Cannes: Shia LaBeouf lidera uma nova geração em American Honey
“American Honey”, da diretora britânica Andrea Arnold (“Aquário”), dividiu a critica presente no Festival de Cannes. Enquanto os blogueiros vaiaram, reclamando da longa duração e do fato de que “nada acontece”, além de cenas de sexo, as publicações impressas (a velha geração) rasgaram elogios ao filme, o primeiro que a cineasta rodou nos EUA. A produção é um road movie que acompanha uma trupe de adolescentes chapadões pela “América profunda”, cruzando o Oeste a reboque do carisma do personagem de Shia LaBeouf (“Transformers”), que recruta jovens pobres para vender assinaturas de revistas. Entre eles, destaca-se Star, vivida pela estreante Sasha Lane. Ela não é boa de vendas, mas compensa sendo muito boa de sexo. O roteiro foi inspirado em um artigo publicado em 2007 no jornal The New York Times, sobre grupos de jovens desajustados contratados por empresas para vender produtos pelo país. O filme explora o contraste entre os protagonistas sem perspectivas e as ricas comunidades do interior americano. E, conforme a diretora explicou, também foi baseado em sua própria experiência de pegar a estrada para conhecer os EUA. “Eu tive alguns momentos muito difíceis viajando por conta própria, me deparando com aquele deserto aberto”, disse Arnold, na entrevista coletiva do festival, revelando que chegou a ter aulas sobre como sobreviver a um tornado, ao chegar no Alabama. “Foi bastante interessante, mas também bastante solitário”. O resultado foi aproveitado na tela. “‘American Honey acabou sendo uma mistura da América que eu cresci vendo em Hollywood – a minha ideia romantizada dela – e a América contemporânea que eu vi durante minhas viagens”. Um país que, ela descobriu, é muito mais miserável que imaginava. “Fiquei impressionada pela miséria que vi. Quando as pessoas não tem dinheiro nos EUA, elas não tem direito à saúde pública nem podem ir ao dentista, como os pobres no Reino Unido. Esse tipo de coisa realmente me chocou.” Mas o que mais lhe chamou a atenção foi o tipo de comércio que viu prosperar nos lugares mais afastados, onde encontrou farmácias lotadas. “Perguntei-lhes o que vendia mais e eles disseram analgésicos para as pessoas mais velhas e antidepressivos para pessoas mais jovens. Todos tinham algum vício.” Shia LaBeouf acrescentou sua própria experiência pessoal ao relato. “Em Bakersville, onde meu pai viveu por um tempo, a única coisa que existe é uma prisão. Então, todo mundo trabalha na prisão. Eu sou parte dessa subclasse. É de onde eu venho, então eu sei sobre isso.” “Nessas cidades pequenas, em que não há presença industrial, a única opção de trabalho para quem está saindo da escola são lanchonetes de fast food. E, embora isso pareça muito triste, identifica quem são os personagens do filme”, explicou a cineasta. “A van dos garotos é um microcosmo do sonho americano, com pessoas tentando ganhar dinheiro para realizar seus sonhos”. Assim como o protagonista, Arnold também recrutou seu elenco ao redor da América, selecionando jovens sem muita experiência dramática para contracenar com LaBeouf e Riley Keough (“Mad Max: Estrada da Fúria”), entre eles um trabalhador da construção civil, um skatista e uma ex-dançarina exótica. A grande estrela, Sasha Lane, foi descoberta tomando sol numa praia, durante o spring break, um mês antes do início das filmagens. A princípio, Sasha desconfiou do projeto, já que incluía muitas cenas de sexo. “Mas embarquei na vibe de Andrea”, disse a atriz. “Eu não entedia nada do que ela falava, mas sempre me pareceu muito doce para ser maldosa. Logo vi que ela era alguém importante e que não se tratava de um truque para me fazer filmar uma pornografia barata”. Sasha não foi a única que precisou ser convencida para entrar na “viagem” da diretora. Ela também precisou seduzir Rihanna. A cena em Shia LaBeouf encontra Sasha Lane, dentro de um Walmart, foi feita ao som de “We Found Love”, da cantora. E para conseguir usar a música, ela precisou insistir muito. “Eu adoro começar uma carta com ‘querida Rihanna’”, ela brincou. “Eu tive que escrever várias delas, explicando de que forma usaríamos a música e qual era a proposta do filme e da cena”. Shia, que dança a canção, também precisou de algum convencimento. “Eu me lembro de Andrea chegando perto de mim no primeiro dia e dizendo ‘eu preciso que você dance Rihanna na frente de todo mundo’”, riu. “Foi bem constrangedor, não foi minha parte preferida das filmagens”. Por outro lado, o ator participou de outras situações mais, digamos, agradáveis. Assim como em “Ninfomaníaca” (2013), ele filmou várias cenas de sexo, algumas coletivas, outras raivosas, embaladas por música country e rap. O sexo entrou na trama pelo conceito básico da cineasta. “Ninguém compra revista hoje dia. O que aqueles jovens fazem não é vender papel, mas a si mesmos”, explicou Arnold. E como eles vendem bem. Vendem-se inclusive como futuros astros. Não por acaso, Sasha Lane é a grande revelação do Festival de Cannes 2016.
