Bacurau mistura ação e reflexão num filme de peso
Novo filme de Kleber Mendonça Filho (“Aquarius”) e Juliano Dornelles (“O Ateliê da Rua do Brum”), “Bacurau” é um western brasileiro. Segue a trilha dos históricos “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1963) e “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” (1969), de Glauber Rocha (1938-1981). Filmes que já se pautavam por grande força política e preocupação social, tentando desvendar um universo nordestino, marcado pela violência opressora, de um lado, e resistente, de outro. Dialoga também com a produção nacional que sempre teve nos cangaceiros uma fonte de inspiração permanente, oportunidade de pensar e de criar a partir da realidade do nordeste brasileiro para alcançar o país. “Bacurau” incorpora novos elementos a tudo isso. Tem invasores agressores e poderosos. Que chegam a tirar o povoado do mapa e produzem assassinatos aparentemente inexplicáveis, valendo-se até de drones com aspecto de disco voador. Falam inglês, seu comandante é um alemão com pinta e comportamento de nazista, e os colaboradores que atuam com eles falando português, além do inglês, são desprezados e descartados na primeira oportunidade. Ou seja, estamos no terreno da alegoria política, que soa tão atual, mas talvez seja mesmo uma constante da nossa história. Até porque a trama não se nutre do momento atual (foi filmado antes da eleição de Bolsonaro), embora pareça inspirado nele. Percepção acurada? Premonição? Visão apurada do processo histórico, da relação entre a casa-grande, a senzala e a dimensão internacional que as envolve. A produção mistura ação e reflexão no mesmo produto. É um filme forte, intrigante, provocador, mas é também uma aventura, muito envolvente. Por isso, pode ser visto como um filme de gênero, embora não esteja preocupado em seguir cartilhas ou convenções. Fala ao sentimento do público, mostra uma violência que tem de ser decifrada e que, afinal, leva a algumas conclusões. Talvez distintas, para cada grupo de espectadores. Mas que deve mexer com todo mundo, de um jeito ou de outro. Um elenco enorme e dedicadíssimo a seus personagens passa uma sensação de grande veracidade e remete a um mundo tão familiar quanto distante. Sonia Braga, como a dra. Domingas, reúne as dimensões da solidariedade e do descontrole, a indicar a profunda humanidade da figura que encarna. O alemão Udo Kier (astro de inúmeros terrores clássicos) é a maldade forasteira, mas também o impasse e a solidão. Bárbara Colen faz Teresa, mulher forte e lutadora. Os forasteiros colaboracionistas são patéticos, mas a gente até se esquece disso porque Karine Teles e Antonio Saboia nos conquistam pela qualidade de seus desempenhos. Thomás Aquino, como Pacote, e o inusitado bandido local Lunga, papel de Silvero Pereira, nos mostram como é estar no fio da navalha entre a fome e o crime. Todos os personagens são bem construídos e têm um ator ou atriz à sua altura. A trilha sonora é também bem marcante, vai de Gal Costa e seu objeto voador não-identificado a Geraldo Vandré, passando por Sérgio Ricardo. Marcos reconhecíveis da resistência que sempre pautou a nossa música e o nosso cinema, que combinam bem com a temática tratada no filme. A comunidade do povoado da Barra, no Rio Grande do Norte, divisa com a Paraíba, onde a maior parte do filme foi gravada, participou ativamente dos trabalhos de apoio à produção e como figurantes, contribuindo para a autenticidade das situações mostradas. “Bacurau” é um filme de peso da produção brasileira recente, que já vem recebendo o maior reconhecimento internacional, na forma de convites para mais de 100 festivais e mostras de cinema pelo mundo, e já conquistou prêmios nos festivais de cinema de Munique, de Lima e o importante Prêmio do Júri do Festival de Cannes.
