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    O Terceiro Assassinat leva os dramas familiares de Hirokazu Koreeda ao tribunal

    8 de julho de 2018 /

    Notabilizado por histórias de temáticas familiares e humanas, o cineasta japonês Hirokazu Koreeda tornou-se figura recorrente em festivais internacionais nos últimos anos. Seu cinema é constantemente comparado ao do grande mestre Yasujiro Ozu, o que pode parecer um exagero a princípio, mas a consistência que Koreeda vem alcançando nessa fase digamos, madura da carreira, faz com que as comparações não sejam levianas. Tal momento culminou neste ano com a Palma de Ouro no Festival de Cannes, pelo ainda inédito “Shoplifters”. Em “O Terceiro Assassinato” o cineasta arrisca-se num outro gênero, o suspense. Embora a trama tenha os elementos mais característicos do estilo, Koreeda encontra maneiras de colocar a sua assinatura – afinal, como de hábito, o diretor também é o roteirista do filme – fazendo com que a investigação criminal caminhe para uma abordagem humanística, deixando de lado possíveis situações mais urgentes e tensas para privilegiar o desenvolvimento mais cadenciado dos personagens, explorando suas relações familiares, além de questões mais metafísicas sobre justiça, assassinato, morte. O resultado é um filme que é difícil falar mal, embora não empolgue para elogios. Depois de cumprir pena por um duplo assassinato, Misumi (Kôji Yakusho) encontra-se novamente preso, réu confesso de um latrocínio envolvendo o seu patrão. Shigemori (Masaharu Fukuyama) é o advogado contratado para evitar a pena de morte ao réu, e logo se vê confuso com as constantes mudanças nas conversas com seu cliente, que toda hora conta uma história diferente em relação ao crime. Conforme a investigação dos advogados avança, a trama vai se revelando mais intrincada do que aparentava, e o simples caso de latrocínio passa a esconder mais elementos por trás. Como já foi dito, o filme nem pretende se vender como thriller, portanto a investigação em si não é o foco, mas sim a reflexão acerca das versões sobre o crime, as possíveis motivações, além dos acontecimentos inesperados que percorrem a trama. A investigação é morna, mas caminha sempre para frente, a passos curtos. O fato da investigação ser conduzida por advogados e não policiais, como assistimos comumente, tem influência determinante no clima da produção. Koreeda é hábil ao mostrar que, em termos legais, é mais importante seguir num caminho que vai indicar melhores chances de reverter a sentença do que necessariamente descobrir toda a “verdade” do caso. Quando investe nessa lógica argumentativa mais seca e direta, o filme ganha matizes interessantes, contrastando com seu tom filosófico. A decupagem é segura e econômica, e alcança momentos de destaque nas cenas que se refletem no vidro na sala de interrogatório, em que o jogo de compreensão entre advogado e réu torna-se mais elevado, funcionando como um ponto de virada para a trama. Tais cenas também são destaque por conta da atuação elusiva e magnética de Kôji Yakusho. Muito diferente do clichê de um homem que cometeu um terceiro homicídio – atormentado ou atormentador – , Misumi é uma figura educada e gentil, que parece que chegou naquela condição por força das circunstâncias da vida. Sua construção é bastante precisa e paciente, principalmente na maneira como desenvolve suas diferentes versões e motivações, convencendo como homem desatento que às vezes não fala coisa com coisa por ter um parafuso a menos, mas que também demonstra ter capacidade para ser o oposto disso, alguém que sempre possui uma visão ampla da situação e joga de acordo com isso. Ao mesmo tempo, as digressões de Koreeda sobre os temas abordados são pertinentes mas não rompem nada. Competem com a trama detetivesca, fazendo com que o filme alcance um meio termo que pode parecer satisfatório devido a perícia da direção, mas que no fundo é um atestado de que o filme não possui impacto. A trilha sonora excessivamente convencional, com o piano emotivo já ouvido tantas vezes, também não contribui. É uma “tradição” do cinema de Koreeda uma espécie de desprezo a um desenvolvimento narrativo convencional, embarcando em jornadas sem conflitos aparentes. Só que quando o diretor coloca tal proposta num gênero como o suspense, isso acaba criando demandas que o filme nem parece interessado em cumprir. Não que a experiência tenha sido mal sucedida, mas apenas não parece ter havido o ajuste necessário para que houvesse aqui o mesmo nível de envolvimento que há nas histórias mais pessoais que o diretor escolhe contar, e que parecem abarcar melhor sua proposta. De todo modo, Koreeda segue sendo um dos cineastas mais interessantes de se acompanhar na atualidade, mesmo quando se aventura em caminhos inesperados. Por mais que o resultado não empolgue, ainda é possível enxergar ali cinema de gente grande.

