Jards Macalé morre aos 82 anos no Rio de Janeiro
Cantor e compositor carioca faleceu após complicações de broncopneumonia e parada cardíaca em hospital na Barra da Tijuca
Astrud Gilberto, voz de “Garota de Ipanema”, morre aos 83 anos
Astrud Evangelina Weinert, conhecida como Astrud Gilberto, faleceu aos 83 anos nesta segunda-feira (5/6). A cantora foi um dos maiores nomes da bosa nova e ganhou notoriedade pela versão em inglês da música “Garota de Ipanema”, de Antonio Carlos Jobim. A notícia foi confirmada por sua neta, Sofia Gilberto, por meio de uma publicação no Instagram. A causa da morte não foi divulgada. “A vida é linda, como diz a música, mas venho trazer a triste notícia de que minha avó virou uma estrela e hoje está ao lado do meu avô João Gilberto. Astrud foi a verdadeira garota que levou a bossa nova de Ipanema para o mundo. Foi pioneira e a melhor”, declarou na postagem. A cantora venceu o Grammy, colocou a bossa nova em evidência fora do Brasil e popularizou o gênero nos Estados Unidos. “Ela foi o rosto e a voz da bossa nova na maior parte do planeta”, completou Sofia. Casamento com João Gilberto Nascida em Salvador, filha de mãe brasileira e pai alemão, Astrud começou a carreira após se casar com o músico João Gilberto, o ‘pai da bossa nova’, que lhe foi apresentado por sua amiga de infância Nara Leão. Enfrentando a timidez, a cantora subiu nos palcos pela primeira vez em 1960, no show “Noite do Amor, do Sorriso e da Flor”, para promover as novas composições do marido. Mas Astrud Gilberto não era uma novata completa. Ela cresceu mergulhada na música, graças à sua mãe, Evangelina Neves Lobo Weinert, que tocava vários instrumentos. Astrud foi casada com João Gilberto por cinco anos. Mas pouco antes de se divorciarem, o casal se mudou para os Estados Unidos, onde ela se estabeleceu de forma definitiva. Embora tivesse medo dos palcos, ela participou cantando no álbum de jazz “Getz/Gilberto”, com composições do marido e do saxofonista Stan Getz, considerado um dos melhores discos de bossa nova de todos os tempos. Após a separação, em 1964, Astrud decidiu dar continuidade na carreira musical. Hollywood e a Garota de Ipanema No mesmo ano, ela apareceu cantando a versão em inglês de “Garota de Ipanema” no filme americano “Turma Bossa Nova”, que também contou com participação da cantora Nancy Sinatra. Com acompanhamento de Stan Getz, os vocais relaxados da cantora encantaram público e crítica, popularizando a bossa nova brasileira nos EUA. Ela ainda voltou a cantar “Garota de Ipanema” em outra produção, o telefilme policial “The Hanged Man”, dirigido pelo mestre do gênero Don Siegel (o diretor de “Dirty Harry”). O detalhe é que a música fazia parte do disco “Getz/Gilberto”. Graças a isso, Astrud pouco lucrou com sua fama. Segundo o biógrafo Ruy Castro, João Gilberto faturou US$ 23 mil com o álbum, enquanto Getz embolsou quase US$ 1 milhão. Já a cantora nem mesmo recebeu os créditos no disco original, além de ganhar apenas US$ 120 pela gravação – o mínimo determinado pelo sindicado americano dos músicos na época. Stan Getz teria feito de tudo para Astrud não ter maior destaque, dizendo que ela devia sua carreira a ele. “Ela era só uma dona de casa na época, e eu a coloquei no disco porque queria que alguém cantasse uma versão em inglês de ‘Garota de Ipanema’ — e João não conseguia. ‘Ipanema’ foi um sucesso e ela deu sorte”, disse o saxofonista em entrevista à revista inglesa Jazz Professional em 1964. O comentário de Getz irritou a cantora, que rebateu em 1982: “O engraçado é que, depois do meu sucesso, abundam as histórias de que Stan Getz ou (o produtor musical) Creed Taylor ‘me descobriram’, quando, na verdade, nada está mais longe da verdade”. Maior que os Beatles Para comprovar seu talento, o lançamento de seu primeiro álbum, intitulado “The Astrud Gilberto Album”, veio em seguida com críticas bastante positivas. Graças ao sucesso do disco, Astrud Gilberto fez história ao se tornar a primeira mulher a ganhar o Grammy