Claudia Jimenez, da “Escolinha do Professor Raimundo” e “Sai de Baixo”, morre aos 63 anos
A atriz e humorista Claudia Jimenez morreu no início da manhã deste sábado (20/8), aos 63 anos. A causa da morte não foi informada pela família, mas a artista estava internada no Hospital Samaritano, no Rio. Nos últimos anos, ela passou por uma série de cirurgias cardíacas. Foram cinco pontes de safena no coração em 1999, a substituição de uma válvula aórtica em 2012 e um marca-passo em 2014. Tudo isso depois de ser diagnosticada com um câncer no tórax e fazer radioterapia em 1986. A carioca Cláudia Maria Patitucci Jimenez fez sua estreia como profissional do teatro aos 20 anos, na peça “Ópera do Malandro”, de Chico Buarque. Na produção de 1978, ela viveu a prostituta Mimi Bibêlo. As primeiras aparições na televisão foram nos anos 1980, quando chegou a Globo para participar do programa “Viva o Gordo”, de Jô Soares, também recentemente falecido. No programa, ela viveu a personagem Pureza. Em 1982, passou a viver a Dona Cacilda no “Chico Anysio Show”, que depois migrou para o spin-off “Escolinha do Professor Raimundo”, de 1990. A personagem imortalizou o bordão “Beijinho, beijinho, pau, pau”, que ironizava a despedida de Xuxa Meneguel. “Foram seis anos de gargalhadas” – assim ela definiu sua participação no programa, numa entrevista de 2014 ao “Fantástico”. Outro personagem marcante foi a Edileuza, empregada doméstica da família do humorístico “Sai de Baixo”, contracenando com Miguel Falabella, Tom Cavalcante, Luís Gustavo, Aracy Balabanian e Marisa Orth. Mas ela ficou no programa apenas nas primeiras temporadas, entre 1996 e 1998, preferindo investir numa nova carreira como atriz de novela. Seu primeiro papel nos folhetins da Globo foi uma participação especial na primeira versão de “Ti-ti-ti”, de 1985. Mas a dedicação só se tornou total a partir da Bina em “Torre de Babel” (1998). Seguiram-se “As Filhas da Mãe” (2001), “Papo de Anjo” (2003), “América” (2005), “Sete Pecados” (2007), “Negócio da China” (2008), “Aquele Beijo” (2012) e, mais recentemente, “Haja Coração” (2016), que foi seu último trabalho nas telas. Ela deveria ter trabalhado também em “Deus Salve o Rei” (2018), mas optou por sair do elenco ao ter uma crise de hipertensão durante as gravações. Cláudia faria uma participação especial ao lado da personagem interpretada por Tatá Werneck. Enquanto trabalhava na Globo, fez ainda oito filmes, incluindo alguns clássicos do cinema brasileiro, como “Gabriela” (1983), de Bruno Barreto, e a versão cinematográfica da “Ópera do Malandro” (1985), de Ruy Guerra, além de “Urubus e Papagaios” (1985), de José Joffily, “A Dança dos Bonecos” (1987), de Helvecio Ratton, “Os Trapalhões no Auto da Compadecida” (1987), de Roberto Farias, “Romance da Empregada” (1988), novamente com Bruno Barreto, “O Corpo” (1991), de José Antonio Garcia, e “Como Ser Solteiro” (1998), de Rosane Svartman. A artista também estrelou séries, como a comédia “Sexo e as Negas” (2014), e foi dubladora, dando a voz para Ellie nos filmes da franquia “A Era do Gelo”. Miguel Falabella, autor da novela “Aquele Beijo”, criador de “Sexo e as Negas” e colega de elenco de “Sai de Baixo”, foi um dos primeiros a prestar homenagem à amiga. “Fui procurar uma foto para ilustrar essa postagem e me deparei com uma vida”, ele escreveu no Instagram, junto de uma foto em que aparece abraçado com a atriz. “Agora, estou deitado, passando um filme na minha cabeça, tentando me agarrar às tantas gargalhadas que demos, ao prazer de atuar juntos, ao seu único e irreproduzível tempo de comédia. Você estará para sempre usando aquele biquíni selvagem que nos ensolarou a existência, Claudinha. Hoje todas as homenagens são suas e os refletores de todos os teatros do Brasil reluzem para você. Obrigado por ter caminhado a meu lado nesta passagem. Betty Lago e Mercedinha certamente vão recebê-la em festa! A nós, resta a saudade e a responsabilidade de manter viva a memória do seu imenso talento! Te amo! Descanse em paz! Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por miguelfalabellareal (@miguelfalabellareal)
Roberto Farias (1932 – 2018)
