John Wick tem estreia matadora em semana repleta de filmes do Oscar 2017
Os lançamentos da semana se dividem claramente entre filmes de shopping center e filmes de Oscar. Mesmo assim, a estreia mais ampla também conquistou excelente avaliação crítica. Com 90% de aprovação no site Rotten Tomatoes, “John Wick – Um Novo Dia para Matar” mostra que é possível fazer cinema de ação de qualidade. Com ritmo desenfreado e muita violência, o filme traz Keanu Reeves de volta ao papel do matador profissional John Wick, que ele desempenhou em “De Volta ao Jogo” (2014). O sucesso inesperado daquele longa animou a distribuidora a dobrar o circuito na continuação. A estreia acontece em 358 salas, contra 230 do primeiro filme. A diferença de qualidade para o segundo maior lançamento é abissal. Estrelado por Brad Pitt e Marion Cottilard, o romance de espionagem “Aliados” consegue ser mais brega que “Cinquenta Tons Mais Escuros”, mas a crítica americana foi bondosa, com 61% de aprovação. Fracasso nos EUA, onde já saiu de cartaz, o longa faturou US$ 40 milhões no mercado doméstico, menos da metade de seu orçamento de US$ 85 milhões. A terceira e última estreia comercial é “A Cura”, que marca a volta de Gore Verbinski ao terror, 15 anos após “O Chamado” (2002). E todo seu capricho visual não esconde que se trata de uma trama pouco original, já vista várias vezes antes. Com 41% de aprovação, a história do spa do qual ninguém consegue sair é tão medíocre quanto a parceria anterior do diretor com o roteirista Justin Haythe, “O Cavaleiro Solitário” (2013). A maior estreia do Oscar 2017 é “Lion – Uma Jornada para Casa”, que chega em 100 salas. O filme traz Dev Patel, estrela de “Quem Quer ser um Milionário?” (2008), como um jovem adotado por uma família australiana, após se perder da família biológica na Índia. Anos depois, ele busca pistas para reencontrar sua mãe. Ao todo, o longa recebeu seis indicações, incluindo para os troféus de Melhor Ator Coadjuvante e Atriz Coadjuvante (Patel e Nicole Kidman). Há ainda mais quatro estreias de indicados ao prêmio máximo do cinema. Entretanto, elas chegam em circuito ridículo, eufemisticamente chamado de “circuito de arte”. Para se ter ideia, o maior lançamento, depois de “Lion”, ocupa 13 salas. Ironicamente, é uma animação com potencial para alcançar o grande público, a produção suíça “Minha Vida de Abobrinha”. Outro candidato ao Oscar de Melhor Animação, a produção franco belga “A Tartaruga Vermelha”, impressiona por ocupar apenas quatro salas – uma em São Paulo, uma no Rio, uma em Brasília e uma em Porto Alegre. Indicado ao Oscar de Melhor Documentário, “Eu Não Sou Seu Negro”, sobre a história do racismo nos EUA, estreia em seis capitais, e a comédia sueca “Um Homem Chamado Ove”, que disputa o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, tem lançamento em nove salas. Completa o circuito o drama tcheco “Eu, Olga Hepnarová”, que abriu no ano passado a mostra Panorama do Festival de Berlim, venceu vários prêmios internacionais e foi exibido na Mostra de São Paulo. Estará disponível em quatro salas entre São Paulo, Rio e Salvador. Clique nos títulos dos filmes para assistir aos trailers das estreias da semana.
Frantz: Indicado a 11 Césars, novo filme de François Ozon ganha trailer legendado
A California Filmes divulgou o trailer legendado de “Frantz”, novo filme do cineasta François Ozon. Filmado em preto e branco e passado no começo do século 20, o vídeo evoca os antigos melodramas da era de ouro do cinema, ao mostrar como a jovem Anna, interpretada por Paula Beer (“O Vale Sombrio”), conhece o tenente francês Adrien (Pierre Niney, de “Yves Saint Laurent”), quando este deixa flores no túmulo de seu noivo, Frantz, falecido na guerra. Ao descobrir que os dois eram antigos amigos, Anna leva o francês para conhecer os pais de Frantz, que se encantam com o recém-chegado, forçando sua permanência da vida de todos, mesmo a contragosto da comunidade alemã. “Frantz” recebeu 11 indicações ao César 2017, o Oscar francês, e apesar da estilização mantém as características da filmografia de Ozon, como sua obsessão por contar histórias repletas de detalhes obscuros, esconder segredos e visitar a dor, num jogo de aparências derivado do suspense, que leva a ponderar o que é realmente verdade e que rumos terá sua trama. A história original, baseada numa peça do francês Maurice Rostand, já havia sido levada ao cinema, no clássico “Não Matarás” (1932), do mestre alemão Ernst Lubitsch. Mas a versão de Ozon inclui detalhes que não poderiam ser exibidos nos anos 1930. A premiére mundial aconteceu no Festival de Veneza, quando rendeu um prêmio para Paula Beer. A estreia no Brasil está marcada para 2 de março.
