Narciso em Férias é emocionante e essencial para a democracia
“Eu comecei a achar que a vida era aquilo ali. Só aquilo. E que a lembrança do apartamento, dos shows, da vida lá fora era uma espécie de sonho que eu tinha tido.” Essa é uma das falas de Caetano Veloso em “Narciso em Férias”, ao descrever o seu primeiro momento no cárcere, quando foi colocado, sem a menor explicação, em uma solitária escura. Só de pensar nisso, de ter essa sensação de deslocamento da realidade, já é aterrador. “Narciso em Férias” marca o retorno da dupla de cineastas Ricardo Calil e Renato Terra ao mundo da música popular brasileira, depois do ótimo “Uma Noite em 67” (2010). Desta vez, a opção de entrecortar as falas de Caetano Veloso com imagens de arquivo e depoimentos de outros entrevistados foi deixada de lado, e o filme fica muito mais poderoso apenas com as cenas da entrevista com o cantor, músico e compositor baiano. Há quem diga que apresentar única e exclusivamente a entrevista de uma pessoa à frente de uma câmera não é fazer cinema, mas isso é bobagem. Esquecem da grandeza de Eduardo Coutinho, mestre nesse formato. Em “Narciso em Férias”, os diretores optaram por esconder, sempre que possível, suas próprias vozes na condução da entrevista. E utilizam apenas três enquadramentos básicos: o close-up, um plano que mostra o corpo inteiro do cantor e um plano mais distante, que acentua a parede ao fundo. Tudo que ele conta já está em um capítulo do seu livro “Verdade Tropical”, justamente intitulado “Narciso em Férias”, e que agora se tornará um livro à parte, já em pré-venda. O termo foi tomado de empréstimo de um livro do romancista americano F. Scott Fitzgerald, e que também se refere ao fato de que, durante todo o período em que esteve preso, Caetano não se olhou no espelho – deu férias a seu lado narcisista, por assim dizer. Histórias narradas oralmente são a base da construção de nossa civilização e é bom ver que esse tipo de recurso ainda segue sendo incrivelmente poderoso, especialmente quando encontramos alguém que consegue nos colocar dentro da ação. Há momentos da fala de Caetano que conseguem fazer o público se sentir em seu lugar, com um detalhismo de carga dramática assombrosa. O documentário é cheio de momentos de bastante emoção, especialmente em seu terço final. O próprio Caetano Veloso parece ter se surpreendido com o próprio choro e pede para que os diretores parem a filmagem em determinado momento. E não é um momento em que ele fala de seu sofrimento, mas de quando comenta o sentimento de gratidão, que ele tem por um sargento que ficou com pena de sua situação, de ele ser o único que não podia receber a visita da esposa, e que o ajudou. E ele lamenta não ter procurado saber o nome desse homem. Sem dúvida um dos momentos mais bonitos e tocantes do documentário e que, muito provavelmente, perderia um bocado da força sem a voz e sem o olhar do cantor . Outro acerto de Calil e Terra foi o fato de trazerem canções para o documentário. Já começa com uma canção de Orlando Silva, “Súplica”, cuja importância é exposta ao longo do filme. Além disso, cada vez que “Hey Jude”, dos Beatles, tocava nos rádios – foi um grande sucesso da época, o final dos anos 1960 – trazia esperança para Caetano. Outras duas canções do próprio Caetano, inspiradas pela experiência do cárcere, também são citadas com emoção: “Irene” e “Terra”. Além de enfatizar a importância e a beleza do trabalho de um de nossos mais brilhantes músicos, “Narciso em Férias” também impacta por lembrar como os artistas brasileiros foram presos e exilados durante a ditadura militar, em um momento em que a extrema direita se apresenta como uma ameaça cada vez maior para a democracia do Brasil. E isso o torna um filme essencial.
