Jean Rochefort (1930 – 2017)
Jean Rochefort, um dos atores mais populares do cinema francês, morreu na madrugada desta segunda-feira (9/10) aos 87 anos. Ele estava hospitalizado em agosto e faleceu em um estabelecimento médico em Paris. Com uma filmografia de quase 150 filmes, Rochefort construiu sua carreira em todos os gêneros, mas principalmente comédias ligeiras, sem nunca perder o charme e a elegância… ou seu icônico bigode. O ator nasceu em Paris em 1930 e começou a trabalhar no cinema na década de 1950, primeiro como figurante, depois como coadjuvante de aventuras de capa e espada, como “Le Capitaine Fracasse” (1961), “Cartouche” (1962), “Maravilhosa Angélica” (1965) e “Angélica e o Rei” (1966). Até que a comédia o descobriu. De coadjuvante em “Fabulosas Aventuras de um Playboy” (1965), estrelado por seu colega de “Cartouche”, Jean-Paul Belmondo, passou a protagonista no filme seguinte, o cultuado “Quem é Polly Maggoo?” (1966), um dos filmes mais famosos da história da moda no cinema. Ainda contracenou com Brigitte Bardot no romance “Eu Sou o Amor” (1967) e fez alguns thrillers importantes no começo dos anos 1970: “A Estranha Herança de Bart Cordell” (1973), nova parceria com Belmondo, “O Relojoeiro” (1974), de Bertrand Tavernier, e dois longas de Claude Chabrol, “Assassinato por Amor” (1975) e “Profecia de um Delito” (1976). O período também destaca duas obras dramáticas que lhe consagraram com Césares (o Oscar francês) consecutivos: a produção de época “Que a Festa Comece” (1976), novamente dirigido por Tavernier, e a trama de guerra “Le Crabe-Tambour” (1978), de Pierre Schoendoerffer. Mas apesar da variedade de projetos, logo sua veia de comediante se tornou mais evidente. Um quarteto de filmes foi responsável por estabelecer o novo rumo de sua carreira: “Loiro Alto do Sapato Preto” (1972), em que foi dirigido pela primeira vez por Yves Robert, “O Fantasma da Liberdade” (1974), do gênio espanhol Luis Buñuel, “Pecado à Italiana” (1974), de Luigi Comencini, e principalmente “O Doce Perfume do Adultério” (1976), seu segundo filme comandado por Robert. “O Doce Perfume do Adultério” fez tanto sucesso que, oito anos depois, ganhou um remake americano ainda mais popular – “A Dama de Vermelho” (1986), no qual o papel de Rochefort foi vivido por Gene Wilder. E depois de outra parceria bem-sucedida com o mesmo diretor, “Vamos Todos para o Paraíso” (1977), Rochefort filmou sua primeira comédia em inglês, “Quem Está Matando os Grandes Chefes?” (1978), tornando-se ainda mais conhecido no mundo todo. Ele continuou a acumular sucessos em sua associação com Robert – “Vamos Fugir!” (1979), “O Castelo de Minha Mãe” (1990) e “Esse Mundo é dos Chatos” (1992) – e ao firmar uma nova parceria importante com Patrice Leconte, com quem rodou seis filmes: “Tandem” (1987), “O Marido da Cabeleireira” (1990), “A Dança dos Desejos” (1993), “Os Canastrões” (1996) e o melhor de todos, “Caindo no Ridículo” (1996), uma obra-prima do humor francês, que rendeu a Rochefort nova indicação ao César. A lista se completa com o suspense “Uma Passagem para a Vida” (2002), pelo qual recebeu o prêmio de Melhor Ator no Festival de Veneza. O ator francês também foi dirigido pelo gênio americano Robert Altman em “Prêt-à-Porter” (1994) – que só perde para “Quem É Polly Maggoo?” na lista dos filmes de moda obrigatórios. Très chic. E foi a primeira escolha de Terry Gilliam para estrelar “The Man Who Killed Don Quixote” em 2000, ao lado de Johnny Depp. Mas esta produção foi interrompida por inúmeros desastres e nunca saiu do papel, ao menos como planejado, já que virou um documentário premiado, “Perdido em La Mancha” (2002). Ao final do século 20, Rochefort resolveu diversificar a carreira, aparecendo em minisséries e telefilmes, além de passar a dublar longas animados. É dele a voz do cavalo Jolly Jumper no desenho “Os Daltons Contra Lucky Luke” (2004). Outras animações recentes com sua voz incluem “Titeuf: O Filme” (2011), “Jack e a Mecânica do Coração” (2013) e “Abril e o Mundo Extraordinário” (2015). Entre seus últimos trabalhos, destacam-se ainda o excelente suspense “Não Conte a Ninguém” (2006), de Guillaume Canet, a comédia inglesa “As Férias de Mr. Bean” (2007), a adaptação dos quadrinhos de “Asterix e Obelix: A Serviço de sua Majestade” (2012), e o drama “O Artista e a Modelo” (2012), do espanhol Fernando Trueba, pelo qual foi indicado ao Goya (o Oscar espanhol). Seu papel final foi o personagem do título de “A Viagem de Meu Pai” (2015), de Philippe Le Guay, outro desempenho elogiadíssimo, que encerrou sua carreira no mesmo nível notável com que sempre será lembrado.
