Boi Neon vai representar o Brasil na disputa do Oscar… espanhol
O filme “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro, foi selecionado para representar o Brasil na disputa de uma indicação ao prêmio Goya (o Oscar espanhol). O longa do cineasta pernambucano tentará chegar entre os quatro finalistas na categoria de Melhor Filme Ibero-Americano na 31ª edição do prêmio espanhol. Na seleção, ele acabou superando “Pequeno Segredo”, de David Schurmann, escolhido como representante brasileiro para tentar uma vaga no Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira. Mascaro, porém, não quis submeter “Boi Neon” à análise da comissão que definiu o candidato nacional ao Oscar 2017 e perdeu a chance de se igualar a seus colegas Kleber Mendonça Filho e Anna Muylaert, que já possuem em seus currículos o apoio do Ministério da Cultura para disputar o Oscar, respectivamente em 2014 e 2016. A politização alimentada pelo marketing de confronto do novo filme de Filho, “Aquarius”, acabou contaminando o processo de seleção do Oscar, levando Mascaro a afirmar não reconhecer a imparcialidade e a legitimidade da comissão que definiu o candidato brasileiro e optando por não participar do processo. Ao mesmo tempo, Mascaro não teve problemas para candidatar “Boi Neon” ao “Oscar espanhol” junto à Ancine (Agência Nacional de Cinema). Um detalhe curioso: “Aquarius” não concorreu nesta disputa. Produção brasileira mais premiada do ano, “Boi Neon” já foi exibido em cerca 75 festivais, conquistando duas dezenas de troféus, com destaque para o Prêmio Especial do Júri da mostra Horizontes, no Festival de Veneza, além dos prêmios de Melhor Filme nos festivais do Rio, Cartagena, Adelaide e Varsóvia.
Pequeno Segredo: Veja o trailer e 22 fotos do candidato brasileiro à vaga no Oscar 2017
A Diamond Filmes divulgou o trailer, o pôster oficial e as fotos de “Pequeno Segredo”, que vai representar o Brasil na disputa por uma vaga na categoria de Melhor Filme de Língua Estrangeira do Oscar 2017. A prévia chama atenção pela plasticidade da direção de fotografia do peruano Inti Briones, que já foi premiado no Festival de Veneza por seu trabalho em “Las Niñas Quispe” (2013), e também aponta um cuidado na apresentação da trama, evitando a manipulação habitual dos melodramas de doença. O filme é um projeto bastante pessoal do diretor David Schurmann, pois se baseia numa história verídica de sua família, conhecida por navegar o mundo. A trama gira em torno da garotinha Kat, filha adotiva de Heloisa e Vilfredo Schurmann. Ao adotá-la, o casal convive com a delicada escolha de manter ou não um segredo que vai além da adoção. A história inspirou também o livro best-seller “Pequeno Segredo: A Lição de Vida de Kat para a Família Schurmann” (2012), escrito por Heloisa, a mãe do diretor. O diretor catarinense já tinha registrado as aventuras mundiais de sua família em dois documentários e numa série do “Fantástico”. Seu novo filme, porém, é um drama de ficção e possui um elenco internacional, formado por Julia Lemmertz (“Meu Nome não é Johnny”), Marcello Antony (“A Partilha”), Maria Flor (“360”), a irlandesa Fionnula Flanagan (“Divinos Segredos”) e o neozelandês Erroll Shand (“Meu Monstro de Estimação”), além de marcar a estreia da menina Mariana Goulart, no papel de Kat Schurmann. Já a equipe de produção traz, além de Briones, os premiados Antonio Pinto (que assinou a trilha do documentário vencedor do Oscar em 2016, “Amy”) na trilha sonora e Brigitte Broch (vencedora do Oscar por “Moulin Rouge”) na direção de arte. O roteiro é assinado por Victor Atherino (“Faroeste Caboclo”), Marcos Bernstein (“Central do Brasil”) e pelo próprio diretor. A estreia está marcada para 10 de novembro, mas terá que ser adiantada para no máximo 23 de setembro, visando cumprir as regras da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, sob o risco de o filme ser desqualificado.
