Chica Xavier (1932 – 2020)
A atriz Chica Xavier morreu na madrugada deste sábado (8/8) no Rio de Janeiro, vítima de um câncer de pulmão, aos 88 anos. Ela estava internada no Hospital Vitória, na Barra da Tijuca, e não resistiu a complicações da doença. Nascida em Salvador em 1932, Francisca Xavier Queiroz de Jesus se mudou para o Rio de Janeiro em 1953 para estudar teatro. Depois de se destacar na histórica peça “Orfeu da Conceição”, encenada no Teatro Municipal do Rio em 1956, ela teve mais de 40 anos de carreira como atriz – no teatro, na televisão e no cinema. A estreia no cinema aconteceu em 1962, no clássico “Assalto ao Trem Pagador” (1962), de Roberto Farias. Na década seguinte, fez a primeira novela, “Os Ossos do Barão” (1973). Só na TV foram mais de 50 personagens. Ela participou de 26 novelas, entre elas “Saramandaia” (1976), “Dancin’ Days” (1978), “Coração Alado” (1980), “Sinhá Moça” (1986, na qual contracenou com o ator Gésio Amadeu, morto essa semana em decorrência da covid-19), “Renascer” (1993), “Pátria Minha” (1994), “O Rei do Gado” (1996), “Força de um Desejo” (1999), “Esperança” (2002) e “Cheias de Charme” (2012), seu último trabalho na Globo. Também atuou em 11 minisséries e 10 especiais na Globo, além de produções do canal Futura, da Band e e da Manchete. No cinema, foram 11 filmes, incluindo o nigeriano “A Deusa Negra” (1979) até obras mais recentes como “A Partilha” (2001), “Nosso Lar” (2010) e “Mulheres no Poder” (2016). Seus trabalhos sempre foram marcados pela representatividade negra. Tanto que, em 2010, ela recebeu o Troféu Palmares, concedido pela Fundação Palmares e o então Ministério da Cultura por sua contribuição às artes e à cultura afro-brasileira. Chica também era mãe de santo na Irmandade do Cercado do Boiadeiro, terreiro que fundou há quase 40 anos, o que a inspirou a lançar um livro reunindo suas cantigas religiosas de umbanda e a levou a muitos papéis ligados à espiritualidade. A atriz era casada com o ator Clementino Kelé desde que os dois contracenaram em “Orfeu da Conceição”, e teve três filhos e três netos. Uma de suas netas, a também atriz Luana Xavier, definiu Chica como uma “mulher de amor e de fé” e destacou sua importância na luta pela representatividade negra. “Ela sempre levantou a bandeira dela pela negritude, principalmente dentro do trabalho dela como uma artista. Ser uma artista negra no Brasil foi sem dúvidas a maior bandeira que ela pôde carregar, e sempre exaltando a importância de termos outros artistas pretos na TV”, disse Luana ao jornal O Globo. As homenagens se multiplicaram nas redes sociais. No Instagram, Lázaro Ramos escreveu: “Obrigado Dona Chica por inspirar e se doar como se doou. Obrigado pelo amor e talento que nos ofereceu. Obrigado por ser a prova da possibilidade de um amor duradouro como o seu com Seu Lelé. E obrigado por ser essa presença nobre que a senhora era em cada aparição na televisão. Pra um jovem sonhador foi o sinal que eu precisava para saber que era possível” Taís Araujo também demonstrou sua admiração por Chica Xavier. “O céu recebe hoje a nobreza. Entre nós vivia uma nobre, uma rainha elegante, sábia, afetuosa, agregadora, ombro e colo para muitos. Salve a rainha Chica Xavier!”, escreveu no Instagram. Babu Santana lamentou: “Perdemos hoje uma mulher que era referência artística e religiosa de enorme importância na nossa cultura”. E Cacau Protásio lembrou: “Eu cresci vendo essa mulher abrindo portas, ela me fez acreditar que seria possível. Vai com Deus! Obrigada”.