Festival de Toronto seleciona três filmes brasileiros em sua mostra principal
A organização do Festival de Toronto 2019 divulgou uma lista abrangente de filmes que integrarão sua programação oficial. E entre os títulos estão três filmes brasileiros. Dois deles já foram premiados em Cannes, “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, e “A Vida Invisível”, de Karim Aïnouz. O terceiro é “Três Verões”, de Sandra Kogut, estrelado por Regina Casé (“Que Horas Ela Volta?”), que inicia sua carreira no circuito dos festivais. Os três integrarão a mostra World Contemporary Cinema, a principal de Toronto. No ano passado, o vencedor do evento (que é escolhido pelo público) foi “Green Book”, que acabou levando o Oscar de Melhor Filme. Estrelado por Sonia Braga (“Aquarius”), Barbara Colen (idem), Karine Teles (“Benzinho”) e pelo alemão Udo Kier (do clássico “Suspiria”), “Bacurau” venceu o Prêmio do Júri no Festival de Cannes e retrata o drama de um povoado isolado no nordeste brasileiro que descobre que não consta mais no mapa. A partir daí, se torna alvo de atentados. Considerado o Melhor Filme da mostra Um Certo Olhar, no Festival de Cannes, “A Vida Invisível” acompanha Eurídice e Guida, duas irmãs jovens e inseparáveis que enfrentam os pais conservadores no Rio de Janeiro dos anos 1950 para realizar seus sonhos: Eurídice (Carol Duarte, de “O Sétimo Guardião”) e quer ser pianista na Áustria e Guida (Julia Stockler, da série “Só Garotas”) quer ir atrás de seu amor na Grécia. Nada sai como planejado. Mas as duas contam com o apoio de outras mulheres para sobreviver ao mundo machista. “Três Verões”, por sua vez, reflete a situação política do Brasil acompanhar o impacto de operações como a Lava Jato numa família envolvida em esquemas de corrupção, apresentando a situação com um viés de luta de classes, pelo olhar de seus empregados. O foco é na personagem de Casé, caseira de uma casa de praia pertencente a uma família rica, na qual os proprietários só aparecem durante os fins de ano. Além destes filmes, Toronto também selecionou “Wasp Network”, do francês Olivier Assayas, que tem produção do brasileiro Rodrigo Teixeira. O filme será exibido fora de competição, em sessão especial. Por fim, a mostra Wavelengths, dedicada a filmes mais experimentais, vai contar ainda com mais dois títulos nacionais: “Sete Anos em Maio”, de Affonso Uchôa, e “A Febre”, de Maya Da-Rin. O Festival de Toronto vai acontecer entre os dias 5 e 15 de setembro no Canadá.
Volta de Kleber Mendonça Filho a Cannes acontece sem novos protestos
Três anos depois de mobilizar fotógrafos no tapete vermelho de Cannes, com protestos na première de “Aquarius” contra o impeachment de Dilma Rousseff, então chamado de “golpe”, o cineasta Kleber Mendonça Filho voltou ao festival francês sem se manifestar contra o governo, em contraste com as passeatas que aconteceram no mesmo dia no Brasil. Desta vez, o cineasta pernambucano não fez nenhum tipo de manifestação política, passando com sua equipe pelo tapete sem maior alarde. Havia expectativa de que Mendonça Filho e o co-diretor do longa Juliano Dornelles, além do elenco, esboçassem algum protesto contra os cortes na educação e cultura promovido pelo governo de Jair Bolsonaro. O próprio Mendonça é alvo de um processo da Secretaria Especial da Cultura, que cobra mais de 2 milhões por divergências na prestação de contas de seu primeiro filme, “O Som ao Redor” (2012), algo que o diretor chegou a caracterizar como perseguição política. Em uma carta aberta publicada nas redes sociais no ano passado, ele afirmou estar sofrendo “uma punição inédita no Cinema Brasileiro” pela cobrança. Mas neste ano o cineasta disse, em entrevista para a imprensa internacional, que “o protesto agora é o filme”. Estrelado por Sonia Braga, Karine Telles e o alemão Udo Kier, entre outros, “Bacurau” se passa em uma cidadezinha do sertão do Nordeste que, de uma hora para outra, desaparece do mapa.