Diretor de Pequeno Segredo defende a escolha de seu filme para representar o Brasil no Oscar 2017
O diretor David Schurmann não sabe se comemora a escolha de “Pequeno Segredo” como representante do Brasil para tentar uma vaga na categoria de Melhor Filme de Língua Estrangeira no Oscar 2017, ou se lamenta os ataques que seu filme passou a receber por conta disso, de gente que não o viu. “Fico muito feliz e honrado com a escolha. Tínhamos esperança, afinal, a esperança é a última que morre, apesar de não ser um dos filmes mais falados”, ele disse ao jornal O Globo. “Sabemos que tem muita gente falando que não foi a melhor escolha da equipe, mas quero dizer que, quando essas pessoas assistirem ao filme, vão entender por que ele foi escolhido”, defendeu. Schurmann acredita que a escolha de seu filme foi consequência do perfil de produções que costumam ser premiadas pela Academia. Ele lembrou que raramente filmes de “arte”, como o defendido “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, são premiados pela Academia. “É uma história muito forte, sobre adoção e HIV, que fala de encontros de pessoas diferentes pelo mundo. A Academia busca este tipo de filme. Uma história que quebra tabus, que abre a mente das pessoas para dramas universais, como a doença. É diferente do perfil dos filmes que vão para Cannes. São perfis diferentes de filmes: por isso, não é certo que um filme que vá bem em Cannes seja indicado ao Oscar”, comparou. Em relação às críticas que vem sofrendo nas redes sociais, o cineasta desabafou a O Globo que lamenta as distorções, e cita o boato de “metade da equipe ser estrangeira”. Segundo ele, as mentiras se propagam sem que ninguém tenha o cuidado de verificar. “As pessoas estão muito inflamadas, é uma característica do nosso tempo, acho natural, mas eu sou só um cineasta defendendo seu filme, que levou seis anos para ficar pronto. Ao contrário do que estão dizendo, o meu filme não tem ‘metade da equipe estrangeira’: temos uma diretora de arte que não é brasileira, porque o nosso diretor de arte, que era brasileiro, foi chamado para fazer ‘Narcos’ em cima da hora e ficamos na mão, e todos os grandes diretores de arte brasileiros já estavam trabalhando. Recebi uma indicação da Bridget Broch, que logo comprou a ideia do filme. O diretor de fotografia Inti Briones é peruano, chileno e brasileiro, e disso pouca gente sabe. Mesma coisa, o nosso diretor foi para ‘Nise’ e todos os grandes diretores de fotografia brasileiros já estavam trabalhando. E era meu primeiro longa, eu queria um grande diretor de fotografia. Além deles, dois atores são de fora, porque fazia sentido à história. Cansado de ser atacado, ele contra-ataca, dizendo que sua equipe é até mais brasileira que a dos filmes da “panelinha”, que só filmam com gente do mesmo estado, porque emprega profissionais de dez estados diferentes do pais. “Considero meu filme mais brasileiro do que muitos filmes que só fazem com a sua panelinha”, arrematou. Para completar, ele explica porque porque “ninguém viu o filme”. “A estreia estava marcada para junho, mas estávamos aperfeiçoando a mixagem de som e os efeitos especiais. Tem uma cena com uma baleia que eu não sosseguei enquanto não ficou perfeita. Não queria que ninguém achasse que não era uma baleia de verdade. É um filme de padrão internacional”. Por isso, “Pequeno Segredo” só ficou pronto agora, sem tempo de entrar no circuito dos festivais. Vale lembrar que isso é muito comum entre os filmes do Oscar, com estreias no último fim de semana do ano para se qualificar à disputa de indicações, sem passar pelos festivais que precedem o período – casos, por exemplo, de “O Regresso”, um dos filmes mais premiados pela Academia em 2016.