Estreias online: A polêmica de Lindinhas, o doc de Caetano e mais 10 lançamentos
A programação de estreias digitais do fim de semana está mergulhada em polêmica, graças a “Lindinhas” (Cuties). O filme não virou assunto porque a cineasta Maïmouna Doucouré foi uma das primeiras mulheres negras a vencer o prêmio de Melhor Direção no Festival de Sundance ou pelos elogios rasgados da crítica internacional – 88% de aprovação no Rotten Tomatoes – , mas por um equívoco calamitoso do marketing da Netflix. Um cartaz da plataforma sensualizou as personagens pré-adolescentes da produção e transformou a obra em vítima da guerra cultural. A Netflix assumiu o erro e pediu desculpas. Mas na guerra dos cruzados digitais, que não poupa nem “Frozen”, o filme virou apologista de pedofilia. Há campanhas ativas contra a produção na internet, que incentivam quem não o viu a dar “dislikes” e notas baixas em sites como o RT, IMDb e Metacritic, além de hashtags pedindo boicotes. A diretora contou que tem recebido até ameaças de morte. Tudo muito veloz e furioso. Só que, dependendo do ponto de vista, “Lindinhas” pode ser encarado como o posto do que o acusam, um drama que questiona a sexualização precoce das crianças, baseada na infância da própria diretora, além de refletir sobre a influência das mídias sociais na formação dos mais jovens. Se isso parece polêmico, lembrem-se das criancinhas que dançavam na boquinha da garrafa, imitando as tardes do “Domingo Legal”, de Gugu Liberato. Por curiosidade, o filme acabou sendo lançado no Brasil com o título original, “Mignonnes” em francês, após toda a confusão. Mas durante a divulgação inicial, ele ficou conhecido como “Lindinhas” no país. Mudar o título não muda o filme, só mostra que o marketing da Netflix não funciona mesmo como deveria. O outro destaque da semana também pode parecer polêmico para alguns. “Narciso em Férias” contesta negacionistas que dizem que no Brasil não houve ditadura e defendem a volta do AI-5 como panaceia para resolver todos os problemas do país. O AI-5 foi o instrumento de exceção utilizado pela ditadura para prender e esconder a prisão de Caetano Veloso e Gilberto Gil em 1968. O documentário, que teve première no Festival de Veneza, traz Caetano relembrando detalhes dos eventos traumáticos da época, quando os jornais foram proibidos de noticiar a sua detenção, motivada, como revela o filme, por fake news e pela violência arbitrária do regime. Confira abaixo mais detalhes destes e de outros lançamentos digitais, lembrando que a curadoria não inclui títulos clássicos (são muitos) e produções trash, que em outros tempos sairiam diretamente em DVD – como “Rogue”, pior filme da carreira de Megan Fox. Mignonnes | França | 2020 O filme é premiado, as críticas são positivas e até o governo da França incentiva as pessoas a vê-lo, mas quem não viu acredita que ele é horroroso, porque supostamente promove pedofilia. A obra acompanha o esforço de uma pré-adolescente para se integrar com a turma de garotas legais da sua escola. Tudo gira em torno da disputa de um concurso de dança. O problema é que a protagonista é uma menina negra muçulmana de 11 anos, criada numa família de imigrantes senegaleses no bairro mais pobre de Paris. O grupo de meninas a que ela se junta contrasta fortemente com os valores tradicionais de sua mãe e ela logo se influencia, agindo contra o que aprendeu. Ao retratar a dança das crianças, o filme também aborda a hiper sexualização das meninas nos dias de hoje. Infelizmente, o marketing da Netflix chutou o balde e enfatizou justamente o que a obra critica, sensualizando as protagonistas em seu cartaz. Isto disparou campanhas de ódio. Inspirado na infância da diretora Maïmouna Doucouré, o filme merece ser bastante