Chus Lampreave (1930 – 2016)
Morreu a atriz espanhola Chus Lampreave, a mais velha das “meninas” do diretor Pedro Almodóvar, cuja presença marcante era facilmente reconhecida pela voz aguda e os óculos de lentes grossas (fundo de garrafa). Ela faleceu na segunda-feira (4/4) aos 85 anos de idade. María Jesús Lampreave nasceu em 11 de dezembro de 1930 em Madri e teve uma carreira extensa no cinema espanhol, iniciada pelo curta-metragem “Se Vende un Tranvía” (1959), roteirizado por Luis García Berlanga, com quem trabalharia em diversos longas. Mas sua estreia em longa-metragem, curiosamente, deu-se pelas mãos de um diretor italiano, o mestre Marco Ferreri (“Crônica do Amor Louco”), que a escalou como figurante em “El Pisito (1959) e coadjuvante em “El Cochecito” (1960). Ela participou de poucos filmes durante o período franquista, como “O Carrasco” (1963), dirigido por Berlanga. Por isso, só foi deslanchar a partir de 1970, quando coadjuvou cinco filmes consecutivos de Jaime de Armiñán – inclusive o clássico “Mi Querida Señorita” (1972) – e a trilogia “Nacional” de Berlanga, inciada por “La Escopeta Nacional (1978) e encerrada em “Nacional III” (1982). A parceria que marcaria sua carreira, porém, só teve início em 1980, quando o então jovem Pedro Almodóvar rodou seu segundo longa, “Pepi, Luci, Bom e Outras Garotas de Montão”. O encontro frutificaria em várias outras colaborações, até render um de seus papeis mais lembrados em “Maus Hábitos” (1983). A atriz se consagrou como ladra de cenas ao aparecer, no longa, como a irmã Rata, uma freira atípica, que escrevia livros sensacionalistas sob pseudônimo num convento. Chus Lampreave fez uma dezena de filmes com Almodóvar, tornando-se a atriz mais fiel da carreira do cineasta. Entre as produções que participou estão alguns dos maiores sucessos da carreira do diretor, como “Que Fiz Eu Para Merecer Isto?” (1984), “Matador” (1986), “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos” (1988), “A Flor do Meu Segredo” (1995), “Fale com Ela” (2002) e “Volver” (2006). Por este filme, ela foi, inclusive, premiada no Festival de Cannes – junto com as demais atrizes que co-protagonizaram o longa: Penélope Cruz, Carmen Maura, Lola Duenas, Blanca Portillo e Yohana Cobo. O último filme que fez para Almodóvar foi “Abraços Partidos” (2009), mas Lampreave continuou requisitada por Fernando Trueba, com quem também trabalhou em diversas obras desde os anos 1980, como “El Año de las Luces” (1986), “Sedução” (1992) e o recente “O Artista e a Modelo” (2012). “Sedução”, por sinal, rendeu-lhe o único Goya (o Oscar espanhol) de sua carreira, como Atriz Coadjuvante. Ela ainda estrelou outras comédias espanholas bem-sucedidas, como “Miss Caribe” (1988), de Fernando Colomo, “Mátame Mucho” (1998), de José Ángel Bohollo, e “À Moda da Casa” (2008), de Nacho G. Velilla. Mas seu maior sucesso foi uma franquia cômica escrita, dirigida e estrelada por Santiago Segura, “Torrente”, da qual participou em cinco longa-metragens entre 1998 e 2014. O capítulo mais recente, “Torrente V: Misión Eurovegas”, foi também seu último trabalho no cinema. “Chus Lampreave foi esse tipo de artista que fazia parte da nossa vida, reconhecida e amada por todos que faziam parte da grande família que é a cultura”, afirmou o ministro da Cultura espanhol, Inigo Mendez de Vigo, ao despedir-se da “menina”.