Anna Muylaert chama de “golpe” e ridiculariza seleção de Pequeno Segredo para o Oscar 2017
A cineasta Anna Muylaert, que decidiu não disputar a candidatura brasileira à vaga de Melhor Filme de Língua Estrangeira do Oscar 2017, resolveu atacar abertamente a escolha de “Pequeno Segredo”, de David Schurmann. Além de usar seu Facebook para chamar a vitória de “golpe”, ela publicou em sua timeline um cartaz manipulado do filme, que substitui seu título por “Pequeno Golpe”. A respeitada e premiada cineasta, que
Produtor da trilogia Senhor dos Anéis elogia filme escolhido pelo Brasil para o Oscar 2017
A produtora Diamond Filmes divulgou uma nota em comemoração à escolha de “Pequeno Segredo” como representante do Brasil à disputa de uma vaga na categoria de Melhor Filme de Língua Estrangeira no Oscar 2017, que destaca alguns elogios internacionais. O produtor Barrie M. Osborn, vencedor do Oscar por “O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei” (2003), enviou uma mensagem a David Schurmann após assistir ao filme: “Não é nenhum segredo que eu amo a beleza, a paixão e as performances que você trouxe para ‘Pequeno Segredo’. É de uma execução impressionante. Parabéns. Já não é mais um pequeno segredo, mas um filme que todos nós podemos comemorar”. Além dele, a diretora de arte do filme, Brigitte Broch, que também tem um Oscar no currículo, por seu trabalho em “Moulin Rouge” (2002), manifestou-se sobre a indicação. “‘Pequeno Segredo’ é um filme extraordinário, não só por toda a qualidade técnica e artística de um grande filme, mas também porque tem alma. É um filme sobre uma história incrível e que explora, de forma muito especial, criativa e delicada temas fortes como dor, racismo, coragem e amor puro e incondicional. Como em filmes anteriores nos quais trabalhei, eu sei quando eu faço parte de algo muito especial e com excelência, que vai tocar as pessoas e se tornar memorável. ‘Pequeno Segredo’ é um desses trabalhos. Estou certa que vai atravessar fronteiras para se tornar um sucesso internacional, com grandes chances de ganhar um Oscar.” Para completar, o diretor David Schurmann comemorou a indicação como já sendo uma vitória. “A indicação para representar o Brasil já é em si uma vitória, de uma equipe que batalhou muito por esse filme. Nosso trabalho agora é concretizar essa indicação, mostrando que esse filme conta uma história delicada e universal sem abrir mão de valor de produção”, disse o diretor. “Pequeno Segredo” é baseado na história real de Kat Schurmann, irmã do diretor, e que também inspirou o best-seller homônimo de Heloísa Schurmann, sua mãe. Ao adotar Kat, o casal Schurmann, conhecido por viajar com sua família de barco ao redor do mundo, convive com a delicada escolha de manter ou não um segredo que vai além da adoção. O elenco é formado por Julia Lemmertz (“Meu Nome não é Johnny”), Marcello Antony (“A Partilha”), Maria Flor (“360”) como Jeanne, a irlandesa Fionnula Flanagan (“Divinos Segredos”) e o neozelandês Erroll Shand (“Meu Monstro de Estimação”), além de marcar a estreia da menina Mariana Goulart, no papel de Kat Schurmann. Já a equipe de produção traz os premiados Antonio Pinto (que assinou a trilha do documentário vencedor do Oscar em 2016, “Amy”), na trilha sonora, a mencionada Brigitte Broch na direção de arte e Inti Briones (vencedor do Festival de Veneza por “Las Niñas Quispe”) na direção de fotografia. Ainda inédito no Brasil, “Pequeno Segredo” precisa completar uma importante etapa da qualificação para poder representar o país na premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas: estrear até 22 de setembro. Caso perca a data, não poderá concorrer, pelas regras do Oscar. A comissão que o escolheu teria sido informada que a estreia será antecipada para a data limite. Mas o material da Diamond Films mantém o lançamento com data de novembro, o que o desqualificaria a produção.
