Filme mais polêmico vence Festival de Berlim 2018, que consagra obras femininas
O filme mais polêmico e divisivo do Festival de Berlim 2018 acabou consagrando-se vencedor do Urso de Ouro. “Touch Me Not”, da romena Adina Pintilie, que discute sexualidade, foi considerado o Melhor Filme pelo júri presidido pelo cineasta alemão Tom Tykwer, em cerimônia realizada na noite deste sábado (24/2) na capital da Alemanha. Resultado de uma pesquisa pessoal da realizadora, o filme usa personagens reais (entre eles, a própria diretora) dentro de uma narrativa ficcional, que buscam respostas para suas obsessões e fobias relacionadas ao contato íntimo. Com direito a muitas cenas de nudez e masturbação, a obra dividiu opiniões desde sua primeira projeção, tanto entre o público quanto entre a crítica, a ponto de levar pessoas a abandonar a sessão antes de seu final. Como se não bastasse, também é lento, contemplativo e semidocumental, o que o deixou de fora da maioria das listas compiladas pela imprensa dos 10 (isto mesmo, dez) melhores filmes do festival. “O que o filme propõe é: abra-se para o diálogo que o mundo a sua volta está oferecendo”, disse a diretora de 38 anos, estreante na ficção, ao receber seu prêmio. “Foi um longo processo, durante o qual a equipe inteira assumiu vários riscos, e agradeço a coragem deles. É uma oportunidade de mostrar uma forma diferente de fazer filmes”, concluiu. Além do Urso de Ouro, “Touch Me Not” também levou o prêmio de Melhor Filme de Diretor Estreante. A vitória de um filme dirigido por uma mulher alinha-se com a pauta dos movimentos reivindicatórios femininos, que ecoaram em paralelo durante todo o festival. E não foi o único destaque “de gênero” na premiação. O Grande Prêmio do Júri, segundo troféu mais importante do festival, foi para um longa de outra cineasta: “Mug”, da polonesa Malgorzata Szumowska, sobre um racista falastrão que literalmente arrebenta a cara. “Estou muito feliz de ser cineasta mulher”, ela exaltou, em seu agradecimento. A conquista dos principais troféus da premiação por “Touch Me Not” e “Mug” teve gosto especial para suas cineastas por se tratar justamente dos dois únicos filmes dirigidos por mulheres de toda a mostra competitiva. “Las Herederas”, do paraguaio Marcelo Martinessi, mas só com mulheres no elenco central, foi outro destaque da premiação com dois troféus: Melhor Atriz para Ana Brun e Novas Perspectivas. Uma curiosidade é que “Las Herederas” também tem uma diretora em seus bastidores, ao contar com coprodução da cineasta brasileira Júlia Murat (“Pendular”). O prêmio de Melhor Direção, porém, foi para um homem. E um velho conhecido. O cineasta americano Wes Anderson levou o Urso de Prata pela animação “Ilha de Cachorros”, que abriu o festival deste ano. Já o troféu de Melhor Roteiro ficou com a dupla mexicana Alonso Ruizpalacios e Manuel Alcalá por “Museo”, filme estrelado por Gael García Bernal, sobre o assalto a um museu em 1985. Para completar, o troféu de Melhor Ator ficou com o francês Anthony Bajon, protagonista de “La Prière”, em que interpreta um dependente de heroína que se se interna em uma comunidade religiosa para tratar do vício. “Las Herederas” era o único representante “brasileiro” na mostra competitiva do festival, mas outros quatro filmes nacionais se destacaram em premiações paralelas. Confira aqui. Vencedores do Festival de Berlim 2018 Melhor Filme: “Touch Me Not”, de Adina Pintilie Prêmio Especial do Júri: “Mug”, de Malgorzata Szumovska Prêmio Alfred Bauer para “filme que abre novas perspectivas”: “Las Herederas”, de Marcelo Martinessi Melhor Direção: Wes Anderson, por “Ilha de Cachorros” Melhor Atriz: Ana Brun, por “Las Herederas” Melhor Ator: Anthony Bajon, por “La Prière” Melhor Roteiro: Manuel Alcalá e Alonso Ruizpalacios, por “Museo” Prêmio Especial por “desempenho artístico excepcional”: Elena Okopnaya, pelo cenário de “Dovlatov” Melhor Filme de Diretor Estreante: “Touch Me Not”, de Adina Pintilie Melhor Documentário: “Waldheims Walzer”, de Ruth Beckermann Melhor Curta-metragem: “The Men Behind the Wall”, de Ines Moldavsky
Novo filme de José Padilha é selecionado pelo Festival de Berlim
O Festival de Berlim 2018 anunciou mais cinco títulos que estarão na competição deste ano. E entre eles está “Operação Entebbe”, o novo filme americano dirigido por José Padilha. O longa tem Rosamund Pike (“Garota Exemplar”) e Daniel Brühl (“Adeus, Lênin”) no elenco e é a quarta filmagem da mesma história, que já rendeu um filme israelense, “Operação Thunderbolt” (1977), com direção de Menahem Globus (dono do estúdio Cannon), além dos telefilmes americanos “Resgate Fantástico” (1976), estrelado por Charles Bronson (“Desejo de Matar”) e dirigido por Irvin Kershner (“O Império Contra-Ataca”), e “Vitória em Entebbe” (1976), com Kirk Douglas (“Spartacus”) e Linda Blair (“O Exorcista”). A trama dramatiza uma das missões de resgate e combate ao terror mais famosas de todos os tempos: o salvamento dos passageiros de um voo da Air France vindo de Tel Aviv, que teve sua trajetória desviada para Entebbe, em Uganda, por quatro sequestradores (dois palestinos e dois alemães) em 1976. Ameaçando matar a tripulação e os israelenses presentes no voo, os terroristas exigiam a libertação de dezenas de palestinos aprisionados por Israel, e contavam com o apoio do ditador de Uganda, Idi Amin Dada. Em resposta, o governo israelense mobilizou uma tropa de elite, composta por 100 combatentes, que invadiu o aeroporto, enfrentou o exército ugandense, matou os sequestradores e libertou os passageiros. Padilha já venceu um Urso de Ouro em Berlim em 2007, por “Tropa de Elite”. Mas “Operação Entebbe” será exibido fora de competição. Os outros filmes anunciados são “Unsane”, do americano Steven Sorderbergh, “Season of the Devil”, do filipino Lav Diaz, “Museo”, do mexicano Alonso Ruizpalacios e “Ága”, do búlgaro Milko Lazarov. Entre os filmes anteriormente divulgados, há um destaque brasileiro na competição, graças à coprodução internacional: “Las Herederas”, dirigido pelo paraguaio Marcelo Martinessi. Cineastas brasileiros ainda emplacaram três documentário na mostra Panorama, paralela à competição principal. São eles “Aeroporto Central”, de Karim Aïnouz, “Ex-Pajé”, de Luiz Bolognesi, e “Bixa Travesty”, de Claudia Priscilla e Kiko Goifman. Para completar, “Unicórnio”, de Eduardo Nunes (“Sudoeste”), integrará a seção Generation 2018, dedicada a títulos com temas ligados aos jovens. O diretor e a atriz Patrícia Pillar irão a Berlim para acompanhar a exibição. O 68º Festival de Berlim começa no dia 15 de fevereiro, com a exibição de “Isle of Dogs”, animação de Wes Anderson, e termina dia 25, com a entrega dos Ursos de Ouro e Prata. O júri da competição deste ano é presidido pelo cineasta alemão Tom Tykwer (do cultuado “Corra, Lola, Corra” e “A Viagem”).