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    Sem blockbusters, cinemas recebem filmes de José Padilha, Wim Wendes e Hirokazu Kore-Eda

    19 de abril de 2018 /

    Em semana sem blockbusters, a programação de cinema ganha perfil de festival internacional, com lançamentos de Wim Wenders, Hirokazu Kore-Eda, José Padilha e do retorno de Ruy Guerra após mais de uma década. Mas só os nomes famosos não garantem bons filmes. Até o terror horroroso com maior distribuição, que abre em 380 salas, é de um diretor francês conhecido. “Exorcismos e Demônios” tem direção de Xavier Gens, que retorna ao gênero que o consagrou em “(A) Fronteira” (2007), após fracassar em produções mais convencionais. Baseado numa história real, conta a história do exorcismo de uma jovem freira esquizofrênica por um padre psicopata, com requintes de crueldade. O fato chocou a Romênia e inspirou um filmão. Não este, mas “Além das Montanhas” (2012), do romeno Cristian Mungiu. A versão de terror, porém, não passa de um sub-“O Exorcismo de Emily Rose” (2005), que conseguiu uma rara unanimidade entre a crítica norte-americana: atingiu 0% (zero por cento) de aprovação no site Rotten Tomatoes. Um horror de ruim. Festival internacional “7 Dias em Entebbe” é o segundo filme internacional de José Padilha e, como “RoboCop” (2014), trata de história já vista antes, a quarta filmagem de uma das missões de resgate e combate ao terror mais famosas de todos os tempos: o salvamento dos passageiros de um voo da Air France vindo de Tel Aviv, que teve sua trajetória desviada para Entebbe, em Uganda, por sequestradores em 1976. Em vez de destacar a ação de resgate como as produções B anteriores – entre elas, telefilmes com Charles Bronson (“Desejo de Matar”) e Linda Blair (“O Exorcista”) – , Padilha optou por enfatizar o aspecto político da trama, em especial a causa palestina. Para completar a revisão, ainda minimizou o papel do comandante da missão, considerado herói em Israel – e que era irmão do atual Primeiro Ministro de Israel Benjamin Netanyahu. O resultado desarma um longa que estampa metralhadoras e militares em seu pôster, em favor de cenas demasiadamente discursivas. A crítica norte-americana bocejou, com 22% de aprovação no Rotten Tomatoes. O longa do alemão Wim Wenders, “Submersão”, é um melodrama romântico, em que a sueca Alicia Vikander (“Tomb Raider”) e o inglês James McAvoy (“X-Men: Apocalipse”) se apaixonam e são separados por seus trabalhos arriscados, que flertam com tragédias. Ele viaja à Somália para libertar prisioneiros de jihadistas, enquanto ela explora as profundezas do oceano num mini-submersível. Diante de situações de morte iminente, resta aos dois as lembranças de um encontro na véspera de Natal ocorrido em uma praia. Vale dizer que o trailer é ótimo. Já o filme demora quase duas horas para contar o que se vê na prévia de dois minutos. Lento de doer, tem apenas 16% de aprovação. Ao contrário dos demais, “O Terceiro Assassinato” tem avaliação positiva, 90% no Rotten Tomatoes. Mas mesmo entre os elogios se constata um consenso de que é um trabalho menor do japonês Hirokazu Kore-Eda. O que começa com tons de suspense logo se transfigura num drama de tribunal. A trama gira em torno do julgamento de um assassino confesso, que seu advogado suspeita ser inocente, e a situação vira uma discussão metafísica do que seria a verdade. O alemão “De Encontro com a Vida”, de