Ator, cantor e ativista Harry Belafonte morre aos 96 anos
O lendário ator e cantor Harry Belafonte faleceu nesta terça-feira (25) aos 96 anos de idade de insuficiência cardíaca. Além de sua atuação no meio artístico, ele também era amplamente conhecido como um grande pioneiro e ativista dos direitos civis. Sua morte marca o fim de uma vida incrível e de um legado duradouro. Nascido em Nova York e de origem jamaicana, Belafonte foi um dos primeiros protagonistas e produtores negro de Hollywood. Sua carreira artística decolou na década de 1950, quando ele se estabeleceu como um raro ídolo e símbolo sexual não branco, e quando também se tornou um dos principais artistas da música caribenha nos Estados Unidos, com sucessos como “Day-O (The Banana Boat Song)” e diversos álbuns chegando ao topo das paradas. Seu objetivo inicial, porém, era a atuação. Belafonte estudou no Actors Studio e na New School, ao lado de outros grandes futuros atores como Walter Matthau e Marlon Brando, e durante esse período também desenvolveu uma amizade duradoura com Sidney Poitier, cujos pais eram das Bahamas. Paralelamente, se apresentava em casas noturnas de música folk, cantando para pagar as contas. Conseguiu trabalhos em peças musicais e ganhou um Tony por sua performance no musical “Almanac” em 1954. Ao mesmo tempo, estreou no cinema com uma pequena participação no musical “Bright Road” (1953). Seu primeiro papel de destaque no cinema foi em outro musical, a adaptação cinematográfica da ópera “Carmen Jones”, de Oscar Hammerstein, dirigida por Otto Preminger. A exposição lhe rendeu um contrato com a RCA Record e dois álbuns em 1956, que alcançaram o topo das paradas da Billboard, ajudando a transformar o estilo calypso, que apresentava influências da música do Caribe, num fenômeno comercial. A carreira na música acabou lhe rendendo três Grammys e lhe abriu as portas de Hollywood, que sempre foi seu objetivo principal. Após dois filmes com Dorothy Dandrige, Belafonte passou a aparecer nas telas com atores brancos e a provocar o racismo da época. Em “Ilha nos Trópicos” (1957), seu personagem foi romanticamente perseguido por uma mulher branca rica (Joan Fontaine), numa história que causou muita controvérsia (e grande sucesso de bilheteria) na época. E em dois filmes lançados em 1959, ele interpretou um ladrão de banco ao lado de um parceiro racista (Robert Ryan) em “Homens em Fúria”, de Robert Wise, e sobreviveu a um desastre nuclear em “O Diabo, a Carne e o Mundo”, apenas para lutar contra Mel Ferrer pela atriz sueca Inger Stevens. Ambos os filmes foram financiados por sua própria empresa, HarBel Productions. Em 1968, o artista apareceu com a cantora inglesa loira e de olhos azuis Petula Clark em seu especial na NBC. Durante uma música, Petula tocou o antebraço de Belafonte, marcando a primeira vez que um homem negro e uma mulher branca se tocaram na televisão dos Estados Unidos. E este simples contato desencadeou uma controvérsia nacional. Sua longa amizade com Sidney Poitier rendeu dois filmes nos anos 1970, “Um por Deus, Outro pelo Diabo” (1972) e “Aconteceu num Sábado” (1974), ambos dirigidos por Poitier. O primeiro fez História e é considerado um marco na representação dos negros no gênero western – e influência em “Django Livre”, de Quentin Tarantino. O filme trazia Belafonte como Buck, um caçador de recompensas que ajuda um grupo de ex-escravos a fugir pelo Oeste americano, enquanto Poitier interpretava um pregador que se unia a ele em sua jornada. Sua filmografia ainda inclui um telefilme sobre o famoso treinador de futebol americano Eddie Robinson em 1981 e participações em três filmes de Robert Altman dos anos 1990, “O Jogador” (1992), “Prêt-à-Porter” (1994) e “Kansas City” (1996). Ele também teve uma aparição marcante em “Infiltrado na Klan” (2018), de Spike Lee, como um homem que descreve um linchamento. Mas seu trabalho mais lembrado costuma ser “A Cor da Fúria” (1995), que apresenta uma realidade alternativa onde os papéis raciais são invertidos – os negros controlam a sociedade e os brancos são marginalizados. No filme, ele é um milionário que acaba sequestrado por um branco desempregado, vivido por John Travolta. Harry Belafonte também teve forte atuação social. Ele usou sua plataforma para lutar contra a discriminação racial e social, e se envolveu ativamente no movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos. Ele marchou ao lado de Martin Luther King Jr. nos anos 1960 e apoiou várias organizações que buscavam a igualdade racial e a justiça social. Foi Belafonte quem atraiu celebridades para a Marcha da Liberdade em Washington em 1963, quando King proferiu seu histórico discurso “Eu tenho um sonho”. Mais tarde, ele participou da marcha de Selma a Montgomery, no Alabama (imagens de arquivo de sua participação podem ser vistas no filme “Selma” de 2014) e se sentou ao lado da viúva de King no funeral do líder dos direitos civis dos EUA. Belafonte também foi a força motriz por trás da organização sem fins lucrativos USA for Africa, lançada para erradicar a fome no continente africano, que gerou o single de grande sucesso “We Are the World”, cantado em coro por artistas como Michael Jackson, Bruce Springsteen, Bob Dylan e Ray Charles. Um ano depois, ele foi o mentor da campanha de corrente humana de 1986, Hands Across America, em benefício dos pobres dos EUA. O artista também se envolveu nos esforços para acabar com o apartheid na África do Sul e libertar Nelson Mandela. Em uma entrevista recente para a NPR, Belafonte lembrou como uma frase dita por sua mãe, quando ele tinha apenas 5 anos, o inspirou a virar o homem que se tornou. “Ela nunca deixou sua dignidade não ser esmagada”, ele disse. “E um dia, após voltar para casa sem conseguir encontrar trabalho e lutando contra as lágrimas, ela me disse: ‘Nunca deixe a injustiça passar sem ser desafiada’. E isso realmente se tornou uma parte profunda do DNA da minha vida. Muitas pessoas me perguntam: ‘Quando você decidiu se tornar um ativista como artista?’ Eu digo a elas: ‘Eu era um ativista muito antes de me tornar um artista'”.