Bacurau: Filme de Kleber Mendonça Filho que disputará a Palma de Ouro ganha primeiro trailer
A Vitrine Filmes divulgou o primeiro trailer de “Bacurau”, novo filme de Kleber Mendonça Filho (“Aquarius”), realizado em parceria com Juliano Dornelles (“O Ateliê da Rua do Brum”), que terá première mundial no Festival de Cannes. A prévia começa explicando o título, mas não esclarece nada da trama. Estrelado por Sonia Braga (também de “Aquarius”), Barbara Colen (idem), Karine Teles (“Benzinho”) e pelo alemão Udo Kier (do clássico “Suspiria”), entre outros, “Bacurau” mistura gêneros como terror, ficção científica e western. Os diretores e roteiristas descrevem a obra como um filme de aventura ambientado no Brasil “daqui a alguns anos”. A trama se passa em um pequeno povoado do sertão cuja tranquilidade é ameaçada após a morte, aos 94 anos, de Dona Carmelita, mulher forte e querida por quase todos. Dias depois, os moradores de Bacurau percebem que a comunidade não consta mais nos mapas. “Bacurau” também ganhou um pôster internacional, acompanhando sua disputa da Palma de Ouro. Vale lembrar que, da última vez em que esteve no festival francês, em 2016, Kleber Mendonça Filho realizou com a equipe de “Aquarius” uma manifestação de protesto contra o processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Este ano, ele não terá respaldo do presidente da Ancine, que desistiu de ir ao evento. O Festival de Cannes acontece entre os dias 14 e 25 de maio e a exibição de “Bacurau” está marcada para quarta-feira (15/5). Ainda não há previsão para a estreia comercial, mas existe expectativa de um lançamento na primavera brasileira.
Willem Dafoe vai filmar trama noir no Maranhão com Morena Baccarin
O ator americano Willem Dafoe (“Aquaman”) vai passar uma temporada nas praias do Maranhão. O detalhe é que não serão férias, mas trabalho. Ele esteve no final de dezembro em São Luis e nos Lençóis Maranhenses buscando locações para o longa “Trópico”, que vai produzir e protagonizar. Com filmagens previstas para abril e estreia em dezembro, o filme será dirigido por sua mulher, a italiana Giada Colagrande. Será o terceiro trabalho do ator no Brasil, após atuar em palcos paulistanos e cariocas em 2014, com o espetáculo surrealista “A Velha”, de Robert Wilson, e estrelar o último filme de Hector Babenco, “Meu Amigo Hindu” (2015). Em entrevista para o jornal O Globo, ele revelou que sua conexão com o Brasil é ainda anterior. “Minha relação com o Brasil pode parecer casual, mas nasce de uma paixão de mais de 15 anos, quando conheci Seu Jorge nas filmagens de ‘A Vida Marinha com Steve Zissou” (2004), de Wes Anderson. A gente até gravou o clipe de ‘Tive Razão'”, lembrou o ator de 63 anos. Em 2011, ele veio pela primeira vez ao país, acompanhando a exibição do filme “Amor Obsessivo”, dirigido por sua esposa, no Festival do Rio. No elenco de “Tropico”, que terá distribuição nacional pela Pandora Filmes, estão confirmados o velho amigo do ator, Seu Jorge, além de Sonia Braga e Morena Baccarin — a brasileira das séries “Gotham” e “Homeland”, que vai aproveitar a passagem pelo país para participar da 3ª temporada de “Sessão de Terapia” (Globoplay) . Descrito como um noir ambientado nos Lençóis Maranhenses, em meio a uma comunidade indígena, o projeto, coproduzido no Brasil pela Bidou Pictures, mistura suspense e romance, e conta a história do relacionamento entre um investigador (Dafoe) e duas gêmeas — papel duplo de Morena Baccarin. Com roteiro de Barry Gifford, parceiro de David Lynch em “Coração Selvagem” (1990) e “Estrada Perdida” (1997), o filme partiu do desejo de Giada de rodar um noir inspirado em clássicos dos anos 1940, como “A Dama de Shanghai” (1947), de Orson Welles, “Gilda” (1946), de Charles Vidor, e “A Carta” (1940), de William Wyler. “Queria que a trama se passasse num lugar com histórico colonial e exótico para os padrões americanos e europeus”, contou Colagrande para O Globo. “Cogitei o Pelourinho, na Bahia, mas quando vi imagens dos Lençóis Maranhenses fiquei impactada. Eu queria uma terra sagrada que proporcionasse um elemento mágico e espiritual, e o Brasil tem uma mistura enorme de religiões e filosofias europeias e africanas.