Estranhos no Paraíso permanece marcante após mais de 30 anos
“Estranhos no Paraíso”, que volta aos cinemas em cópia remasterizada, costuma ser louvado como um dos filmes mais importantes do cinema indie dos anos 1980. O longa de 1984 de Jim Jarmusch marcou época com sua fotografia em preto e branco, cenas paradas e fade to blacks mais demorados do que o normal, passando uma sensação de estranheza e charme bem próprios. Mas em meio ao incômodo, causado também pelo modo como se comportam os personagens naquele cenário um tanto desolado, o filme é muito engraçado. Já foi notado que a situação de seus três personagens se compara a de pessoas vivendo em uma espécie de purgatório, de onde não conseguem escapar. Mesmo Eva (a ótima Ezter Balint), a húngara que chega aos Estados Unidos e se depara com aquele lugar imerso em tédio, não consegue evitar a situação, por mais que tente ter uma atitude mais ativa e positiva diante da vida. O problema é que sua energia parece sugada pelos dois rapazes a seu lado, que mais parecem mortos-vivos, cada um à sua maneira. O filme pode ser visto como uma crítica ao american way of life, mas Jarmusch vai além disso. Até em seus filmes mais recentes, o tédio e a falta de sentido na vida afetam personagens tão distintos quanto o cansado mulherengo vivido por Bill Murray em “Flores Partidas” (2005) e os vampiros existencialistas de “Amantes Eternos” (2013). Portanto, o incômodo de estar vivo parece uma tendência no cinema do diretor. Mas há algo que diferencia “Estranhos no Paraíso” dos demais longas do diretor, que é a forma. A forma dá substância ao conteúdo, ao fiapo de trama. O filme é composto de vários planos-sequência, filmados em preto e branco granulado, em que a câmera quase nunca sai do lugar. E na maioria das vezes fica confinada em espaços fechados, com os personagens assistindo televisão, principalmente. Mesmo quando eles vão ao cinema, o ar de cansaço ou de frustração com a vida está presente – a não ser pelo olhar bobão do personagem de Richard Edson, melhor amigo do protagonista Willie (o músico John Lurie). Poderia falar da tendência que retrata os personagens masculinos como idiotas, na velha tradição das obras de John Cassavetes – e assim como Cassavetes foi o rei do cinema indie americano nos anos 1960-70, pode-se dizer o mesmo de Jarmusch nos 1980-90 – , mas será essa a intenção do diretor? Talvez não. É palpável o carinho do cineasta por esses personagens. O ódio ou o desprezo podem surgir do julgamento do espectador, o que é natural. Faz parte da quebra de expectativas que o filme propõe. Uma subversão com mais de 30 anos e que ainda consegue instigar a imaginação.
Murilo Benício vai virar diretor de cinema com apoio da Ancine
A estreia de Murilo Benício como diretor, o filme “O Beijo”, vai receber R$ 700 mil do Fundo Setorial do Audiovisual. A produção entrou em um edital da Ancine (Agência Nacional do Cinema). Antes de conseguir o apoio, ele vinha colocando dinheiro do próprio bolso no projeto. Rodado em preto e branco, o longa é uma adaptação da peça “O Beijo no Asfalto”, de autoria de Nelson Rodrigues, e tem no elenco a atriz Débora Falabella, namorada de Murilo. O casal também está trabalhando junto na minissérie “Nada Será como Antes”, atualmente em exibição na rede Globo. O longa de Benício será a segunda filmagem da peça. A primeira, com o título original “O Beijo no Asfalto”, foi dirigida por Bruno Barreto (“Flores Raras”) e lançada em 1981.
