David McCallum, astro de “O Agente da UNCLE” e “NCIS”, morre aos 90 anos
O ator escocês David McCallum, que marcou época na TV ao interpretar o agente secreto Illya Kuryakin na série clássica “O Agente da U.N.C.L.E.” e o médico legista Donald “Ducky” Mallard na atual “NCIS”, faleceu nesta segunda-feira (25/9) aos 90 anos. O ator morreu de causas naturais no Hospital NewYork-Presbyterian, cercado por sua família, conforme anunciado por um porta-voz da rede CBS. Nascido em Glasgow em 19 de setembro de 1933, McCallum era filho de uma violoncelista, e de um violinista e líder de orquestra. A família mudou-se para a Inglaterra em 1936, quando seu pai foi contratado para conduzir a London Philharmonic. Embora seus pais desejassem que ele seguisse uma carreira na música, McCallum decidiu se tornar ator. Início da carreira no cinema Ele fez sua estreia no cinema britânico no final dos anos 1950 e se casou com a atriz Jill Ireland em 1957, após se conhecerem nas filmagens de “Na Rota do Inferno” no mesmo ano. O casamento durou uma década, até que Ireland o deixou pelo ator Charles Bronson. McCallum foi para Hollywood no começo dos anos 1960 e acabou escalado em filmes de sucesso, como “Freud – Além da Alma” (1963), de John Huston, e principalmente “Fugindo do Inferno” (1963), estrelado por Steve McQueen. A trama envolvia a fuga de um campo de concentração nazista e ator britânico acabou ganhando destaque na trama, como líder de uma das equipes encarregada de executar o plano ousado. Em seguida, ele entrou no épico sobre Jesus Cristo, “A Maior História de Todos os Tempos” (1964), de George Stevens, no qual interpretou Judas, aumentando ainda mais seu reconhecimento. O fenômeno de “O Agente da U.N.C.L.E.” Em ascensão em Hollywood, ele mudou completamente o rumo de sua carreira ao decidir assumir o papel do espião russo-americano Illya Kuryakin em “O Agente da U.N.C.L.E.” (The Man From U.N.C.L.E.), que foi ao ar de 1964 a 1968. O programa foi muito mais que um sucesso instantâneo. Verdadeiro fenômeno cultural, a série inspirada nos filmes de 007 transformou McCallum numa celebridade internacional. Mas seu êxito não foi casual. O próprio criador do agente 007, Ian Fleming, contribuiu para a criação do “O Agente da U.N.C.L.E.” – antes de ganhar o título pelo qual ficou conhecida, a produção tinha como nome provisório “Ian Fleming’s Solo”, além de girar em torno de um personagem introduzido em “007 Contra Goldfinger” (1964), Napoleon Solo. Robert Vaughn (1932–2016) viveu Solo, um agente secreto americano, que realizava missões ao lado de um aliado russo, Illya Kuryakin (McCallum), o que era completamente inusitado na época da Guerra Fria. Assim como nos filmes de 007, a série era repleta de supervilões e mulheres lindas de minissaia. E fez tanto sucesso que virou franquia, rendendo livros, quadrinhos, brinquedos, telefilmes e um spin-off, a série “A Garota da UNCLE”, estrelada por Stefanie Powers (“Casal 20″), cuja personagem também foi criada por Ian Fleming. O padrão de qualidade da produção era tão elevado que os produtores resolveram realizar episódios especiais de duas horas, como filmes. Exibidos em duas partes na TV americana, esses episódios foram realmente transformados em filmes para o mercado internacional. Para ampliar o apelo, ainda ganhavam cenas inéditas e picantes. Um desses telefilmes de cinema, por exemplo, incluiu participação exclusiva para a tela grande da belíssima Yvonne Craig, um ano antes de a atriz virar a Batgirl na série “Batman”, como uma atendente desinibida de missões da UNCLE, em aparições completamente nua. Além disso, Vaughan e McCallum ainda viveram Solo e Kuryakin em outras produções, como a comédia “A Espiã de Calcinhas de Renda” (1966), estrelada por Doris Day, e a sitcom “Please Don’t Eat the Daisies” (1965-1967). E voltaram a se reencontrar num telefilme de 1983, “A Volta do Agente da U.N.C.L.E.”. No auge de sua fama na década de 1960, McCallum ainda aproveitou para gravar quatro álbuns para a Capitol Records. Mas não como cantor. Em vez disso, o músico de formação clássica apresentava interpretações instrumentais de sucessos da época. Ele só veio a cantar num disco de 1996, intitulado “Open Channel D”, em referência a um bordão de “O Agente da U.N.C.L.E.”