Ator e diretora de Selma dizem que filme foi vítima de racismo no Oscar
O filme “Selma: Uma Luta Pela Igualdade” (2014), que a Paramount liberou de graça para aluguel digital nos EUA, em apoio aos protestos contra o racismo estrutural, teria sido vítima deste mesmo racismo durante o Oscar 2015. Um dos filmes mais aclamados pela crítica em 2014, alcançando 99% de aprovação no Rotten Tomatoes, “Selma” teve uma recepção frustrante da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, recebendo apenas duas indicações ao Oscar: Melhor Canção Original (que ganhou) e Melhor Filme. Mas todos esperavam uma nomeação histórica para Ava DuVernay em Melhor Direção, além do reconhecimento da atuação impressionante de David Oyelowo como Martin Luther King Jr. Enquanto isso, dramas medíocres como “O Jogo da Imitação” (8 indicações), “A Teoria de Tudo” (5 indicações) e “Sniper Americano” (6 indicações) saíram consagrados. A frustração da equipe de “Selma” voltou à tona nesta semana, durante uma conversa de Oyelowo com a Screen International, em que ele acusou a Academia de ter sido racista. O ator lembrou que os atores de Selma usaram camisetas “I Can’t Breathe” em homenagem a Eric Garner, que, assim como no recente caso de George Floyd, foi sufocado até a morte por policiais brancos em julho de 2014. Integrantes da Academia teriam comentado que eles estavam “mexendo com m****” e não votariam no filme porque “onde já se viu fazer isso?” DuVernay confirmou o relato de Oyelowo no Twitter. “História verdadeira”, ela escreveu. Na ocasião, nenhum ator negro foi indicado entre as 20 vagas de interpretação possíveis do Oscar, disparando uma campanha histórica que enquadrou o racismo da Academia nas redes sociais com a hashtag #OscarSoWhite. Nos anos seguintes, a Academia mudou de comando e rumos, trabalhando para diversificar seu quadro de membros. Isto resultou nas vitórias até então impensáveis de “Moonlight” (2016) e “Parasita” (2019) na premiação, apesar da derrota do impactante “Infiltrado na Klan” (2018) para o convencional “Green Book” (2018) no ano retrasado. True story. https://t.co/l7j8EUg3cC — Ava DuVernay (@ava) June 5, 2020
Selma: Filme premiado de Ava Duvernay é liberado de graça nas plataformas digitais dos EUA
Depois de a Warner liberar a versão digital de “Luta por Justiça” (2019) de graça para o público americano, a Paramount seguiu a tendência e está oferecendo acesso gratuito a “Selma: Uma Luta Pela Igualdade” (2014) durante o mês de junho nos EUA. O anúncio acompanha os protestos que agitam o país e pedem um fim da brutalidade policial e o racismo estrutural após a morte de George Floyd, um homem negro desarmado em Minneapolis que foi sufocado por policiais brancos na rua à luz do dia. “Esperamos que este pequeno gesto incentive as pessoas em todo o país a examinar a história de nossa nação e refletir sobre as maneiras pelas quais a injustiça racial afeta nossa sociedade. A mensagem principal de ‘Selma’ é a importância da igualdade, dignidade e justiça para todas as pessoas. Claramente, essa mensagem é tão vital hoje quanto em 1965”, disse o estúdio em comunicado. A diretora do longa, Ava DuVernay, também chamou atenção para a disponibilização gratuita em sua conta do Twitter. “Precisamos entender de onde viemos para fazer estratégias para onde estamos indo. A história nos ajuda a criar o modelo”. Indicado ao Oscar de Melhor Filme, “Selma” retrata a marcha dos direitos civis comandada por Martin Luther King Jr., que em 1965 reunião uma multidão numa passeada de cinco dias no estado do Alabama, que foi da cidade de Selma até Montgomery, em defesa da garantia do direito ao voto dos afro-americanos. O longa trouxe David Oyelowo no papel de Martin Luther King Jr., e incluiu em seu elenco Carmen Ejogo, Tessa Thompson, Andre Holland, Colman Domingo, LaKeith Stanfield e a apresentadora Oprah Winfrey. Sua música-tema, “Glory”, composta pelo músico John Legend e o rapper Common (também no elenco), venceu o Oscar de Melhor Canção Original.