Série teen Faking It é cancelada pela MTV
O canal americano MTV anunciou o cancelamento da série “Faking It”, que termina em sua 3ª temporada. O episódio final do programa irá ao ar na próxima terça-feira (17/5) nos EUA. A série girava em torno de duas amigas, Karma (Katie Stevens, do reality show “American Idol”) e Amy (Rita Volk, da série “Major Crimes”), que querem a todo custo se tornarem populares na escola, e descobrem que podem conseguir isso fingindo ser um casal lésbico. Até que são forçadas a bancar sua farsa, com direito a beijos na frente de todos os amigos. Os problemas começam quando uma delas percebe que é realmente lésbica. “Minha esperança é que ‘Faking It’ seja a primeira série do que chamo de era pós-gay na televisão”, disse o criador da série Carter Covington ao site The Hollywood Reporter. “Nós sempre tentamos abordar a narrativa a partir de um ponto que vai além das histórias de pessoas assumindo a homossexualidade, e realmente exploramos as vidas de todos os nossos personagens, independentemente de sua sexualidade”. “Faking It”, entretanto, jamais agradou à comunidade LGBT por utilizar-se de diversos estereótipos e tratar a homossexualidade de forma fútil. A série tampouco agradou ao público em geral, sendo cancelada por causa da baixa audiência – a última temporada foi vista por menos de 500 mil pessoas por episódio (em todas as plataformas).
Patty Duke (1946 – 2016)
A atriz Patty Duke, que venceu o Oscar e teve uma série com seu nome antes de se tornar adulta, morreu na terça-feira (29/3), após sofrer complicações de uma infecção causada por uma perfuração no intestino. Ela tinha 69 anos. Patty nasceu Anna Marie Duke em Nova York, em 1946, e interpretou diversas nova-iorquinas ao longo de sua trajetória, que iniciou muito cedo. Ela ganhou o pseudônimo Patty ainda criança, aparecendo com este nome em seus primeiros trabalhos de 1954, aos oito anos de idade, quando começou a fazer pequenas participações em filmes, telenovelas e diversos teleteatros. A mudança foi exigência de seus empresários, que achavam “Anne Marie” pouco artístico. Os empresários, o casal John and Ethel Ross, não cuidavam apenas de sua carreira. O pai de Patty era um taxista alcoólatra e sua mãe sofria de depressão. Quando a menina tinha seis anos, a mãe teve um surto e expulsou seu pai de casa. Aos oito, a entregou aos cuidados do casal Ross, que passou a cuidar dela, mas não necessariamente de forma amorosa, transformando-a numa máquina de ganhar dinheiro. Forjaram currículo, mentiram sua idade e, quando ela se provava difícil de lidar, a viciaram em álcool. Tudo isto está em sua autobiografia. A criança tinha um talento evidente, que já se manifestava aos 12 anos, quando passou a se destacar em produções de diferentes gêneros, como o drama “A Deusa” (1958), a sci-fi “Quarta Dimensão” (1959) e a comédia “Feliz Aniversário” (1959). No mesmo período, ela fez sua estreia na Broadway, estrelando a peça “The Miracle Worker”, na qual deu vida a Helen Keller, uma garota cega, surda e muda. A peça fez enorme sucesso e ficou em cartaz por dois anos. O papel de Helen Keller acabou sendo, de forma precoce, o ponto alto de sua carreira. Em 1962, aos 16 anos, ela foi escalada para revivê-lo em “O Milagre de Anne Sullivan”, drama dirigido por Arthur Penn, no qual sua personagem precisava de ajuda constante da incansável professora Anne Sullivan (Anne Bancroft, que também atuou na peça). Por seu desempenho, Patty venceu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante e se tornou, na época, a pessoa mais jovem a conquistar um prêmio da Academia. O Oscar a deixou tão famosa que ela ganhou uma série com