Nicolas Roeg (1928 – 2018)
Morreu o aclamado diretor inglês Nicolas Roeg, o homem que caiu no cinema com David Bowie e Mick Jagger. Ele faleceu em sua casa, em Londres, na madrugada de sexta (23/11), aos 90 anos de idade. Referenciado por seus clássicos dos anos 1970, Roeg dizia que só tinha ingressado na indústria cinematográfica porque havia um estúdio em frente à sua casa de infância em Marylebone, no centro oeste de Londres, onde conseguiu seu primeiro emprego em 1947. Ele começou como office boy e foi subindo de escalão aos poucos, passando para ajustador de foco, operador de câmera e finalmente assistente de fotografia nos anos 1960, quando comandou a segunda unidade de blockbusters como “Lawrence da Arábia” (1962) e “Doutor Jivago” (1965). Logo, assumiu a direção de fotografia de produções cultuadas como “A Orgia da Morte” (1964), “Fahrenheit 451” (1966), “Longe Deste Insensato Mundo” (1967) e “Petúlia, um Demônio de Mulher” (1968). Sua estreia na direção foi em “Performance” (1970), concebido como veículo promocional para o cantor Mick Jagger, mas que acabou se tornando uma obra tão experimental e complexa que o próprio estúdio relutou em fazer seu lançamento. O longa ficou dois anos guardado antes de chegar às telas, e mesmo após a estreia demorou a ser apreciado, tornando-se um dos primeiros exemplos do que se costuma chamar de “cult movie”. Seu filme seguinte também virou cult, “A Longa Caminhada” (1971), sobre duas crianças perdidas no outback australiano – uma deles, o próprio filho do diretor – , que são salvas por um jovem aborígene em meio a uma caminhada ritualista. O drama de sobrevivência, porém, quase foi proibido pela censura britânica, devido a uma cena de nu frontal da atriz Jenny Agutter, então com apenas 17 anos, que rendeu muita polêmica na época. Da mesma forma, “Inverno de Sangue em Veneza” (1973), suspense estrelado por Donald Sutherland, também enfrentou forte censura por uma cena de sexo entre os protagonistas e só foi ter maior reconhecimento após sair da sombra de “O Exorcista”, o grande lançamento de terror do ano, que o eclipsou completamente. Revisto, passou a ser considerado uma obra-prima por sua edição não convencional, que antecipou o padrão de cortes frenéticos que viriam a ser associados à montagem dos suspenses das décadas seguintes. Por mais celebrados que esses filmes tenham se tornado entre cinéfilos, nenhum atingiu a idolatria gerada pelo quarto longa de Roeg, “O Homem que Caiu na Terra” (1976), que marcou a estreia de David Bowie no cinema. O filme também ajudou a popularizar a persona do cantor como um alienígena disfarçado entre humanos, imagem idealizada pelo próprio Bowie dois anos antes, na época do hit “Ziggy Stardust”. Bowie embarcou tanto no projeto que adotou como nova identidade o visual do filme, incorporando um personagem que batizou de Thin White Duke, além de usar fotos do longa como capas de dois discos, “Station to Station” (1976) e “Low” (1977). Mesmo assim, o impacto de “O Homem que Caiu na Terra” foi maior em circuitos de arte do que como sucesso comercial. Roeg voltou a trabalhar com um “roqueiro”, Art Garfunkel, em “Bad Timing – Contratempo” (1980), filme que venceu o Festival de Toronto, e decidiu tentar o cinema comercial com a comédia “Malícia Atômica” (1985), sobre um suposto encontro entre Marilyn Monroe e Albert Einstein, mas seu filmes dos anos 1980 tiveram ainda menos bilheterias. Em compensação, afetivamente essa foi sua melhor fase, graças à parceria artística e romântica com a atriz Theresa Russell, sua Marilyn Monroe e estrela da maioria de seus filmes do período, com quem se casou em 1986. Por ironia, ele só foi conhecer o êxito financeiro quando sua filmografia começou a estagnar e no primeiro filme sem a participação de sua esposa, desde que começaram a trabalhar juntos. Com “Convenção das Bruxas” (1990), Roeg finalmente atingiu as massas que não o conheciam, ao mesmo tempo em que manteve sua principal característica, ao criar um novo cult. Combinação de aventura e terror infantil, o filme em que Anjelica Huston vive uma bruxa continua a ser reprisado na TV e com grande audiência até hoje. O sucesso, porém, foi efêmero, já que o cineasta fez apenas mais três longas cinematográficos na carreira. O terror “Desejo Selvagem” (1991) marcou o fim de seu casamento com Theresa Russell e os dois últimos nem foram lançados no Brasil, apesar de “Two Deaths” (1995) ter sido estrelado por Sonia Braga. O diretor ainda fez alguns trabalhos na TV, como o telefilme “A Maldição da Selva” (1993), a minissérie “Sansão e Dalila” (1996) e um episódio de “O Jovem Indiana Jones”, que foi considerado o melhor da série, antes de sair de cena com o terror “Puffball” (2007), fracasso