Ed Asner (1929-2021)
Ed Asner, um dos astros mais queridos da TV americana, que interpretou o editor jornalístico Lou Grant na lendária sitcom “Mary Tyler Moore” e em seu próprio programa derivado, morreu neste domingo (29/8) aos 91 anos. Ele também era adorado pelas novas gerações como a voz original do velhinho ranzinza da animação da Pixar “Up – Altas Aventuras”. Raras vezes um papel coube tão bem a um ator quanto a interpretação de Asner para Lou Grant. Pode-se dizer que ele ensaiou desde a adolescência, porque foi editor do jornalzinho de sua escola e uma foto real de seu passado escolar ilustrava o escritório do personagem em “Mary Tyler Moore”. Antes de conquistar cinco prêmios pelo papel, ele passou por inúmeros episódios de séries dos anos 1960, como “Os Intocáveis”, “Cidade Nua”, “Rota 66”, “5ª Dimensão”, “Alfred Hitchcock Apresenta”, “Dr. Kildare”, “Os Invasores”, “Missão: Impossível”, “Mod Squad”, etc. E também apareceu no cinema, fazendo sua estreia ao lado de ninguém menos que Elvis Presley, em “Talhado para Campeão” (1962), parceria que se repetiu anos depois em “Ele e as Três Noviças” (1969), no qual também conheceu Mary Tyler Moore. Asner foi convidado a participar da série de Moore em 1970, dando vida a seu chefe. Revolucionária, a sitcom acompanhava uma mulher solteira que tentava carreira profissional numa área em que poucas mulheres se aventuravam na época, a redação de um telejornal. Primeiro papel fixo do ator, Lou Grant também virou seu trabalho mais reconhecido. Asner venceu três de seus sete Emmys como o chefe de Mary Tyler Moore. E depois acrescentou mais dois troféus como protagonista da série derivada, batizada com o nome do personagem. O detalhe é que a série “Lou Grant” era completamente diferente de “Mary Tyler Moore”. Enquanto a atração original era uma comédia, o spin-off surpreendeu o público por seu realismo dramático, o que fez Asner ser o único ator a vencer o Emmy pelo mesmo papel em categorias de Comédia e Drama. O personagem Lou Grant apareceu em sete temporadas de “Mary Tyler Moore”, apoiando a jovem redatora de 1970 até o final da produção em 1977. E logo em seguida ganhou sua série própria, inspirada pelo jornalismo sério de “Todos os Homens do Presidente” (1976). O personagem era o mesmo, mas todo o resto era diferente. A nova produção trocava a locação televisiva por uma redação de jornal e o registro de claque de humor por temas polêmicos dos noticiários contemporâneos. Uma mudança radical e arriscada, que incrivelmente deu certo. A atração ficou no ar por mais cinco anos, até 1982, e conquistou dois Emmys de Melhor Drama, após “Mary Tyler Moore” ter vencido três vezes como Melhor Comédia. A série poderia até ter durado mais. Asner contou repetidas vezes que a CBS cancelou “Lou Grant” devido à abordagem de alguns temas sensíveis, especialmente sua oposição ao apoio militar dos EUA à ditadura de El Salvador. Teria havido pressão do governo para tirar as críticas do ar. Os outros dois Emmys de sua carreira vieram de participações em minisséries dos anos 1970: os fenômenos de audiência “Pobre Homem Rico”, de 1976, e “Raízes”, de 1977. Na última, ele foi o capitão do navio negreiro que trouxe Kunta Kinte para os EUA. O ator continuou aparecendo em séries, como convidado especial, ao longo da vida. Mas deixou de se comprometer com trabalhos longos para se dedicar à luta sindical. Asner foi presidente do SAG, o Sindicato dos Atores dos EUA, por dois mandatos, de 1981 a 1985. Embora seja mais reconhecido por seu trabalho televisivo, ele também participou de vários filmes notáveis, inclusive alguns clássicos, como “El Dorado” (1967), “Peter Gunn em Ação” (1967), “Noite Sem Fim” (1970), “Dois Trapaceiros da Pesada” (1971), “41ª DP: Inferno no Bronx” (1981), “Daniel” (1983) e “JFK: A Pergunta que Não Quer Calar” (1991). Dono de uma voz grave marcante, Asner ainda desenvolveu uma frutífera carreira como dublador, que deslanchou nos anos 1990 com papéis em “Batman: A Série Animada”, “Gárgulas”, “Capitão Planeta”, “Freakazoid!”, “Superman: A Série Animada” e “Homem-Aranha”, onde interpretou ninguém menos que o editor J. Jonah Jameson. Seu papel vocal mais conhecido, porém, é Carl Fredricksen em “Up: Altas Aventuras” (2009), filme vencedor do Oscar de Melhor Animação. O viúvo que amarra mil balões em sua casa para realizar o sonho de conhecer a América do Sul derreteu o coração do público em todo o mundo e tinha sido recém-retomado pelo ator na série animada “A Vida do Dug”, centrada no cachorro do velhinho, que estreia na plataforma Disney+ na próxima quarta-feira (1/9). Entre seus últimos trabalhos ainda constam participações nas séries “Grace and Frankie”, “Briarpatch” e “Cobra Kai”, além de dublagens em “Central Park” e “American Dad”.