comentado, mas é bom vê-lo também. Disponível na Netflix Narciso em Férias | Brasil | 2020 Dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil (“Uma Noite em 67”), o documentário traz Caetano Veloso compartilhando suas memórias do cárcere e as canções que marcaram o período, quando foi preso com seu amigo Gilberto Gil em 1968 e posteriormente exilado do Brasil. Caetano relembra o período de arbitrariedade, refletindo a descoberta recente de documentos que mostram que sua prisão foi motivada por fake news. Paralelamente, ele toca as músicas que criou e que o ajudaram a superar o trauma de se ver preso sem saber porquê e sem direitos. Disponível na Globoplay Alice Júnior | Brasil | 2019 Premiado nos festivais do Rio, Brasília, Mix Brasil e exibido em Berlim, o filme de Gil Baroni (“O Amor de Catarina”) acompanha uma adolescente transexual que se muda com a família de Recife para o interior do país. Na nova cidade, mais conservadora, ela sofre preconceito dos colegas de escola e tem dificuldades para expressar a própria identidade de maneira livre. Mas logo vai se soltando e conquistando seu espaço, ajudando também o filme a se assumir mais comédia teen que melodrama de novela. A produção adota uma estética atual, ao apresentar a protagonista como YouTuber, e utiliza linguagem dessa mídia para dar à trama o tom alegre de um fábula moderna. Revelação do longa, Anne Celestino levou o prêmio de Melhor Atriz em Brasília por sua Alice. Disponível na Google Play, iTunes, Looke, Now, Oi Play, Vivo Play e YouTube Filmes #Alive | Coreia do Sul | 2020 Depois do blockbuster “Invasão Zumbi” e da impressionante série “Kingdom”, “#Alive” (#Saraitda) voltou a demonstrar o apelo do tema dos zumbis na Coreia do Sul. Primeiro filme a atrair 1 milhão de espectadores em sua estreia durante a pandemia de coronavírus – ainda em junho! – , a produção contou a seu favor com dois jovens astros muito populares no país, Yoo Ah-In (o protagonista de “Em Chamas”) e Park Shin-Hye (da série “Memórias de Alhambra”). Eles vivem sobreviventes ilhados em seus apartamentos quando zumbis tomam conta das ruas da cidade. Na trama com ecos da pandemia real, até descobrir Park Shin-Hye num prédio vizinho, o personagem de Yoo Ah-In credita estar sozinho em meio à horda de mortos-vivos. A descoberta faz os dois abandonarem suas quarentenas para tentarem um encontro arriscado num mundo tomado pelo contágio zumbi. Disponível na Netflix A Babá: Rainha da Morte | EUA | 2020 A sequência de “A Babá” traz de volta o elenco do divertido terrir de 2017 para assombrar novamente Cole (Judah Lewis), o sobrevivente do massacre original. Ele é convencido a deixar o estresse para trás e aproveitar um fim de semana distante de tudo. Só que os serial killers mortos no primeiro filme têm outros planos e retornam do além para outra tentativa de assassinar o adolescente. Novamente dirigido por McG, a continuação também traz de volta Robbie Amell, Bella Thorne, Emily Alyn Lind, Andrew Bachelor, Ken Marino, Hana Mae Lee, Leslie Bibb, Carl McDowell, Chris Wylde e, claro, Samara Weaving, que virou estrela após interpretar a Babá original. Desde então, ela fez “Casamento Sangrento” (Ready or Not) e “Bill & Ted: Encare a Música”. Na verdade, ficou tão famosa que, agora, retorna só numa pequena participação especial. Disponível na Netflix Vem com o Papai | EUA | 2019 Elijah Wood (“O Senhor dos Anéis”) revolve atender ao pedido do pai que mal conhece para visitá-lo em sua cabana distante, apenas para perceber que se meteu numa roubada. A comédia de terror é o primeiro filme dirigido pelo roteirista Ant Timpson, criador da franquia de horror “ABC da Morte”, e explora o clima sinistro com bastante humor negro. 