Pequeno Segredo será o representante do Brasil na disputa por vaga no Oscar 2017
O filme “Pequeno Segredo”, de David Schurmann, será o representante do Brasil na disputa por uma indicação ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. O anúncio foi feito nesta segunda (12/9) pela comissão do Ministério da Cultura, em evento na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. Ao anunciar a escolha, Luiz Alberto Rodrigues, sócio-diretor da produtora Panda Filmes, disse que a comissão analisou não apenas as qualidades artísticas do filme, mas também tentou considerar o que a Academia de Hollywood poderia levar em conta. “Não foi uma decisão fácil. Não foi uma decisão unânime. Foi uma decisão pelo consenso”, completou Silvia Maria Sachs Rabello, presidente da Abeica (Associação Brasileira de Empresas de Infra-estrutura de Indústria Cinematográfica e Audiovisual) e membro do comitê gestor do Fundo Setorial do Audiovisual. “Pequeno Segredo” é baseado numa história verídica da família Schurmann, conhecida por navegar o mundo. A trama gira em torno da garotinha Kat, filha adotiva de Heloisa e Vilfredo Schurmann, e irmã do diretor. A menina morreu em 2006 e a história inspirou também o livro best-seller “Pequeno Segredo: A Lição de Vida de Kat para a Família Schurmann” (2012), escrito por Heloisa, a mãe de David Schurmann. O diretor catarinense já tinha registrado as aventuras mundiais de sua família em dois documentários e numa série do “Fantástico”. Seu novo filme, porém, é um drama de ficção e possui um elenco internacional, que combina atores brasileiros, como Julia Lemmertz, Maria Flor, Marcello Antony e Mariana Goulart, com os estrangeiros Fionnula Flanagan, Erroll Shand e outros. A escolha de “Pequeno Segredo” pode ser considerada polêmica. Não porque tenha impedido que o diretor Kleber Mendonça Filho sofresse o embaraço de ter seu filme “Aquarius” eleito por uma comissão que ele questionou e pressionou ostensivamente, por meio de carta aberta e de diversas entrevistas. Mas porque ainda é inédito no país. É que, pelas regras da Academia, os filmes inscritos na categoria de Melhor Filme de Língua Estrangeira no Oscar 2017 devem ser lançados e exibidos publicamente com fins comerciais por pelo menos sete dias consecutivos entre os dias 1º de outubro de 2015 e 30 de setembro de 2016. E a estreia prevista para “Pequeno Segredo” supera esse prazo, já que está marcada apenas para novembro. É necessária a comprovação da exibição do filme em salas de cinema comercial, com o risco da desqualificação do candidato. E uma vez desqualificado, ele não pode ser substituído por outro. Neste caso, o Brasil simplesmente perderia sua vaga. A comissão do Ministério da Cultura justificou a escolha dizendo ter sido informada que o longa terá sua estreia adiantada, para 22 de setembro, visando a qualificação. Os integrantes da comissão que elegeu o representante brasileiro foi formada por Adriana Scorzelli Rattes, Bruno Barreto, Carla Camurati, George Torquato Firmeza, Luiz Alberto Rodrigues, Marcos Petrucelli, Paulo de Tarso Basto Menelau, Silvia Maria Sachs Rabello e Sylvia Regina Bahiense Naves. Ao todo, foram inscritos 16 filmes e 3 alardearam que não participariam do processo. Por sinal, o filme de Schurmann pode ter sido fortalecido pelos cineastas que se solidarizaram contra uma suposta perseguição ao filme “Aquarius” e não incluíram suas produções na disputa, entre elas “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro, que tinha grandes chances de ser o representante brasileiro.