Marc Rothemund (“Uma Mulher Contra Hitler”) é o mais previsível da lista. Baseado numa história real, acompanha um jovem que perde 90% da visão, mas consegue fingir não ter deficiência para conseguir um emprego num hotel de luxo. A trama edificante logo vira uma comédia romântica, quando uma camareira entra na história. Seleção brasileira “Todo Clichê do Amor” vai da comédia rasgada à conversa dramática em três histórias diferentes, amarradas por um cacoete estilístico do ator e diretor Rafael Primot em seu segundo longa – após o surpreendente “Gata Velha Ainda Mia” (2014). Apesar do elenco atuar em volume histérico, há nuances que sobrevivem aos clichês do título. O bom elenco feminino inclui Maria Luisa Mendonça (série “Magnífica 70”), Débora Falabella (“O Filho Eterno”) e Marjorie Estiano (“Sob Pressão”) como uma dominatrix. “Quase Memória”, o “novo” longa de Ruy Guerra, foi exibido pela primeira vez no Festival do Rio de… 2015, o que comprova a dificuldade enfrentada pelos filmes brasileiros para chegar aos cinemas. Se uma obra do diretor de clássicos como “Os Cafajestes” (1962), “Os Fuzis” (1964), “Ópera do Malandro” (1986), “Kuarup” (1989) e “Estorvo” (2000) sofre com isso, o que dirá um diretor estreante. E olha que se trata da adaptação de um best-seller nacional, o livro homônimo de Carlos Heitor Cony, com mais de 400 mil exemplares vendidos, e estrelado por um dos atores mais populares do país, Tony Ramos, que volta a protagonizar um filme após o ótimo trabalho em “Getúlio” (2014). Expoente do Cinema Novo, Ruy Guerra não filmava desde “O Veneno da Madrugada” (2005) e retorna com um filme “borgiano”, em que um homem velho (Ramos) encontra sua versão jovem (Charles Fricks) e idealista, e ambos lembram do pai (vivido por João Miguel). Se o encontro se dá em tom teatral, as lembranças têm abordagem quase surrealista, ao se desdobrarem numa história fabulosa de tom circense, pela distorção causada pela memória distante. O elenco da produção ainda inclui Mariana Ximenes (“Uma Loucura de Mulher”) e Antonio Pedro (“A Casa da Mãe Joana”). Por fim, o documentário “Construindo Pontes” tem a plasticidade que se espera da diretora de fotografia de “Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo” (2009) e “Lixo Extraordinário” (2010), apesar de ser construído em cima de conversas entre Heloísa Passos e seu pai, Álvaro, que viveu o auge de sua carreira de engenheiro civil durante o “milagre econômico” da ditadura militar. Esquerdista convicta de que o Brasil sofreu um golpe com o Impeachment de Dilma Rousseff, ela não consegue aceitar o saudosismo do pai pela ditadura e seu apoio a Sergio Moro, o juiz que participa do acordo das elites para tirar Lula das eleições deste ano. As discussões entre os dois ilustram a polarização em que se encontra o país. Mas, de forma inconsciente, também a cegueira de quem polariza, já que inicia com uma filmagem em super-8 das Sete Quedas, as cachoeiras destruídas para dar lugar à hidrelétrica Itaipu, uma das obras faraônicas do governo militar, no que se supõe uma crítica à direita, mas não termina com imagens de Belo Monte, a Itaipu do PAC petista, que causou desastre maior, por ir além do crime ambiental, afetando comunidades indígenas para favorecer interesses de corruptos. A não construção desta ponte metafórica é que causa a polarização do país.

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