87% de aprovação no Rotten Tomatoes. Disponível em iTunes, Looke, Google Play e Vivo Play Alerta Lobo | França | 2019 Thriller de ação militar que caiu nas graças da crítica, com 92% de aprovação no Rotten Tomatoes, o primeiro filme dirigido pelo quadrinista Antonin Baudry (“O Palácio Francês”) se passa num submarino durante os momentos tensos que aproximam a França de uma guerra nuclear. Melhor Som no prêmio César (o Oscar francês), a produção tem um impacto sonoro impressionante. Não por acaso, a narrativa destaca um especialista em acústica, que precisa interpretar os sinais de radar que podem representar a diferença entre a vida e o apocalipse no fundo do mar. Disponível em iTunes e YouTube Filmes A Violinista | Finlândia | 2018 Um acidente interrompe a carreira de uma violinista virtuosa. Conformada em dar aulas para jovens, ela se encanta ao encontrar um aluno prodígio, até que a paixão compartilhada pela música transforma o relacionamento numa atração intensa. Primeiro longa dirigido pelo ator Paavo Westerberg (que nos anos 1980 foi o Príncipe de “A Rainha da Neve”), foi selecionado para festivais e agradou a crítica internacional. Disponível em iTunes, Looke e Now Um Bilhete Para Longe Daqui | Reino Unido | 2017 Dona de casa e mãe de família em depressão profunda se vê sufocada em meio às tarefas domésticas diante do marido alheio, até largar tudo num impulso e embarcar num trem para Paris. A performance superlativa de Gemma Arterton, indicada ao BIFA (premiação indie do cinema britânico), é o grande destaque desse drama triste e doloroso. Disponível em iTunes, Looke, Google Play e Vivo Play Sangue de Pelicano | Alemanha | 2019 A premiada atriz alemã Nina Hoss vive uma treinadora de cavalos policiais que decide adotar uma menina de 5 anos muito traumatizada. Quando a menina mostra seu comportamento violento e antissocial, ela fica determinada a ajudá-la. A direção é de Katrin Gebbe (“Nada de Mau Pode Acontecer”). Disponível em iTunes, Google Play, Now, Vivo Play e YouTube Filmes O Segredo: Ouse Sonhar | EUA | 2020 Baseado no best-seller de Rhonda Byrne, um dos maiores fenômenos editorais da auto-ajuda, o filme traz Katie Holmes (“Brahms: Boneco do Mal II”) e Josh Lucas (“Ford vs Ferrari”) como protagonistas, ilustrando como a lei da atração e a força dos pensamentos podem influenciar os rumos de uma vida. Na trama, Katie Holmes é uma mãe viúva que tem uma nova chance de recomeçar ao ser pedida em casamento pelo personagem de Jerry O’Connell (“Carter”), mas o destino coloca em seu caminho um homem misterioso (Lucas), que a ensina a desejar mais. O filme é dirigido por Andy Tennant (“Caçador de Recompensas”), que também ajudou a roteirizar a adaptação, transformando a lição quase religiosa (porque baseada em fé) de “O Segredo” em drama romântico. Ou, segundo a crítica, numa grande perda de tempo – só 28% de aprovação no Rotten Tomatoes. Disponível em iTunes, Google Play, Looke, Now, Oi Play, Sky Play, Vivo Play e YouTube Filmes O Dilema das Redes | EUA | 2020 O novo documentário premiado de Jeff Orlowski (“Em Busca dos Corais”) reúne especialistas em tecnologia e profissionais da área para fazer um alerta: as redes sociais estão tendo um impacto devastador sobre a democracia e a humanidade. O filme chama atenção para questões importante da atualidade, como controle de informações, disseminação de fake news e manipulação cibernética, que faz com que brigar por mentiras seja mais importante que prestar atenção em problemas reais, além de fomentar cisões e isolamento cada vez maior entre as pessoas. Disponível na Netflix
Filme da prisão de Caetano Veloso é “advertência” sobre futuro brasileiro
