Morgan Freeman causa polêmica ao dizer que termo afro-americano é insulto
Uma entrevista do Morgan Freeman ao jornal britânico The Times tem gerado polêmica pelas declarações do ator de 85 anos. Negro, ele disse que não gosta que se refiram a ele como “afro-americano” (que se refere a americanos com ascendência africana) e acrescentou que o termo é um “insulto”. Freeman ainda criticou o mês da história negra, celebrado em fevereiro nos EUA, que também seria “um insulto”. Na entrevista, Freeman disse: “‘Afro-americano’ também é um insulto. Não me identifico com esse termo. Os negros foram chamados de nomes diferentes desde a ‘palavra com N’ (insulto racial grave na língua inglesa) e não sei como essas coisas pegam tanto, mas todo mundo usa ‘afro-americano’. O que isso realmente significa? A maioria dos negros nesta parte do mundo são mestiços”. Ele comparou o termo com outros títulos, como irlandeses-americanos ou ítalo-americanos, que se referem ao país e não ao continente, como ocorre em “afro-americano”. “Você diz África como se fosse um país quando é um continente, como a Europa.” Freeman ainda exemplificou que as pessoas falam “ítalo-americanos” e não “euro-americanos”. Sobre o mês da história negra, o ator disse: “É um insulto. Você vai relegar minha história a um mês?”. Apesar disso, o vencedor do Oscar declarou que tem orgulho de ser negro e concordou com uma fala do colega Denzel Washington, que disse: “Tenho muito orgulho de ser negro, mas negro não é tudo o que sou”. Esta não é a primeira polêmica envolvendo Morgan Freeman e as questões raciais. Em 2005, ele declarou que o único jeito de acabar com o racismo seria não falando sobre ele. Frequentemente, o vídeo com a fala é compartilhado nas redes sociais com intuito de diminuir pautas raciais. No entanto, em 2020, Freeman utilizou suas redes sociais para dar voz ao movimento “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam). Em um post no Instagram ele trouxe a legenda: “Lutar pela igualdade é uma celebração da independência. Lutar por vidas negras é uma celebração da independência”.
Filmes online: 10 documentários brasileiros para o Dia da Consciência Negra
Celebrado neste sábado (20/11), o Dia da Consciência Negra inspira reflexões. E nada melhor para isso que uma maratona de documentários. Sem exagero, a lista dos 10 títulos abaixo inclui alguns dos mais importantes trabalhos documentais sobre a questão racial já feitos no Brasil. O Negro da Senzala ao Soul | YouTube Produzido em 1977, o primeiro documentário televisionado sobte o movimento negro do Brasil foi feito pelo repórter Gabriel Priolli para a TV Cultura, na época em que o Departamento de Jornalismo do canal era comandado por Paulo Roberto Leandro e num momento em que a música soul e ideias de “black power” chegavam ao imaginário popular. Pioneiro, conseguiu driblar a censura para ir ao ar graças ao viés musical, mas foi seu claro engajamento que o fez circular em cópias piratas entre movimentos sociais. Um trecho do filme acabou reaparecendo em outro documentário da lista, “AmarElo”, do rapper Emicida. Ôri | NOW Lançado pela socióloga e cineasta Raquel Gerber em 1989, “Ôri” (consciência em Iorubá) documenta os movimentos negros brasileiros dos anos 1970 com comentários de uma mais maiores ativistas e pensadoras negras do país, Beatriz Nascimento (1942-1995). Levou 11 anos para ser concluído, porque parte do seu material foi apreendido pela ditadura militar. E já na época a diretora notou a ausência de imagens sobre a história negra no país, que nunca deixou de ser metodicamente apagada e destruída. A Negação do Brasil | YouTube Dirigido por Joel Zito Araújo, um dos maiores cineastas negros do país, “A Negação do Brasil” também é um dos mais importantes documentários da seleção. Lançado no ano 2000, conta a história dos negros na TV brasileira. Ou melhor, da falta de negros na TV brasileira, mostrando como eles foram escanteados, ignorados e até mesmo suprimidos da produção televisiva nacional, que só lhes permitia interpretar estereótipos, quando permitia, raramente reconhecendo o talento dos artistas. Menino 23 | Globoplay O filme de Belisário Franca acompanha as investigações de um historiador sobre tijolos marcados com suásticas nazistas, encontrados no interior de São Paulo, e acaba revelando uma história de terror, de meninos órfãos e negros, que foram submetidos a um projeto criminoso de eugenia pela elite política brasileira dos anos 1930. Falcão – Meninos do Tráfico | YouTube Produzido pelo rapper MV Bill e pelo centro de audiovisual da Central Única das Favelas, o filme de 2006 faz um relato duro da vida de jovens de favelas brasileiras, que pela falta de perspectivas são facilmente cooptados pelo tráfico de drogas. Durante as gravações, 16 dos 17 meninos entrevistados morreram, vítimas da violência na qual estavam inseridos. Exibido no “Fantástico”, o documentário teve ampla repercussão, mas nem a entrega simbólica de um DVD do filme nas mãos do então presidente Lula mudou a situação de abandono e omissão do Estado sobre o futuro das crianças das favelas brasileiras. Disponível de graça na página de MV Bill no YouTube. A Última Abolição | Globoplay O título se refere ao fato de o Brasil ter sido o último país do mundo a abolir a escravidão. O filme de Alice Gomes também lembra que isso não aconteceu por causa de um ato magnânimo da Princesa Isabel, mas por anos de lutas e pelo sacrifício de mulheres negras que conseguiram alforriar uma geração de crianças, tornando a liberdade dos negros irreversível. Samba de Santo – Resistência Afro-Baiana | Globoplay A história de três blocos de Carnaval centenários, nascidos em terreiros de candomblé na Bahia, Ilê Aiyê, Cortejo Afro e Bankoma, serve de ponto de partida para explorar a cultura negra, por meio de musicalidade, danças, religiosidade e ancestralidade. E mostram como a tradição carnavalesca politizou-se para ajudar suas comunidades e espalhar brilho no estado mais negro do país, e por isso também mais submetido ao racismo. AmarElo | Netflix Dirigido por Fred Ouro Preto (sobrinho de Dinho, do Capital Inicial), o documentário estabelece um elo entre o show do rapper Emicida no Theatro Municipal, de São Paulo, com dois momentos importantes da história e da cultura passados dentro e fora do Municipal: a Semana de Arte Moderna de 1922 e a fundação do Movimento Negro Unificado (MNU) em 1978 – que lutou pela auto-afirmação cultural e o incentivo à cultura de matriz africana, até então estigmatizada no Brasil. Sementes – Mulheres Pretas No Poder | Globoplay O filme de Julia Mariano e Éthel Oliveira foi feito sob o impacto do assassinato de Marielle Franco, transformando o luto em luta. Dos protestos às candidaturas políticas, acompanha o efeito multiplicador da luta pela resistência com o surgimento de novas lideranças negras e femininas em meio ao auge opressor do aparato político-miliciano que exterminou Marielle e resultou na eleição de Bolsonaro em 2018. Dentro Da Minha Pele | Globoplay O documentário de Toni Venturi conta histórias de 9 pessoas comuns, com diferentes tons de pele negra, que apresentam seu cotidiano na cidade de São Paulo e compartilham situações de racismo, dos velados aos mais explícitos. Entre os relatos há um médico confundido com bandido, uma faxineira tratada como escrava, um garoto assassinado pela polícia e uma funcionária trans que nunca é promovida.