Kleber Mendonça Filho diz que manterá Aquarius na disputa por uma vaga ao Oscar
É oficial. O diretor Kleber Mendonça Filho disse que manterá a inscrição de “Aquarius” na disputa pela vaga brasileira no Oscar 2017. O cineasta pernambucano não vai aderir ao protesto que ele próprio incentivou, ao insinuar-se perseguido politicamente, e que culminou na desistência de dois de seus concorrentes, “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro, e “Mãe Só Há Uma”, de Anna Muylaert. Mascaro e Muylaert anunciaram a retirada de seus filmes em solidariedade a Filho, que estaria sofrendo retaliações, após denunciar que “O Brasil não é mais uma democracia”, com placas contra um “golpe de estado” no país, durante o Festival de Cannes. Filho, porém, assumiu que não tem intenção de realizar o mesmo gesto. “Tenho interesse em ver o processo se completar dentro das regras democráticas”, ele afirmou ao jornal Folha de S. Paulo. Assim, se valerá da vantagem de não contar com dois de seus concorrentes mais destacados para tentar conquistar a vaga. E só não terá o caminho mais facilitado porque outros diretores optaram por não servir de tapete vermelho para seu “interesse”. Os três diretores e Roberto Berliner, que também mantém “Nise: No Coração da Loucura” na competição, protestam contra a inclusão do crítico Marcos Petrucelli na comissão que escolherá o candidato brasileiro ao Oscar. Para eles, é inadmissível que o jornalista tenha sido escolhido após emitir opinião contrária à manifestação de Filho e da equipe de “Aquarius” em Cannes, e assim decidiram denunciar a “imparcialidade questionável” da comissão, no dizer de Mascaro. É importante lembrar que os mesmos defensores da imparcialidade desta comissão do Ministério da Cultura, que perseguem e atacam um jornalista exclusivamente por conta de suas opiniões, não realizaram qualquer tipo de manifestação quando “Lula, o Filho do Brasil” foi vergonhosamente escolhido como representante do Brasil ao Oscar em 2010, em pleno governo Lula. Uma falta de ética como nunca se viu antes na história deste país. “Acho incrível o que [Mascaro e Muylaert] fizeram”, disse Filho à Folha de S. Paulo. “O governo interino não tem familiaridade com a área da cultura e com a forma como nós somos unidos.” Curiosamente, esta união parece ter limites, já que o incentivador não pretende pular no mesmo abismo, após ver a concorrência pular sozinha, de forma inocente e muito útil, por sinal. Por sua vez, o Ministério da Cultura emitiu um comunicado, reiterando sua “confiança na comissão de seleção do filme” e na “isenção do processo de escolha”. “A comissão é formada por nomes de reconhecida reputação e conhecimento técnico, que passaram, inclusive, pelo crivo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Destaca-se que a seleção do filme representante será feita à margem de critérios de natureza política, sendo inócua a criação de ambiente de pressão ou constrangimento com vistas a favorecer ou prejudicar qualquer produção. Passada a etapa de seleção, o Ministério estará engajado na torcida para que nosso filme figure entre os cinco finalistas.”
Anna Muylaert retira Mãe Só Há Uma da disputa pela vaga brasileira no Oscar 2017
A diretora Anna Muylaert revelou que pretende seguir o gesto de Gabriel Mascaro e também retirar seu filme “Mãe Só Há Uma” da disputa pela indicação do Brasil à categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2017. Mascaro retirou “Boi Neon” para prestar solidariedade ao filme “Aquarius”, num protesto à parcialidade – ou “imparcialidade questionável”, como se expressou – com que o processo seletivo estaria sendo conduzido. A razão para as duas desistências seria a inclusão do crítico paulista Marcos Petrucelli na comissão do Ministério da Cultura que escolherá o representante brasileiro. Ele virou alvo por discordar da postura política e igualmente pública do diretor Kleber Mendonça Filho, de “Aquarius”. Com isso, já são dois cineastas que tomam para si a decisão que não foi tomada por Kleber Mendonça Filho, que se diz perseguido após a photo-op do Festival de Cannes para denunciar que “O Brasil não é mais uma Democracia”, devido a um “golpe de estado” – o processo de Impeachment de Dilma Rousseff. Em nome da defesa da liberdade de expressão da equipe