Elis lidera lista de indicados ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2016
A Academia Brasileira de Cinema, que elege com bastante atraso os melhores artistas, técnicos e filmes nacionais do ano anterior, divulgou a lista de indicados à 16º edição de sua premiação, batizada singelamente de Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Com 12 indicações, o drama biográfico “Elis”, de Hugo Prato, que conta a história da cantora Elis Regina, lidera a lista de produções selecionadas. Outros filmes que se destacam são “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro, “Mãe Só Há Uma”, de Anna Muylaert, e “Nise — O Coração da Loucura”, de Roberto Berliner. Em compensação, “Sinfonia da Necrópole” e “O Roubo da Taça” foram subestimados com apenas uma indicação cada, o que ainda assim é melhor do que ter sido simplesmente ignorado, como aconteceu com “O Silêncio do Céu”, “Campo Grande”, “Para Minha Amada Morta” e “Ponto Zero”, quatro filmes melhores que, por exemplo, “Elis”. Já o pior filme brasileiro de 2016 está na lista, entre as comédias. Adivinhe qual. Além da distribuições de troféus, haverá homenagens ao ator Antonio Pitanga, à atriz e diretora Helena Ignez, ao centenário de empresa distribuidora Grupo Severiano Ribeiro (hoje Kinoplex) e à Cinemateca Brasileira. A cerimônia de premiação vai acontecer em 5 de setembro, no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sob direção de Bia Lessa. Confira abaixo a lista completa dos indicados. Indicados ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2016 Melhor Filme “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho “Boi Neon”, de Gabriel Mascaro “Elis”, de Hugo Prata “Mãe Só Há Uma”, de Anna Muylaert “Nise – O Coração da Loucura”, de Roberto Berliner Melhor Documentário “Cícero Dias, o Compadre de Picasso”, de Vladimir Carvalho “Cinema Novo”, de Eryk Rocha. Curumim, de Marcos Prado. “Eu Sou Carlos Imperial”, de Renato Terra e Ricardo Calil “Marias”, de Joana Mariani “Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil”, de Belisario Franca “Quanto Tempo o Tempo Tem”, de Adriana L. Dutra Melhor Comédia “BR716”, de Domingos Oliveira “É Fada!”, de Cris D’Amato “Minha Mãe É Uma Peça 2”, de César Rodrigues “O Roubo da Taça”, de Caito Ortiz “O Shaolin do Sertão”, de Halder Gomes Melhor Direção Afonso Poyart (“Mais Forte Que O Mundo – A História De José Aldo”) Anna Muylaert (“Mãe Só Há Uma”) David Schurmann (“Pequeno Segredo”) Gabriel Mascaro (“Boi Neon”) Kleber Mendonça Filho (“Aquarius”) Melhor Atriz Adriana Esteves (“Mundo Cão”) Andréia Horta (“Elis”) Glória Pires (“Nise – O Coração da Loucura”) Julia Lemmertz (“Pequeno Segredo”) Sonia Braga (“Aquarius”) Sophie Charlotte (“Reza a Lenda”) Melhor Ator Caio Blat (“BR716”) Cauã Reymond (“Reza a Lenda”) Chic Diaz (“Em Nome da Lei”) Domingos Montagner (“Um Namorado Para Minha Mulher”) Juliano Cazarré (“Boi Neon”) Lázaro Ramos (“Mundo Cão”) Melhor Atriz Coadjuvante Alice Braga (“Entre Idas e Vindas”) Andréa Beltrão (“Sob Pressão”) Laura Cardoso (“De Onde Eu Te Vejo”) Maeve Jinkings (“Aquarius”) Maeve Jinkings (“Boi Neon”) Sophie Charlotte (“BR716”) Melhor Ator Coadjuvante Caco Ciocler (“Elis”) Dan Stulbach (“Meu Amigo Hindu”) Flavio Bauraqui (“Nise – O Coração da Loucura”) Gustavo Machado (“Elis”) Irandhir Santos (“Aquarius”) Melhor Roteiro Original Afonso Poyart e Marcelo Rubens Paiva (“Mais Forte Que O Mundo – A História de José Aldo”) Anna