de público e crítica. O fato de não ter estudado cinema, mas aprendido na prática, numa escalada de funções ligadas à fotografia, ajudou-o a criar uma linguagem cinematográfica própria, que o tornou um verdadeiro autor e inspiração para gerações seguintes. “Filmes não são roteiros – filmes são filmes”, costumava dizer, para demonstrar a importância das imagens – da colocação das câmeras à edição, passando pela direção de arte e de artistas. Essa capacidade autoral não foi tão reconhecida como merecia. Ao longo da carreira, Nicolas Roeg foi indicado a três prêmios BAFTA (da Academia britânica), competiu três vezes pela Palma de Ouro e uma pelo Urso de Ouro nos festivais de Cannes e Berlim, além de ter vencido Toronto em 1980. Ainda assim, nada do que fez foi suficiente para que a Academia, o Globo de Ouro e sindicatos dos Estados Unidos percebessem que ele existia. Roeg jamais foi apreciado por Hollywood. Mas impactou cinéfilos de todo o mundo, tendo ajudado a formar o olhar cinematográfico de Christopher Nolan, Paul Thomas Anderson, Steven Soderbergh e Danny Boyle, que mais de uma vez assumiram-se influenciados por sua arte. Um diretor, em especial, deve sua paixão pelo cinema literalmente a Roeg, iniciada ainda na infância, no dia em que ele conheceu um set pela primeira vez, ao visitar o pai nas filmagens de “O Homem que Caiu na Terra”. Trata-se do filho de David Bowie e hoje cineasta Duncan Jones, que publicou uma foto no Twitter em que aparece de pijamas e pirulito na mão, ao lado do pai e de Roeg. “Obrigado por fazer tantas escolhas corajosas, e dar a este estranho rapaz de pijama um amor permanente pelo cinema”, ele escreveu, como homenagem. Just heard another great storyteller, the inimitable Nicolas Roeg left us today. What an incredible body of work he’s left us with!All my love to his family.Thank you for making so many brave choices, & giving this strange little lad in pajamas an ongoing love of filmmaking. pic.twitter.com/QVg2znq3Rs — Duncan Jones (@ManMadeMoon) November 24, 2018
Extraordinário sensibiliza com apelo irresistível à tolerância
Embora o chamariz aqui sejam Julia Roberts e Owen Wilson, os pais da família, quem impõe o ritmo em “Extraordinário” e torna o filme especial é o intérprete do filho, um garoto de 11 anos, o jovem ator Jacob Tremblay no papel de August Pullman. É por causa de Jacob que nos emocionamos com “Auggie”, pois quando ele aparece em cena nunca vemos um ator desempenhando um papel, mas um garoto com uma integridade, uma capacidade de sugerir um mundo, incomum para a sua idade. Já tínhamos visto o garoto fazer algo semelhante em “O Quarto de Jack” (2015), e lá quem venceu o Oscar foi Brie Larson, que fazia a mãe. Mas repetir a dose, num contexto totalmente diferente, comprovam que o menino segue um caminho que vale a pena acompanhar com atenção. Aliás, é interessante como a escritora RJ Palacio descreve o personagem no livro. Ela não dá um rosto para o menino, diz apenas que Auggie nasceu com uma desfiguração genética facial e que, mesmo depois das 27 cirurgias feitas, ainda se encontra muito longe de parecer um garoto comum. É verdade que se o diretor Stephen Chbosky (que anteriormente filmou sua própria novela, o ótimo “As Vantagens de Ser Invisível”), tivesse sido fiel ao livro, trabalhando apenas com a visão subjetiva – ou seja, nunca mostrando o rosto do garoto, apenas seu ponto de vista – , o efeito seria menos manipulador. Mas existe uma riqueza na manipulação emocional do diretor, graças ao profundo entendimento que o ator mirim demonstra, e que torna o filme irresistível. Não há truques barato de melodrama sobre a doença da semana em “Extraordinário”. O Auggie que Jacob compõe vive um emaranhado de conflitos e nenhum deles é simples. Os sentimentos são contraditórios. Depois de viver os primeiros dez anos enfurnado dentro de casa, com aulas particulares, o garoto enfrenta o primeiro dia na escola. O capacete de astronauta que ele usa para sai, por sinal, não se presta apenas à analogia de alguém que se esconde, mas também a ideia de que existe um novo planeta a se aventurar, e esse planeta é a Terra, um lugar onde de certa forma Auggie nunca viveu. E então sua vida passa a ser uma montanha de russa de emoções, onde conviverá com crianças de todo tipo e enfrentará a desilusão, a frustração, a dor da rejeição, e também o encantamento e a alegria, todos em estados muito puros. Sim, existe uma ambição grande aqui, uma vontade de vasculhar os sentimentos dos personagens por dentro. A adaptação do roteiro, escrito pelo diretor junto com Steve Conrad (“A Procura da Felicidade”) e Jack Thorne (“Minha Nova Vida”), expande a experiência de rejeição do menino, a certa altura, deslocando o