Único filme brasileiro selecionado para o Festival de Veneza, o documentário “Narciso em Férias” foi exibido nesta segunda-feira (7/9) em sessão de gala, fora de competição no evento italiano. Ausentes devido à pandemia de coronavírus, os responsáveis pelo longa participaram da première de forma remota, via videoconferência. Dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil (“Uma Noite em 67”), o filme traz Caetano compartilhando suas memórias do cárcere e as canções que marcaram o período, quando foi preso com seu amigo Gilberto Gil em 1968 e posteriormente exilado do Brasil. Durante a entrevista coletiva, disponibilizada por streaming, os realizadores destacaram que o filme faz mais que relembrar fatos do passado, que muitos brasileiros não conhecem ou fingem não ter existido. Ele serve também como uma “advertência” para o futuro, diante de rumos dos tempos atuais, “para que não se repitam os erros que culminaram na atrocidade e na imbecilidade que foi a ditadura militar no Brasil”, nas palavras de Renato Terra. O diretor fez uma comparação entre o passado da ditadura e o governo brasileiro atual. “Em 1968, no Brasil, houve o AI-5, o Congresso Brasileiro foi fechado, havia censura na imprensa, pessoas eram sequestradas, tiradas de casa e torturadas, foi um período horrível da História brasileira. Hoje, a gente vive aqui numa democracia, é diferente, mas o caminho que a gente percorreu para chegar até 68 guarda algumas semelhanças com o que a gente tá vivendo nesse momento no Brasil”, apontou. Ele lembrou que a volta da ditadura é bandeira de alguns políticos nacionais. “O AI-5, por exemplo, que foi a causa direta da prisão do Caetano e do Gil… Algumas pessoas no Brasil – poucas, mas barulhentas – pedem a volta do AI-5 ou defendem a ditadura militar. E tem um absurdo muito grande nisso, uma coisa que é muito descolada da realidade”. Ricardo Calil, por sua vez, considerou que “os artistas estavam entre os primeiros alvos da ditadura militar” e, do mesmo modo, também são foco de ataques prioritários do governo atual, mas de forma distinta. “Não há mais a censura, mas há um esforço do governo em desmontar muitas áreas da Cultura, incluindo o cinema, incluindo a Cinemateca Brasileira, que é a instituição que guarda nossa memória cinematográfica, e também as instituições que patrocinam e financiam o cinema e garantem o futuro do cinema nacional” Paula Lavigne, mulher de Caetano e produtora do documentário, acrescentou que “Narciso em Férias” tem a função de relembrar como foi a ditadura, já que “muita gente não sabe que eles [Caetano e Gil] foram presos”, especialmente os mais novos, por causa da proibição de se noticiar a prisão na época e pela disseminação do negacionismo da extrema direita brasileira. Além disso, ela aponta que o verdadeiro motivo da prisão foi “uma fake news”, um boato, “e isso fica claro nos documentos: não existia uma acusação objetiva”. Essa arbitrariedade, que veio à tona em documentos recém-revelados sobre a prisão, transformam o encarceramento de Caetano e Gil “num teatro do absurdo, num pesadelo kafkiano”, na definição de Kalil. Por isso, o filme também serviria para desnudar o despreparo e o caos que caracterizou o regime militar brasileiro. “Uma das táticas da direita é o negacionismo”, ponderou Lavigne, lembrando que há pessoas de direita “dizendo até que não houve ditadura militar”. “Mas muitos artistas foram presos, alguns sofreram até mais que Caetano e Gil, foram torturados, outras pessoas mortas. Então, eu acho que o momento é muito adequado” para se falar disso. A entrevista foi disponibilizada na íntegra no canal do Festival de Veneza no YouTube. Veja abaixo, a partir de 1h13 minutos do vídeo, que reúne outras coletivas desta segunda no festival. Já “Narciso em Férias” pode ser visto, também desde esta segunda-feira, com exclusividade na plataforma Globoplay.
