Diretoras brasileiras são premiadas no Festival de Sitges
O Festival de Cinema Fantástico de Sitges, o mais importante festival do cinema de gênero do mundo, realizado anualmente na Espanha, premiou duas cineastas brasileiras neste domingo (17/10). Os troféus foram conquistados por exibições na New Visions, principal mostra paralela à competição principal. Anita Rocha da Silveira venceu a categoria de Melhor Direção da seção por “Medusa”, enquanto Iuli Gerbase levou o prêmio Blood Widow, dedicado ao Melhor Filme Fantástico Latino-Americano, por “A Nuvem Rosa”. As duas obras já tinham sido reconhecidas com outros prêmios internacionais. “Medusa” foi considerado o Melhor Filme Latino-Americano do último Festival de San Sebastián e venceu o Prêmio do Público no Festival de Milão, enquanto “A Nuvem Rosa” levou o Grand Prix do Festival de Sofia. Ambos também foram muito elogiados em sua passagem pelo circuito dos festivais. O filme de Rocha da Silveira atingiu 83% de aprovação no Rotten Tomatoes, após passar na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, e “A Nuvem Rosa” chegou a impressionantes 100% com a exibição no Festival de Sundance. Descrito como uma denúncia da onda de conservadorismo religioso no Brasil, “mais perto da realidade” do que da distopia, segunda sua diretora, “Medusa” questiona o extremismo religioso na vida de uma comunidade. E “Nuvem Rosa” acompanha um caso preso em quarentena após uma misteriosa nuvem rosa cobrir o mundo, matando quem entra em contato com ela nas ruas. Detalhe: o filme foi concebido antes da pandemia de covid-19. Na mostra principal, o terror islandês “Lamb”, estrelado por Noomi Rapace (“Prometheus”), sagrou-se o grande vencedor, levando os prêmios de Melhor Filme e Atriz. Estreia na direção do islandês Valdimar Johannsson, que trabalhou como iluminador em “Game of Thrones”, “Lamb” já tinha sido premiado no Festival de Cannes, com um troféu especial na seção paralela Um Certo Olhar. A trama combina lendas nórdicas com elementos de terror ao acompanhar criadores de ovelhas que aproveitam uma descoberta surpreendente durante a época de procriação. Rapace dividiu o prêmio de Melhor Atriz com Susanne Jensen por sua atuação no terror austríaco “Luzifer”, de Peter Brunner. O troféu de Melhor Ator também foi dividido por dois intérpretes: Franz Rogowski, novamente de “Luzifer”, e Caleb Landry Jones por “Nitram”. Cineasta responsável por “Nitram”, o australiano Justin Kurzel foi premiado como Melhor Diretor, e Camille Griffin ganhou o troféu de Melhor Roteiro por “Silent Night”, um terror estrelado por Lily-Rose Depp e Keira Knightley. O Prêmio Especial do Júri (vice-campeão) ficou com a sci-fi francesa “After Blue”, do diretor Bertrand Mandico, passado num planeta onde apenas mulheres podem sobreviver, e ainda houve uma Menção Especial para “Os Inocentes”, de Eskil Vogt, sobre um grupo de crianças norueguesas que desenvolvem superpoderes, com consequências desastrosas.
