Carlos Alberto Prates Correia, diretor de “Cabaré Mineiro”, morre aos 82 anos
O diretor Carlos Alberto Prates Correia, renomado cineasta e um dos principais nomes do cinema mineiro das últimas décadas, faleceu na madrugada de domingo (28/5) no Rio de Janeiro, vítima de uma parada cardíaca aos 82 anos. Entre seus trabalhos mais bem sucedidos, estão os filmes “Cabaré Mineiro” (1980), vencedor do Festival de Gramado, e “Noites do Sertão”(1984), que rendeu vários prêmios à atriz Débora Bloch. O cineasta deu início a carreira como crítico de cinema no extinto jornal Diário de Minas, antes de se tornar assistente de direção no longa “O Padre e a Moça” (1965), de Joaquim Pedro de Andrade, que marcou a estreia do ator Paulo José no cinema. Na década de 1960, um período de efervescência cultural no Brasil, o cineasta fundou o Centro Mineiro de Cinema Experimental (Cemice) em Belo Horizonte, reunindo um grupo de amigos apaixonados pela arte cinematográfica. Com o Cemice, Correia produziu “O Milagre de Lourdes” (1965), filme sobre um padre corrupto em conflito com seus fiéis, que se refugiava nos bordéis da Rua Guaicurus, local icônico da cidade. Em 1966, Correa partiu para o Rio de Janeiro, epicentro da produção cinematográfica na época, onde dirigiu o episódio “Guilherme”, da antologia “Os Marginais” (1966), de Moisés Kendler, também com Paulo José. Em seguida, ele trabalhou novamente com o ator no clássico “Macunaíma” (1969), dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, como assistente de direção. Após as experiências em projetos renomados, Correia assumiu a direção de seu primeiro longa “Crioulo Doido” (1970). Ambientado em Sabará, o filme narrava a história de Florisberto, um alfaiate humilde que busca ascender socialmente e acaba envolvendo-se em negócios ilícitos, como agiotagem e jogo do bicho. Neste período, ele ainda atuou como produtor nos filmes “Os Inconfidentes” (1972) e “Guerra Conjugal” (1974), ambos do colega Joaquim Pedro de Andrade, e “Vai Trabalhar, Vagabundo” (1973), de Hugo Carvana. Além disso, colaborou com o cineasta Cacá Diegues nos longas “Quando o Carnaval Chegar” (1972) e “Joana Francesa” (1975). Só clássicos absolutos. Por conta desse trabalho, Correio levou seis anos para dirigir seu segundo longa. Lançado em 1976, “Perdida” retratava o dilema de uma mulher indecisa entre o subemprego e a prostituição. Em seguida, vieram os aclamados “Cabaret Mineiro” (1980) e “Noites do Sertão” (1984). Estrelado por Nelson Dantas, “Cabaret Mineiro” acompanha as aventuras de um sertanejo pelo interior de Minas Gerais, explorando elementos culturais da região, como a culinária, as danças tradicionais e a literatura de Guimarães Rosa. O filme recebeu diversos prêmios no Festival de Gramado de 1981, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor Ator (Nelson Dantas), Melhor Trilha Sonora (Tavinho Moura) e Melhor Atriz Coadjuvante (Tânia Alves). Naquele mesmo ano, o cineasta decidiu fazer a adaptação da cinematográfica da novela “Buriti”, escrita por Guimarães Rosa. O resultado foi “Noites do Sertão”, que consagrou Débora Bloch com prêmios nos festivais de Gramado, Brasília e até em Cartagena, na Colômbia. Em seguida, Correia dirigiu “Minas-Texas” (1989), que retratava a relação tumultuada entre uma jovem romântica e um peão. Andrea Beltrão venceu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Brasília pelo papel principal do filme, que compõe com “Cabaré Mineiro” e “Noites do Sertão” a trilogia sertaneja do diretor. Entretanto, a carreira do diretor sofreu com a extinção da Embrafilme no ano de 1990, por decisão do governo Collor, que o deixou longe das telas por 18 longos anos. Foi apenas em 2007 que o cineasta retornou para se despedir com seu último longa, “Castelar e Nelson Dantas no País dos Generais”, também vencedor do Festival de Gramado. Depois disso, nunca mais voltou às telas, vivendo uma vida reclusa no Rio de Janeiro. Prates Correia deixa a mulher Margarida e o filho João.