The Eyes of My Mother: Veja o trailer de um dos terrores mais falados e premiados do ano
A Magnolia Pictures divulgou o pôster e o trailer de “The Eyes of My Mother”, o terror mais comentado do último Festival de Sundance e grande vencedor do Fantastic Cinema Festival. Filmado em preto e branco, o filme evoca temas de “Psicose” (1960) com uma bizarria toda própria. A prévia atmosférica introduz a protagonista, vivida pela portuguesa Kika Magalhães (“Patient: 23”), que conta para uma visita incauta, ao som de um fado triste, o que aprendeu na infância com sua mãe cirurgiã. Vivendo no isolamento de uma fazenda distante, ela foi ensinada desde cedo a entender a anatomia humana e não se impressionar com a morte. O filme foi escrito e dirigido por Nicolas Pesce, que estreia no cinema após realizar alguns clipes musicais – inclusive da argentina Tei Shi. O elenco também inclui Diana Agostini (“O Miado do Gato”), Clara Wong (série “Vinyl”) e Will Brill (“Not Fade Away”). A estreia está marcada para 2 de dezembro nos EUA e não há previsão de lançamento para o Brasil.
Veneza: François Ozon visita o cinema europeu clássico com provocação à Hollywood
Rodado em preto e branco e passado nos anos 1930, “Frantz”, do diretor francês François Ozon (“Dentro da Casa”), evoca uma produção clássica europeia. E, de fato, a história já foi filmada antes, pelo mestre alemão Ernst Lubitsch em “Não Matarás”, de 1932. Mas “Frantz” também é uma provocação a Hollywood. Por isso, o diretor não gosta que o chamem de remake. Na entrevista coletiva do Festival de Veneza, Ozon garantiu que “Frantz” não é uma refilmagem, pois, ao decidir rodar a história original, baseada numa peça do francês Maurice Rostand, não conhecia a obra de Lubitsch. Além disso, ele promoveu mudanças significativas na estrutura narrativa, mudando o foco para a personagem feminina e a situação da Alemanha do pós-guerra. Ele também explicou que a escolha do preto e branco não se deu apenas como homenagem ao cinema da época em que se passa a trama. “Nossas memórias da guerra estão vinculadas a essas duas cores, preto e branco, os arquivos, filmes e filmagens… esse é um período de mágoa e perda então eu pensei que o preto e branco fossem as melhores cores para a história”, disse para a imprensa. “Cores são muito mais emotivas e fornecem uma ideia sobre o sentimento de alguém”, completou. E, curiosamente, algumas cenas coloridas pontuam a narrativa, para enfatizar quando os personagens finalmente voltam à vida. O cineasta lembrou ainda que há poucos filmes sobre a 1ª Guerra Mundial, porque o nazismo que levou à 2ª Guerra Mundial capturou a imaginação mundial de tal forma que tudo o que o precedeu parece pouco importante. Um dos poucos foi um clássico do próprio cinema francês, “A Grande Ilusão” (1937), de Jean Renoir. “Frantz” tem uma cena de batalha, mas não é exatamente um filme de guerra e sim sobre suas consequências. A começar por seu título, nome de um soldado alemão morto em batalha. O filme acompanha sua jovem viúva Anna, interpretada por Paula Beer (“O Vale Sombrio”), que, numa visita ao cemitério, conhece o tenente francês Adrien (Pierre Niney, de “Yves Saint Laurent”), quando este deixa flores no túmulo de Frantz. O filme se constrói em torno de sentimentos de culpa e da paixão latente entre Anna e Adrien, estabelecendo-se quase como um melodrama, mas com as marcas do cinema de Ozon, em sua obsessão por contar histórias, esconder segredos e visitar a dor. Além disso, Ozon continua a provocar o público com armadilhas narrativas, num jogo de aparências derivado do suspense, que leva a ponderar o que é realmente verdade e que rumos terá sua trama. Pela primeira vez filmando em alemão, o cineasta defendeu em Veneza a decisão de escalar atores que falassem os idiomas originais de seus personagens, em vez de usar intérpretes falando a mesma língua com diferentes sotaques, como é comum nos filmes americanos. E aí provocou. “Em Hollywood, há essa convenção de que todo mundo fala inglês, mas o público não quer mais isso, porque eles querem ver a verdade”, disse Ozon. “Foi muito importante usar as línguas nativas porque elas são parte da cultura de ambos os países”, continuou, acrescentando que isso fez com que Niney precisasse aprender alemão durante as filmagens, para se comunicar com Beer.