de Música do Ano em 1965 – vencendo ninguém menos que os Beatles e a cantora Barbra Streisand. Ao longo dos anos, Astrud se tornou dona de uma extensa discografia composta por 19 álbuns, sendo o último lançado em 2003. Seu impacto perdurou muito além da década de 1960, influenciando cantoras de várias gerações, de Sade a Billie Eilish, além de todos os vocais suaves da cena indie shoegazer e dreampop – de My Bloody Valentine a Hatchie. Pouco antes do lançamento do último disco, a cantora se afastou dos palcos e anunciou que se afastaria da vida pública por tempo indeterminado. Na época, ela afirmou que não sentiria falta da forma como era tratada pelas gravadoras e nem do medo que sentia ao subir no palco. Ela deixou dois filhos, o baixista Marcelo Gilberto, do casamento com João Gilberto, falecido em 2019, e Greg Lasorsa, do segundo casamento. Veja abaixo a cena de “Garota de Ipanema” em “Turma Bossa Nova”. Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Sofia Gilberto (@sofia_gilberto_oliveira)
Erasmo Carlos morre aos 81 anos
O cantor e ator Erasmo Carlos, ícone da Jovem Guarda e do rock brasileiro, morreu nessa terça (22/11) no Rio de Janeiro, aos 81 anos de idade. O cantor chegou a ser internado no Hospital Barra D’Or, na Barra da Tijuca, mas não resistiu. O hospital foi o mesmo local onde Erasmo se internou no início do mês para tratar uma infecção pulmonar. Embora a causa da morte ainda não tenha sido divulgada, Erasmo tratava há alguns meses uma síndrome edemigênica, que ocorre quando há um desequilíbrio bioquímico, dificultando a manutenção dos líquidos dentro dos vasos sanguíneos. Ao longo da sua carreira, o artista compôs mais de 600 músicas, incluindo clássicos como “Minha Fama de Mau”, “Mulher”, “Quero que Tudo Vá para o Inferno”, “Mesmo que Seja Eu”, “É Proibido Fumar” e “Sentado à Beira do Caminho”. Erasmo Esteves, seu nome de batismo, nasceu em 5 de junho de 1941, na Tijuca. Já na infância, teve contato com grandes nomes da MPB, como Tim Maia e Jorge Ben Jor, com quem convivia na vizinhança. Na adolescência, foi ver um show de Bill Haley no Maracanãzinho, onde conheceu seu parceiro no rock, Roberto Carlos, com quem formaria a dupla de compositores mais bem-sucedida do Brasil. No começo, Erasmo não acreditava que conseguiria seguir numa carreira solo. Ele fez parte da banda Snakes, com quem tocou até 1961, e então decidiu trabalhar como assistente do apresentador e produtor Carlos Imperial. Em 1963, ele se tornou vocalista do grupo Renato & Seus Blue Caps, substituindo Ed Wilson, o vocalista original. Além de ter garantido a contratação da banda por uma gravadora, ele fez sucesso gravando uma faixa ao lado de Roberto Carlos – o que marcou a primeira parceria dos dois. O nome artístico que ele adotou, Erasmo Carlos, foi uma homenagem aos parceiros que o ajudaram no início da carreira: Roberto Carlos e Carlos Imperial. Erasmo também era conhecido como Tremendão e como Gigante Gentil. Na década de 1960, Roberto e Erasmo se tornaram os dois principais compositores da Jovem Guarda, movimento musical nacional que foi muito influenciado pelo som dos Beatles. Aos poucos, porém, Erasmo começou a se aproximar da MPB e chegou até a gravar “Aquarela do Brasil”, em 1969, antes de assumir influência da cultura hippie e da música soul de seus velhos amigos Tim Maia e Jorge Ben. Seu disco “Carlos, Erasmo”, lançado em 1971, foi bastante polêmico, especialmente por causa de uma faixa “De Noite na Cama”, escrita por Caetano Veloso, que era uma ode à maconha. Marcou época. Na década seguinte, ele iniciou o projeto “Erasmo Convida” (1980), pioneiro por ser o primeiro disco totalmente de duetos no Brasil, feito em parceria com grandes artistas, como Nara Leão, Maria Bethânia, Gal Costa, Wanderléa, Gilberto Gil, Rita Lee, Tim Maia, Jorge Ben, entre outros. Nesse período, ele também se posicionou na linha de frente de causas importantes como a defesa do meio ambiente, que cantou na impactante “Panorama Ecológico” (1978), sem esquecer