André Maranne (1926–2021)
O ator francês André Maranne, que ficou conhecido como parceiro do desastrado Inspetor Closeau (Peter Sellers) nos filmes de “A Pantera Cor-de-Rosa”, morreu em 12 de abril, aos 94 anos. Seu falecimento só ficou conhecido nesta quinta (6/5), mas a causa da morte não foi divulgada. A carreira começou na TV francesa em 1955, mas Maranne fez rapidamente a transição para o cinema falado em inglês três anos depois, com pequenos papéis em dois filmes estrelados por Stewart Granger, “O Rugido da Morte” e “A Verdade Dói”. Após mais três longas dirigidos pelo inglês Lewis Gilbert, “Amanhã Sorrirei Outra Vez” (1958), “Fruto de Verão” (1961) e “Revolta em Alto Mar” (1962), acabou se estabelecendo no mercado britânico e até apareceu em séries clássicas do Reino Unido, como “O Santo” e “Protectors”, antes de ser selecionado para seu papel mais conhecido. Ele encarnou pela primeira vez o sargento François Chevalier em “Um Tiro no Escuro” (1964), que foi rodado por Blake Edwards em Londres. Fez tanto sucesso como assistente do inepto chefe inspetor Charles Dreyfus (Herbert Lom) que reprisou o papel em mais cinco filmes, ao longo de duas décadas, despedindo-se em “A Maldição da Pantera Cor-de-Rosa” – feito com sobras de filmagens e lançado em 1983, três anos após a morte do ator principal da franquia, Peter Sellers. Maranne ainda trabalhou com Blake Edwards na comédia “Lili, Minha Adorável Espiã” (1970), retomou a parceria com Lewis Gilbert em “Paul e Michelle” (1974), travou “A Batalha da Grã-Bretanha” (1969), enfrentou James Bond em “007 Contra a Chantagem Atômica” (1965), participou do cult psicodélico “A Garota da Motocicleta” (1968), viajou na Tardis de “Doctor Who” (em 1967) e matou o público britânico de rir num episódio antológico de “Fawlty Towers” de 1975. Seus últimos filmes foram “O Fio da Navalha” (1984), com Bill Murray, e “Plenty, o Mundo de uma Mulher” (1985), com Meryl Streep, seguidos por várias minisséries britânicas até o fim da carreira em 1991.
William Peter Blatty (1928 – 2017)
Morreu William Peter Blatty, roteirista e diretor de cinema, mais conhecido como criador de “O Exorcista”. A confirmação de sua morte veio pelo twitter do cineasta William Friedkin, que dirigiu “O Exorcista”. Ele faleceu na quinta-feira (12/1), aos 89 anos, de câncer – mieloma múltiplo, um tipo de câncer no sangue – , em um hospital em Bethesda, Maryland (EUA). Antes de aterrorizar o mundo, Blatty se especializou em fazer o público rir, assinando quatro roteiros para o cineasta Blake Edwards, entre eles o ótimo “Um Tiro no Escuro” (1964), a melhor comédia da franquia “A Pantera Cor-de-Rosa”. Ele também escreveu “O Harém das Encrencas” (1965), de J. Lee Thompson, com Shirley MacLaine de odalisca, e “A Deliciosa Viuvinha” (1966), de Arthur Hiller, com o jovem Warren Beatty e Leslie Caron. A mudança de tom veio com a adaptação de “A Última Esperança da Terra” (1971), sci-fi distópica baseada no romance clássico “Eu Sou a Lenda”, de Richard Matheson. Chamado para consertar o roteiro, ele acabou ficando sem créditos, mas o resultado rendeu um clima de terror impressionante que contrastava muito com a primeira filmagem da obra, “Mortos que Matam” (1964). No mesmo ano, ele se afirmou como grande autor e escritor com a publicação de seu livro “O Exorcista”. O livro ficou impressionantes 57 semanas na lista dos dez best-sellers mais vendidos do New York Times, e despertou grande interesse de Hollywood. O próprio Blatty assinou a adaptação para o cinema, lançada dois anos depois. Dirigido por um mestre, William Friedkin, “O Exorcista” (1973) atingiu o raro patamar de obra-prima, não só do gênero terror, mas do próprio cinema. Impossível falar de Hollywood nos anos 1970 sem mencionar sua produção. Acompanhado por uma campanha de marketing avassaladora, sua estreia em 1973 foi um frisson, que mudou o terror para sempre – além de ajudar a criar o conceito de filme-evento, antecipando “Tubarão” (1975), de Steven Spielberg, e “Guerra nas Estrelas” (1977), de George Lucas. E o longa fazia jus ao hype. Até hoje considerado o filme mais assustador já feito, “O Exorcista” impressionou com uma coleção de cenas chocantes, que iam do profano ao escatológico, acompanhando as tentativas de dois padres de exorcizar uma adolescente possuída, ao mesmo tempo em que discutia aspectos filosóficos da fé. Algumas partes eram tão fortes que criaram dificuldades para sua liberação