Filmes online: “Os Croods 2”, “Cinderela” e mais 10 dicas pra ver em casa
A animação “Os Croods 2: Uma Nova Era” é a principal estreia da semana. Opção para entreter as crianças no feriadão da Independência, o segundo filme da família pré-histórica da DreamWorks Animation é melhor que o primeiro lançamento de 2013, além de ter sido um dos raros sucessos de cinema da pandemia. Na trama, a família cro-magnon original encontra a primeira família metrossexual (na verdade, neolítica), que é bem mais avançada, com conhecimentos agrícolas, mas também preocupações com a aparência – da barba hipster bem cultivada aos chinelos de estilo havaianas. A versão em português traz as vozes de Juliana Paes e Rodrigo Lombardi, enquanto a dublagem original em inglês volta a reunir o elenco formado por Nicolas Cage (“A Cor que Caiu do Espaço”), Emma Stone (“La La Land”) e Ryan Reynolds (“Deadpool”), além de Cloris Leachman (“Eu Só Posso Imaginar”) em seu último papel, como a vovó. As crianças também têm o musical de “Cinderela” estrelado pela cantora Camila Cabello. Mas apesar do elenco incluir Billy Porter (“Pose”) como Fada Madrinha e Idina Menzel (a dubladora de Elsa em “Frozen”) como a Madrasta, vale observar que a produção não empolgou a crítica. As resenhas são bastante desfavoráveis na comparação com as adaptações live-action da Disney, inclusive a versão musical de 1997, feita para a TV com a cantora Brandy no papel principal. Combinando musical e animação, há uma legítima produção da Disney, o híbrido de fantasia e documentário de Billie Eilish, em que ela canta o repertório de seu novo disco, “Happier Than Ever”, no palco do famoso Hollywood Bowl sem plateia e com direção do cineasta Robert Rodriguez (“Alita: Anjo de Combate”). Recém-lançada, a plataforma adulta da Disney, a Star+, também oferece uma comédia exclusiva em streaming, em que um casal branco sem noção invade a festa de casamento de um casal negro recatado após conhecê-los durante as férias. Geralmente comportado, o segundo casal saiu do sério durante o último verão no México e agora precisa conviver com as consequências – dois novos melhores amigos brancos e aloprados – , em meio a convidados e familiares de seu matrimônio. O elenco destaca uma inesperada boa combinação de John Cena (“O Esquadrão Suicida”) e Lil Rel Howery (“Corra!”). Há ainda duas produções adolescentes razoáveis: uma comédia com Victoria Justice (“Brilhante Victória”) e uma sci-fi com Lily-Rose Depp (a filha de Johnny). Mas o jovem ator que se sai melhor na semana é Jack Dylan Glazer (“Shazam!”) no suspense “Don’t Tell a Soul”. Para os adultos, as opções incluem “Quanto Vale?”, lançamento da Netflix que lembra os 20 anos da tragédia de 11 de setembro de 2001, e mais quatro dramas. O destaque cinéfilo, porém, fica com “A Verdade”, primeiro filme ocidental do premiado cineasta japonês Hirokazu Koreeda, vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes em 2018 com “Assunto de Família”. O filme acompanha o encontro do personagem do americano Ethan Hawke (“Juliet, Nua e Crua”) com sua sogra francesa venenosa, vivida por Catherine Deneuve (“Potiche – Esposa Troféu”). Curiosamente, os dois também interpretam atores na trama. Apresentada como uma diva, Deneuve tem uma relação conflituosa com a filha, encarnada por outra grande estrela francesa, Juliette Binoche (“Acima das Nuvens”). Paralelamente ao enredo central, a trama ainda presta homenagem à carreira de Deneuve, ao longo de várias reminiscências. Confira abaixo uma dúzia de dicas (com os trailers) de estreias para conferir nas plataformas digitais neste fim de semana. Os Croods 2: Uma Nova Era | EUA | Animação (Apple TV, Google Play, Looke, NOW, Oi Play, SKY Play, Vivo Play, YouTube Filmes) Cinderela | EUA | Musical (Amazon Prime Video) Happier Than Ever: Uma Carta de Amor para Los Angeles | EUA | Musical (Disney+) Amizade de Férias | EUA | Comédia (Star+) Esticando a Festa | EUA | Comédia (Netflix) Don’t Tell a Soul | EUA | Suspense (Apple TV, Google Play, Vivo Play, YouTube Filmes) Viajantes – Instinto e Desejo | EUA | Sci-Fi (Apple TV, Google Play, YouTube Filmes) Quanto Vale? | EUA | Drama (Netflix) A Verdade | França, Japão | Drama (Apple TV, Google Play, YouTube Filmes) A Princesa da Rua | EUA | Drama (Apple TV, Google Play, Looke, NOW, Vivo Play, YouTube Filmes) O Confeiteiro | Israel, Alemanha | Drama (Reserva Imovision) Eu Estava em Casa, Mas… | Alemanha, Sérvia | Drama (MUBI, Vivo Play)