Documentário sobre prisão de Caetano Veloso ganha trailer e música exclusiva
A Uns Produções e Filmes divulgou o primeiro trailer de “Narciso em Férias”, documentário em que Caetano Veloso aborda seus dias de prisão durante a ditadura militar. Dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil (“Uma Noite em 67”), o filme traz Caetano compartilhando suas memórias do cárcere e as canções que marcaram o período, quando foi preso com seu amigo Gilberto Gil em 1968 e posteriormente exilado do Brasil. A prévia traz relatos do cantor sobre o dia em que ele foi preso e também de seu cotidiano atrás das grades, culminando na inspiração para compor a música “Terra”, que ele interpreta ao violão para o documentário. “Terra” não é a única música que integra o filme. Caetano chegou a gravar uma versão de “Hey Jude”, dos Beatles, ao violão especialmente para a produção. Ele conta que a música que Paul McCartney fez para o filho de John Lennon o ajudou a superar os momentos mais difíceis daquela situação. Ouça abaixo. O documentário terá première mundial na segunda-feira (7/9) no Festival de Veneza, mesmo dia em que será lançado na Globoplay.
Festival de Veneza começa com missão de “reiniciar” o cinema
Mais antiga mostra de cinema do mundo, o Festival de Veneza chega à sua 77ª edição nesta terça (2/9) como o primeiro evento do gênero a estender seu tapete vermelho em meio à pandemia de coronavírus. Dirigindo-se à imprensa na véspera da abertura, o diretor do festival, Alberto Barbera, declarou que a cerimônia inaugural deste ano ganha um significado especial, como um “reinício” para o cinema. “Sem esquecer as muitas vítimas dos últimos meses, o primeiro festival internacional a ser realizado após a interrupção forçada imposta pela pandemia adquire o significado de um reinício, uma mensagem de otimismo para o mundo do cinema tão atingido pela crise”, ele afirmou. Esse aspecto será evidenciado pela divulgação de um manifesto coletivo de solidariedade dos diretores de outros sete grandes festivais europeus, incluindo Berlim e Cannes. O Festival de Berlim foi a última grande mostra antes da pandemia fechar os cinemas e o de Cannes encontrou a crise sanitária em seu auge e acabou cancelado. “Precisamos reabrir os cinemas, distribuir novos filmes, começar a rodar novos filmes. Espero que o festival seja um sinal de solidariedade e incentivo para todos os envolvidos com a indústria cinematográfica”, acrescentou Barbera. Apesar desse otimismo, o festival vai acontecer sob o impacto da pandemia, com medidas rígidas de distanciamento social e higiene. Com os casos de coronavírus aumentando novamente na Itália e em outros países, os organizadores estabeleceram um protocolo que inclui o uso de máscaras de proteção nas sessões e a abertura de duas arenas ao ar livre no Lido para respeitar as medidas impostas para evitar a disseminação do coronavírus. As cerimônias de abertura e encerramento, assim como as entrevistas coletivas de imprensa, os desfiles pelo tapete vermelho e outros eventos acontecerão sem público, dentro de cercados, e serão transmitidos via streaming e pelas redes sociais. Além disso, a seleção de 2020 não deve ser lembrada pela participação de grandes estrelas, muitas delas ainda impossibilitadas de cruzar fronteiras internacionais. Caetano Veloso, por exemplo, não deve ir ao evento, que exibirá em primeira mão o documentário “Narciso em Férias”, sobre a prisão do cantor durante a ditadura, fora da competição oficial. Ao todo, 18 filmes competirão pelo Leão de Ouro, sendo quatro italianos. Deste total, 11 são dirigidos por homens e 8 por mulheres (um deles tem dois cineastas). O título americano mais aguardado do festival é justamente de uma cineasta, “Nomadland”, dirigido pela chinesa Chloe Zhao e estrelado por Frances McDormand. O longa será exibido em Veneza e Toronto simultaneamente em 11 de setembro, em ambos os casos precedido por apresentações virtuais. Ao final do evento, em 12 de setembro, os melhores do festival serão premiados pelo júri presidido pela atriz australiana Cate Blanchett, e que também inclui os diretores Christian Petzold (Alemanha), Joanna Hogg (Reino Unido) e Veronika Franz (Áustria), a atriz Ludivine Sagnier (França), o ator Matt Dillon (EUA) e o escritor Nicola Lagioia (Itália).