. Outras séries clássicas Após o fim da atração de espionagem, McCallum continuou a estrelar séries de sucesso. Uma das mais lembradas é “Colditz” (1972-1974), drama da BBC sobre prisioneiros de guerra, originalmente concebida como minissérie e que foi estendido em duas temporadas. Na trama, ele basicamente reviveu seu papel em “Fugindo do Inferno”, organizando uma grande fuga de campo de concentração. O ator também foi “O Homem Invisível” (The Invisible Man), numa série de 1975, e escrelou “Sapphire & Steel” (1979-1982), uma série britânica de ficção científica, ao lado de Joanna Lumley (“Absolutely Fabulous”). Depois disso, voltou a se encontrar com Robert Vaughn ao fazer uma participação especial em “Esquadrão Classe A”, que foi ao ar em 1986. Ele também apareceu em “Assassinato por Escrito, “SeaQuest 2032”, “Babylon 5”, “Law & Order” e até em “Sex and the City”, além de estrelar o thriller cibernético “VR.5”, primeira série sobre realidade virtual, de 1995 a 1997. O fenômeno de NCIS Em 2003, ele entrou em “NCIS”, onde deu vida a Ducky em todas as 20 temporadas da série, o equivalente a mais de 450 episódios, além de aparecer em derivados como “NCIS: Los Angeles” e videogames. Para viver o especialista em autópsias com um diploma em psicologia da Universidade de Edimburgo, McCallum aprendeu a realizar autópsias reais e frequentou convenções para médicos legistas. Os produtores executivos de “NCIS”, Steven D. Binder e David North, declararam: “Por mais de 20 anos, David McCallum conquistou o público ao redor do mundo interpretando o sábio, peculiar e, às vezes, enigmático Dr. Donald ‘Ducky’ Mallard. Ele era um estudioso e um cavalheiro, sempre cortês, um profissional consumado e nunca deixava passar a chance de uma piada.” Ele foi casado duas vezes. Depois de se separar de Jim Ireland, casou-se com a modelo Katherine Eaton Carpenter em 1967, com que viveu até seus últimos dias. Teve quatro filhos e oito netos.
John Sacret Young (1946-2021)
O roteirista John Sacret Young, que co-criou o drama médico de guerra “China Beach”, morreu na quinta-feira em Los Angeles, aos 75 anos, após uma batalha de 10 meses contra um câncer no cérebro. Seu primeiro trabalho como roteirista foi “Chandler”, um filme policial de 1971 estrelado por Warren Oates. Mas ele logo passou para a televisão, trabalhando como pesquisador e roteirista de “Os Novos Centuriões” (Police Story), um dos grandes sucessos da década de 1970 na rede CBS. Sua primeira criação foi a minissérie de guerra “Emboscada Fatal” (1980), sobre um oficial desiludido com a Guerra do Vietnã. O tema acabou revisitado em sua atração mais celebrada, “China Beach”, que narrava o horror da guerra pelos olhos de uma enfermeira do Exército (Dana Delany) e seus colegas em um hospital de campanha. “China Beach” durou quatro temporadas, entre 1988 e 1991, e três delas concorreram ao Emmy de Melhor Série de Drama. Young ainda venceu o WGA Awards, prêmio do Sindicato dos Roteiristas, por escrever um episódio de 1990 (“Souvenirs”), que ele também dirigiu. Enquanto estava em “China Beach”, ele se tornou mentor de jovens roteiristas que acabaram tendo carreiras brilhantes e até hoje agradecem a experiência de ter começado suas trajetórias tendo Young como chefe e orientador. “John era meu mentor e meu amigo. Ele foi um escritor excepcionalmente talentoso que foi generoso com seu tempo, atencioso, extremamente engraçado, paciente e durão”, disse John Wells em um comunicado, sobre a morte do antigo chefe. “Ele se preocupava profundamente com a escrita, com as palavras e com o artesanato. Ele tinha um padrão elevado e esperava que você o ultrapassasse. Ele deu uma chance a um escritor jovem e inexperiente, e eu serei eternamente grato por essa chance. ” John Wells fez mais que agradecer. Ele convidou seu velho mentor a participar da produção de “West Wing”, que ele criou em 1999. Young se tornou consultor da atração política em 2003, e a partir do ano seguinte virou produtor executivo e ainda escreveu quatro episódios – um deles novamente indicado ao WGA Awards. Young também escreveu episódios da subestimada mas pioneira série sci-fi “VR.5” (1995–1997), sobre tecnologia virtual, além dos roteiros do filme indicado ao Oscar “O Testamento” (1983) e da cinebiografia “Romero” (1989), em que Raul Julia viveu um arcebispo salvadorenho, sem contar inúmeros telefilmes. Seu trabalho televisivo mais recente foi como roteirista e co-produtor executivo de “Amigas para Sempre” (Firefly Lane), série lançada neste ano pela Netflix. Ele também assinou vários livros – o último deles, sobre sua experiência em Hollywood, ainda está inédito e só será publicado em 2022 – , ensinou a arte e o ofício da escrita em várias faculdades de prestígio, de Princeton à USC, e participou dos comitês do Humanitas Prize e da Writers Guild Foundation, a fundação do Sindicato dos Roteiristas.