Na Ventania denuncia a limpeza étnica de Stalin em quadros vivos de opressão
Não é todo dia que se vê, no círculo comercial dos nossos cinemas, um filme da Estônia. Em “Na Ventania”, é abordada uma história gravíssima, ocorrida durante a 2ª Guerra Mundial. Em 14 de junho de 1941, Stalin deflagrou uma operação secreta de limpeza étnica dos povos nativos nos países bálticos: Estônia, Letônia e Lituânia. Famílias inteiras foram deportadas de seus territórios locais e enviadas a prisões, ou gulags, e campos de trabalho forçado na Sibéria, separando homens e mulheres. Uma dessas mulheres da Estônia, Erna Tamn, separada de seu marido, Heldur, escreve a ele cartas da Sibéria, em busca de reencontrá-lo algum dia, enquanto procurava sobreviver com apenas um pedaço de pão diário. São essas cartas, que conheceremos em off pela voz da atriz Laura Peterson (série “Babylon 5”), que servirão de narrativa ao filme, cobrindo um período de muitos anos, que passa pela morte de Stalin e chega às mudanças políticas que se sucederam. O trabalho do diretor Martti Helde, estreante em longas, é bastante original, ao optar, na maior parte do tempo, por compor tableaux vivants com os atores e atrizes. A câmera se move, explora a cena, altera os enquadramentos, se aproxima com o zoom, mas os atores não se movem. Somente um piscar de olhos ou a presença do vento se nota. Em outros momentos, há movimentos, compondo uma atuação minimalista. Não há diálogos, só os textos das cartas. A exceção é uma notícia que se ouve por meio do rádio. A fotografia, em preto e branco, é belíssima. Os ambientes naturais, muito bem escolhidos, favorecendo a exploração da luz e dos espaços pela filmagem. As encenações, com os atores e atrizes compostos como estátuas, são extremamente detalhadas, produzindo enquadramentos magníficos, que se transformam com o movimento da câmera, mantendo a condição de belos quadros o tempo todo. Essa técnica acaba tendo o efeito de potencializar o sentido da opressão. Não há o golpe, a agressão, o sangue não corre, mas o próprio fato de as figuras não se mexerem sugere, por si só, a impossibilidade de reagir ou resistir. A tragédia surda dos sem vez ou voz soa mais intensa e forte. O encontro humano depende da poesia, do vento oeste que se cruza com o vento leste e realiza, simbolicamente, o que foi negado às pessoas.
Rihanna fica seminua e provoca com sensualidade no clipe de Kiss It Better
A cantora Rihanna lançou um novo clipe provocante, em que aparece seminua, coberta apenas por lençóis de seda transparente ou camisolas do mesmo material, deixando entrever seus seios, enquanto canta uma letra convidativa para um amante idealizado. Apesar do alerta de “cenas explícitas” do YouTube, o vídeo da música “Kiss It Better” foi realizado com uma sensualidade de revista de moda, em preto e branco, sem background e com apenas Rihanna em cena. Longe de parecer vulgar, ele valoriza o corpo da cantora, que aparece confortável consigo mesma, como, por sinal, sugere a letra da canção. O responsável pela gravação foi o fotógrafo inglês Craig McDean, que clica campanhas para as principais grifes do planeta – Gucci, Yves Saint Lauren, Giorgio Armani, Oscar de la Renta, Calvin Klein, etc. Ele já lançou livros de fotografias, mas o clipe de Rihanna é sua primeira incursão na direção de imagens em movimento. O trabalho se provou um sucesso. Em menos de 24 horas, o vídeo oficial foi visto mais de 4 milhões de vezes e repercutiu forte nas redes sociais. “Kiss It Better” faz parte do oitavo disco da cantora, “Anti”, que diziam não ser “muito comercial”. A sonoridade, que remete à produções dos anos 1980, evoca a época com a ajuda de um sobrevivente do período. Quem toca guitarra é ninguém menos que o português Nuno Bettencourt, da banda Extreme. Para quem não lembra, ele também distorceu o pop clássico de Janet Jackson “Black Cat”.
