Franco Zeffirelli (1923 – 2019)
O cineasta Franco Zeffirelli, conhecido por filmes como “Romeu e Julieta” (1968) e “Amor sem Fim” (1981), morreu neste sábado (15/6) em sua casa em Roma, aos 96 anos, em decorrência “de uma longa doença que se agravou nos últimos meses”, informou a imprensa italiana. “Nunca quis que esse dia chegasse. Franco partiu nesta manhã. Um dos maiores homens do mundo da cultura. Nós partilhamos da dor de seus amados. Adeus, grande mestre, Florença nunca te esquecerá”, disse o prefeito de Florença, Dario Nardella. Em uma carreira que se estendeu por cerca de 70 anos, ele se tornou um dos diretores mais populares da Itália, tanto por seus filmes, quanto por peças de teatro e óperas. Nascido como filho ilegítimo de uma designer de moda e de um comerciante de tecidos, Zeffirelli ficou órfão de mãe aos seis anos e foi criado por uma tia. Na juventude, afirma que foi abusado por um padre. Mas também estudou arte e arquitetura em Florença e integrou um grupo de teatro. Iniciou a carreira cinematográfica depois da 2ª Guerra Mundial, trabalhando como diretor assistente de Luchino Visconti em clássicos como “A Terra Treme” (1948), “Belíssima” (1951) e “Sedução da Carne” (1954). A partir dos anos 1950 voltou-se para os palcos, como diretor de teatro e ópera, e fez sua estreia como cineasta, com a comédia “Weekend de Amor” (1958). Mas não demorou a juntar cinema e ópera, num documentário sobre a maior diva dos tempos modernos, Maria Callas, em 1964. As paixões divididas explicam porque seu cinema sempre foi um pouco teatral e muito operístico. Tentando conciliar filme e teatro, lançou-se em adaptações de William Shakespeare. Fez “A Megera Domada” (1967) com Richard Burton e Elizabeth Taylor, chamando atenção de Hollywood. Mas foi “Romeu e Julieta” (1968), no ano seguinte, que o colocou na Academia. A obra foi indicada a quatro Oscars, inclusive Melhor Filme e Direção, e se diferenciou das versões anteriores por finalmente filmar dois adolescentes reais (Olivia Hussey e Leonard Whiting) nos papéis dos amantes trágicos. O longa venceu os Oscars de Melhor Fotografia e Melhor Figurino, além do David di Donatello (o “Oscar” italiano) de Melhor Diretor. O sucesso o influenciou a seguir filmando em inglês, mas seus trabalhos seguintes, “Irmão Sol, Irmã Lua” (1972), sobre as juventudes de São Francisco e Santa Clara, e a minissérie “Jesus de Nazaré” (1977), refletiram sua criação católica apostólica romana. Belíssimo, o longa de 1972 lhe rendeu seu segundo David di Donatello de Melhor Diretor, enquanto a obra televisiva trouxe como curiosidade a escalação da sua Julieta (Olivia Hussey) como a Virgem Maria. Depois de rodar o drama esportivo “O Campeão” (1979), com John Voight (o pai de Angelina Jolie), e o romance adolescente “Amor sem Fim” (1981), com Brooke Shields, Zefirelli voltou-se novamente às óperas. Mas desta vez em tela grande. Filmou “La Traviata” (1982), pelo qual foi indicado ao Oscar de Melhor Direção de Arte e Figurino, e “Otello” (1986), duas óperas de Verdi que foram protagonizadas por Plácido Domingo. Entretanto, para encarnar Otello, o cantor foi submetido à maquiagem especial para escurecer sua pele, num processo chamado de “black face”, que atualmente é considerado um ato de racismo. Já na época não caiu muito bem. Entre um e outro longa, Zefirelli ainda filmou duas óperas televisivas, “Cavalleria Rusticana” (1982) e “Pagliacci” (1982), novamente com Plácido Domingo. E venceu um Emmy pela segunda. Ele seguiu alternando seus temas favoritos com “O Jovem Toscanini” (1988), cinebiografia do grande maestro Toscanini, fez sua versão de “Hamlet” (1990), com Mel Gibson e Glenn Close, e realizou a tele-ópera “Don Carlo” (1992), com Luciano Pavarotti. Dirigiu ainda adaptações de romances clássicos como “Sonho Proibido” (1993), baseado na obra de Giovanni Verga, e “Jane Eyre – Encontro com o Amor”, inspirado no romance gótico de Charlotte Brontë, com William Hurt e as então jovens Charlotte Gainsbourg e Anna Paquin, antes de adaptar sua própria autobiografia, “Chá com Mussolini” (1999). Ainda voltou uma última vez ao passado em seu longa final, o documentário “Callas Forever” (2002), sobre a diva da ópera que tinha filmado pela primeira vez nos anos 1960. Nos últimos anos, Zefirelli se tornou mais conhecido por seu envolvimento com a política. Conservador a ponto de ter lançado uma campanha contra “A Última Tentação de Cristo”, de Martin Scorsese, quando o filme fez sua première no Festival de Veneza em 1988, ele era contra projetos de reconhecimento dos casais homossexuais e foi um dos poucos artistas italianos a apoiar Silvio Berlusconi quando o bilionário entrou para a política no início dos anos 1990. Acabou eleito senador no partido do magnata, de 1994 a 2001.
