme de aventura “O Rapaz que Falava com Texugos”, que iniciou sua bem-sucedida relação com o estúdio. Seu trabalho em “Se Eu Fosse Minha Mãe” marcou época. O filme estrelado pela jovem Jodie Foster como uma adolescente que troca de corpo com a mãe (Barbara Harris) acabou originando uma febre de comédias sobre troca de corpos e até um remake, “Sexta-Feira Muito Louca” (2003), com Lindsay Lohan e Jennifer Lee Curtis. Graças a esse sucesso, a Disney o escalou para realizar “O Abismo Negro”, um dos filmes mais ambiciosos e caros do estúdio até então. A produção era uma ficção científica espacial inspirada por “Guerra nas Estrelas” (Star Wars) e se tornou o primeiro longa do estúdio lançado sem censura livre (foi considerado impróprio para menores de 10 anos no Brasil). Só que não agradou a crítica e nem estourou nas bilheterias – ainda que hoje seja considerado cult. Numa guinada na carreira, Nelson fez imediatamente o thriller policial “Falcões da Noite” (1981), estrelado por Sylvester Stallone, que retomou sua popularidade. Mas se complicou com os filmes seguintes, a comédia “Jimmy the Kid” (1982), estrelada pelo astro mirim Gary Coleman, e “Allan Quatermain e a Cidade do Ouro Perdido” (1986), uma espécie de Indiana Jones da 2ª Divisão, que foi o segundo e último filme da franquia estrelada por Richard Chamberlain (antes de se assumir gay) e Sharon Stone (bem antes de estourar). A implosão de “Allan Quatermain” encerrou sua carreira cinematográfica, mas ele seguiu ativo na TV por muitos anos. Entre outros trabalhos, dirigiu todos os seis episódios da aclamada minissérie “Washington: Behind Closed Doors” (1977), que rendeu um Emmy de Melhor Ator para Robert Vaughn. Ele se aposentou depois de dirigir e atuar como co-produtor executivo na série “Early Edition”, de 1996 a 2000.
Robert Vaughn (1932 – 2016)
Morreu o ator Robert Vaughn, que protagonizou a série dos anos 1960 “O Agente da UNCLE” e foi um dos pistoleiros originais do filme “Sete Homens e um Destino”. Ele faleceu na sexta (11/11), aos 83 anos, de leucemia. Vaughan nasceu em 1932 em Nova York, numa família de atores, e fez mais de 200 filmes e séries ao longo da carreira, desde que estreou como figurante no clássico “Os Dez Mandamentos” (1956). O primeiro papel importante veio logo em seguida, no western “Sangue de Valentes” (1957), em que interpretou Bob Ford, o homem que matou o fora-da-lei Jesse James. Ele foi um rebelde sem causa em “Vidas Truncadas” (1957) e até um adolescente das cavernas em “Teenage Cave Man” (1958), trash cultuado de Roger Corman, entre diversas aparições em séries televisivas, até sua carreira ganhar upgrade nos anos 1960 com uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por “O Moço de Filadélfia” (1959), estrelado por outro jovem talentoso de sua geração, Paul Newman. O destaque no Oscar lhe rendeu o convite para participar do western épico “Sete Homens e um Destino” (1960), ao lado de uma constelação de estrelas, como Yul Brynner, Steve McQueen, James Coburn, Charles Bronson e Eli Wallach. Dando vida ao pistoleiro “almofadinha” Lee, ele tem uma das cenas mais emotivas da produção, ao confessar seu medo de enfrentar os bandoleiros de Calveira (Wallach) ao grupo de fazendeiros que deveria proteger. Pelo papel, foi indicado ao Globo de Ouro de Melhor Estrela Jovem, prêmio que já não existe mais. Ao contrário de outros “atores de Oscar”, Vaughn nunca desprezou a televisão e aproveitou o sucesso fenomenal de “Sete Homens e um Destino” para preencher sua agenda com diversas participações em séries de western, acumulando passagens por “Gunsmoke”, “O Homem do Rifle”, “Zorro”, “Bronco”, “O Médico da Fronteira”, “Wichita Town”, “Law of the Plainsman”, “Laramie”, “Caravana”, “Bonanza”, “O Homem de Virgínia” e “Tales of Wells Fargo”, na qual viveu Billy the Kid, entre muitas outras. A rotina de participações especiais foi interrompida em 1964, quando foi convidado a estrelar a série “O Agente da UNCLE”. A produção foi uma das mais bem-sucedidas incursões televisivas ao gênero da espionagem, que atravessava sua era de ouro com os primeiros filmes de James Bond. Mas o êxito não foi casual. O próprio criador do agente 007, Ian Fleming, contribuiu para a criação do “Agente da UNCLE” – antes de ganhar o título pelo qual ficou conhecida, a produção tinha como nome provisório “Ian Fleming’s Solo”, além de girar em torno de um personagem introduzido em “007 Contra Goldfinger” (1964), Napoleon Solo. Vaughan viveu Solo, um agente secreto americano, que realizava missões ao lado de um aliado russo, Illya Kuryakin (David McCallum, hoje na série “NCIS”), o que era completamente inusitado na época da Guerra Fria. Assim como nos filmes de 007, a série era repleta de supervilões e mulheres lindas de minissaia. E fez tanto sucesso que virou franquia, rendendo livros, quadrinhos, brinquedos, telefilmes