Pesquisa indica que Selma é a cinebiografia mais verídica e O Jogo da Imitação a menos real de Hollywood
O site Information Is Beautiful resolveu tirar à limpo o quanto são reais as cinebiografias e os filmes baseados em fatos reais dos últimos anos. E o resultado da pesquisa e checagem de fatos revelou que um filme ignorado pelo Oscar foi o mais consistente, enquanto outro, que venceu o Oscar de Melhor Roteiro, o mais chutado de todos. Escrito pelo estreante Paul Webb e dirigido por Ava DuVernay, “Selma – Uma Luta pela Liberdade” foi o filme que se saiu melhor em relação à veracidade de sua história. A cinebiografia do pastor e ativista social Martin Luther King Jr refletiu de forma 100% verídica os fatos históricos, mostrando como de fato foram as marchas realizadas por ele e manifestantes pacifistas em 1965, entre a cidade de Selma, no interior do Alabama, até a capital do estado, Montgomery, e a repressão que enfrentaram. Já o filme que sepulta os fatos com a maior quantidade de invenções é “O Jogo da Imitação”. Escrito por Graham Moore, vencedor do Oscar por sua adaptação do livro de Andrew Hodges em que a trama se baseia, o filme só tem dois acontecimentos que aconteceram conforme mostrado: que Alan Turing trabalhou como criptoanalista durante a guerra e que foi preso por conta de sua homossexualidade após o conflito. Já a invenção do computador aconteceu de forma muito menos apaixonante, assim como a quebra do código da máquina Enigma, aponta o relatório do site. A conclusão é que apenas 41% das cenas dirigidas por Morten Tyldum correspondem a fatos históricos. “Alan Turing (o protagonista) chegou sim a trabalhar como criptoanalista em Bletchley Park durante a guerra e sua prisão foi por causa de sua homossexualidade. Isto é verdade. Mas o restante do filme não é. Para ser justo, reproduzir a incrível complexidade da Enigma e da criptografia em geral nunca seria tarefa fácil, mas o filme conseguiu simplesmente mostrar isso de forma falsa”, diz o site. Outros filmes que contaram pouco mais que meias verdade foram “Clube de Compras Dallas” e “Sniper Americano”, ambos indicados ao Oscar de Melhor Filme e Roteiro do ano, mesmo com pilhas de fatos imprecisos. Confira abaixo como se saíram os filmes examinados: 1. Selma – Uma Luta Pela Igualdade (100.0%) 2. A Grande Aposta (91.4%) 3. Ponte dos Espiões (89.9%) 4. 12 Anos de Escravidão (88.1%) 5. Rush – No Limite da Emoção (82.9%) 6. Spotlight – Segredos Revelados (81.6%) 7. Capitão Phillips (80.4%) 8. O Lobo de Wall Street (80.0%) 9. A Rede Social (76.1%) 10. O Discurso do Rei (74.4%) 11. Philomena (70.9%) 12. Clube de Compras Dallas (61.4%) 13. Sniper Americano (56.9%) 14. O Jogo da Imitação (41.4%)
Amy vence o Grammy de Melhor Documentário
O documentário “Amy”, que conta a história da cantora Amy Winehouse, venceu o Grammy (o Oscar da música) de Melhor Documentário Musical. O resultado foi divulgado durante a pré cerimônia transmitida pelo site oficial do evento, na noite de segunda-feira (15/2). Dirigido por Asif Kapadia, cineasta que antes fez “Senna” (2010), sobre o piloto brasileiro de Fórmula 1, o filme também venceu o BAFTA, premiação da Academia Britânica de Cinema, e concorre ao Oscar de Melhor Documentário. Outro premiado pelo Grammy que disputa o Oscar, The Weeknd venceu o troféu de Melhor Performance R&B por “Earned It”. Lançada na trilha do filme “Cinquenta Tons de Cinza”, a música concorre ao Oscar de Melhor Canção Original. O Grammy de Melhor Trilha Sonora foi para Antonio Sanchez, pelo filme “Birdman” (2014), e o de Melhor Canção para Mídia Visual ficou com “Glory”, de Common & John Legend, entoada no filme “Selma” (2014). “Glory” foi a vencedora do Oscar de Melhor Canção Original no ano passado. Por fim, “Bad Blood”, de Taylor Swift, venceu o prêmio de Melhor Vídeo. O clipe dirigido por Joseph Khan já tinha sido consagrado como vídeo musical do ano no Video Music Awards, da MTV, e foi o principal destaque da divulgação do álbum multiplatinado “1989”, que acabou encerrando o Grammy 2016 como disco do ano.