Muylaert(“Mãe Só Há Uma”) Domingos Oliveira (“BR716”) Gabriel Mascaro (“Boi Neon”) Kleber Mendonça Filho (“Aquarius”) Melhor Roteiro Adaptado Fil Braz e Paulo Gustavo (“Minha Mãe É Uma Peça 2”) Hilton Lacerda e Ana Carolina Francisco (“Big Jato”) Lusa Silvestre e Julia Rezende (“Um Namorado Para Minha Mulher”) Neville D’Almeida e Michel Melamed (“A Frente Fria Que a Chuva Traz”) Walter Lima Jr (“Através da Sombra”) Melhor Direção de Fotografia Adrian Teijido (“Elis”) André Horta (“Nise – O Coração da Loucura”) Diego Garcia (“Boi Neon”) Marcelo Corpanni (“Reza a Lenda”) Mauro Pinheiro Junior (“Meu Amigo Hindu”) Melhor Direção de Arte Clovis Bueno, Isabel Xavier e Caroline Schamall (“Meu Amigo Hindu”) Daniel Flaskman (“Nise – O Coração Da Loucura”) Frederico Pinto (“Elis”) Juliana Ribeiro (“O Shaolin do Sertão”) Juliano Dornelles e Thales Junqueira (“Aquarius”) Melhor Figurino Cássio Brasil (“Reza A Lenda”) Cris Kangussu (“Nise – O Coração da Loucura”) Cristina Camargo (“Elis”) Flora Rebollo (“Boi Neon”) Luciana Buarque (“O Shaolin do Sertão”) Melhor Maquiagem Alex De Farias (“Boi Neon”) Anna Van Steen (“Elis”) Bruna Nogueira (“Meu Amigo Hindu”) Cristiano Pires (“O Shaolin do Sertão”) Tayce Vale (“Reza a Lenda”) Melhores Efeitos Visuais Binho Carvalho e José Francisco (“Reza a Lenda”) Eduardo Amodio (“Aquarius”) Guilherme Ramalho (“Elis”) Marcelo Siqueira (“Pequeno Segredo”) Mari Figueiredo (“Mais Forte Que O Mundo – A História de José Aldo”) Melhor Montagem Eduardo Serrano (“Aquarius”) Fernando Epstein e Eduardo Serrano (“Boi Neon”) Gustavo Giani (“Meu Amigo Hindu”) Karen Harley (“Big Jato”) Tiago Feliciano (“Elis”) Melhor Montagem de Documentário Alexandre Lima (“Curumim”) Gabriel Medeiros (“Geraldinos”) Jordana Berg (“Eu Sou Carlos Imperial”) Renato Vallone (“Cinema Novo”) Yan Motta (“Menino 23 – Infâncias Perdidas no Brasil”) Melhor Som Alfredo Guerra e Érico Paiva (“O Shaolin Do Sertão”) Fabian Oliver, Mauricio D’orey e Vicent Sinceretti (“Boi Neon”) Gabriela Cunha, Daniel Turini, Fernando Henna e Paulo Gama (“Sinfonia da Necrópole”) Jorge Rezende, Alessandro Laroca, Armando Torres Jr. e Eduardo Virmond Lima (“Elis”) Nicolas Hallet e Ricardo Cutz (“Aquarius”) Paulo Ricardo Nunes, Miriam Biderman, Ricardo Reis e Paulo Gama (“Reza a Lenda”) Melhor Trilha Sonora Original Alceu Valença (“A Luneta do Tempo”) Antonio Pinto (“Pequeno Segredo”) Dj Dolores (“Big Jato”) Jaques Morelenbaum (“Nise – O Coração da Loucura”) Otavio De Moraes (“Elis”) Melhor Trilha Sonora Alexandre Guerra (“O Vendedor de Sonhos”) Bernardo Uzeda (“Mate-Me por Favor”) Domingos Oliveira (“BR716”) Mateus Alves (“Aquarius”) Mauricio Tagliari (“Mundo Cão”) Melhor Longa-Metragem Estrangeiro “A Chegada”, de Denis Villeneuve “A Garota Dinamarquesa”, de Tom Hooper “Animais Noturnos”, de Tom Ford “Elle”, de Paul Verhoeven “O Filho de Saul”, de László Nemes “Spotlight – Segredos Revelados”, de Tom Mccarthy Melhor Curta “A Moça que Dançou com o Diabo”, de João Paulo Miranda Maria “Constelações”, de Maurílio Martins “E o Galo Cantou”, de Daniel Calil “Não Me Prometa Nada”, de Eva Randpolph “O Melhor Som do Mundo”, de Pedro Paulo De Andrade Melhor Curta de Documentário “A Morte do Cinema”, de Evandro De Freitas “Abissal”, de Arthur Leite “Aqueles Anos de Dezembro”, de Felipe Arrojo Poroger “Buscando Helena”, de Ana Amélia Macedo e Roberto Berliner “Índios no Poder”, de Rodrigo Arajeju “Orquestra Invisível Let’s Dance”, de Alice Riff Melhor Curta de Animação “Cartas, de David Mussel “O Caminho dos Gigantes, de Alois Di Leo “O Projeto do Meu Pai”, de Rosaria Maria “Quando os Dias Eram Eternos”, de Marcus Vinicius Vasconcelos “Tango”, de Francisco Gusso e Pedro Giongo “Vento”, de Betânia Furtado “Vida de Boneco”, de Flávio Gomes