O Beijo no Asfalto: Estreia indie de Murilo Benício como diretor ganha primeiras fotos
O ator Murilo Benício (“O Homem do Ano”) vai estrear na direção de cinema com “O Beijo no Asfalto”, adaptação da peça homônima de Nelson Rodrigues, que ele filmou em 11 dias, em preto e branco e com um orçamento de R$ 1 milhão de seu próprio bolso. Totalmente indie, a produção divulgou suas primeiras fotos, que permitem vislumbrar as opções criativas do agora cineasta. Diferente do filme de 1981, dirigido por Bruno Barreto, que transpôs a trama para o cinema, Murilo seguiu a rota de Al Pacino em “Ricardo III – Um Ensaio” (1996) e “Wilde Salomé” (2011), misturando encenação da peça, com Lázaro Ramos (“O Vendedor de Passados”) no papel do bancário recém-casado que beija um moribundo desconhecido, e documentário – cenas dos bastidores, imagens de camarim e até uma leitura do texto conduzida por Fernanda Montenegro. As filmagens aconteceram em um teatro no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro e incluem só três externas. O elenco também inclui a esposa de Benício, Débora Falabella (série “Dupla Identidade”), além de Otávio Muller (“O Gorila”), Luiza Tiso (série “Marcas da Vida”), Marcelo Flores (“E Aí… Comeu?”) e Stênio Garcia (“Ó Paí, Ó”), como o homem que, em seus últimos suspiros, pede um beijo. O filme ainda não tem previsão de estreia, mas a experiência já animou Benício a planejar seu próximo trabalho como diretor. Será mais uma adaptação teatral, “Pérola”, de Mauro Ras.
Garota Sombria Caminha pela Noite seduz com sua estranheza
Um filme de terror falado em persa e com vampira iraniana, eis a singularidade de “Garota Sombria Caminha pela Noite”, que além de tudo é dirigido por uma mulher, Ana Lily Amirpour, em belíssimo preto e branco. A curiosidade que isso desperta já é meio caminho para o culto, realmente conquistado pelo longa, mesmo que, na verdade, Amirpour seja inglesa e que o filme tenha sido totalmente produzido nos Estados Unidos. Apesar da carreira indie americana, lançado no Festival de Sundance e premiado com o Gotham Awards, “Garota Sombria” tem inegável espírito estrangeiro, com uma estranheza que impregna cada cena. A combinação de diferentes culturas é registrada na beleza plástica de sua fotografia, mas também num andamento narrativo irregular, que se excede e se arrasta em determinados instantes, como um filme de arte – lembra a fase em preto e branco de Jim Jarmusch. Nada disso, porém, prejudica o desenvolvimento final, que é bastante satisfatório, dentro de uma história, de fato, muito simples. Pela trama simples, desfilam alguns personagens que vivem uma vida desolada em Bad City, cidade de pesadelo em que o lixão (um buraco) serve para o despejo de cadáveres humanos. O traficante da cidade representa o que há de pior naquele lugar, e em contraste permite que a vampira, apesar de fazer suas vítimas, mostre-se menos cruel. Ela tem uma moral própria, dando preferência àqueles que “merecem” ter seu sangue sugado. Claro que o traficante canalha é um deles. Por isso, a cena do encontro dos dois é um dos pontos altos do filme. A moça que interpreta a vampira, Sheila Vand (de “Argo”), é, além de atraente, muito boa no papel. Algo, porém, se destaca sem que ela precise expressar. Sua predileção por camiseta listrada e calças esportivas ilustram uma clara identidade juvenil. Entretanto, quando vai matar, isso se esconde sob um véu, que cobre todo o seu corpo como uma jovem muçulmana tradicional. O detalhe é que o figurino se mescla com as sombras de forma deliberada. A capa preta tem sido uma imagem expressionista potente, que acompanha os vampiros desde o cinema mudo, mas, ao se transformar em véu, assume uma carga inédita de terror, relacionando a submissão religiosa ao surgimento de algo maligno. Eis mais um ponto positivo deste trabalho único, cujas qualidades vão além do mero gostar ou não gostar. Isso porque “Garota Sombria” é um filme com mais estética que conteúdo. Ou seja, interessa mais pela atmosfera e a beleza de suas imagens. E, nesse sentido, trata-se de uma obra cheia de acertos.