“Elvis” é a principal estreia dos cinemas
A produção sobre a vida e carreira de Elvis Presley é o principal lançamento da semana nos cinemas brasileiros. Um dos filmes mais aplaudidos do Festival de Cannes passado, chega com aval da filha e dos netos do cantor, que deram vários depoimentos emocionados sobre a produção. As novidades ainda incluem “Crimes of the Future”, volta do veterano cineasta David Cronenberg ao terror – que fez pessoas abandonarem o cinema em Cannes – , um drama alemão e duas produções nacionais. Confira abaixo maiores informações e os trailers de todos os títulos que entram em cartaz nesta quinta (14/7). | ELVIS | A cinebiografia do Rei do Rock dirigida por Baz Luhrmann (“O Grande Gatsby”) tem tudo que os fãs poderiam desejar, cobrindo todas as fases do cantor com uma recriação primorosa, atenta aos detalhes. Mais que isso, Luhrmann conecta os extremos, encontrando no despertar do interesse do menino Elvis Presley pela performance musical e fervorosa dos cultos de pastores negros a inspiração para seu transe sexual nos primeiros shows e o repertório gospel do final da carreira. Muitas das cenas refletem a histeria despertada por suas apresentações, acompanhada de perto pela reação conservadora que tentou censurá-lo. Para incorporar o furor, Austin Butler (“Era uma Vez em… Hollywood”) se transforma, apresentando o gingado e o sotaque caipira do cantor com perfeição. Mais que isso: como o arco da história é ambicioso, ele precisa evoluir rapidamente na tela, de um jovem roqueiro da metade dos anos 1950 a um homem maduro em sua volta triunfal de 1968 até entrar na fase final da carreira, nos megashows dos anos 1970. Para arrematar, sua performance é tão completa que, em vez de dublar, o ator canta mesmo as músicas que apresenta no filme. “Elvis” ainda destaca o ator Tom Hanks (“Finch”) bastante transformado como o coronel Tom Parker, empresário do Rei do Rock, que é quem narra a história, além de Olivia DeJonge (a Ellie da série “The Society”) no papel de Priscilla, a esposa do cantor, e Maggie Gyllenhaal (a Candy de “The Deuce”) como Gladys, a mãe de Elvis. | CRIMES OF THE FUTURE | A sci-fi bizarra chega sem título traduzido, mas com expectativa exagerada por marcar a volta do diretor David Cronenberg aos horrores biológicos do começo de sua carreira. De fato, lembra tanto essa fase do cineasta, que até os efeitos parecem de época, sem nenhum tratamento computadorizado. Centrado em mutações biológicas e performances de arte corporal, o filme chama mais atenção por sua ideias subversivas – frases como “cirurgia é o novo sexo” – e pela ambientação decadente, num futuro em que tudo parece antigo – sem computadores, nem celulares. Já a trama é tão nonsense quanto a de “Videodrome” (1983), e com pontas soltas sem resolução. Nesse futuro onde a tecnologia parece alienígena, as pessoas estão sofrendo mutações espontâneas, com o surgimento de novos órgãos internos. O protagonista, vivido por Viggo Mortensen (“Green Book”), é um performer conhecido por transformar seu corpo em espetáculo, extraindo, com a ajuda da esposa (Léa Seydoux, de “007 – Sem Tempo para Morrer”), suas próprias mutações diante de uma plateia extasiada. Ele também é um assistente voluntário de uma organização burocrática criada para catalogar o surgimento de novos órgãos – e sua biologia única encanta os dois encarregados desse processo, vividos por Kristen Stewart (“Spencer”) e Don McKellar (“Ensaio contra a Cegueira”). Como se não bastasse, secretamente ainda é um informante da polícia, que caça revolucionários pró-mutação, determinados a usar a notoriedade do artista para lançar luz sobre a próxima fase da evolução humana. | GAROTA INFLAMÁVEL | Primeiro filme de Elisa Mishto, o drama alemão gira em torno de uma garota mimada (Natalia Belitski, da série “Perfume”) que segue duas regras: sempre usar luvas e nunca fazer nada. Não trabalha, não estuda, não tem amigos. Nem se importa. E esse niilismo faz com que também não se importe com os outros, cometendo atos perigosos, que a levam a ser detida e ter acompanhamento médico. Durante seu tratamento, uma enfermeira da sua idade, mãe de uma criança, resolve confrontá-la. Mas, ao mesmo tempo, sofre sua influência, num contato que leva as duas ao limite dos seus respectivos mundos. | O RIO DE JANEIRO DE HO CHI MINH | O neto de um marinheiro sobrevivente da Rebelião Chibata tenta transformar em documentário a história que ouviu de seu avô quando criança. Na década de 1910, o velho era amigo de Ho Chi Minh, trouxe o futuro líder vietnamita para o Rio de Janeiro e o apresentou ao socialismo. Essa amizade mudou a história do século 20. Parece muito maluco pra ser verdade. Mas o unificador do Vietnã teve, sim, uma estadia forçada no Brasil durante alguns meses e se impressionou com a história do negro nordestino José Leandro da Silva, o Pernambuco, líder sindical ativo durante a Greve dos Marítimos. Tanto que a escreveu um texto chamado Solidariedade de Classes, inspirado pela revolta brasileira, em que discorreu sobre o racismo e a fraternidade proletária. A lembrança dessa passagem histórica pouco conhecida marca a estreia da roteirista-produtora Cláudia Mattos (“180 Graus”) na direção. | RUA GUAICURUS | A rua do título fica no centro de Belo Horizonte e é uma das maiores zonas de prostituição do Brasil, desde os anos 1950. Na região, funcionam mais de 25 hotéis, com aproximadamente 3 mil trabalhadoras do sexo. O diretor Joao Borges conseguiu permissão para acompanhar a rotina de um desses endereços, documentando o cotidiano das profissionais em situações que evocam dramas e até comédias da vida real.

