Festival de Berlim inclui documentário sobre Impeachment de Dilma e novo drama dos diretores de Beira-Mar
Mais dois filmes brasileiros foram selecionados para a mostra Panorama da 68ª edição do Festival de Berlim: “O Processo”, de Maria Augusta Ramos, e “Tinta Bruta”, de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher. “O Processo” é o primeiro documentário sobre o Impeachment da presidente Dilma Rousseff a vir à tona. Na ocasião, foram rodados cinco filmes com aval do PT, que ofereceu acesso a reuniões fechadas e aos corredores do Congresso durante o enfrentamento contra o chamado “golpe”. Este material compõe a maioria das horas de filmagem da diretora brasiliense. Mas (supostamente) haveria registros também de desabafos e críticas à atuação da própria Dilma e do partido, e situações não reveladas nos noticiários. Com a obra, a diretora dá sequência à sua temática de investigação do sistema legal brasileiro, que inclui os documentários “Justiça” (Grand Prix no Festival Visions du Réel, Suiça 2004) e “Juízo” (Festival de Locarno, Prêmio da Crítica no Dok- Leipzig, 2008). Ela também filmou os corredores da burocracia em “Morro dos Prazeres” (Melhor Direção, Fotografia e Som no Festival de Brasília, 2013). Por sua vez, “Tinta Bruta” é o único trabalho de ficção da seleção brasileira em Berlim. O filme conta a história de Pedro (Shico Menegat), um jovem que tenta sobreviver em meio a um processo criminal, à partida de irmã e única amiga e aos olhares que recebe sempre que sai na rua. Sob o codinome GarotoNeon, Pedro se apresenta no escuro do seu quarto para milhares de anônimos ao redor do mundo, pela internet. Com o corpo coberto de tinta, ele realiza performances eróticas na frente da webcam. Ao descobrir que outro rapaz (Bruno Fernandes) de sua cidade está copiando sua técnica, Pedro decide confrontá-lo. O trabalho anterior de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher, “Beira-Mar” (2015), também teve première mundial na Berlinale – na mostra Forum. Os dois filmes se juntam a “Aeroporto Central”, de Karim Aïnouz, “Ex Pajé”, de Luiz Bolognesi, e “Bixa Travesty”, de Claudia Priscilla e Kiko Goifman, anteriormente selecionados. O festival acontece de 15 a 25 de fevereiro, na Alemanha.
Impeachment de Dilma vai render pelo menos cinco documentários
São pelo menos cinco os documentários que estão sendo rodados em torno do Impeachment de Dilma Rousseff, apurou o jornal Folha de S. Paulo. As equipes se tornaram presença frequente nos corredores do Congresso e do Palácio da Alvorada, mas principalmente entre os políticos do PT, o que teria fomentado desconfiança da oposição. “Me incomoda muito acharem que vamos fazer um filme panfletário. É um trabalho de nuances, um registro histórico”, disse Petra Costa (de “Elena”) ao jornal, sobre sua intenção. Só o seu documentário teria registrado mais de 500 horas de gravações. Assim como o filme de Petra, o documentário da brasiliense Maria Augusta Ramos (“Justiça”) também teve acesso à reuniões fechadas de senadores da bancada do PT, que compõem a maioria das horas de sua filmagem. Mas haveria registros também de desabafos e críticas à atuação da própria Dilma e do partido. Para Maria Augusta, a decisão de filmar o impeachment foi motivada por “angústia pessoal”. Outro documentário está sendo tocado a três, por Anna Muylaert (“Que Horas Ela Volta?”), César Charlone (“O Banheiro do Papa”) e Lô Politi (“Jonas”), que centram sua narrativa na crise política a partir da perspectiva de Dilma. “É sobre o afastamento da primeira mulher eleita”, diz Lô, que teve acesso ao Palácio da Alvorada e à privacidade da presidente deposta. Sem a mesma intimidade com os poderosos, o goiano Adirley Queirós (“Branco Sai, Preto Fica”) optou por documentar a crise fora dos corredores do poder. Intitulado “Era Uma Vez Brasília”, seu filme é feito de entrevistas com pessoas comuns da capital e da cidade-satélite de Ceilândia, onde vive. “É político, mas o foco é como as pessoas que não são políticas veem tudo isso”, explicou à Folha. Fontes sugerem ainda que um quinto documentário estaria sendo rodado pelo especialista Silvio Tendler (“Jango” e “Os Anos JK”), um dos principais documentaristas brasileiros, que seria mais focado em toda a crise política, mas o jornal não conseguiu contato com o diretor para confirmar. É importante observar que os documentários não deverão ter isenção, o que é absolutamente normal, já que cabe aos cineastas decidirem o que devem filmar. Melhor assumirem lado do que tentar convencer o público de que oferecem visões imparciais do Impeachment. Afinal, Anna Muylaert chegou a participar de manifestações contra o Impeachment, César Charlone pediu voto para Dilma em vídeo que circulou nas últimas eleições e Lô Politi foi ainda mais longe, trabalhando junto com o marqueteiro João Santana na mitológica campanha da reeleição de Dilma. A cineasta Maria Augusta Ramos, por sua vez, assinou em março a “Carta ao Brasil, em defesa da democracia e contra a tentativa de golpe”. Já a família de Petra Costa é muito próxima de Lula, tendo, segundo o blog O Antagonista, pago uma cirurgia plástica para Luriam, filha do ex-presidente e a hospedado em Paris. Além disso, Petra é herdeira da Andrade Gutierrez, uma das empresas enredadas na Lava Jato, cujo ex-presidente delatou ter pago despesas da eleição de Dilma. Não há informações sobre a origem do financiamento dos filmes.