de “O Progresso” (1978), “As Baleias” (1982), “Amazônia” (1989) e outras gravadas por Roberto. Fez também uma ode ao feminismo em “Mulher” (1981) e chegou a escandalizar conservadores com um clássico LGBTGQIA+, elogiando a beleza da musa transexual Robert Close em “Dá um Close Nela” (1984). Erasmo também marcou presença na primeira edição do Rock in Rio, que aconteceu em 1985. Após um tempo distante da mídia, ele aproveitou os 30 anos da Jovem Guarda em 1995 para retomar ao rock como novos shows, lançando no ano seguinte o álbum “É Preciso Saber Viver”, com regravações de canções de seu repertório. Ao longo dos anos, Erasmo Carlos fez parcerias de sucessos com grandes nomes da música brasileira, como Chico Buarque, Lulu Santos, Zeca Pagodinho, Skank, Los Hermanos, Djavan, Adriana Calcanhotto, Marisa Monte, Frejat, Marisa e Milton Nascimento. E seguia gravando neste século, sendo reconhecido dias antes de morrer com o Grammy Latino. Na última quinta-feira (17/11), Erasmo recebeu o troféu pelo Melhor Álbum de Rock ou de Música Alternativa em Língua Portuguesa, “O Futuro Pertence À… Jovem Guarda”, lançado em fevereiro, que fazia uma releitura de canções do período da Jovem Guarda que ele nunca tinha gravado anteriormente. Além da conhecida carreira musical, Erasmo Carlos também se destacou no cinema. Sua estreia na tela chega a anteceder a Jovem Guarda: foi na comédia “Minha Sogra É da Polícia” (1958), dirigida por Aloisio T. de Carvalho. Mas foi ao lado de Roberto Carlos e da cantora Wanderlea que virou astro das telas, no programa musical “Jovem Guarda”, na Record TV, e num par de filmes inspirados pelas comédias dos Beatles: “Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa” (1968) e “Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora” (1971). Paralelamente, ele também estendeu a parceria com Wanderlea em “Agnaldo, Perigo à Vista” (1969), estrelado pelo cantor Agnaldo Rayol. E ainda apareceu na comédia “Os Machões” (1972) e no infantil “O Cavalinho Azul” (1984). Depois de muitas décadas, ele retomou a carreira de ator nos últimos anos, estrelando o drama musical “Paraíso Perdido” (2018), que homenageava a música brega, e a comédia juvenil “Modo Avião” (2020), produção da Netflix estrelada por Larissa Manoela. Nesse meio tempo, Erasmo também viu sua vida ser transformada em filme. Intitulada “Minha Fama de Mau”, a cinebiografia trouxe o ator Chay Suede no papel de Erasmo, revivendo a juventude do artista. Seu último trabalho foi lançado no mês passado, a canção “Nanda”, feita em parceria com Celso Fonseca. A música foi uma homenagem à atriz Fernanda Montenegro. Ao saber de sua morte, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva foi às redes sociais para prestar uma homenagem. “Erasmo carlos, muito além da Jovem Guarda, foi cantor e compositor de extremo talento, autor de muitas das canções que mais emocionaram brasileiros nas últimas décadas. Tremendão, amigo de fé, irmão camarada, cantou amores, a força da mulher e a preocupação com o meio ambiente”, disse. “Deixa saudades e dezenas de músicas que sempre estarão em nossas lembranças e na trilha sonora de nossas vidas. Meus sentimentos aos familiares, amigos e fãs de Erasmo Carlos”, concluiu.
Nara Leão vai ganhar série documental na Globoplay
A plataforma Globoplay marcou a estreia de uma série documental sobre Nara Leão nos primeiros dias de 2022. “O Canto Livre de Nara Leão” vai mostrar como a cantora impactou a música e a cultura do Brasil. Em cinco episódios, a produção pretende abordar o surgimento da bossa nova sob o olhar da artista, o célebre show Opinião, de 1964, considerado primeiro protesto artístico contra a ditadura, o rompimento da cantora com a bossa nova e a fundação da MPB, a relação com Chico Buarque, as transgressões de Nara dentro da música brasileira e a vida afetiva da intérprete. Com depoimentos de Chico Buarque, Nelson Motta, Roberto Menescal, Paulinho da Viola e Maria Bethânia, entre outros, a série estreia em streaming no dia 7.



