Venetia Stevenson, pin-up de Hollywood, morre aos 84 anos
A atriz e modelo Venetia Stevenson, considerada a “garota mais fotogênica do mundo”, morreu na última segunda (26/9), depois de uma longa batalha contra o Mal de Parkinson. Ela tinha 84 anos. Conhecida por sua beleza, ela teve uma breve carreira como atriz, tendo participado de filmes como “Aqui Só Cabem os Bravos” (1958), “A Ilha das Mulheres Perdidas” (1959) e “Matar por Dever” (1960), além de diversas séries, antes de abandonar as telas em 1961. Joanna Venetia Invicta Stevenson nasceu em Londres, em 10 de março de 1938. Seus pais eram o famoso cineasta Robert Stevenson (“Mary Poppins”) e a atriz Anna Lee (“Como Era Verde o Meu Vale”). Pouco depois do seu nascimento, os pais de Stevenson se mudaram para Hollywood e a levaram junto. Quando tinha 14 anos, ela foi vista em uma praia em Malibu pelo fotógrafo Peter Gowland, conhecido por suas fotos de pin-ups, que acabou colocando-a em muitas capas de revistas, lançando-a como modelo. “Comecei a ser reconhecida depois que minhas fotos começaram a sair nas revistas”, disse ela em uma entrevista de 2016. “Foi um sentimento estranho. Alguém correria até você e diria: ‘Posso pegar seu autógrafo?’ Eu dizia: ‘Por que você quer meu autógrafo? Eu não fiz nada.’” Sua estreia como atriz aconteceu em 1954, quando participou de um episódio da série “Cavalcade of America”. Nos anos seguintes, também apareceu nas séries “Playhouse 90” (1957), onde contracenou com o jovem Paul Newman, além de “Cheyenne” (1957), “Colt .45” (1958) e “77 Sunset Strip” (1958). Nessa mesma época, a revista Popular Photography a elegeu “a garota mais fotogênica do mundo”, num concurso feito com mais de 4 mil modelos. Além de capas de revista, seu rosto também foi estampado em latas de cerveja. Sua fama foi reconhecida numa cena do filme “De Volta para o Futuro 2” (1989), quando Marty McFly (Michael J. Fox) volta aos anos 1950 e vê sua imagem estampada na revista Oh LàLà. Tanta popularidade lhe abriu muitas portas na carreira, levando-a à sua estreia no cinema em 1958 com o western “Aqui Só Cabem os Bravos”, dirigido pelo veterano William A. Wellman (“Asas”) e estrelado por James Garner (“Meus Queridos Presidentes”). Ela também teve papeis de destaque nos filmes “A Ilha das Mulheres Perdidas” (1959), como uma das filhas do cientista interpretado por Alan Napier (o Alfred da série clássica “Batman e Robin”), no terror “Horror Hotel” (1960), com Christopher Lee (“O Senhor dos Aneis”), e em “Matar por Dever” (1960), um dos melhores westerns estrelados por Audie Murphy. Seu último filme foi a comédia “The Sergeant Was a Lady” (1961), em que viveu a sargento do título. Mas continuou ligada a Hollywood, selecionando roteiros para a produtora do ator Burt Reynolds, além de ter sido executiva na produtora Cinema Group. Ela foi casada por alguns meses de 1957 com o ator galã Russ Tamblyn, e chegou a se envolver com o cantor Elvis Presley e com Audie Murphy (durante as filmagens “Matar por Dever”), além de ter sido fotografada em noitadas com o galã Tab Hunter (“Montanhas em Fogo”) e Anthony Perkins (“Psicose”). Mas revelou que saía com os últimos para esconder o relacionamento gay dos dois. Curiosamente, ela também foi sogra do cantor Axl Rose, líder da banda Guns N’ Roses, por cerca de um ano quando sua filha, Erin Everly, casou-se com ele – Erin foi a inspiração para a famosíssima canção “Sweet Child o’ Mine”.