Procurando Dory estreia no Brasil em mais de mil salas
“Procurando Dory” é o blockbuster da semana. A animação da Disney/Pixar estreia nesta quinta (30/6) em 1.106 telas, sendo 692 em 3D e 12 do circuito IMAX. Após ajudar no reencontro entre Nemo e seu pai em “Procurando Nemo” (2003), Dory decide buscar sua própria família e, em sua jornada, acaba nas perigosas mãos de humanos. No meio do caminho, já bateu recordes, tornando-se a maior estreia de uma produção animada nos EUA, com nada menos que 94% de aprovação da crítica, no levantamento do site Rotten Tomatoes. A comédia brasileira “Porta dos Fundos – Contrato Vitalício” é a segunda maior estreia da semana, chegando a 515 salas para mostrar que as distribuidoras nacionais ainda acreditam na viabilidade comercial do besteirol. Com direção de Ian SBF (“Entre Abelhas”) e roteiro de Fábio Porchat e Gabriel Esteves (série “O Grande Gonzalez”), o primeiro longa com o nome do canal do YouTube Porta dos Fundos tem premissa mais intrigante que sua realização. A trama gira em torno de um ator (Porchat) que, entusiasmado com a vitória de um amigo diretor (Gregório Duvivier) num festival internacional de cinema, assina um contrato vitalício para participar de todos os seus filmes. Mas o diretor some naquela mesma noite e, ao voltar dez anos depois dizendo que foi abduzido por “alienígenas do centro da Terra”, quer transformar a saga de seu sumiço num longa. A esta altura, o ator já é famoso e busca saídas para evitar cumprir o contrato que pode acabar com sua carreira. Com metade das salas de cinema de todo o país ocupada por esses dois lançamentos, sobraram uma dúzia telas para as demais estreias. A maior delas abrange 7 salas, espalhadas por quatro capitais, enquanto as demais lutam por salas em São Paulo e no Rio. O maior entre os pequenos é o italiano “Incompreendida”, terceiro longa dirigido pela atriz Asia Argento (“Triplo X”), filha do lendário cineasta Dario Argento (“Suspiria”), que se baseou em memórias de sua juventude para contar a história de uma adolescente que se rebela contra a família no ambiente boêmio dos anos 1980. Sua amiga Charlotte Gainsbourg (“Ninfomaníaca”) interpreta a mãe. E, além de dirigir, Asia ainda escreveu o roteiro com Barbara Alberti (“Um Sonho de Amor”) e compôs a trilha sonora (tocada por integrantes da banda Locust). Completam a programação de estreias dois documentários brasileiros, “A Morte de J.P. Cuenca”, que investiga o roubo da identidade do escritor João Paulo Cuenca, com direção do próprio, e “Futuro Junho”, que acompanha as manifestações na véspera da Copa do Mundo de 2014 em São Paulo e rendeu à cineasta Maria Augusta Ramos (“Juízo”) o troféu de Melhor Direção no Festival do Rio. Além destes filmes, dois lançamentos da semana passada ampliam seu circuito: a coprodução Brasil-Portugal “Estive em Lisboa e Lembrei de Você” chega a oito telas em sete cidades diferentes, e o francês “Nós ou Nada em Paris” alcança 15 salas no país.