ponto de vista para a irmã Via (vivida de forma intensa por Izabela Vidovic), pelo amigo tolerante (o igualmente ótimo Noah Jupe) e outros personagens, que capturam visceralmente como nascem os mal-entendidos e como há uma propensão a muitas vezes fazermos leituras erradas das pessoas. A analogia pode parecer tola, mas com seus bons sentimentos, o filme convoca os extremistas, judeus e palestinos, norte-americanos e islamitas, sul-coreanos e norte-coreanos para um abraço de tolerância. Tem um ufanismo que lembra muito os filmes de Frank Capra. Como diz, em certo ponto, a menina Summer: “Ao escolher entre estar certo e ser gentil, escolha ser gentil”. De fato, escolher a gentileza vem se tornando uma coisa cada vez mais difícil no mundo, mas quando há uma predisposição, como a que o filme nos oferece – mesmo em quem desconfia sempre das mensagens reconfortantes – , uma luz se acende e é possível se sentir muito bem.
Dona Flor e Seus Dois Maridos é tão distinto do filme original quanto uma telenovela
É difícil, diante desta nova adaptação do clássico romance de Jorge Amado, não se lembrar da primeira versão de “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, a de Bruno Barreto, lançada nos cinemas em 1976. Ambas são reflexos e produtos de seu tempo. O filme de Bruno Barreto foi produzido em um momento em que o erotismo no cinema brasileiro já estava se encaminhando para o seu auge da ousadia, que ocorreria na primeira metade dos anos 1980. É também um filme que tenta ser um pouco mais livre do texto do escritor baiano e talvez por isso flua melhor. Ter Sônia Braga como Flor e José Wilker como Vadinho também ajudou bastante. A nova versão, dirigida por Pedro Vasconcelos, que tem no currículo vários trabalhos para a televisão, inclusive a última telenovela das nove da Rede Globo, é também produto de nosso tempo, muito mais comportado no quesito sexo e nudez – em parte, devido a maior consciência sobre a chamada objetificação do corpo da mulher, mas também porque diminuiu bastante o impacto de se ir ao cinema para ver a estrela da novela nua nas telas – , embora Juliana Paes apareça sim sem roupa, de maneira tímida. Outra questão atual que o filme recoloca em pauta é a violência contra a mulher, vista em uma sequência rápida, mas bastante incômoda de Vadinho (Marcelo Faria), que agride a esposa para conseguir dinheiro para o jogo. É apenas um aspecto mais sombrio da personalidade do personagem, mas que depõe muito contra a figura outrora simpática do malandro brasileiro. O personagem recupera sua simpatia em outras passagens posteriores, mas não deixa de parecer uma espécie de encosto depois de morto: ao mesmo tempo em que traz prazer físico e sexual para Flor, também a escraviza, de certo modo. É uma abordagem um pouco mais pesada do que a dos anos 1970, nesse aspecto. As diferenças também se estendem aos aspectos formais, onde o “remake” se mostra mais parecido com uma novela. Pedro Vasconcelos e seu diretor de fotografia até procuram disfarçar as deficiências, mas sem conseguir convencer. O jogo de luz e sombras usado para compor os interiores, assim como um ou outro ângulo que tenta distanciar a obra de uma telenovela, parecem um tanto forçados. Mas mesmo estes esforços caem por terra diante de alguns cacoetes, como a repetição de temas musicais, algo próprio de programa televisivo. A produção não buscou nem mesmo escolher canções menos manjadas. O roteiro também opta por dar a Flor um protagonismo tão forte que torna seus dois maridos bastante secundários. Não que isso seja um problema em si, mas talvez o personagem do segundo marido, Teodoro (Leandro Hassum), merecesse ser mais do que um paspalhão, longe da nobreza que perpassava o personagem quando vivido por Mauro Mendonça. Leandro Hassum, com seu humor físico típico, parece ter perdido muito da graça depois da cirurgia bariátrica, mas continua apostando no que costumava fazer. O foco do filme passa a ser, então, o esforço de Flor de se distanciar do espírito de Vadinho, ao mesmo tempo que não consegue se livrar da tentação do desejo que a consome, e que não é nem de longe satisfeito por Teodoro. Porém, o modo como o filme estica os diálogos entre os dois também faz com a adaptação pareça – não exatamente uma novela, mas – um antigo teleteatro. O próprio Marcelo Faria fez o Vadinho na montagem teatral por alguns anos e está acostumado com o personagem. Isso poderia ser bom, mas no filme não parece resultar em algo positivo, mesmo com o esforço do ator e de Juliana Paes. Se o primeiro filme marcou o cinema brasileiro com impacto de blockbuster, o segundo chega de mansinho, sem fazer alarde, com uma abertura limitada ao Nordeste, antes de se estender para o resto do Brasil.