O Confeiteiro questiona valores tradicionais de cama e mesa
O filme indicado por Israel para concorrer ao Oscar de produção estrangeira não entrou na lista de classificados. Talvez porque os concorrentes fossem muito fortes, já que “O Confeiteiro” é um belo trabalho cinematográfico. A trama envolve um triângulo amoroso: entre Oren (Roy Miller), um executivo judeu de Israel, que vai a Berlim mensalmente a trabalho, Anat (Sarah Adler), sua mulher de família religiosa, que vive em Israel e cuida de um café que preza por seu certificado kosher, e Thomas (Tim Kalkhof), o confeiteiro alemão do título, com quem Oren se envolve amorosamente. O tratamento dado a esse triângulo pelo diretor e roteirista Ofir Raul Graizer é o que faz a diferença. O filme aborda diversas questões, sempre com muita sutileza, utilizando-se da ironia e tratando de negações, perdas e descobertas. Um dos grandes focos de “O Confeiteiro” é, naturalmente, a comida, kosher ou não, particularmente os doces. É por meio deles que Oren conhece Thomas, passa a frequentar regularmente sua padaria quando vai a Berlim e traz deliciosos biscoitos de canela que Anat adora. É a habilidade de confeiteiro de Thomas que o aproximará muito de Anat no café dela, em Israel, na ausência de Oren. O convívio de ambos será terno e colaborativo, mas a história por trás disso é irônica, já que há coisas escondidas, não ditas, e há manipulação na situação. No entanto, tudo vai se construindo num tom leve, embora a gente perceba que algo inevitavelmente terá de acontecer. O sucesso da comida que não é kosher, que está na base da situação, cria algum conflito, especialmente por parte do irmão de Anat, Moti (Zohar Strauss), que é religioso convicto. É essa comida questionada, porém, o que conquista tanto Oren quanto Anat e o público judaico do café. A origem alemã não judaica de Thomas, com os elementos históricos complicados conhecidos, seria outro empecilho, tanto ao trabalho quanto à relação amorosa. Mas também aí os princípios não vingam. Aliás, princípios têm sempre de passar pelo crivo da realidade concreta da vida, do contrário se tornam fundamentalismos tolos e opressores. Outra sutileza do filme é o compartilhamento da perda, não explicitado, entre Thomas e Anat. E é porque esse compartilhamento existe que importantes descobertas podem acontecer. Mesmo o rompimento que se anunciava na trama surpreende por se dar de forma abrupta e até agressiva, mas pela intervenção externa, já que o que foi construído, na verdade, não desmoronou. A sutileza marcada pelos vínculos que se criaram vai literalmente até a última sequência de “O Confeiteiro”. Numa época em que o cinemão prima pela ação desmedida, pelo excesso e pelo explícito, ver um filme que tem como marca a sutileza é altamente recompensador. É possível acompanhar a narrativa ponto a ponto, detalhe a detalhe, intuir o que vem, identificar-se com ações, motivações e circunstâncias dos personagens, tentar entender devagar, sem precisar emitir julgamentos. O que “O Confeiteiro” nos mostra é que a vida, as relações pessoais e seus determinantes culturais, étnicos, históricos ou religiosos, são coisas complexas que interferem de modo intenso, mas também sutil, em tudo. É por isso que o tal triângulo amoroso, tão conhecido e manjado, assume aqui uma dimensão mais profunda. O filme está distante do folhetim, do melodrama, tal como costumam ser concebidos. Claro que o desempenho dos atores protagonistas precisava se expressar da forma mais sutil e delicada possível, e isso foi conseguido. São interpretações suaves, contidas, mesmo nos momentos mais sofridos.