e um spin-off, a série “A Garota da UNCLE”, estrelada por Stefanie Powers (“Casal 20″), cuja personagem também foi criada por Ian Fleming. O padrão de qualidade da produção era tão elevado que os produtores resolveram realizar episódios especiais de duas horas, como filmes. Exibidos em duas partes na TV americana, esses episódios foram realmente transformados em filmes para o mercado internacional. Para ampliar o apelo, ainda ganhavam cenas inéditas e picantes. Um desses telefilmes de cinema, por exemplo, incluiu participação exclusiva para a tela grande da belíssima Yvonne Craig, um ano antes de virar a Batgirl na série “Batman”, como uma atendente desinibida de missões da UNCLE, em aparições completamente nua. A série, que durou até 1968, rendeu cinco filmes. Mas Vaughan ainda apareceu como Napoleon Solo num longa-metragem de verdade, durante o auge da popularidade da atração: a comédia “A Espiã de Calcinhas de Renda” (1966), estrelada por Doris Day. Vaughn foi indicado duas vezes ao Globo de Ouro como Napoleon Solo, e a fama do papel ainda lhe permitiu protagonizar um thriller de espionagem, “Missão Secreta em Veneza” (1966), ao lado da estonteante Elke Sommer. O fim da série, porém, o lançou numa rotina de coadjuvante no cinema. O detalhe é que, mesmo em papéis secundários, continuou listando clássicos em sua filmografia, como o policial “Bullit” (1968), em que voltou a contracenar com Steve McQueen e receber indicação a prêmio (o BAFTA de Melhor Coadjuvante), a comédia “Enquanto Viverem as Ilusões” (1969), o filme de guerra “A Ponte de Remagem” (1969), a sci-fi “O Homem que Nasceu de Novo” (1970), etc. Ele teve breve retorno à TV em 1972, desta vez numa produção britânica, “The Protectors”, que durou duas temporadas, mas também marcou época. A trama girava em torno de um trio de aventureiros europeus, dedicados a combater o crime internacional. Vaughn, claro, liderava a equipe. Ao voltar aos cinemas, participou do blockbuster “Inferno na Torre” (1974), seu terceiro filme com Steve McQueen, no qual viveu um senador preso no terraço de um arranha-céu em chamas, durante a festa de inauguração do empreendimento imobiliário. O filme é considerado um dos melhores do gênero catástrofe, que viveu seu auge na década de 1970. Após vencer o Emmy de Melhor Ator Coadjuvante pela minissérie “Washington: Behind Closed Doors”, Vaughn deu uma inesperada guinada para a ficção científica, participando do cultuado “Geração Proteus” (1977), como a voz de um supercomputador com inteligência artificial, fez “Hangar 18” (1980) e voltou a ser dirigido por Roger Corman em “Mercenários das Galáxias” (1980), uma das melhores produções influenciadas por “Guerra nas Estrelas” lançadas com baixo orçamento nos anos 1980. A lista de longas da época ainda inclui “Superman III” (1983), que os produtores tentaram transformar numa comédia, e “Comando Delta” (1986), o filme de ação estrelado por Chuck Norris e Lee Marvin, antes de nova retomada da carreira televisiva com a série “Esquadrão Classe A”. Vaughn estrelou a última temporada da atração, em 1986, como líder militar da equipe, oferecendo perdão pelos supostos crimes do esquadrão. A partir daí, as superproduções ficaram para trás e ele entrou de vez na era do VHS, fazendo diversos filmes B de ação, terror e comédia que preencheram as prateleiras das locadoras – coisas como “Comando de Resgate” (1988), “Transylvania Twit” (1989) e “Chud – A Cidade das Sombras” (1989). Paralelamente, voltou à rotina das aparições em séries, que manteve firme durante os anos 1990, período em que foi de “The Nanny” para “Lei & Ordem”. Ele também participou do elenco de “The Magnificent Seven”, série baseada no filme “Sete Homens e um Destino”, que durou duas temporadas, entre 1998 e 2000, antes de se mudar de vez para o Reino Unido, onde estrelou a atração mais longeva de sua carreira, “O Golpe” (The Hustler), exibida de 2004 a 2012, no qual liderava um grupo de vigaristas londrinos, na realização das mais diversas trapaças. Estabelecido em Londres, Vaughn ainda participou da novela “Coronation Street”, no ar desde 1960, mas voltou aos EUA para seus últimos papéis, que incluíram nova passagem pela franquia “Lei & Ordem” (num episódio de 2015 de “Law & Order: SVU”) e dois filmes, o thriller “The American Side” (2016) e o drama “Gold Star” (2016), seu último trabalho, em que teve o papel principal, como um homem à beira da morte. Ainda inédito, o filme registra o esforço do ator para trabalhar mesmo quando a saúde não lhe permitia mais. David McCallun, seu grande parceiro em “O Agente da UNCLE”, se declarou “devastado com a notícia” da morte do amigo. “Trabalhei ao lado de Robert durante tantos anos, a ponto de sentir que perdê-lo é como perder uma parte mim. Ele foi um excelente ser humano. Apreciei cada dia que trabalhei com ele”, afirmou.