Clipe de Yann reúne Britney Spears, Demi Lovato e Lana Wachowski contra homofobia no Brasil
O cantor brasileiro Yann lançou um clipe-manifesto contra a homofobia que transforma o Brasil no país que mais mata homossexuais. “Igual” inclui participações de diversas celebridades, inclusive artistas internacionais, como as cantoras Britney Spears, Céline Dion, Lorde e Demi Lovato, e os cineastas John Waters (“Hairspray”) e Lana Wachowski (“Matrix”, série “Sense8”), que aparecem rapidamente em cena para reforçar a mensagem do protesto. “Este vídeo é dedicado às 343 pessoas LGBTI+ mortas por crimes de ódio no Brasil em 2016”, diz um texto no começo do clipe. Além dos citados, o clipe inclui ainda Alfonso Herrera, Boy George, Bruno Gagliasso, Chelsea Handler, Claudia Alencar, Diplo, Dita Von Teese, Fernanda Lima, Jason Mraz, Jesuíta Barbosa, John Waters, Laerte, Luba, Melanie C, MØ, Nico Tortorella, Sonia Braga, Tegan Quinn (da dupla Tegan & Sara) e a banda Chainsmokers. A direção do clipe ficou a cargo do próprio Yann. Toda a renda obtida com a venda digital e streaming de “Igual” será revertida para entidades de apoio à comunidade LGBT+.
Jacob Tremblay e Julia Roberts emocionam em novo trailer de Extraordinário
A Lionsgate divulgou o pôster final e um novo trailer do drama “Extraordinário” (Wonder), sobre um garoto com deformidade facial que precisa se adaptar à escola e enfrentar todo o tipo de preconceito. Narrada pelo menino, a prévia vai fundo nas emoções, mostrando as dificuldades de relacionamento da criança, que encontra apoio de seus pais. A trama leva às telas o best-seller infantil homônimo de RJ Palacio sobre Auggie Pullman, que nasceu com uma deformidade facial e estudou em casa por toda a vida, até que, pela primeira vez, é matriculado numa escola regular e passa a conviver com outras crianças da sua idade. O filme é estrelado por Jacob Tremblay, o menino de “O Quarto de Jack” (2015), que aparece irreconhecível sob a maquiagem da produção. Ele vive o filho deformado de Julia Roberts (“Jogo do Dinheiro”) e Owen Wilson (“Zoolander”), e neto da brasileira Sonia Braga (“Aquarius”), que ainda não apareceu nos vídeos divulgados. O elenco ainda inclui Mandy Patinkin (série “Homeland”), Izabela Vidovic (série “The Fosters”), Ali Liebert (série “Strange Empire”), Millie Davis (série “Orphan Black”) e Bryce Gheisar (série “Walk the Prank”). O roteiro foi escrito por Jack Thorne (criador da série “White Panthers”) e Steve Conrad (“A Vida Secreta de Walter Mitty”), e a direção é de de Stephen Chbosky (“As Vantagens de Ser Invisível”). Originalmente previsto para novembro, o lançamento foi adiado para 7 de dezembro no Brasil, 20 dias após chegar aos cinemas dos Estados Unidos.
