Primeiro filme árabe da Netflix causa polêmica no Oriente Médio
O primeiro filme original em árabe da Netflix, “Perfeitos Desconhecidos”, virou polêmica e enfrenta críticas pesadas de conservadores em todo o Oriente Médio desde seu lançamento na quinta passada (20/1). O longa está sendo acusado, entre outras coisas, de promover a homossexualidade, a perversão e a infidelidade, e até mesmo de fazer parte de um complô para derrubar a sociedade árabe. Um dos muitos remakes internacionais do sucesso italiano de mesmo nome, dirigido por Paolo Genovese em 2016, o filme acompanha um grupo de amigos libaneses que concorda em deixar os celulares desbloqueados na mesa durante um jantar, expondo interações picantes e segredos sombrios. Com um elenco liderado pela cineasta Nadine Labaki (“Cafarnaum”) e a estrela egípcia Mona Zaki (“Sherazade, Conte uma História”), a trama inclui um personagem gay e outras histórias consideradas tabu, que raramente são discutidas abertamente em muitos países do Oriente Médio. No Twitter, o filme foi alvo de uma enxurrada de mensagens homofóbicas, sob a acusação de incentivar a “degradação moral” dos valores islâmicos e “divulgar ideias ocidentais” decadentes. Um usuário acusou o filme de ser um “crime”, acrescentando que não deveria apenas ser banido, mas que todos os envolvidos deveriam enfrentar “processo” e serem julgados como criminosos. A maior surpresa de tudo isso é a Netflix acreditar que isso não aconteceria. Filmes tão inocentes quanto “Eternos” e “Amor, Sublime Amor” foram proibidos nos cinemas de boa parte do Oriente Médio por fazer referências à questões LGBTQIAP+. Como “Perfeitos Desconhecidos” foi lançado direto em streaming, evitou os censores de cinemas, tornando-se um dos poucos filmes a mostrar estas questões para o público árabe. A principal reação aconteceu no Egito (o filme é uma co-produção egípcia), particularmente contra Zaki, que em uma cena do filme tira a calcinha (embora nada seja visto, pois não há nudez). Um usuário do Twitter acusou Zaki – uma grande estrela no Egito – de fazer parte de uma agenda internacional para forçar mudanças sociais. Um advogado egípcio, Ayman Mahfouz, afirmou que o filme era uma “conspiração para perturbar a paz da sociedade árabe” e que Zaki era a “campeã” de tudo. Este mesmo advogado – que em 2020 processou o filho transgênero do ator egípcio Hesham Selim por um post no Instagram por supostamente promover a homossexualidade – está preparando um processo para remover a produção da Netflix. O filme também foi atacado pelo político egípcio Mustafa Bakri, que em comunicado ao presidente da Câmara dos Deputados do Egito disse que ele “incita a homossexualidade e a infidelidade”. No Egito, ao contrário dos países do Golfo Pérsico, a homossexualidade não é oficialmente ilegal, embora seja costumeiramente reprimida na sociedade. Apesar da reação feroz, o longa também recebeu apoio de segmentos progressistas da comunidade árabe, com muitas pessoas elogiando tanto o enredo – por levantar tópicos da vida real muitas vezes ignorados – quanto a própria produção, ao mesmo tempo em que criticam as atitudes retrógradas daqueles que o atacam. “Árabes enlouquecendo por causa de um filme que mostra cônjuges infiéis, adolescentes sendo adolescentes, personagens gays… me faz perceber que não estamos nem 1% perto de discutir temas como seres civilizados em vez de nos fecharmos em uma bolha hipócrita reprimida”, disse um usuário do Twitter, em meio a uma campanha com uma hashtag que se traduz como #EuTambémSouUmPefeitoDesconhecido. Uma das maiores estrelas internacionais do Egito, Amr Waked, foi além e tuitou que qualquer um que estivesse “com medo” de que um filme pudesse mudar sua fé não tinha fé. Graças à polêmica, “Perfeitos Desconhecidos” tem sido um grande sucesso até agora, liderando as paradas de visualização da Netflix na região e chamando a atenção do mundo. Na França, atualmente é o sexto título mais popular da plataforma. Veja abaixo o trailer do filme dublado em português.