Nise – O Coração da Loucura restaura a fé na humanidade
“Nise – O Coração da Loucura” mostra que a comédia “Julio Sumiu” (2014) foi apenas um deslize na carreira de Roberto Berliner, que já tinha feito bons trabalhos como documentarista – em filmes como “A Pessoa É para o que Nasce” (2004), “Herbert de Perto” (2009) e “A Farra do Circo” (2014). Em sua segunda ficção, ele opta pelo uso da câmera na mão, característica de documentarista, para imprimir mais verdade à cinebiografia da Dra. Nise da Silveira, a psiquiatra que ousou tratar de pacientes de um hospício da década de 1940 de maneira digna, usando o afeto e a arte como objetos de trabalho. Falando assim, pode parecer que “Nise” tende ao melodrama piegas, mas a sensibilidade do cineasta e o bom trabalho do elenco em momento nenhum prejudicam os aspectos dramáticos, sem falar que a obra também serve para apresentar, para muitos brasileiros que não conheciam, essa pessoa fantástica que foi Nise da Silveira (1905-1999). Além de estimular a tolerância e a criatividade de seus pacientes, ela levou as artes criadas em suas sessões de terapia ocupacional para museus, e chegou a trocar correspondência com Carl Jung, em um tempo em que a lobotomia e os eletrochoques eram considerados as técnicas mais avançadas e revolucionárias no tratamento dos doentes mentais. A convivência do elenco e direção com pacientes esquizofrênicos e a conversa com uma das assistentes de Nise foram bastante importantes para a construção da personagem e do enredo. Mas não há como ignorar o destaque individual de Gloria Pires. A atriz que incorpora Nise tem seu melhor desempenho no cinema desde “É Proibido Fumar” (2009), de Anna Muylaert. Um dos momentos mais intensos do filme, em seu terço inicial, é quando a Dra. Nise se apresenta aos seus clientes (é assim que ela prefere lhes chamar, demonstrando que estava ali para servi-los) e pede para que eles se sentem para conversar. A câmera rodopia ao seu redor, passando uma impressão de perda de controle, ao mesmo tempo em que começa a adaptar o olhar do público àquele caos cotidiano. O trabalho de direção de arte da equipe de Berliner, ainda que muito discreto, é digno de nota, com uma opção pela predominância da cor marrom impessoal na apresentação do local de trabalho, que aos poucos se torna ensolarado e em um lugar de harmonia para os pacientes, que antes eram tratadas com frieza e crueldade. Quando exibido no Festival do Rio no ano passado, “Nise – O Coração da Loucura” teve em sua plateia ex-pacientes da verdadeira Nise, que se emocionaram com suas representações na tela. O filme acabou ovacionado e conquistando o prêmio do público do festival. A história de “Nise” também permite refletir que, apesar de as técnicas cruéis daqueles tempos já serem consideradas ultrapassadas, o tratamento mais humano de pessoas confinadas, sejam elas doentes mentais ou sadias, continua enfrentando resistência e preconceito até hoje, por quem as considera inferiores ou indignas da mínima consideração. É um ótimo filme, mas mais que isso, “Nise – O Coração da Loucura” faz o espectador sair do cinema com fé restaurada na humanidade.