Angry Birds é a única estreia ampla da semana
A falta de salas disponíveis aumenta cada vez mais a concentração dos lançamentos no país. Nesta semana, apenas um longa-metragem terá distribuição ampla. E a diferença para a segunda maior estreia é de mais de mil salas. O mercado já nem se importa em disfarçar a segregação. A grande estreia é a animação “Angry Birds – O Filme”, primeiro longa-metragem baseado num aplicativo. A produção infantil, em que um trio de pássaros excluídos enfrenta um exército de porcos verdes mal-intencionados, vai ocupar 1.070 salas (572 delas com exibição em 3D). A produção só chega na próxima semana nos EUA, mas o Rotten Tomatoes já agregou críticas suficientes para defini-la como medíocre (50% de aprovação). No Brasil, os personagens, que tem vozes de atores famosos de Hollywood, serão dublados pelos youtubers irmãos Piologo e Pathy dos Reis e os humoristas Marcelo Adnet e Dani Calabresa. Como não há salas suficientes nos shoppings, todas as demais estreias disputam o circuito limitado. Inclusive uma comédia brasileira que, em outra época, talvez pudesse sonhar com sucesso. O problema é que seu timing também é desastrado. “Mulheres no Poder”, sobre um esquema de corrupção política elaborado por um grupo de mulheres, estreia no mesmo dia em que Dilma Rousseff foi afastada da presidência do país. Se, por um lado, não há besteirol capaz de superar a comédia pastelão vislumbrada no Congresso durante o processo de Impeachment, por outro, nem o período trágico da “Presidenta” merecia ser evocado com humor tão machista. O filme de Gustavo Acioli (“Incuráveis”) chega a somente 14 salas, garantindo seu fracasso. A melhor opção da semana é o longa italiano “O Conto dos Contos”, de Matteo Garrone (“Gomorra”), que materializa um mundo de fantasia visceral, de reis adúlteros e rainhas que devoram corações de dragão, em imagens tão belas quanto nauseantes. A obra é baseada nas fábulas medievais de Giambattista Basile (1566-1632), mas suas cenas de nudez e violência são mais indicadas para fãs de “Game of Thrones” que para o público de “O Caçador e a Rainha do Gelo”. Vencedor do David di Donatello (o Oscar italiano) de Melhor Direção, o longa tem 79% de aprovação no Rotten Tomatoes. Também acima da média, “Memórias Secretas”, de Atom Egoyan (“Sem Evidências”), leva a 32 salas uma combinação volátil de Holocausto e filme de vingança da Terceira Idade, acompanhando o plano de dois velhos judeus sobreviventes dos horrores nazistas, determinados a ajustar contas com o nazista que massacrou suas famílias e chegou à velhice impune. Melhor Roteiro Canadense do ano passado, segundo a Academia de Cinema e TV do Canadá, o longa tem 71% de aprovação no Rotten Tomatoes e destaca grandes performances de seus protagonistas, os veteranos Christopher Plummer (“O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus”) e Martin Landau (“Ed Wood”), ambos com mais de 85 anos de idade. Curiosamente, outra estreia também aborda o Holocausto, mas com tom bem diverso e em apenas quatro salas. O drama francês “Um Brinde à Vida”, de Jean-Jacques Zilbermann (“Aqui Entre Nós”), mostra o reencontro de três amigas que sobreviveram ao campo de concentração de Auschwitz. O fato de se passar durante a década de 1960, poucos anos após a 2ª Guerra Mundial, confere à produção uma carga mais reflexiva, demonstrando como a experiência alterou a percepção de vida daquelas mulheres. Para completar, há ainda dois filmes israelenses. “Demon” foi o último trabalho de Marcin Wrona (“O Batismo”), que se matou um dia após a première, aos 42 anos. Bastante original, gira em torno de uma assombração judaica que aterroriza um casamento católico na Polônia. Combinando humor e terror, “Demon” ganhou vários prêmios em festivais de cinema fantástico e estreia em 14 salas. O outro longa israelense é um documentário com coprodução argentina, “Nós, Eles e Eu”, de Nicolás Avruj (produtor de “Olhar Invisível”), que refaz o caminho de um rapaz de origem judaica por Israel e Palestina. Estreia em cinco salas.