Trailer revela antologia de curtas feita por diretores famosos em quarentena
A Netflix divulgou o pôster e o trailer de “Feito em Casa” (Homemade), uma antologia de curtas realizados durante a quarentena preventiva contra a pandemia de covid-19, assinada por uma equipe seleta – e impressionante – de 17 cineastas de várias regiões do mundo. A prévia dá uma ideia de como são variadas e criativas as histórias materializadas sem ajuda de equipe e nas condições de cada diretor em isolamento social. Cada curta tem de cinco a sete minutos e uma das curiosidades da produção é que ela registra a primeira parceria entre o diretor chileno Pablo Larrain (“Neruda”) e a atriz americana Kristen Stewart (“As Panteras”), que vão trabalhar juntos a seguir em “Spencer”, cinebiografia da princesa Diana. Larrain é o produtor do projeto e ele encomendou um dos curtas a Stewart, que fez em Los Angeles seu segundo trabalho no formato, após estrear como curtametragista em “Come Swim”, de 2017. Ela não é a única atriz americana a assinar um dos curtas. Maggie Gyllenhaal contribuiu com um filme de Vermont, fazendo sua estreia como diretora, antes de lançar seu primeiro longa na função, “The Lost Daughter”, adaptação de Elena Ferrante estrelada por Dakota Johnson. Seu curta é estrelado por seu parceiro, o ator Peter Sarsgaard – e, segundo Larrain, é o mais surpreendente de todos. Além das atrizes, outra “iniciante” é a diretora de fotografia Rachel Morrison (“Pantera Negra”), que também assina um dos curtas na véspera de descortinar seu primeiro longa, “Flint Strong”, cinebiografia de uma boxeadora olímpica. Mas a lista também inclui cineastas experientes e premiados, como o italiano Paolo Sorrentino (“A Grande Beleza”), a japonesa Naomi Kawase (“Esplendor”), o malinês Ladj Ly (“Os Miseráveis”), o casal libanês Nadine Labaki e Khaled Mouzanar (“Cafarnaum”), a zambiana Rungano Nyoni (“Eu Não Sou uma Bruxa”), a mexicana Natalia Beristáin (“No Quiero Dormir Sola”), o alemão Sebastian Schipper (“Victoria”), o chinês Johnny Ma (“Viver para Cantar”), as britânicas Gurinder Chadha (“A Música da Minha Vida”), de origem indiana, e Ana Lily Amirpour (“Garota Sombria Caminha pela Noite”), de origem iraniana, o americano filho de brasileiros Antonio Campos (“Simon Assassino”), o chileno Sebastián Lelio (“Uma Mulher Fantástica”) e, claro, o próprio Larrain, que descreve a experiência da antologia como um “festival de cinema muito estranho, bonito e único”. O filme estreia na próxima terça, dia 30 de junho, em streaming.
Oscar 2019: Roma atinge recorde de indicações para filme estrangeiro na premiação
As indicações ao Oscar 2019 refletem uma internacionalização da premiação do cinema americana, marcada pela inclusão de diversos filmes de línguas estrangeiras em categorias importantes. Falado em espanhol, “Roma” foi o filme com mais destaque na lista divulgada nesta terça (22/1) pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos. Disputando prêmios em 10 categorias, igualou o recorde de “O Tigre e o Dragão”, primeiro filme estrangeiro a obter uma dezena de indicações ao Oscar – venceu quatro em 2001. Além de “Roma”, o polonês “Guerra Fria”, de Pawel Pawlikowski, destacou-se em três categorias, incluindo Direção e Fotografia, em que enfrentará o filme de Cuarón. Os dois ainda disputarão com o alemão “Never Look Away’, de Florian Henckel von Donnersmarck, o Oscar de Melhor Fotografia. Os três filmes ainda fazem parte da acirrada categoria de Melhor Filme em Língua Estrangeira, que também inclui o drama libanês “Cafarnaum”, de Nadine Labaki, e o japonês “Assunto de Família”, de Hirokazu Kore-eda. Além destes, o filme japonês “Mirai” entrou na lista de Melhor Animação, a produção síria-alemã “Of Fathers and Sons” na disputa de Documentário, e o drama sueco “Border” na categoria de Melhor Maquiagem e Penteado. Para completar, a Academia indicou o grego Yorgos Lanthimos na disputa de Melhor Direção por “A Favorita”. Esta dramédia de época é, por sinal, uma produção britânica. E empatou com “Roma” em quantidade de nomeações ao Oscar 2019. Ambos são coproduções com os Estados Unidos, mas é relevante que um longa essencialmente mexicano e uma produção essencialmente britânica tenham dominando a premiação do cinema americana. E isto é sintomático da abertura cada vez maior da Academia para eleitores estrangeiros, privilegiando a visão de cineastas de vários cantos do mundo. Entretanto, com reflexos inesperados, já que os estrangeiros não valorizaram a produção independente americana. Vale reparar, por isso, que os filmes estrangeiros são os que possuem maior aprovação da crítica entre os títulos que disputam o Oscar 2019. E isto se dá pela ausência maciça de representantes do cinema de qualidade feito nos Estados Unidos. No lugar de filmes independentes premiados, o Oscar estendeu seu tapete vermelho para obras americanas mais convencionais, de sucesso comercial e apelo popular, como “Pantera Negra”, “Bohemian Rhapsody” e “Nasce uma Estrela”, conhecidas por todo mundo.