Tommy Kirk (1941-2021)
O ex-astro mirim Tommy Kirk, um dos maiores ídolos das produções da Disney nas décadas de 1950 e 1960, morreu na noite de terça (28/9) aos 89 anos. A causa da morte não foi revelada. Ele era gay e vivia sozinho, após romper os laços com a família por sua orientação sexual, mas mantinha amizade próxima com a ex-colega Beverly Washburn, com quem contracenou em seu primeiro sucesso de cinema, “O Meu Melhor Companheiro”, de 1957. Os dois se conheceram crianças e nunca se afastaram. Eram, de fato, vizinhos e foi ela quem comunicou sua morte. Em uma entrevista de 1993 à revista Filmfax, Kirk contou que percebeu que era gay aos 17 anos e que isso quase destruiu sua carreira. “Disney era um estúdio de cinema familiar e eu deveria ser o protagonista jovem de seus principais filmes. Depois que descobriram que eu estava envolvido com outro homem, foi o fim da minha trajetória com a Disney. ” “Eu considero minha adolescência como sendo desesperadamente infeliz”, disse Kirk na entrevista. “Eu sabia que era gay, mas não tinha como expressar meus sentimentos. Era muito difícil conhecer pessoas e, naquela época, não havia lugar para ir para se socializar. Foi só no início dos anos 1960 que comecei a ouvir falar de lugares onde os gays se reuniam. Aquele estilo de vida não era reconhecido e eu me sentia muito, muito sozinho. Oh, eu tive alguns encontros breves e muito apaixonados quando adolescente, eu tive alguns casos, mas eles sempre foram clandestinos, coisas do tipo beco sem saída. Éramos desesperados e miseráveis”, desabafou. “Quando eu tinha cerca de 17 ou 18 anos, finalmente admiti para mim mesmo que era isso mesmo, eu não iria mudar. Não sabia quais seriam as consequências, mas tinha a sensação definitiva de que isso destruiria minha carreira na Disney e talvez toda minha carreira de ator. Tudo iria acabar.” A carreira de Tommy Kirk começou de forma impactante em 1956, quando foi escalado, aos 15 anos de idade, como Joe Hardy na adaptação da Disney para os personagens dos livros de mistérios juvenis “Os Hardy Boys”. A trama seriada de “The Hardy Boys: The Mystery of the Applegate Treasure” era exibida como um segmento da versão clássica do “Clube do Mickey”, e seus episódios com tesouros enterrados, pistas misteriosas e esqueletos fizeram tanto sucesso que foram seguidos por uma 2ª temporada, “The Hardy Boys: The Mystery of the Ghost Farm”. A repercussão positiva animou o estúdio a escalar o jovem em seu primeiro longa-metragem. Com direção de Robert Stevenson, que ainda faria os blockbusters “Mary Poppins” e “Se Meu Fusca Falasse” nos anos 1960, “O Meu Melhor Companheiro” marcou a transformação do então adolescente de 16 anos em ícone da Disney. A história do menino que resgatava um vira-latas que parecia não prestar para nada, mas se torna inestimável para uma família no campo, foi uma das maiores bilheterias de cinema de 1957. A Disney tratou de juntar o menino com mais um cachorro em seu filme seguinte, “Felpudo, o Cão Feiticeiro” (1959), mas teve (ainda) mais sucesso com o terceiro lançamento, “A Cidadela dos Robinson”, aventura clássica dirigida por outro mestre, Ken Annakin. A história da família de náufragos que enfrentava piratas numa ilha deserta também marcou época por ser o primeiro filme com personagem queer da Disney, a menina Roberta (Janet Munro), que disfarçava sua identidade para passar por um menino. Kirk também apareceu em “O Fantástico Super-Homem” (1961) e “O Fabuloso Criador de Encrencas” (1963), em que Fred MacMurray deu vida