Remake de Dona Flor e Seus Dois Maridos com Juliana Paz ganha primeiro trailer
O remake de “Dona Flor e Seus Dois Maridos” ganhou pôster e seu primeiro trailer. A nova versão traz Juliana Paes (“A Casa da Mãe Joana”) no papel eternizado por Sonia Braga. E a prévia já demonstra como cada produção é resultado de sua época, detalhe que nem a trilha retrô do vídeo é capaz de disfarçar. O longa de 1976, um dos maiores sucessos do cinema brasileiro, veio em meio ao boom da pornochanchada e fazia da nudez de seus protagonistas seu principal chamariz. Já o remake chega numa época de muitos besteiróis pudicos e parece centrar a trama em piadas sobre falta de potência sexual, apoiadas no humorista Leandro Hassum (“Até que a Sorte nos Separe”), que parece ter mais falas e destaque que Mauro Mendonça no original. O elenco ainda traz Marcelo Faria (“O Carteiro”) como Vadinho, o marido fogoso, papel vivido com grande desinibição por José Wilker. Desde elenco, Marcelo Faria é o único já habituado ao papel, que interpretou há anos no teatro. Por sinal, a nova versão tem direção de Pedro Vasconcelos, diretor de novelas da Rede Globo e responsável também pela versão teatral. No cinema, ele só assinou um filme, justamente um besteirol: “O Concurso” (2013). Ou seja, não é um Bruno Barreto. Já Juliana Paes assume pela segunda vez um papel que foi eternizado por Sonia Braga. Em 2012, ela protagonizou o remake da novela “Gabriela”. Tanto Dona Flor quanto Gabriela são personagens criadas pelo escritor Jorge Amado. O romance de Dona Flor foi publicado em 1966 e se passa na década de 1940, acompanhando uma professora de culinária de Salvador dividida entre dois amores, seu primeiro marido boêmio, já morto, e o atual, bastante conservador. A situação ganha ares de realismo fantástico quando o espírito do falecido passa a visitar sua cama, sem que mais ninguém consiga vê-lo. A versão filmada por Bruno Barreto levou 10,735 milhões de pessoas aos cinemas brasileiros e, durante 34 anos, manteve-se como o filme nacional mais visto de todos os tempos. Atualmente, ele ocupa o terceiro lugar no ranking das produções brasileiras com maior público, atrás de “Os Dez Mandamentos” (11,215 milhões) e “Tropa de Elite 2” (11,146 milhões). “Dona Flor e seus Dois Maridos” também já foi minissérie na televisão, em 1998, com Giulia Gam, Edson Celulari e Marco Nanini nos papeis principais. O novo longa-metragem estreia em 2 de novembro, em circuito limitado ao Nordeste.
Menino do Quarto de Jack sofre bullying em novo trailer de Extraordinário
A Lionsgate divulgou um novo trailer de “Extraordinário” (Wonder), melodrama infantil estrelado por Jacob Tremblay, o menino de “O Quarto de Jack” (2015), que aparece irreconhecível sob a maquiagem da produção. No filme, ele é o filho deformado de Julia Roberts (“Jogo do Dinheiro”) e Owen Wilson (“Zoolander”), e neto da brasileira Sonia Braga (“Aquarius”), que ainda não apareceu nos vídeos divulgados. A trama leva às telas o best-seller infantil homônimo de RJ Palacio sobre Auggie Pullman, um menino que nasceu com uma deformidade facial e estudou em casa por toda a vida, até que, pela primeira vez, é matriculado numa escola regular e passa a conviver com outras crianças da sua idade. A prévia mostra as dificuldades de relacionamento da criança, o bulling, o apoio e a ansiedade dos pais e o início das primeiras amizades na escola. O elenco ainda inclui Mandy Patinkin (série “Homeland”), Izabela Vidovic (série “The Fosters”), Ali Liebert (série “Strange Empire”), Millie Davis (série “Orphan Black”) e Bryce Gheisar (série “Walk the Prank”). O roteiro foi escrito por Jack Thorne (criador da série “White Panthers”) e Steve Conrad (“A Vida Secreta de Walter Mitty”), e a direção é de de Stephen Chbosky (“As Vantagens de Ser Invisível”). A estreia está marcada para 23 de novembro no Brasil, uma semana após o lançamento nos Estados Unidos.