O Caçador e a Rainha do Gelo é o maior lançamento e também o pior filme da semana
“O Caçador e a Rainha do Gelo” é o lançamento mais amplo da semana, distribuído em 920 salas pelo país. Espécie de quimera, que junta prólogo e sequência na mesma criatura, o filme retoma os personagens de Chris Hemsworth e Charlize Theron em “Branca de Neve e o Caçador” (2012), mas em vez de aprofundar a fábula de Branca de Neve leva sua trama para o mundo de “Frozen – Uma Aventura Congelante” (2013). O resultado parece um episódio de “Once Upon a Time” mal escrito e obcecado por efeitos visuais dourados. O longa também estreia neste fim de semana nos EUA, onde foi eviscerado pela crítica (19% de aprovação no site Rotten Tomatoes). A outra estreia infantil, a animação “No Mundo da Lua”, é mais criativa, ao acompanhar um adolescente, filho e neto de astronautas, em sua luta para preservar o programa espacial americano e impedir um bilionário excêntrico de virar dono da lua. A produção mantém o espírito aventureiro do primeiro longa do diretor espanhol Enrique Gato, “As Aventuras de Tadeo” (2012), com exibição em 290 salas (126 em 3D). “Milagres do Paraíso” também foca famílias com sua história, sobre uma criança doente que consegue uma cura milagrosa. Típica produção religiosa, sua trama reforça a insignificância da ciência, desautoriza coincidências e prega que Deus sempre atende aos que acreditam. A crítica americana considerou medíocre, com 47% de aprovação. A diretora mexicana Patricia Riggen é a mesma do drama “Os 33” (2015) e o elenco destaca Jennifer Garner (“Clube de Compra Dallas”) como a mãe que padece no paraíso. Chega em 180 salas do circuito. Dois filmes nacionais completam a programação dos shoppings. E, por incrível que pareça, nenhum deles é uma comédia boba. Com maior alcance, “Em Nome da Lei” marca a volta do diretor Sergio Rezende ao gênero policial, sete anos após seu último longa, “Salve Geral” (2009). O lançamento em 380 salas sinaliza a expectativa positiva do estúdio à história de um juiz federal incorruptível, que evoca esses dias de operação Lava Jato (dá-lhe zeitgeist). Mas o personagem de Mateus Solano (“Confia em Mim”) não é Sergio Moro nem a trama enfrenta a corrupção política, optando por situações clichês de máfia de fronteira, narradas de forma novelesca, com direito a “núcleo romântico”. Não prende sequer a atenção. A melhor opção nacional é o drama “Nise – O Coração da Loucura”, fruto de um roteiro mais maduro (escrito a 14 mãos!), que encontra um meio-termo entre o didatismo e o desenvolvimento de personagem. Glória Pires (“Flores Raras”) se destaca no papel central, a doutora Nise da Silveira, figura importante da psiquiatria brasileira, que merecia mesmo virar filme. O longa dirigido por Roberto Berliner (do péssimo “Julio Sumiu”) mostra seu confronto com os tratamentos violentos dos anos 1940 e a bem-sucedida adoção da terapia ocupacional, que passa a humanizar os doentes de um hospício público. Além de competente cinebiografia, o filme possuiu uma bela mensagem contra a intolerância. Em apenas 59 telas. Intolerância também é o tema de “Amor por Direito”, drama indie americano que ocupa uma faixa intermediária, em pouco menos de 50 salas. Baseado em fatos reais, a história mostra a batalha jurídica de uma policial (Julianne Moore, de “Para Sempre Alice”), diagnosticada com uma doença terminal, que enfrenta preconceitos para deixar sua pensão para sua parceira de vida (Ellen Page, de “X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”). O caso teve repercussão nacional nos EUA, mas, apesar das boas intenções, a trama cinematográfica não ressoa como “Filadélfia” (1993), do mesmo roteirista. Ironicamente, o drama lésbico teve a mesma nota do drama crente da semana, 47% de aprovação no Rotten Tomatoes. Dois dramas europeus e dois documentários brasileiros ocupam o circuito limitado. O principal título europeu é o romeno “O Tesouro”, de Corneliu Porumboiu (“Polícia, Adjetivo”), em que dois vizinhos enfrentam a