Fora do Oscar, Brasil completa 20 anos sem disputar Melhor Filme em Língua Estrangeira
Conforme esperado, o Brasil ficou fora da lista de candidatos pré-selecionados para disputar o Oscar 2019 de Melhor Filme em Língua Estrangeira. O comitê organizador da premiação anunciou uma pré-seleção com nove filmes que irão disputar as indicações oficiais, e o representante brasileiro não passou do primeiro corte. Fato é que “O Grande Circo Místico” não aparecia nas previsões da imprensa internacional por não ter vencido – nem sequer disputado – prêmio algum. Além disso, tinha sido massacrado pelos críticos americanos ao ser projetado, fora de competição, no Festival de Cannes. Mesmo assim, foi selecionado pela Academia Brasileira de Cinema, num menosprezo à boa repercussão e premiação internacional de outros trabalhos mais cotados. Pesou o nome de seu diretor, Cacá Diegues. Mas só para a Academia Brasileira. A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos preferiu, obviamente, selecionar obras com comprovada aprovação no circuito dos festivais – algo de que “O Grande Circo Místico” jamais dispôs. Entre os selecionados, estão o japonês “Assunto de Família”, de Hirokazu Koreeda, vencedor do Festival de Cannes, o mexicano “Roma”, de Alfonso Cuarón, vencedor do Festival de Veneza, o polonês “Guerra Fria”, de Pawel Pawlikowski, vencedor do European Film Awards (o “Oscar europeu”), o libanês “Cafarnaum”, de Nadine Labaki, vencedor do Prêmio do Júri em Cannes, o sul-coreano “Em Chamas”, de Lee Chang-dong, premiado pela crítica em Cannes, e outros longas com passagens premiadas por festivais internacionais. Além de “Roma”, produção da Netflix de um diretor que já venceu o Oscar (por “Gravidade”), o cinema latino-americano é representado também pelo colombiano “Pássaros de Verão”, de Cristina Gallego e Ciro Guerra, vencedor do Festival de Havana. Vale observar ainda que a Netflix, embora festeje “Roma”, não conseguiu emplacar o belga “Girl”, de Lukas Dhont, que venceu a Câmera de Ouro no Festival de Cannes. Infelizmente, as opções mais competitivas do Brasil foram preteridas. “As Boas Maneiras”, de Juliana Rojas e Marco Dutra, além de vencedor do Festival do Rio, foi premiado em dezenas de festivais internacionais e conta com 92% de aprovação no site americano Rotten Tomatoes. “Benzinho”, de Gustavo Pizzi, filme mais premiado no Festival de Gramado, também encantou a crítica americana ao passar pelo Festival de Sundance, arrancando 93% de aprovação no site Rotten Tomatoes – como parâmetro, “A Forma da Água”, vencedor do Oscar 2018, tem 92% de aprovação. Assim, o cinema brasileiro completou 20 anos sem conseguir uma indicação ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira – desde “Central do Brasil”, em 1999. Agora, os nove filmes pré-selecionados passarão por nova peneira dos membros da Academia para serem reduzidos aos cinco indicados de sua categoria. Todos os indicados ao Oscar 2019 serão anunciados em 22 de janeiro e a cerimônia de premiação está marcada para 24 de fevereiro, com transmissão ao vivo para o Brasil pelos canais Globo e TNT. Vale lembrar que, mesmo fora da disputa de filme estrangeiro, o Brasil ainda pode emplacar representantes em outras categorias. A maior chance é de “Tito e os Pássaros” como Melhor Animação. Essa foi a categoria que rendeu a última indicação a uma produção brasileira no Oscar, com “O Menino e o Mundo”, em 2016. Em 2018, o diretor brasileiro Carlos Saldanha também teve um filme indicado como Melhor Animação, mas “Touro Ferdinando” era uma produção estrangeira. Foi o mesmo caso do produtor Rodrigo Teixeira, que participou da produção estrangeira “Me Chame pelo Seu Nome”, indicada a quatro Oscars. Confira abaixo as nove produções que seguem na disputa pelo Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira – e não “Melhor Filme Estrangeiro”, já que produções faladas em inglês do Reino Unido, Austrália, Canadá e outros países não concorrem nessa categoria. “Pássaros de Verão”, de Cristina Gallego e Ciro Guerra (Colômbia) “Culpa”, de Gustav Möller (Dinamarca) “Never Look Away”, de Florian Henckel von Donnersmarck (Alemanha) “Assunto de Família”, de Hirokazu Koreeda (Japão) “Ayka”, de Sergei Dvortsevoy (Cazaquistão) “Cafarnaum”, de Nadine Labaki (Líbano) “Roma”, de Alfonso Cuarón (México) “Guerra Fria”, de Pawel Pawlikowski (Polônia) “Em Chamas”, de Lee Chang-dong (Coreia do Sul)