seu próprio nome, “The Patty Duke Show”. O título foi escolhido antes que a rede ABC soubesse qual seria trama. A ideia era criar uma atração para a estrelinha ascendente, o que quer que fosse. O fato é que, até então, não existiam programas estrelados por garotas da idade de Patty na televisão. Assim, para decidir sobre o que seria a série, o produtor-roteirista Sidney Sheldon (também criador de “Jeannie É um Gênio”) levou a jovem para passar uma semana com sua família. Na curta convivência, Sheldon reparou que Patty tinha dois lados distintos (mais tarde, ela seria diagnosticada com bipolaridade), o que lhe deu a ideia de criar uma trama sobre duas adolescentes idênticas. Na série, Patty vivia uma nova-iorquina moderna, que passa a conviver com sua prima idêntica (também interpretada pela atriz), vinda da Europa. Embora fossem iguais fisicamente, as duas não podiam ter gostos mais diferentes. E a confusão que suas semelhanças causavam alimentava a maioria das piadas do programa. “The Patty Duke Show” durou três temporadas, entre 1963 e 1966, e marcou época, inaugurando um filão que atualmente responde por boa parte da programação de canais pagos como Nickelodeon, Disney Channel e Freeform (ex-ABC Family): as séries de meninas. Fez tanto sucesso que Patty recebeu indicações ao Emmy, ao Globo de Ouro e também se lançou como cantora. Mas quando completou 18 anos, ela rompeu com os empresários exploradores e quis renegociar seu contrato, fazendo exigências que levaram um impasse e ao fim inesperado da atração, mesmo com boa audiência. Apesar de gravada em preto e branco, “The Patty Duke Show” continuou no ar em reprises ao longo das décadas, chegando a experimentar uma redescoberta em 1988, quando passou a integrar a programação do canal Nickeledeon. As reprises mantiveram a popularidade da produção, a ponto de gerar um telefilme de reencontro, 33 anos após seu cancelamento. Exibido em 1999, o telefilme mostrava as primas casadas, com filhos e até netos. Com o fim de sua série, Patty decidiu priorizar sua carreira cinematográfica. Ela já tinha estrelado seu primeiro filme como protagonista, a comédia adolescente “Uma Lourinha Adorável” (1965), como uma moleca andrógina, dividida entre a vontade de ser um menino, para ter mais liberdade e fazer esportes, e a primeira paixão colegial. Mas seu primeiro longa após “The Patty Duke Show” acabou seguindo na direção oposta, numa escolha arriscada, com o objetivo de mostrá-la adulta. Patty escandalizou ao decidir estrelar “O Vale das Bonecas” (1967). Na adaptação do romance trash de Jacqueline Susann, ela interpretava uma jovem estrela da Broadway que se viciava em drogas, fazia sexo casual, destruía lares e precisava ser internada para reabilitação. O filme era um dramalhão tão grande que virou cult, ao ser considerado um dos piores melodramas já feitos. Para reafirmar que era uma jovem moderna, ela também estrelou “Uma Garota Avançada” (1969), no qual se rebelava contra os planos de casamento de sua família, abandonando o lar para abraçar o estilo de vida boêmio do Greenwich Village, em Nova York. Mas os papéis de adulta não lhe renderam o mesmo sucesso da adolescência. Durante os anos 1970, ela se viu alternando participações em diversas atrações televisivas, como “Galeria do Terror”, “O Sexto Sentido”, “Havaí 5-0”, “Os Novos Centuriões”, “Police Woman” e “São Francisco Urgente”, com filmes B, como o terror “Sob a Sombra da Outra” (1972) e o desastre sci-fi “O Enxame” (1978). Em 1979, ela voltou à trama que a consagrou, estrelando uma versão televisiva de “O Milagre de Anne Sullivan”, desta vez no papel da professora, comprovando como o tempo tinha