Globoplay adquire documentário sobre prisão de Caetano Veloso pela ditadura
A Globoplay comprou os direitos de transmissão do documentário “Narciso em Férias”, sobre a prisão de Caetano Veloso em 1968, durante a ditadura militar. O longa chega à plataforma de streaming no dia 7 de setembro, mesmo dia de sua première mundial na 77ª edição do Festival de Veneza. Dirigido por Renato Terra e Ricardo Calil (“Uma Noite em 67”), “Narciso em férias” será exibido fora de competição no festival italiano. O documentário traz o depoimento de Caetano Veloso sobre sua experiência na cadeia, que incluiu passar uma semana trancado numa solitária. Ele e Gilberto Gil foram retirados de suas casas em São Paulo por agentes à paisana, duas semanas após o decreto do AI-5. À época, o regime militar proibiu que jornais divulgassem a prisão dos artistas. No total, Caetano ficou 54 dias encarcerado. Durante o período, ele compôs a canção “Irene”, inspirado pela lembrança da risada de sua irmã mais nova, e ao sair da prisão foi exilado em Londres. Em entrevista à revista americana Variety, Caetano destacou a importância de lembrar esse período histórico para se contrapor à versão dos fatos propagada pelo atual governo negacionista. “O Brasil tem um governo que diz que a ditadura militar foi uma coisa boa. E eles estão tentando lançar uma luz positiva. É hora de falar sobre esse período da maneira que faço no filme”, afirmou.
Seleção do Festival de Veneza inclui documentário sobre prisão de Caetano Veloso
A organização do Festival de Veneza divulgou a lista dos filmes selecionados para sua edição 2020. E entre os títulos destaca-se o documentário “Narciso em Férias”, sobre a prisão de Caetano Veloso em 1968. Programado para exibição fora de competição, o novo filme da dupla Renato Terra e Ricardo Calil (“Uma Noite em 67”) traz o cantor brasileiro relembrando sua prisão, quando ele e Gilberto Gil foram levados de suas casas após o decreto do AI-5, culminando em seu exílio no auge da ditadura militar. Sem receber explicações, Caetano e Gil foram retirados à força de suas casas em São Paulo, levados ao Rio de Janeiro e jogados numa prisão. Passaram a primeira semana em solitária, antes de serem transferidos para celas, onde ficaram quase dois meses trancafiados. Na época, a ditadura impediu os jornais de mencionar as prisões. O crime cometido? Músicas. “Narciso em Férias” integra uma seleção com mais de 50 filmes de todo o mundo, incluindo obras de cineastas como Kiyoshi Kurosawa, Amos Gitai, Chloé Zhao, Nicole Garcia, Andrei Konchalovsky, Lav Diaz, Alex de la Iglesia, Alice Rohrwacher, Michel Franco, Luca Guadagnino, Abel Ferrara e até o (há muito) falecido Orson Welles. Uma das características desta seleção justamente é a inclusão de vários documentários fora de competição, entre eles um filme dedicado à ativista adolescente Greta Thunberg, a obra póstuma de Welles e os novos trabalhos de Ferrara, Guadagnino e do premiado Alex Gibney, que já venceu o Oscar da categoria com “Um Táxi para a Escuridão” (2007). Ao anunciar a programação nesta terça-feira (28/7), o diretor do festival, Alberto Barbera, declarou que o evento continua sendo “uma vitrine para a melhor produção cinematográfica