Documentário Las Sandinistas! vence a Mostra de São Paulo 2018
O documentário “Las Sandinistas!”, da americana Jenny Murray, ganhou o Troféu Bandeira Paulista 2018 na 42ª Mostra Internacional de São Paulo, encerrada na noite de quarta (31/11). Retrato de mulheres que lutaram na Revolução Sandinista, na Nicarágua, em 1979, o filme também ganhou o Prêmio do Público na categoria de Melhor Documentário. O Prêmio de Público na categoria ficção internacional ficou com “Cafarnaum”, de Nadine Labaki, sobre um garoto libanês de 12 anos que processa os pais abusivos por lhe darem vida. O júri internacional da Competição Novos Diretores ainda concedeu menção honrosa ao longa brasileiro “Sócrates”, de Alex Moratto, sobre a via-crúcis do personagem-título, que enfrenta pobreza, violência, racismo e homofobia. Já o Prêmio Petrobras de Cinema foi para “Meio Irmão”, de Eliane Coster, e o documentário “Torre das Donzelas”, de Susanna Lira. O dinheiro da premiação – respectivamente R$ 200 mil e R$ 100 mil – deve ser aplicado na distribuição e lançamento dos títulos nacionais. “Meio Irmão”, que trata dos efeitos de uma agressão homofóbica nas redes sociais, também foi premiada pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Mas os críticos que fizeram a cobertura local da Mostra preferiram a comédia romântica “Todas as Canções de Amor”, de Joana Mariani, e como Melhor Filme Internacional o drama “Nuestro Tiempo”, do mexicano Carlos Reygadas.
Festival de Cannes consagra filmes sobre crianças abandonadas
O novo drama do cineasta japonês Hirokazu Kore-eda venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes 2018. O longa, que será lançado no Brasil com o título “Assunto de Família”, foi um dos muitos filmes a tratar de crianças rejeitadas no festival, resultado de uma seleção “família”, e por isso mesmo menos impactante que o costume. Kore-eda havia vencido o Prêmio do Júri em 2013 com outro filme do gênero, “Pais e Filhos”, que questionava a noção de paternidade biológica por meio da troca de bebês. Agora vai além, ao apresentar uma trama de adoção de uma criança abandonada, que é adotada por uma família de trambiqueiros pobres. É humanista e comoveu o júri presidido pela atriz australiana Cate Blanchett. Mas não deixa de evocar o clássico “Oliver Twist”, de Charles Dickens. O título em inglês é “Shoplifters”, escolhido para destacar que o pai ensina seus filhos a roubar e realizar pequenos trambiques, como o vilão Fagin na obra do começo do século 19. Entretanto, nesta fábula do século 21, os maus exemplos buscam resultado oposto, projetando empatia e solidariedade. O clima maternal também prevaleceu em outras premiações. Como “Capharnaüm”, da libanesa Nadine Labaki, sobre um menino de 12 anos que processa os próprios pais por negligência, vencedor do Prêmio do Júri, considerado a “medalha de bronze” do festival. Em seu agradecimento, Nadine dedicou o prêmio às criancinhas. “Espero que ele ajude de alguma forma a sanar o drama das crianças desprotegidas”. Mais um drama sobre crianças abandonadas, “Ayka”, do kazaque Sergei Dvortsevoy, que gira em torno de uma imigrante ilegal em Moscou obrigada a abandonar o filho que acaba de nascer, rendeu o troféu de Melhor Atriz para a intérprete da mãe, Samal Yeslyamova. Um dos poucos filmes sem sofrimento de crianças reconhecido pela premiação foi “BlacKkKlansman”, de Spike Lee, que ficou com o Grande Prêmio do Júri, a “medalha de prata”. A obra conta como um policial negro conseguiu se infiltrar, com ajuda de um policial judeu, na organização racista Ku Klux Klan nos anos 1970, mas, além de resgatar a história real, traça paralelos com os Estados Unidos de Donald Trump, confundindo slogans da KKK com os bordões que elegeram o atual presidente americano. Cate Blanchett fez questão de salientar que, apesar da pauta de reivindicações urgente que o mundo real impôs ao festival, o júri se comprometeu a julgar os filmes por suas qualidades e não pelas causas que defendiam. Vai ver que foi por isso que Spike Lee não venceu a Palma de Ouro, o