Flávio Guarnieri (1959 – 2016)
Morreu o ator Flávio Guarnieri, que seguiu os passos do pai, o grande dramaturgo Gianfracesco Guarnieri, no teatro, no cinema e na televisão. Ele faleceu na noite de quinta (7/4), aos 54 anos, em São Paulo. Em nota, a assessoria de imprensa não informou a causa da morte e pediu privacidade à família. Flávio nasceu em Lisboa, em 26 de setembro de 1959, e sob influência do pai começou a atuar nos palcos desde a infância. Com dezenas de peças de teatro no currículo, ele ganhou o prêmio da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de ator-revelação aos 21 anos de idade, por conta de seu papel na novela “Os Adolescentes” (1981), da Band, na pele de Caíto. A produção marcou época por trazer temas até então considerados tabus para a televisão, como vício em drogas, gravidez adolescente, pedofilia e homossexualidade. O personagem de Flávio era um jovem gay, que enfrentava preconceito. Além dele, o elenco de jovens protagonistas contava com Júlia Lemmertz, Tássia Camargo e André di Biasi, que acabaram tendo maior projeção na TV. Depois da consagração crítica de “Os Adolescentes”, Flávio emplacou mais duas novelas na Band, “Ninho da Serpente” (1982) e “O Campeão” (1982), além da minissérie “O Cometa” (1989), mas a baixa audiência implodiu o projeto de dramaturgia do canal paulista. Ele fez apenas uma novela da Globo, “Transas e Caretas” (1984), por isso não se tornou tão conhecido quanto seu irmão mais novo Paulo, que apareceu em diversas obras populares da emissora carioca. A estreia no cinema foi aos 18 anos, na rara sci-fi distópica “Parada 88 – O Limite de Alerta” (1977), que também foi o primeiro filme de Paulo, então com 15 anos. Participou ainda da pornochanchada “Viúvas Precisam de Consolo” (1979), produção da Boca do Lixo dirigida pelo ator Ewerton de Castro, antes de trabalhar com o pai no clássico “Eles Não Usam Black-Tie” (1981), adaptação da peça escrita por Gianfrancesco, que girava em torno de uma greve sindical. Seu papel de maior destaque veio em “Janete” (1983), de Chico Botelho, sobre uma prostituta da Boca do Lixo. Com trilha de Arrigo Barnabé, o filme foi premiado no Festival de Gramado, mas seu realismo não agradou ao governo, que na época ainda exercia poder de censura na cultura, obrigando diversos cortes, o que prejudicou seu lançamento. Flávio nunca mais fez outro filme. O ator reclamava da falta de espaço até na TV. Seu último personagem foi Juca Ramos na novela “Amigas e Rivais”, no SBT, em 2008. Mesmo assim, continuava a atuar no palco. Flávio esteve em cartaz recentemente com o irmão Paulo na peça “Irmãos, Irmãos… Negócios à Parte”.