do mundo”. E destacou que a seleção inclui apenas duas obras de ficção produzidas por estúdios de Hollywood, ambas dirigidas por mulheres. As produções dramáticas americanas são “The World to Come”, da diretora Mona Fastvold (“O Sonâmbulo”), um drama íntimo estrelado por Casey Affleck, Vanessa Kirby e Katherine Waterston, e “Nomadland”, um road movie de Chloé Zhao (“Domando o Destino”), com Frances McDormand e David Strathairn. Vale lembrar que Chloé Zhao está atualmente trabalhando na pós-produção de “Eternos”, da Marvel. Vanessa Kirby deve ser a grande estrela do tapete vermelho, se ele for estendido em meio à pandemia de covid-19. Ela aparece duplamente na programação, pois também está no elenco de “Pieces of a Woman”, que é uma produção canadense e marca a estreia do diretor húngaro Kornél Mundruczó (“White God”) em inglês. O Festival de Veneza será realizado de forma presencial, com reforço de medidas de segurança, entre os dias 2 e 12 de setembro. Confira abaixo a lista dos títulos selecionados. Competição Principal In Between Dying, de Hilal Baydarov Le Sorelle Macaluso, de Emma Dante The World To Come, de Mona Fastvold Nuevo Orden, de Michel Franco Lovers, de Nicole Garcia Laila in Haifa, de Amos Gitai Dear Comrades, de Andrei Konchalovsky Wife Of A Spy, de Kiyoshi Kurosawa Sun Children, de Majid Majidi Pieces Of A Woman, de Kornel Mundruczo Miss Marx, de Susanna Nicchiarelli Padrenostro, de Claudio Noce Notturno, de Gianfranco Rosi Never Gonna Snow Again, de Malgorzata Szumowska, Michal Englert The Disciple, de Chaitanya Tamhane And Tomorrow The Entire World, de Julia Von Heinz Quo Vadis, Aida?, de Jasmila Zbanic Nomadland, de Chloé Zhao Mostra Horizontes Apples, de Christos Nikou La Troisième Guerre, de Giovanni Aloi Milestone, de Ivan Ayr The Wasteland, de Ahmad Bahrami The Man Who Sold His Skin, de Kaouther Ben Hania I Predatori, de Pietro Castellitto Mainstream, de Gia Coppola Genus Pan, de Lav Diaz Zanka Contact, de Ismael El Iraki Guerra E Pace, de Martina Parenti, Massimo D’Anolfi La Nuit Des Rois, de Philippe Lacôte The Furnace, de Roderick Mackay Careless Crime, de Shahram Mokri Gaza Mon Amour, de Tarzan Nasser, Arab Nasser Selva Tragica, de Yulene Olaizola Nowhere Special, de Uberto Pasolini Listen, de Ana Rocha de Sousa The Best Is Yet To Come, de Wang Jing Yellow Cat, de Adilkhan Yerzhanov Fora de Competição – Sessões Especiais 30 Monedas, Episode 1, de Alex de la Iglesia Princesse Europe, de Camille Lotteau Omelia Contadina, de Alice Rohrwacher Jr Fora de Competição – Ficção Lacci, de Daniele Lucheti Lasciami Andare, de Stefano Mordini Mandibules, de Quentin Dupieux Love After Love, de Ann Hui Assandira, de Salvatore Mereu The Duke, de Roger Michell Night In Paradise, de Park Soon-jung Mosquito State, de Filip Jan Rymsza Fora de Competição – Documentário Sportin’ Life, de Abel Ferrara Crazy, Not Insane, de Alex Gibney Greta; de Nathan Grossman Salvatore, Shoemaker Of Dreams, de Luca Guadagnino Final Account, de Luke Holland La Verita Su La Dolce Vita, de Giuseppe Pedersoli Molecole, de Andrea Segre Narciso Em Ferias, de Renato Terra, Ricardo Calil Paulo Conte, Via Con Me, de Giorgio Verdelli Hopper/Welles: de Orson Welles