que teria colocado o festival em outro tom, menos próximo das novelas. Apesar desse discurso, porém, um prêmio dois-em-um sugeriu uma certa homenagem às causas políticas descortinadas pelo evento. O troféu de Melhor Roteiro foi compartilhado pela italiana Alice Rohrwacher, uma das três mulheres entre os 21 diretores na disputa pela Palma, pela parábola bíblica “Lazzaro Felice”, e o iraniano Jafar Panahi, um dos dois cineastas presos da seleção, por “3 Faces”. O troféu de Melhor Ator ficou com o italiano Marcello Fonte, como o dono de uma pet shop em “Dogman”, de Matteo Garrone, que se vê obrigado a tomar uma atitude contra um arruaceiro violento. Completando a premiação tradicional, o troféu de Melhor Direção foi concedido ao polonês Pawel Pawlikowski por “Cold War”, trabalho de enquadramentos rigorosos e elipses temporais, que conta uma história de amor entre dois músicos. Trata-se de mais uma obra-prima em preto-e-branco do diretor de “Ida”, vencedor do Oscar de Melhor Filme de Língua Estrangeira em 2015. Por fim, sem saber o que fazer com Jean-Luc Godard, que já não faz mais cinema, mas lançou um “filme” no festival, o júri inventou um prêmio inédito, chamado de Palma de Ouro Especial, como forma de homenagear o velho iconoclasta, que embora não fosse um dos dois diretores presos, foi um dos três ausentes do evento, realizando sua entrevista coletiva por celular. Já o juri da Câmera de Ouro, presidido pela cineasta francesa Ursula Meier, concebeu o troféu de melhor filme de estreante a “Girl”, do belga Lukas Dhont. Exibido na seção Um Certo Olhar, conta a história de um adolescente trans que nasceu menino e sonha se tornar uma bailarina. A obra já tinha vencido o troféu Palma Queer, de melhor filme de temática LGBT do festival. Antes de conferir abaixo a lista dos vencedores da mostra competitiva, vale lembrar que, apesar de ausentes da mostra competitiva, representantes do cinema brasileiro brilharam nos eventos paralelos, conquistando quatro prêmios. Único filme 100% brasileiro, “O Órfão”, de Carolina Markowicz, exibido na mostra Quinzena dos Realizadores, ganhou a Palma Queer de melhor curta. E, vejam só, também trata de criança rejeitada. “Skip Day”, documentário codirigido pelo americano Patrick Bresnan e a brasileira Ivete Lucas, venceu o prêmio de Melhor Curta da Quinzena dos Realizadores. “Chuva É Cantoria na Aldeia dos Mortos”, longa sobre índios brasileiros, codirigido pelo português João Salaviza e a brasileira Renée Nader Messora, venceu o Prêmio Especial do Júri da mostra Um Certo Olhar. Por fim, “Diamantino”, coprodução de Brasil, Portugal e França, dirigida pelos portugueses Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, conquistou o Grande Prêmio da Semana da Crítica de Cannes. E, para constar, sua história surreal sobre um craque de futebol, envolve planos de adoção de crianças abandonadas em meio à crise de refugiados. Vinde a Cannes as criancinhas. Premiados na competição oficial do Festival de Cannes 2018 Palma de Ouro: “Assunto de Família” (Shoplifters), de Hirokazu Kore-eda Palma de Ouro Especial: Jean-Luc Godard, por “Le Livre d’Image” Grand Prix: “BlackKklansman”, de Spike Lee Prêmio Especial do Júri: “Capharnaüm”, de Nadine Labaki Melhor Direção: Pawel Pawlikowski, por “Cold War” Melhor Atriz: Samal Yesyamova, por “Ayka” Melhor Ator: Marcello Fonte, por “Dogman” Melhor Roteiro: Alice Rohrwacher, por “Lazzaro Felice”, e Nader Saeivar e Jafar Panahi, por “3 Faces” Câmera de Ouro (filme de estreia): “Girl”, de Lukas Dhont Olho de Ouro (documentário): “Samouni Road”, de Stefano Savona
Festival de Cannes começa sob pressão do streaming e do empoderamento feminino
