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    Mia Madre exibe o talento de Nanni Moretti para retratar a vida e a morte

    17 de dezembro de 2015 /

    Nanni Moretti é um realizador italiano de grande talento e sensibilidade, capaz de mostrar o cotidiano da vida ao lado das questões políticas e filosóficas que o envolvem, no drama ou na comédia. Seu humor é inteligente, muito crítico, seu jeito de lidar com as emoções, muito verdadeiro. Não há perfumaria nos seus filmes, tudo é importante. Até o que não parece ser, o que é mais banal. A obra cinematográfica do cineasta relaciona o pessoal e o político em personagens como o próprio Papa, no seu filme anterior, “Habemus Papam” (2011). Ou o cinema e Berlusconi, em “O Crocodilo” (2006), a vida pessoal e a cidade de Roma, em “Caro Diário” (1993), entre outros. “Mia Madre”, seu mais recente trabalho, dialoga com um de seus melhores filmes anteriores, “O Quarto do Filho” (2001). Nos dois casos, é de perda e de luto que se trata. Tema difícil, doloroso, que exige cuidado no trato. Moretti transita muito bem nesse terreno e sem perder o humor. Margherita (Margherita Buy) é a protagonista da história. Diretora de cinema, está realizando um longa-metragem que discute questões políticas atuais, como a luta pela manutenção do emprego, o enfrentamento da repressão da polícia, os interesses econômicos do capital. Rigorosa e exigente, encontra problemas na atuação e no relacionamento com um astro internacional que incluiu em seu filme, Barry Huggins (John Turturro). Em meio à lida com seu ofício, Margherita tem de tratar de questões pessoais importantes: a mãe está muito doente, hospitalizada, exigindo cuidados. Ela compartilha essa tarefa, as decisões e os sentimentos que a envolvem, com seu irmão Giovanni (o próprio Moretti). Enquanto isso, sua filha vive a adolescência e tem um forte vínculo com a avó, que sempre a ajudou no estudo do latim. A proximidade da morte faz com que todos tenham de lidar com a perda de uma pessoa querida, que sempre foi forte, decidida, uma educadora e intelectual de mão cheia, sempre lembrada e procurada por ex-alunos. O filme explora a dimensão da realidade da cineasta, ao mesmo tempo em que traz à tona suas memórias e reflexões, suas inseguranças, medos e sonhos. Tudo tão amalgamado que chega a se confundir. A memória muitas vezes nos trai, a realidade dela é parcial, fragmentada. Nossos desejos se misturam com nossas percepções, os fatos, com a imaginação, tudo pode mesclar-se. E, no entanto, a vida exige de nós objetividade, quase o tempo todo. Essa dimensão fluída do real é muito bem captada pelo cinema de Nanni Moretti e é um dos pontos altos do filme. A atriz Margherita Buy (retomando a parceria de “O Crocodilo”) tem excelente atuação ao protagonizar essa trama. John Torturro (“Amante a Domicílio”) dá um ótimo toque de estranheza e humor ao personagem do ator-problema estrangeiro, que é também uma figura adorável, apesar de tudo. Moretti como ator tem agora um papel um pouco menor, mas igualmente importante na narrativa. A atriz veterana Giulia Lazzarini (“Grazie di Tutto”), no papel de Ada, a mãe doente, atua com uma placidez muito apropriada à figura retratada e aos seus momentos finais de vida. “Mia Madre” não tem a mesma força mobilizadora de grandes emoções de “O Quarto do Filho”, mas isso também tem a ver com a questão retratada. A perda de um filho jovem é mais importante e demolidora do que a perda de uma mãe já idosa. Aqui, algo da ordem natural das coisas segura o desespero da perda. Tudo acaba se dando de um modo mais sereno, ou um pouco menos perturbado. Mas são momentos decisivos na vida das pessoas. Sofridos e complexos. É o fluxo da vida. Que o cinema de Moretti retrata com dignidade e ajudar a compreender.

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    Garota Sombria Caminha pela Noite seduz com sua estranheza

    17 de dezembro de 2015 /

    Um filme de terror falado em persa e com vampira iraniana, eis a singularidade de “Garota Sombria Caminha pela Noite”, que além de tudo é dirigido por uma mulher, Ana Lily Amirpour, em belíssimo preto e branco. A curiosidade que isso desperta já é meio caminho para o culto, realmente conquistado pelo longa, mesmo que, na verdade, Amirpour seja inglesa e que o filme tenha sido totalmente produzido nos Estados Unidos. Apesar da carreira indie americana, lançado no Festival de Sundance e premiado com o Gotham Awards, “Garota Sombria” tem inegável espírito estrangeiro, com uma estranheza que impregna cada cena. A combinação de diferentes culturas é registrada na beleza plástica de sua fotografia, mas também num andamento narrativo irregular, que se excede e se arrasta em determinados instantes, como um filme de arte – lembra a fase em preto e branco de Jim Jarmusch. Nada disso, porém, prejudica o desenvolvimento final, que é bastante satisfatório, dentro de uma história, de fato, muito simples. Pela trama simples, desfilam alguns personagens que vivem uma vida desolada em Bad City, cidade de pesadelo em que o lixão (um buraco) serve para o despejo de cadáveres humanos. O traficante da cidade representa o que há de pior naquele lugar, e em contraste permite que a vampira, apesar de fazer suas vítimas, mostre-se menos cruel. Ela tem uma moral própria, dando preferência àqueles que “merecem” ter seu sangue sugado. Claro que o traficante canalha é um deles. Por isso, a cena do encontro dos dois é um dos pontos altos do filme. A moça que interpreta a vampira, Sheila Vand (de “Argo”), é, além de atraente, muito boa no papel. Algo, porém, se destaca sem que ela precise expressar. Sua predileção por camiseta listrada e calças esportivas ilustram uma clara identidade juvenil. Entretanto, quando vai matar, isso se esconde sob um véu, que cobre todo o seu corpo como uma jovem muçulmana tradicional. O detalhe é que o figurino se mescla com as sombras de forma deliberada. A capa preta tem sido uma imagem expressionista potente, que acompanha os vampiros desde o cinema mudo, mas, ao se transformar em véu, assume uma carga inédita de terror, relacionando a submissão religiosa ao surgimento de algo maligno. Eis mais um ponto positivo deste trabalho único, cujas qualidades vão além do mero gostar ou não gostar. Isso porque “Garota Sombria” é um filme com mais estética que conteúdo. Ou seja, interessa mais pela atmosfera e a beleza de suas imagens. E, nesse sentido, trata-se de uma obra cheia de acertos.

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