pela ditadura militar no Brasil, só chegando no país com um ano de atraso. Blatty venceu o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, um feito inesperado para um autor de terror. Também faturou um Globo de Ouro, de lambuja. O passo seguinte do escritor foi passar para trás das câmeras, dirigindo seu primeiro longa, também adaptação de um livro de terror de sua autoria, “A Nona Configuração” (1980). A trama se passava num castelo transformado em sanatório, que abrigava militares traumatizados pela Guerra do Vietnã. O detalhe é que o recém-chegado novo diretor do hospício (Stacy Keach) era ainda mais insano que os pacientes. A produção não rendeu o mesmo frenesi, mas Blatty colecionou o seu segundo Globo de Ouro de Melhor Roteiro. Enquanto isso, o estúdio Morgan Creek, tentando capitalizar com “O Exorcista”, lançou uma continuação que quase acabou com a franquia. Sem a participação de Blatty ou Friedkin, “O Exorcista II – O Herege” (1977) foi um fiasco de público e crítica. Visando recuperar o título, o estúdio fechou o retorno do escritor para “O Exorcista III” (1990), que ele também dirigiu, baseado em seu livro “Legião” (1983), a sequência literária oficial de “O Exorcista”. A trama juntava possessão e psiquiatria, os dois temas de suas duas obras anteriores de terror, e ignorava completamente o filme anterior. Na verdade, fazia conexão direta com o longa original ao recuperar o personagem do detetive policial William Kinderman, interpretado por Lee J. Cobb em 1973 e vivido por George C. Scott na continuação, investigando crimes cometidos por psicopatas diabólicos. Apesar da premissa inovadora – que seria copiada por inúmeros terrores, entre eles o recente “Livrai-Nos do Mal” (2014) – , o lançamento não teve a repercussão pretendida, ainda que parte da crítica tenha reverenciado sua capacidade de assustar. Blatty reclamou muito da Morgan Creek na época, mas apenas em 2016 foi possível comparar sua visão com a do estúdio, deixando claro a interferência em seu processo criativo. Uma edição do diretor foi lançada em Blu-ray em outubro passado, com um tom mais sombrio e final completamente diferente – sem o show pirotécnico que o estúdio acrescentou à revelia do cineasta. As cenas inéditas, porém, foram mal preservadas e possuem péssima qualidade. Mesmo assim, o lançamento arrancou elogios rasgados da crítica americana. Infelizmente, Blatty não teve outras chances de escrever e dirigir mais filmes desde “O Exorcista III”. Ele chegou a desenvolver uma minissérie baseada na franquia, mas o projeto foi substituído pela série “The Exorcist” em 2016, passada no mesmo universo de seus livros e filmes. O roteiro da minissérie inédita, intitulada “The Exorcist for the 21st Century”, deve ser lançado como livro.
Burt Kwouk (1930 – 2016)
Morreu o ator britânico Burt Kwouk, que ficou conhecido pelo papel de Cato Fong, o fiel criado oriental do Inspetor Clouseau na franquia de comédia “A Pantera Cor de Rosa”. Ele faleceu nesta terça-feira (24/5) aos 85 anos de idade, comunicou seu agente. Nascido no norte da Inglaterra, mas criado em Xangai, na China, Kwouk iniciou sua carreira na televisão britânica nos anos 1950 e, ao longo das seis décadas seguintes, fez participações em diversas atrações famosas, como “Danger Man”, “O Santo”, “Man of the World”, “Seres do Amanhã” e “Doctor Who” chegando a estrelar, nos últimos anos, 78 episódios da longeva soup opera “Last of the Summer Wine”, entre 2002 e 2010. Ele também atuou em vários filmes, alguns considerados clássicos, como “A Morada da Sexta Felicidade” (1958), estrelado por Ingrid Bergman, “As Sandálias do Pescador” (1968), com Anthony Quinn, e “Império do Sol (1987), de Steven Spielberg, além de produções B cultuadas – “A Seita do Dragão Vermelho” (1961), “As 13 Noivas de Fu Manchu” (1966), etc – e três longas do espião James Bond, incluindo o famoso “007 Contra Goldfinger” (1964) – quatro, se também contar a sátira “Cassino Royale” (1967). Mas será sempre mais lembrado por ter estrelado seis filmes da franquia “A Pantera Cor-de-Rosa”, desde “Um Tiro no Escuro” (1964) até os filmados após a morte de Peter Sellers, como o criado que realizava ataques de surpresa nos momentos mais inesperados, seguindo a orientação de testar a prontidão do Inspetor Clouseau a qualquer momento. Sua performance rendeu alguns dos momentos mais memoráveis da franquia e entronizou Cato entre os personagens mais conhecidos do cinema.