O Festival de Cannes 2018, que inicia nesta terça-feira (8/5), busca um equilíbrio impossível em meio a abalos tectônicos de velhos paradigmas, num período agitado de mudanças para o cinema mundial. Saudado por sua importância na revelação de grandes obras, que pautarão o olhar cinematográfico pelo resto do ano, o evento francês também enfrenta críticas por seu conservadorismo, ignorando demandas femininas e o avanço do streaming. Mas sua aposta para manter-se relevante é a mesma de sempre: a politização do evento. Os carros-chefes do festival desde ano não são obras de diretores hollywoodianos, mas de cineastas considerados prisioneiros políticos, o iraniano Jafar Panahi e o russo Kirill Serebrennikov, que estão em prisão domiciliar em seus países. Ambos vão disputar a Palma de Ouro. O caso de Panahi é um fenômeno. Desde que foi preso e proibido de filmar, já rodou quatro longas, contando o atual “Three Faces”. Do mesmo modo, o evento se apresenta como aliado de um cineasta que enfrenta dificuldades legais para exibir seu filme, programando “The Man Who Killed Don Quixote” (O Homem que Matou Dom Quixote, em tradução literal), de Terry Gilliam, apesar da disputa jurídica que impede sua projeção – um conflito entre o diretor e o produtor, Paulo Branco, que exige o cancelamento da exibição. O mérito da questão está atualmente em análise pelos tribunais franceses. Em comunicado, o presidente do festival Pierre Lescure e o delegado geral Thierry Frémaux afirmaram que Cannes “respeitará a decisão” que será tomada pela Justiça “seja ela qual for”. Mas ressaltaram no texto seu compromisso com o cinema. Após citar que os advogados de Branco prometeram uma “derrota desonrosa” ao festival, afirmaram que a única derrota “seria ceder à ameaça”, reiterando que “os artistas necessitam mais que nunca que sejam defendidos, não atacados”. Para completar esse quadro, digamos, quixotesco, Cannes também decidiu suspender o veto ao cineasta dinamarquês Lars von Trier, que tinha sido considerado “persona non grata” no evento em 2011, após uma entrevista coletiva desastrosa, em que afirmou sentir simpatias por Hitler – num caso de dificuldade de expressão numa língua estrangeira, o inglês. A mensagem do evento é bastante clara. Mas sua defesa da luta de homens contra a opressão e a censura segue ignorando a luta das mulheres. Como já é praxe e nem inúmeros protestos e manifestos parecem modificar, filmes dirigidos por mulheres continuam a ser minoria absoluta no evento francês. Apenas três diretoras estão na disputa pelo principal prêmio: a francesa Eva Husson, a libanesa Nadine Labaki e a italiana Alice Rohrwacher. Diante desse quadro, os organizadores buscaram uma solução curiosa, aumentando a presença feminina no juri do evento – com a inclusão da diretora americana Ava DuVernay (“Uma Dobra no Tempo”), a cantora e compositora Khadja Nin, do Burundi, e as atrizes Kristen Stewart (“Personal Shopper”) e a francesa Léa Seydoux (“Azul É a Cor Mais Quente”), D sob a presidência da australiana Cate Blanchett (“Thor: Ragnarok”). Assim, mulheres poderão votar nos melhores candidatos homens, mais ou menos como acontece na política eleitoral. Obviamente, não se trata de solução alguma. E para adicionar injúria à falta de igualdade, o “perdão” a Lars Von Trier representa um tapa na cara do movimento #MeToo. Seu retorno acontece em meio a escândalos sexuais cometidos em seu estúdio e graves acusações de abusos, reveladas numa reportagem da revista The New Yorker e por uma denúncia da cantora Bjork, que contou detalhes das filmagens de “Dançando no Escuro”, musical que rendeu justamente a Palma de Ouro ao diretor no festival de 2000. Bjork relatou nas redes sociais algumas das propostas indecentes que ouviu e as explosões de raiva do “dinarmaquês” (que ela não nomeia) por se recusar a ceder, enquanto a reportagem da New Yorker descortinou o “lado negro” da companhia de produção Zentropa, criada pelo diretor. Segundo a denúncia, Von Trier obrigava todos os empregados da Zentropa a se despirem na sua frente e nadar nus com ele e seu sócio, Peter Aalbaek Jensen, na piscina do estúdio. Em novembro, a polícia da Dinamarca iniciou uma investigação sobre denúncias de assédio na Zentropa. Entrevistadas pelo jornal dinamarquês Politiken, nove ex-funcionárias revelaram que pediram demissão por não aguentarem se submeter ao assédio sexual e bullying diários. Considerando que o próprio festival francês estabeleceu um “disque denúncia sexual” este ano, como reação tardia à denúncias de abusos cometidos durante eventos passados em Cannes, a decisão de “perdoar” Lars Von Trier sofre, no mínimo, de mau timing. Também há um componente de inadequação na disputa do festival com a Netflix. Afinal, não é a definição de “cinema” que está em jogo – filme é filme, independente de onde seja visto, a menos que se considere que a exibição do vencedor de uma Palma de Ouro na TV o transforme magicamente em algo diferente, como um telefilme. Trata-se, no fundo, na velha discussão da regulamentação/intervencionismo estatal. O parque exibidor francês conta com o apoio das leis mais protecionistas do mundo, que estabelecem que um filme só pode ser exibido em vídeo ou streaming na França três anos após passar nas salas de cinema do país – a chamada janela de exibição. Trata-se do modelo mais extremo da reserva de mercado – como comparação, a janela é de três meses nos Estados Unidos – , e ele entrou em choque com o outro extremo representado pela Netflix, que defende a janela zero, na qual um filme não precisa esperar nenhum dia de diferença entre a exibição no cinema e a disponibilização em streaming. No ano passado, Cannes ousou incluir dois filmes produzidos pela Netflix na disputa da Palma de Ouro, “Okja”, de Bong Joon-ho, e “Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe”, de Noah Baumbach. E sofreu enorme pressão dos exibidores, a ponto de ceder aos protestos, de forma oposta à valentia que demonstra para defender cineastas com problemas em outros países. Em entrevista coletiva do evento deste ano, Thierry Fremaux afirmou que a participação dos filmes da Netflix “causou enorme controvérsia ao redor do mundo”. Um grande exagero, já que a polêmica foi toda local. “No ano passado, quando selecionamos dois de seus filmes, achei que poderia convencer a Netflix a lançá-los nos cinemas. Eu fui presunçoso: eles se recusaram”, disse Fremaux. “As pessoas da Netflix adoraram o tapete vermelho e gostariam de nos mostrar mais filmes. Mas eles entenderam que sua intransigência em relação ao modelo (de negócios) colide com a nossa”. A Netflix poderia, no entanto, exibir filmes em sessões especiais do festival, fora da competição oficial, disse Fremaux. Ao que Ted Sarandos, diretor de conteúdo da Netflix, retrucou: “Há um risco se seguirmos por esse caminho, de nossos cineastas serem tratados desrespeitosamente no festival. Eles definiram o tom. Não acho que será bom para nós participarmos”. Em jogo de cena, os organizadores de Cannes lamentaram a decisão da plataforma de streaming. E, ao fazer isso, assumiram considerar que os filmes da Netflix não são apenas filmes, mas filmes que poderiam fazer falta na programação do próprio festival. Ao mesmo tempo, a Netflix pretende adquirir as obras que se destacarem no evento. Já fez isso no passado, quando comprou “Divines”, vencedor da Câmera de Ouro, como melhor filme de diretor estreante no Festival de Cannes de 2016. E estaria atualmente negociando os direitos, simplesmente, do longa programado para abrir o evento deste ano, “Todos lo Saben”, novo drama do iraniano Asghar Farhadi, vencedor de dois Oscars de Melhor Filme em Língua Estrangeira, que é estrelado pelo casal espanhol Penélope Cruz e Javier Bardem, além do argentino Ricardo Darín. O resultado dessa disputa deixa claro que um festival internacional está sujeito a descobrir que o mundo ao seu redor é vastamente maior que interesses nacionais possam fazer supor. Mas não é necessariamente um bom resultado. Afinal, a política de aquisições da Netflix já corrói de forma irreversível o Festival de Sundance, com repercussões no próprio Oscar. Considere que o filme vencedor de Sundance no ano passado simplesmente sumiu na programação da Netflix, sem maiores consequências. E a concorrência com a plataforma fez a HBO tirar do Oscar 2019 o filme mais falado de Sundance neste ano, programando-o para a televisão. Assim, a recusa “pro forma” de Cannes apenas demonstra seu descompasso com o mundo atual. Não é fechando a porta à Netflix que o streaming vai deixar de avançar. O cinema está numa encruzilhada. Enquanto se discute a defesa da arte e o pacto com o diabo, um trem avança contra os que estão parados. Fingir-se de morto não é mais tática aceitável. Olhar para trás é importante, como nos pôsteres do festival, que celebram a nostalgia, assim como olhar para os lados e, principalmente, para a frente. Este barulho ensurdecedor são os freios do trem. É bom que todos abram os olhos, se quiserem sobreviver.