O diretor Roberto Farias, um dos nomes mais importantes do cinema nacional, morreu na madrugada desta segunda-feira (14/5), aos 86 anos. A casa da morte não foi divulgada, mas ele faleceu em casa, após relatos de saúde fragilizada. Irmão do ator Reginaldo Faria, com quem trabalhou em seus principais filmes, Roberto iniciou a carreira na época das chanchadas, como assistente de direção de Watson Macedo (“Aviso aos Navegantes”), na Atlântida. Entre seus primeiros filmes como diretor estavam comédias da época, como “Rico Ri à Toa” (1957), estrelada por Zé Trindade, e “Um Candango na Belacap” (1961), com a dupla Ankito e Grande Otelo. Mas os destaques de sua carreira foram obras dramáticas, incluindo um clássico da filmografia nacional, “Assalto ao Trem Pagador” (1962), thriller que viabilizou o gênero policial no Brasil. O próprio Farias tinha feito uma incursão anterior ao gênero, “Cidade Ameaçada” (1960), sobre um perigoso criminoso de São Paulo, vivido por Jardel Filho, que chegou a participar da disputa da Palma de Ouro do Festival de Cannes. Mas “Assalto ao Trem Pagador” foi o longa que acabou com a romantização do “bandido do bem” no Brasil, um inspiração dos filmes dos foras-da-lei de Hollywood. “Assalto ao Trem Pagador” também marcou época ao deixar os cenários dos estúdios e invadir as ruas e favelas, dando mais realismo às cenas de ação. Por isso, é considerado o grande precursor dos filmes de crime no país, tendo influenciado de “Cidade de Deus” a “Tropa de Elite”. Farias ainda foi responsável pela invenção do cinema pop nacional, ao levar Roberto Carlos e a Jovem Guarda para as telas. O diretor assinou a trilogia “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura” (1969), “Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa” (1970) e “Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora” (1971), inspirados nos filmes dos Beatles – “Os Reis do Iê-Iê-Iê” e “Help” – e também incluiu participações de Erasmo Carlos e Wanderléa. Para completar, antecipou-se à abertura política com o primeiro filme de denúncia da prática de tortura da ditadura militar e o uso político da Copa do Mundo de 1970 para alienar os brasileiros, no impactante drama “Pra Frente, Brasil” (1982). Além de vencer o Festival de Gramado, o filme foi premiado em Berlim. Mas ele não foi só um grande diretor. Sua importância para a cultura brasileira também inclui o período em que presidiu a Embrafilme, entre 1974 e 1978, estimulando a produção daquela que é considerada a fase áurea do cinema nacional. Ele conseguiu convencer a ditadura que investir na produção de filmes brasileiros era uma forma de fortalecer a identidade nacional diante da influência americana, que dominava a cultura da época. E o resultado foi a liberação de uma verba jamais vista para a produção de filmes no país, elevando a participação dos filmes nacionais a 33% do total do parque exibidor, culminando no surgimento dos primeiros blockbusters brasileiros – como “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976), “Xica da Silva” (1976) e “A Dama da Lotação” (1978). Isto, claro, não o transformou num aliado da “direita”, como demonstrou o tapa na cara de “Pra Frente, Brasil”. Ele também assumiu a produção de um punhado de clássicos, cujos temas polêmicos não chegariam às telas sem seu empenho pessoal, entre eles “Azyllo Muito Louco” (1970), de Nelson Pereira dos Santos, “Toda Nudez Será Castigada” (1973), de Arnaldo Jabor, “A Rainha Diaba” (1974), de Antonio Carlos da Fontoura, e “Mar de Rosas” (1978), de Ana Carolina. Entretanto, “Pra Frente, Brasil” custou caro a Farias. Embora premiado, foi considerado “capaz de provocar incitamento contra o regime vigente, a ordem pública, as autoridades e seus agentes” e acabou vetado para exibição pública. Além disso, o fato de ter sido produzido com dinheiro público causou a demissão do sucessor de Farias na Embrafilme. Além disso, os militares exigiram o ressarcimento da verba da produção. Além de enfrentar dificuldades para realizar seu lançamento comercial, o diretor perdeu apoio da Embrafilme para novos projetos. Endividou-se e sua carreira sofreu, ainda que o filme tenha finalmente vindo à público um ano depois, após as eleições em que os candidatos do governo foram derrotados. Apaixonado por Fórmula 1, Farias ainda fez um documentário sobre Emerson Fittipaldi, “O Fabuloso Fittipaldi” (1973), e um vídeo sobre Ayrton Senna, “Acelere Ayrton” (1986). Mas só comandou mais um longa de ficção em toda a vida, “Os Trapalhões no Auto da Compadecida” (1987). Os anos seguintes foram dedicados à TV, principalmente à séries da TV Globo, como “As Noivas de Copacabana” (1982), “Contos de Verão” (1993), “Memorial de Maria Moura” (1994), “Decadência” (1995), “Sob Nova Direção” (2004-2007) e “Faça Sua História” (2008), seu último trabalho como diretor, realizado há uma década. Mas ele não se afastou completamente do cinema, tendo fundado a Academia Brasileira de Cinema (ABC), entidade que dirigiu nos últimos 11 anos, com a proposta de lançar um equivalente nacional à Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos, responsável pelo Oscar. A ABC criou o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, que anualmente premia os melhores do cinema nacional. E em 2018 assumiu a função de selecionar o candidato brasileiro a uma vaga no Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira.