William Smith (1933–2021)
O ator William Smith, que enfrentou Clint Eastwood em “Punhos de Aço: Um Lutador de Rua”, foi pai de Conan, o Bárbaro, e marcou época como vilão de “Pobre Homem Rico”, morreu na segunda-feira passada (5/7) num hospital de artistas de cinema em Woodland Hills, na Califórnia, aos 88 anos, de causa não divulgada. Ele começou sua carreira como figurante em “A Alma de Frankenstein”, de 1942, quando tinha oito anos de idade, e apareceu em vários clássicos da época, como “A Canção de Bernadette” (1943), “O Bom Pastor” (1943) e até mesmo “Gilda” (1946) e “O Menino dos Cabelos Verdes” (1948), antes de entrar na adolescência. Uma década depois, integrou o elenco do cultuado filme de rock “Escola do Vício” (1959), estrelado por Jerry Lee Lewis, antes de ganhar seu primeiro papel de destaque. Isto aconteceu na série policial “Asphalt Jungle” em 1961. Smith também estrelou a série de faroeste “Laredo” (1965-1967), como um Texas Ranger, e a última temporada de “Hawaí 5-0”, em 1979, como um policial havaiano. Entre uma série e outra, ainda apareceu em episódios de diversas outras atrações populares do período, como “Gunsmoke”, “O Homem de Virgínia”, “Perry Mason”, “Batman”, “Daniel Boone”, “Missão: Impossível”, “Kung Fu”, “Mod Squad”, “O Homem de Seis Milhões de Dólares”, “Os Gatões”, “Esquadrão Classe A”, etc. Mas seu papel mais memorável na TV foi, disparado, o do vilão Anthony Falconetti na minissérie de 1976 “Pobre Homem Rico” (Rich Man, Poor Man), que bateu recordes de audiência. Fez tanto sucesso que ganhou continuação no ano seguinte, explorando ainda mais a rivalidade entre Falconetti (caracterizado com um tapa-olho!) e os irmãos Jordache (Peter Strauss e Nick Nolte). O ator interpretou um vilão tão convincente que recebeu convite para enfrentar Clint Eastwood em “Punhos de Aço: Um Lutador de Rua”, lançado em 1980. Sua cena principal com Eastwood foi considerada a luta mais longa até então filmada no cinema. Antes disso, sua carreira cinematográfica era uma coleção de filmes trash apelativos. Curiosamente, muitos deles se tornaram cultuados, na linha do “tão ruim que é bom”, como “Motoqueiros Selvagens” (1970), “O Monstro de Duas Cabeças” (1971), “O Túmulo do Vampiro” (1971), “Invasão das Mulheres Abelhas” (1972) e “O Guerreiro do Futuro” (1975). Também chegou a escrever, produzir e estrelar “Hollywood Man” (1976), em que satisfez seu ego ao interpretar um astro de Hollywood. Mas depois de trocar socos com Estwood, acabou tento um gostinho do que era trabalhar de verdade em filmes de grande orçamento e com mestres do cinema. Foram dois longas de John Milius, como o pai de “Conan, o Bárbaro” (1982) e um comandante soviético que invadia os EUA em “Amanhecer Violento” (1984). E duas preciosidades de Francis Ford Coppola, como um balconista em “Vidas sem Rumo” (1983) e o policial assediador de “O Selvagem da Motocicleta” (1983). Os papéis, infelizmente, eram pequenos e a fase comercial se encerrou com o terror “Maniac Cop: O Exterminador” (1988). O resto de sua carreira pode ser resumida como uma coleção vasta de produções para videolocadoras, geralmente terror e ação de baixíssimos orçamentos. Ele ainda gravou participações em clipes das bandas de rock Ramones e Pantera. E atuou sem parar até o ano passado, despedindo-se na comédia pouco vista “Irresistible”, estrelada por Steve Carell e lançada direto em DVD no Brasil.