Festival de Cannes anuncia seleção de 2018 com filmes de Spike Lee, Godard e Jia Zhangke
O presidente do Festival de Cannes, Thierry Fremaux, anunciou nesta quinta (12/4) a leva inicial de filmes que serão exibidos no evento deste ano. Apesar da inclusão de alguns realizadores bastante conhecidos dos cinéfilos, houve um certo anticlímax na revelação, já que poucos filmes listados despertaram expectativas. O que mais chamou atenção foi a inclusão de novos longas de dois cineastas considerados prisioneiros políticos, o iraniano Jafar Panahi e o russo Kirill Serebrennikov, que estão em prisão domiciliar em seus países. Ambos vão disputar a Palma de Ouro. O caso de Panahi é um fenômeno. Desde que foi preso e proibido de filmar, já rodou quatro longas, contando o atual “Three Faces”. A 71ª edição do festival selecionou – até o momento – apenas dois diretores americanos: Spike Lee, que volta a Cannes depois de 27 anos – após “Febre da Selva” (1991) – e David Robert Mitchell, que lançou seus dois filmes anteriores na mostra paralela Semana da Crítica. Desta vez, ele vai competir pela Palma de Ouro com “Under The Silver Lake”, que teve seu trailer revelado. Já o filme de Spike Lee é “BlacKkKlansman”, história de um policial afro-americano que consegue se infiltrar na organização racista Ku Klux Klan. O festival também voltará a receber velhos habitués da Croisette, como o o japonês Hirokazu Kore-Eda, o italiano Matteo Garrone, o chinês Jia Zhangke e o veterano cineasta francês Jean-Luc Godard, atualmente com 87 anos de idade. A aparição mais celebrada na lista, porém, é de um estreante em Cannes, o polonês Pawel Pawlikowski, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2015 por “Ida”. Seu novo filme “Cold War” marca o retorno de uma produção polonesa à disputa da Palma de Ouro após duas décadas de ausência na competição. Como já é praxe e nem os últimos avanços parecem modificar, filmes dirigidos por mulheres continuam a ser minoria absoluta no evento. Apenas três diretoras estão na disputa pelo principal prêmio: a francesa Eva Husson, a libanesa Nadine Labaki e a italiana Alice Rohrwacher. Apesar disso, o júri da Palma de Ouro de Cannes será presidido por uma mulher, a atriz australiana Cate Blanchett, enquanto outra, a diretora francesa Ursula Meier, tem a responsabilidade de eleger o melhor filme de cineasta estreante para a premiação da Câmera de Ouro. Dois filmes de diretores brasileiros ganharão exibições fora de competição. Haverá uma sessão especial com a estreia mundial do musical “O Grande Circo Místico” (2016) de Cacá Diegues, e a projeção, entre as sessões à meia-noite, de “Artic”, drama de sobrevivência estrelado pelo dinamarquês Mads Mikkelsen, assinado pelo paulista estreante em longas Joe Penna. Com abertura de “Todos lo Saben”, longa-metragem rodado em espanhol pelo iraniano Asghar Farhadi, o Festival de Cannes 2018 vai acontecer entre os dias 8 e 19 de maio – sem filmes da Netflix, sessões adiantadas para a imprensa e selfies no tapete vermelho. Veja abaixo, a primeira lista de filmes selecionados. MOSTRA COMPETITIVA “Todos lo Saben”, Asghar Farhadi (Irã) “Le livre d’image”, Jean-Luc Godard (França) “BlacKkKlansman”, Spike Lee (EUA) “Three Faces”, Jafar Panahi (Irã) “Cold War”, Pawel Pawlikowski (Polônia) “Leto”, Kirill Serebrennikov (Rússia) “Lazzaro Felice”, Alice Rohrwacher (Itália) “Under The Silver Lake”, David Robert Mitchell (EUA) “Capernaum”, Nadine Labaki (Líbano) “At War”, Stephane Brizé (França) “Asako I&II”, Ryusuke Hamaguchi (Japão) “Sorry Angel”, Christophe Honoré (França) “Dogman”, Matteo Garrone (Itália) “Girls of the Sun”, Eva Husson (França) “Yomeddine”, A.B Shawky (Egito) “Burning”, Lee-Chang Dong (Coreia do Sul) “Shoplifters”, Kore-Eda Hirokazu (Japão) “Ash Is Purest White”, Jia Zhang-Ke (China) SESSÕES ESPECIAIS “Dead Souls”, Wang Bing (China) “10 Years In Thailand”, Aditya Assarat, Wisit Sasanatieng, Chulayarnon Sriphol & Apichatpong Weerasethakul (Tailândia) “Pope Francis – A Man Of His Word”, Wim Wenders (Alemanha) “La Traversée”, Romain Goupil (França) “To The Four Winds”, Michel Toesca (França) “O Grande Circo Místico”, Carlos Diegues (Brasil) “The State Against Mandela And The Others”, Nicolas Champeaux & Gilles Porte (França) SESSÕES DA MEIA-NOITE “Arctic”, Joe Penna (Brasil) “The Spy Gone North”, Yoon Jong-Bing (Coreia do Sul) FORA DE COMPETIÇÃO “Le Grand Bain”, Gilles Lellouche (França) “Han Solo: Uma História Star Wars”, Ron Howard (EUA) MOSTRA UM CERTO OLHAR “Long Day’s Journey Into Night”, Bi Gan (China) “Little Tickles”, Andréa Bescond & Eric Métayer ( França) “Sofia”, Meyem Benm’Barek (França) “Border”, Ali Abbasi (Irã) “Sextape”, Antoine Desrosières (França) “The Gentle Indifference Of The World”, Adilkhan Yerzhanov (Cazaquistão) “El Ángel”, Luis Ortega (Argentina) “In My Room”, Ulrich Kohler (Alemanha) “The Harvesters”, Etienne Kallos (África do Sul) “My Favorite Fabric”, Gaya Jiji (Síria) “Friend”, Wanuri Kahiu (Quênia) “Euphoria”, Valeria Golino (Itália) “Angel Face”, Vanessa Filho (França) “Girl”, Lukas Dhont (Bélgica) “Manto”, Nandita Das (Índia)