ao professor aloprado Ned Brainard, um inventor atrapalhado que sempre criava problemas. Os dois filmes marcaram novas parcerias com o diretor Robert Stevenson, que em seguida escalou Kirk em seu primeiro papel de protagonista adolescente, “As Desventuras de Merlin Jones” (1964). Foi outro sucesso, que teve continuação em “O Maravilhoso Homem que Voou” (1965), último filme do ator na Disney. Os filmes de Merlin Jones fizeram esforço para estabelecer Annette Funicello como par romântico de Kirk. Os dois começaram a atuar juntos no musical infantil “Uma Aventura na Terra dos Brinquedos”, em 1961, e ao chegarem à puberdade chegaram a encenar cenas mais picantes em “Ele, Ela e o Pijama” (1964), o primeiro lançamento “adulto” do ator fora da Disney. Ao contrário do que Kirk imaginava, o rompimento com a Disney não foi o fim de sua carreira. Funicello o trouxe para a franquia da Turma da Praia. Depois de “Ele, Ela e o Pijama”, que tinha conexão distante com o universo dos surfistas pela participação da gangue dos motoqueiros liderada por Eric Von Zipper (o impagável Harvey Lembeck), Kirk permaneceu naquele universo para estrelar “Fantasma de Biquini” (1966), novamente com Lembeck, “O Mundos dos Biquínis” (1967), terror da Turma da Praia com Boris Karloff (o primeiro “Frankenstein”), e a aventura caiçara “Catalina Caper” (1967). O ator ainda estrelou filmes trash de sci-fi que acabaram se tornando cultuados, como “A Cidade dos Gigantes” (1965), ao lado dos então jovens Ron Howard e Beau Bridges, e “Mars Needs Women” (1968), com a eterna Batgirl Yvonne Craig. Ainda enfrentou o supervilão Dr. Goldfoot no terceiro filme do personagem vivido por Vincent Price, “The Wild Weird World of Dr. Goldfoot”, substituindo o astro da Turma da Praia Frankie Avalon no pastiche de 007, sem esquecer sua tentativa de ser veloz e furioso no filme de corridas “Rivais no Volante” (1967). De fato, boa parte da filmografia de Kirk nos anos 1960 poderia ser descrita, de uma forma ou outra, como cult movies. Mas nem todas as produções trash em que ele se meteu deram certo. Depois de um par de terrores muito, mas muito ruins, “Blood of Ghastly Horror” (1967) e “It’s Alive” (1969), ele finalmente empacou. Ele fez só dois longas na década de 1970 e, depois disso, só voltou aos cinemas em 1995 na comédia sci-fi “Altas Confusões”, remake satírico do clássico “A Mulher de 15 Metros” (1958). Após mais um punhado de terrores lançados direto em vídeo, o ator encerrou a carreira em 2001 com um filme de vampiro, “The Education of a Vampire” (2001). Em 2006, a Disney finalmente demostrou ter superado o preconceito para reconhecer a importância de Kirk para a História do estúdio. Ele e Tim Considine, os dois intérpretes dos irmãos Hardy na série dos anos 1950, foram saudados como Disney Legends, uma honra concedida a poucos artistas por suas contribuições extraordinárias para a The Walt Disney Company. Na cerimônia, Kirk desejou, para sua posteridade, “ser lembrado por meu trabalho na Disney, como ‘O Meu Melhor Companheiro’ e ‘A Cidadela dos Robinson'”. E contou como se sentiu orgulhoso no dia em que Walt Disney o apresentou para a famosa colunista de fofocas Hedda Hopper como seu amuleto da sorte. Tommy Kirk foi um dos maiores campeões de bilheteria da Disney, antes de ser descartado pelo estúdio por homofobia. “O Meu Melhor Companheiro” foi selecionado para preservação por inestimável importância histórica e cultural no Registro Nacional de Filmes dos Estados Unidos pela Biblioteca do Congresso em 2019.