de “Aquarius”, Muylaert, Mascaro e Filho lançam assim um inacreditável movimento contra a liberdade de expressão de um crítico, que discordou do uso político de verbas públicas no protesto realizado em Cannes. Como o próprio Filho assumiu, seu filme foi realizado com verbas incentivadas e sua viagem à França financiada pelo Programa de Apoio à Participação de Filmes Brasileiros em Festivais Internacionais e de Projetos de Obras Audiovisuais Brasileiras em Laboratórios e Workshops Internacionais, da Ancine. A propósito, estas são as frases do crítico, publicadas em seu Facebook, que geraram a polêmica. “Vergonha é o mínimo que se pode dizer sobre a equipe e o elenco de ‘Aquarius’”, ele opinou na data do protesto com os cartazes em Cannes. Cinco dias depois, quando saiu o anúncio dos vencedores, ele completou: “Então foi assim: filme feito com dinheiro público vai a Cannes representar o Brasil e não leva prêmio algum. Ou seja, a mentira sobre o suposto golpe no País por meio de frases em papel A4 no tapete vermelho não adiantou muito além de expor o Brasil ao ridículo.” Aparentemente, três dos nossos cineastas mais brilhantes acharam ruim que um dos eleitores do representante do Brasil no Oscar tenha feito o que se espera de sua profissão: um comentário crítico. Ou, de forma reducionista, manifestado-se publicamente a respeito de uma manifestação pública. Trata-se de um ataque mal-disfarçado à liberdade de expressão e opinião, a ponto de visar até o símbolo máximo da democracia: o direito ao voto. Não querem que um crítico vote, porque não gostarão de seu voto. É isso, simplesmente. “Achamos que este é o ano de ‘Aquarius’. É o filme certo”, disse Muylaert ao jornal Folha de S. Paulo, num prato cheio para quem gosta de teorias de conspiração e já delira com Kleber Mendonça Filho segurando placas de “Yankees Go Home” no tapete vermelho do Oscar 2017. Além da dupla de cineastas desistentes, o diretor e produtor mineiro Guilherme Fiúza Zenha, um dos nove integrantes da comissão do governo, também anunciou que não irá mais participar do comitê “por questões pessoais”. Procurado, o diretor de “O Menino no Espelho” (2014) disse que não falaria com a imprensa. Mas é pouco provável que muitos outros se juntem a eles. Ouvidos pela Folha de S. Paulo, os diretores de alguns dos filmes concorrentes mantiveram a postura de disputar a vaga. E encontram o caminho menos apinhado, com a saída de “Boi Neon” e “Mãe É Só Uma” do páreo. “Por que tirar o filme? Acredito nele. Respeito a atitude [dos outros diretores], mas não pretendo retirar. A decisão é do comitê”, disse Afonso Poyart, de “Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo”. Ele é ecoado pelo diretor David Schurmann, para quem seu filme “Pequeno Segredo” “tem uma temática que pode interessar ao Oscar”. “Investimos muito tempo e paixão para fazer um filme tecnicamente impecável e emocionante”, resumiu. Já Roberto Berliner decidiu manter “Nise: No Coração da Loucura”, mas não sem emitir um comunicado de solidariedade a Filho, dizendo que compartilha “das mesmas posições políticas”, sem esquecer de atacar o crítico em questão por suas “declarações infelizes” – em defesa da “liberdade de expressão”, é claro – , e incluindo até a um anedótico “Fora Temer!” no texto. Fazendo a ressalva que Muylaert e Mascaro preferiram ignorar, Berliner lembrou do respeito que deve “à equipe do filme, aos milhares de espectadores, aos outros jurados e demais concorrentes”, salientando a “confiança no filme que fizemos e pela importância de levar essa história ao conhecimento do maior público possível”. Mas completa propondo escorraçar o crítico da comissão, numa celebração de totalitarismo – ou, pelo menos, falta de capacidade de convívio democrático. Afinal, como se chama mesmo quem busca enquadrar opositores, calar os dissidentes e buscar impedir o direito de votar? De todo modo, o “martírio” dos colegas está sendo tratado, até aqui, com mesquinharia por Filho, que tem se aproveitado das desistências para reforçar sua posição na eleição e aparecer ainda mais na mídia. Após a desistência de Mascaro e Muylaert, em solidariedade à perseguição que o cineasta estaria sofrendo – e isto inclui a classificação etária elevada de seu filme – , ele mantém “Aquarius” na disputa.