passado. Patty havia se tornado adulta demais até em sua vida pessoal, passando por três casamentos frustrados e um relacionamento polêmico com Desi Arnaz Jr., filho de Lucille Ball e Desi Arnaz, quando já tinha 24 anos e ele ainda era menor de idade. O escândalo quase destruiu sua carreira quando ela engravidou em 1971, e as revistas de fofoca especulavam que o pai podia ser o ator de 17 anos. Mas ela rapidamente se casou com John Astins (o Gomez da série “Família Addams”), registrando a criança como filho dele. O jovem cresceu para se tornar um hobbit, Sean Astin, astro da trilogia “O Senhor dos Anéis”. Patti ainda teve outro filho com John Astins, mas o casamento terminou em divórcio em 1983. Após esse período tumultuado, a atriz tentou retomar a carreira televisiva, estrelando quatro séries de curta duração. A que foi mais longe teve uma temporada completa de 22 episódios: a sitcom “It Takes Two”, na qual interpretou a mãe de dois futuros astros televisivos, os jovens Anthony Edwards (o Dr. Mark Greene de “Plantão Médico/E.R.”) e Helen Hunt (a Jamie Buchman de “Louco por Você/Mad About You”). As outras séries foram “Hail To The Chief”, em 1985, na qual interpretou a primeira mulher presidente dos EUA (durou 7 episódios), “Karen’s Song”, em 1987, como uma mãe divorciada (a filha era Teri Hatcher, de “Desperate Housewives”) que se envolve com um homem muito mais jovem (em 13 capítulos), e, por fim, o drama “Amazing Grace”, em 1995, como uma ex-alcoóltra que se torna pastora de uma igreja (5 episódios). Entre 1985 e 1988, ela foi eleita presidente do Sindicato dos Atores dos EUA (SAG, na sigla em inglês), chegando a comandar uma greve que conseguiu melhorar salários e condições de trabalho para os dubladores de animações. O período coincidiu com o ressurgimento das comédias adolescentes no cinema americano, o que lhe rendeu seu último papel de destaque no filme “Willy/Milly” (1986), como a mãe de uma moleca que, por meio de mágica, virava hermafrodita – uma versão extrema da ideia de “Uma Lourinha Adorável” (1965). Em 1987, ela publicou sua autobiografia, tornando-se a primeira celebridade a se assumir bipolar (ou maníaca-depressiva, como ainda se chamava a condição na época). A experiência a inspirou a virar ativista por melhores condições de saúde mental nos EUA, defendendo tratamentos de distúrbios de personalidade. Após contar sua história em livro, Patty estrelou “Call Me Anna” (1990), uma telebiografia de sua própria vida, intitulada com seu nome de bastimo. Ela ainda apareceu nas comédias “Por Trás Daquele Beijo” (1992), “Nos Palcos da Vida” (2005) e no filme religioso “A História de Oseias” (2012), estrelado por seu filho Sean Astin, além de diversos telefilmes – entre eles, “Luta Pela Vida” (1987), como mulher de Jerry Lewis. Nos últimos anos, experimentou uma fase de redescoberta, recebendo uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood e convites para participar de várias séries, como “Glee” e “Drop Dead Diva”. Ela também se tornou uma das poucas atrizes a aparecer nas duas versões de “Havaí 5-0”, ao estrelar um episódio do remake. A melhor participação, porém, ficou reservada para seu último papel, num episódio de “Liv e Maddie” exibido em 2015 no Disney Channel. Na ocasião, ela interpretou duas personagens idênticas, evocando “The Patty Duke Show”: a avó e a tia-avó gêmeas da protagonista Liv (Dove Cameron). Uma bela homenagem para sua despedida das telas. “Eu te amo, mãe”, resumiu Sean Astins, ao informar aos fãs sobre a morte de Patty. “Que atriz!”, lembrou o apresentador Larry King. “Obrigado, Patty, por tudo que nos deu”, manifestou-se a própria Academia.