Destaque nas estreias, Deadpool tenta convencer o público a ver seu filme pela segunda vez
A programação de cinema desta quinta (27/12) prevê a ampliação de dois filmes que sofreram com o excesso de estreias na quinta passada – ou tentaram se antecipar com “pré-estreias” pagas. “Bumblebee” e “Minha Vida em Marte” chegarão em mais salas, respondendo pela maioria das renovações de telas desta semana. Com isso, o principal destaque “inédito” é o relançamento de “Deadpool 2”, que foi censurado e recebeu cenas extras para compensar, e desembarca com título diferente, “Era uma Vez um Deadpool”, capaz de causar confusão entre o público. Porém, não se trata realmente de um filme novo. É um caça-níquel descarado, mas criativo. Na nova versão, Deadpool (Ryan Reynolds) rapta o ator Fred Savage e o amarra numa cama para reencenar “A Princesa Prometida”. No filme dos anos 1980, Savage ainda era um menino e ouvia um conto de fadas lido por seu avô. Desta vez, Deadpool conta o filme “Deadpool 2” para o ator, cortando os palavrões e a violência vistas no lançamento original. O segundo filme americano da lista é a comédia dramática “A Pé Ele Não Vai Longe”, em que Joaquin Phoenix (“Ela”) vive um cartunista quadriplégico. Cinebiografia de John Callahan, o filme narra como ele superou abusos sexuais, vícios e um acidente de carro que o deixou confinado numa cadeira de rodas para virar cartunista nos anos 1970. De estilo inconfundível, seus quadrinhos cheios de humor negro – e por vezes controversos – o tornaram famoso. Com o projeto, Joaquin Phoenix volta a ser dirigido por Gus Van Sant, após os dois trabalharam juntos em “Um Sonho sem Limites” (1995), segundo filme do ator, então com 21 anos. O elenco também inclui Jonah Hill (“Anjos da Lei”), Jack Black (“Jumanji”) e Rooney Mara (“Lion”) com figurinos e penteados de 40 anos atrás. Completam as estreias três produções europeias. A melhor é o suspense dinamarquês “Culpa”, que venceu vários prêmios no circuito dos festivais, inclusive em Sundance, Zurique, Valladolid, Torino e Roterdã. Primeiro longa escrito e dirigido por Gustav Möller, o filme acompanha a reação de um policial de plantão nos serviços de emergência quando atende a ligação de uma mulher sequestrada. Repleto de reviravoltas, tem 99% de aprovação no Rotten Tomatoes. A coprodução alemã-israelense “O Confeiteiro” venceu sete prêmios da Academia Israelense e foi o filme indicado por Israel para concorrer ao Oscar – mas não passou na peneira inicial. A trama acompanha um confeiteiro gay alemão que, sem conseguir processar a perda do amor, vai para Jerusalém trabalhar na padaria da viúva de seu amante, formando um vínculo com ela, que de nada desconfia. Bem avaliado, atingiu 98% no Rotten Tomatoes. Por fim, o italiano “Emma e as Cores da Vida” é bem mais convencional, ao mostrar como um fanfarrão mulherengo tem sua vida virada do avesso ao se apaixonar por uma médica osteopata cega. Mas, convenhamos, quem não se apaixonaria por Valeria Golino, ainda linda, 30 anos depois de ser namorada de Tom Cruise em “Rain Man” (1988). A direção é do veterano Silvio Soldino, que apesar de 35 anos de carreira, só teve um filme lançado no Brasil anteriormente, “Que Mais Posso Querer” (2010). Confira os trailers e as sinopses das estreias abaixo. Era uma Vez um Deadpool | EUA | Super-Heróis Determinado a provar que “Deadpool 2” é um filme para toda a família, Wade Wilson (Ryan Reynolds) limpa todos os palavrões e sangue da narrativa e sequestra o ator Fred Savage para reencenar uma cena de “A Princesa Prometida”. Sem poder se desvencilhar das amarras, Savage é obrigado a ouvir o “conto de fadas” do Mercenário Tagarela, incluindo sua luta com Cable (Josh Brolin) e a formação da X-Force. A Pé Ele Não Vai Longe | EUA | Comédia John Callahan (Joaquin Phoenix) é um homem conturbado que, bêbado, bate de carro e sofre um grave acidente. Tetraplégico, ele transforma sua vida, tornando-se um dos cartunistas mais improváveis, ácidos e perseverantes do mundo, usando as limitações físicas para desenvolver uma carreira artística com a ajuda de sua namorada e de um simpático padrinho. Culpa | Dinamarca | Suspense O policial Asger Holm (Jakob Cedergren) está acostumado a trabalhar nas ruas de Copenhague, mas devido a um conflito ético no trabalho, é confinado à mesa de emergências. Encarregado de receber ligações e transmitir às delegacias responsáveis, ele é surpreendido pela chamada de uma mulher desesperada, tentando comunicar o seu sequestro sem chamar a atenção do sequestrador. Infelizmente, ela precisa desligar antes de ser descoberta, de modo que Asger dispõe de poucas informações para encontrá-la. Começa a corrida contra o relógio para descobrir onde ela está, para mobilizar os policiais mais próximos e salvar a vítima antes que uma tragédia aconteça. O Confeiteiro | Alemanha, Israel | Drama Thomas (Tim Kalkhof) é um alemão dono de uma confeitaria que viaja para Jerusalém em busca da esposa e o filho de Oren (Roy Miller), seu amante morto. Ao chegar lá ele começa a trabalhar para a viúva de seu amante, que não tem ideia de que eles compartilham uma tristeza sem nome sobre o mesmo homem. Emma e as Cores da Vida | Itália | Romance Teo (Adriano Giannini) é um publicitário mulherengo que divide seu tempo entre a amante, a namorada e a elaboração de mentiras. Um dia seu caminho cruza com o de Emma (Valeria Golino), uma osteopata cega, e o que começa como mais um mero jogo de sedução se transforma numa relação inesperadamente íntima.