Filme de terror vence o Festival de Cannes 2021
O Festival de Cannes 2021 terminou em clima de terror com a premiação de “Titane”, de Julia Ducournau, com a Palma de Ouro de Melhor Filme. O filme radicaliza o estilo repulsivo de “Raw”, longa de estreia da Ducournau que deu muito o que falar ao ser lançado na seção Semana da Crítica de Cannes em 2016. A trama combina terror corporal, filme de serial killer feminina, fetiche sexual por carros e é estrelado pelo veterano Vincent Lindon (“O Valor de um Homem”) e a estreante Agathe Rousselle. Com a vitória, a cineasta francesa se tornou a segunda mulher vencedora da Palma de Ouro. Antes dela, apenas a neozelandesa Jane Campion tinha realizado a façanha, ao vencer em 1993 por “O Piano”. Marcada por uma gafe do presidente do júri Spike Lee, que revelou o resultado antes da hora, a Palma de Ouro também foi a segunda consecutiva da distribuidora americana Neon, que adquiriu os direitos da “Titane” para os Estados Unidos. A Neon tinha adquirido anteriormente “Parasita”, de Bong Joon-Ho, que depois de vencer o festival francês ainda conquistou o Oscar. Por falar em Oscar, um dos filmes consagrados no evento foi “A Hero”, novo drama do iraniano Asghar Farhadi, que já venceu duas vezes o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (por “A Separação” e “O Apartamento”). Farhadi conquistou o Grand Prix (Grande Prêmio do Júri), considerado o 2º lugar da competição. Mas neste ano o júri resolveu fazer dobradinha em seus troféus, compartilhando a premiação com “Compartment No. 6”, do finlandês Juho Kuosmanen. Curiosamente, este filme também é uma continuação de um longa de 2016, “O Dia Mais Feliz na Vida de Olli Mäki”, vencedor da mostra Um Certo Olhar no próprio Festival de Cannes. Dois filmes também dividiram o Prêmio do Júri, geralmente o 3º lugar da mostra competitiva: “Memoria”, do filipino Apichatpong Weerasethakul (que já venceu a Palma de Ouro com “Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas”, em 2010) e “Ahed’s Knee”, do isralense Nadav Lapid (vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim com “Synonymes” em 2019). O cineasta francês Leos Carax, que abriu o festival com o drama musical “Annette”, ficou com o prêmio de Melhor Direção. O americano Caleb Landry Jones foi considerado o Melhor Ator por “Nitram”, do australiano Justin Kurzel, em que retratou o assassino perturbado responsável pelo massacre de Port Arthur em 1996 na Tasmânia, o pior tiroteio em massa na história moderna da Austrália. Já o prêmio de Melhor Atriz ficou com Renate Reinste por “The Worst Person in the World”, uma comédia romântica e sombria do dinamarquês Joachim Trier. O curta-metragem brasileiro “Céu de Agosto”, da diretora e roteirista Jasmin Tenucci, também foi lembrado na cerimônia de encerramento com uma Menção Honrosa do Júri. Coprodução entre Brasil e Islândia, o curta conta a história de uma enfermeira grávida que lida com uma crescente ansiedade – e já tinha sido exibido no início deste ano na edição online da Mostra Tiradentes. O júri ainda reconheceu “Murina”, da croata radicada nos EUA Antoneta Alamat Kusijanovic, com a Câmera de Ouro, troféu que destaca o melhor filme de estreia do festival. A complicada relação entre pai e filha é outra coprodução brasileira, financiada pela RT Features de Rodrigo Teixeira, em parceria, entre outros, com o cineasta Martin Scorsese. O Brasil também comparece com coprodução premiada nas mostras paralelas do festival. Homenageado com uma Menção Especial na seção Um Certo Olhar, “Noche de Fuego”, da salvadorenha radicada no México Tatiana Huezo, é uma parceria da produtora brasileira Desvia, de Gabriel Mascaro e Rachel Ellis, com a mexicana Pimienta Films. O longa conta a história de uma menina, que vive com sua mãe em uma região montanhosa do México, dominada pelo crime organizado, e já tem distribuição confirmada no Brasil pela Vitrine Filmes. O vencedor da Um Certo Olhar, seção destinada a trabalhos mais experimentais, foi o drama russo “Unclenching the Fists”, de Kira Kovalenko. Com isso, tanto a mostra competitiva como a principal seção paralela de Cannes foram vencidas por obras de cineastas femininas. Veja abaixo a lista dos premiados do Festival de Cannes. MOSTRA COMPETITIVA Palma de Ouro (Melhor Filme) “Titane”, de Julia Ducournau Grande Prêmio do Júri (2º Lugar) “A Hero”, de Asghar Farhadi “Compartment No. 6”, de Juho Kuosmanen Prêmio do Júri (3º Lugar) Melhor Diretor Leos Carox, por “Annette” Melhor Roteiro Hamaguchi Ryusuke e Takamasa Oe, por “Drive My Car” Melhor Atriz Renate Reinste, por “The Worst Person in the World” Melhor Ator Caleb Landry Jones, por “Nitram” Câmera de Ouro (Melhor Filme de Estreia) “Murina”, de Antoneta Alamat Kusijanovic Palma de Ouro Honorária Marco Bellocchio MOSTRA UM CERTO OLHAR Melhor Filme “Unclenching the Fists”, de Kira Kovalenko Prêmio do Júri “Great Freedom”, de Sebastian Meise Menção Especial “Noche de Fuego”, de Tatiana Huezo Prêmio de Melhor Conjunto “Good Mother”, de Hafsia Herzi Prêmio Coragem “La Civil”, de Teodora Ana Mihai Prêmio de Originalidade “Lamb”, de Valdimar Jóhannsson