amarga realidade da crise econômica com um sonho infantil, de encontrar um suposto tesouro escondido. Venceu vários prêmios em festivais internacionais, inclusive Cannes. O outro lançamento é o francês “Uma História de Loucura”, de Robert Guédiguian (“As Neves do Kilimanjaro”), que acompanha as histórias dois jovens: um terrorista e sua vítima colateral num atentado contra o embaixador da Turquia em Paris, nos anos 1980. Ambos chegam em quatro salas. Entre os documentários, o destaque pertence a “O Futebol”, de Sergio Oksman, vencedor do recente festival É Tudo Verdade. O diretor tem uma longa lista de prêmios no currículo. Já tinha vencido até o Goya (o Oscar espanhol) e o prêmio de Melhor Documentário do festival Karlovy Vary com o curta “A Story for the Modlins” (2012). “O Futebol”, por sua vez, foi exibido também nos festivais de Locarno e Mar Del Plata. E, apesar do título, tem o futebol apenas como pano de fundo para um reencontro entre um pai e um filho que não se viam a 20 anos, e que marcam de passar um mês juntos para acompanhar os jogos da Copa do Mundo de 2014. Os planos, porém, não se realizam como previsto. A estreia também acontece em quatro salas. Por fim, “Meu Nome É Jacque”, de Angela Zoé (“Nossas Histórias”) foca uma mulher transexual, portadora do vírus da aids, que precisa superar grandes obstáculos para viver sua vida da melhor forma possível. Chega em apenas uma sala no Rio.
Trailer e cenas de Nise: O Coração da Loucura trazem Glória Pires revolucionando a psiquiatria
A TVZero divulgou o trailer e duas cenas impactantes de “Nise: O Coração da Loucura”, cinebiografia da psiquiatra Nise da Silveira, estrelada por Glória Pires (“Linda de Morrer”). As prévias mostram a atitude desafiadora e o pioneirismo da médica, que confrontou os padrões desumanos vigentes nos anos 1940 para revolucionar o tratamento psiquiátrico no Brasil. Com ela, saíram o eletrochoque e a violência dos enfermeiros e entraram a pintura e os passeios lúdicos – a chamada “terapia ocupacional”, referenciada até hoje. Tudo isso é bem retratado nos vídeos, que, por outro lado não evitam um tom de docudrama televisivo. Filmado durante dois meses no Instituto Nise da Silveira, no Engenho de Dentro, local onde ficava o Hospital Psiquiátrico Pedro II, “Nise: O Coração da Loucura” tem direção de Roberto Berliner (“Júlio Sumiu”), até então mais bem-sucedido como documentarista do que como diretor de ficção. O filme foi exibido no Festival do Rio, onde venceu o Prêmio do Público, e ainda conquistou destaque no Festival de Tóquio, rendendo troféus para Glória Pires e Berliner no Japão. A estreia está marcada para 21 de abril.
Drama brasileiro Nise – O Coração da Loucura vence Festival de Tóquio
O filme brasileiro “Nise – O Coração da Loucura”, de Roberto Berliner (“Julio Sumiu”), foi o grande vencedor do 28º Festival de Tóquio. Além do troféu de Melhor Filme, a obra rendeu o prêmio de Melhor Atriz a Glória Pires (“Flores Raras”), por seu papel como a psiquiatra Nise da Silveira. Em seu agradecimento, Berliner disse que a alagoana Nise (1905-1999) era sua “heroína”, destacando ela não era muito conhecida quando começou a fazer o filme, há três anos. “Era minha responsabilidade mostrar a história dela para o mundo”, afirmou, ao receber o troféu na noite de sábado (31/10), conquistando o júri internacional presidido pelo diretor americano Bryan Singer (“X-Men: Dias de um Futuro Esquecido”). Glória Pires não estava presente no evento. O filme mostra o trabalho de Nise com os internos do Cento Psiquiátrico Pedro 2º, no Rio dos anos de 1940, quando propôs aos pacientes atividades lúdicas, como pintura e cuidados de animais domésticos. A proposta foi recebida como atitude comunista pelos colegas e chocou as alas mais conservadoras da psiquiatria tradicional, que defendiam métodos como eletrochoque e lobotomia. “Nise – O Coração da Loucura” teve sua première mundial em outubro, durante o Festival do Rio, mas ainda não tem previsão de lançamento comercial.



