Maria Alice Vergueiro (1935 – 2020)
A atriz, professora e diretora Maria Alice Vergueiro morreu nesta quarta (3/6) em São Paulo, aos 85 anos, após ser internada no Hospital das Clínicas, há uma semana, com forte insuficiência respiratória, um quadro de pneumonia e suspeita de covid-19. Considerada uma das grandes damas do teatro moderno e da contracultura brasileira, Vergueiro estrelou mais de 60 peças, filmes e produções televisivas. Além de seu trabalho em clássicos do palco brasileiro, do Teatro de Arena, sob a direção de Augusto Boal, passando pelo Oficina, de José Celso Martinez Corrêa, e até o Teatro do Ornitorrinco, do qual foi uma das fundadoras, ela ficou conhecida por viralizar num dos primeiros vídeos disseminados pela internet no Brasil, o célebre “Tapa na Pantera”, de 2006, no qual interpretava uma senhora maconheira. Feito por três estudantes de cinema — um deles, Esmir Filho, lançou-se cineasta com “Os Famosos e Os Duendes da Morte”, vencedor do Festival do Rio de 2009 – “Tapa na Pantera” foi parar no YouTube sem querer, sem a permissão dos autores, e se tornou o primeiro fenômeno brasileiro viral. Ela também participou de filmes emblemáticos do cinema nacional, dentre eles três longas de Sergio Bianchi, “Maldita Coincidência” (1979), “Romance” (1988) e “Cronicamente Inviável” (2000). Estrelou ainda a adaptação de “O Rei da Vela” (1983), clássico teatral dirigido por José Celso, além de “O Corpo” (1991) de José Antonio Garcia, “Perfume de Gardênia” (1992), de Guilherme de Almeida Prado, “A Grande Noitada” (1997) de Denoy de Oliveira, “Quanto Dura o Amor?” (2009) de Roberto Moreira, e “Topografia de Um Desnudo” (2009) de Teresa Aguiar. Maria Alice fez até novelas. Em 1987, ela interpretou Lucrécia, em “Sassaricando”. Em 2003, a atriz descobriu que sofria de Parkinson, uma doença degenerativa do sistema nervoso central. Mas não parou de atuar. Seu último trabalho na televisão foi em 2016, quando interpretou uma síndica maconheira em “Condomínio Jaqueline”, e seu último filme foi o o recente “Vergel” (2017) de Kris Niklison. Em 2018, ela ainda se tornou tema de documentário – “Górgona”, que fez um apanhado de sua vida e obra.
Flávio Migliaccio (1934 – 2020)
O ator Flávio Migliaccio, visto recentemente na novela “Órfãos da Terra”, foi encontrado morto na manhã desta segunda (4/5) em seu sítio em Rio Bonito, no Rio de Janeiro, aos 85 anos. Junto com o corpo, o caseiro do sítio encontrou uma carta escrita pelo ator. A notícia foi confirmada pelo 35º BPM de Rio Bonito, delegacia que ainda investiga a causa da morte. Flávio nasceu no Brás, em São Paulo, em 15 de outubro de 1934, e teve uma longa carreira. Sua estreia como ator aconteceu no teatro, ainda nos anos 1950, ao lado da irmã, Dirce Migliaccio (1933-2009). Os dois participaram de diversas montagens do Teatro de Arena. Décadas depois, Dirce acabou virando a Emília, do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, e também uma das irmãs Cajazeira, de “O Bem Amado”. Do teatro, Flávio foi para as telas. E embora sua carreira televisiva tenha sido notável, seus filmes foram ainda mais impressionantes. A lista incluiu clássicos absolutos como “O Grande Momento” (1958), de Roberto Santos, precursor do Cinema Novo, a antologia “Cinco vezes Favela” (1962), no segmento de Marcos Farias, “Fábula” (1965), de Arne Sucksdorff, “A Hora e Vez de Augusto Matraga” (1965), trabalhando novamente com Santos, “Todas as Mulheres do Mundo” (1966), de Domingos de Oliveira, “Terra em Transe” (1967), de Glauber Rocha, “Arrastão” (1967), do francês Antoine d’Ormesson, “O Homem que Comprou o Mundo” (1968), de Eduardo Coutinho, “O Homem Nu” (1968), outra parceria com Roberto Santos, “Pra Frente, Brasil” (1982), de Roberto Farias, só para citar alguns, inscrevendo seu nome na história do Cinema Novo e da comédia contemporânea brasileira. Ele também foi cineasta. Escreveu e dirigiu nada menos que sete comédias, de “Os Mendigos” (1963) até uma produção dos Trapalhões, “Os Trapalhões na Terra dos Monstros” (1989). Paralelamente, deu início à carreira televisiva na antiga rede Tupi, encontrando grande sucesso em 1972 com o papel de Xerife, na novela “O Primeiro Amor”. O personagem se tornou tão popular que ganhou derivado, “Shazan, Xerife e Cia”, série infantil que Flávio estrelou com Paulo José (o Shazan). A atração marcou época. O ator se tornou muito popular com as crianças dos anos 1970, tanto pelo Xerife quanto pelo Tio Maneco, papel que ele criou e desempenhou no cinema e na TV. O primeiro filme, “Aventuras com Tio Maneco” (1971), virou fenômeno internacional, vendido para mais de 30 países. Sua criação ainda apareceu em “O Caçador de Fantasma” (1975) e “Maneco, o Super Tio” (1978), antes de ganhar série, “As Aventuras do Tio Maneco”, exibida pela TVE entre 1981 e 1985. A estreia na rede Globo aconteceu com a novela de comédia “Corrida do Ouro”, em 1974. E vieram dezenas mais, como “O Casarão” (1976), “O Astro” (1977), “Pai Herói” (1979), “Chega Mais” (1980), “O Salvador da Pátria” (1989), “Rainha da sucata” (1990), “A Próxima Vítima” (1994), “Torre de Babel” (1998), “Vila Madalena” (1999), “Senhora do Destino” (2004), “América” (2005), “Caminho das Índias” (2007), “Passione” (2010), “Êta! Mundo Bom” (2017) e a recente “Órfãos da Terra”, exibida no ano passado, em que viveu o imigrante Mamede. Ele também fez muitas séries, com destaque para “Tapas & Beijos” (2011–2015), ao lado de Andréa Beltrão e Fernanda Torres. E se manteve ligado ao universo infantil por toda a carreira, aparecendo nos filmes “Menino Maluquinho 2: A Aventura” (1998), de Fernando Meirelles, e “Os Porralokinhas” (2007), de Lui Farias. A lista enorme de interpretações de Flávio Migliaccio ainda inclui dois dos melhores filmes sobre futebol já feitos no Brasil, “Boleiros: Era Uma Vez o Futebol…” (1998) e a continuação “Boleiros 2: Vencedores e Vencidos” (2006), ambos com direção de Ugo Giorgetti. Em 2014, ele foi homenageado no Festival de Gramado com um Troféu Oscarito honorário pelas realizações de sua carreira. Seus últimos trabalhos foram a minissérie “Hebe”, da Globoplay, e o filme “Jovens Polacas”, de Alex Levy-Heller, lançado em fevereiro passado.

