A Jovem Rainha revisita história de uma monarca muito à frente de seu tempo
Mesmo que a emancipação feminina tenha se efetivado de fato no século 20, há um passado histórico de lutas, em que mulheres pioneiras se liberaram de uma série de amarras, ainda que restritas por convenções. E este é o ponto mais fascinante de “A Jovem Rainha”, realização falada em inglês do finlandês Mika Kaurismäki (“O Ciúme Mora ao Lado”). Com cunho claramente feminista, a história de Cristina da Suécia (1626-1689) recebe uma revisão moderna, sem necessariamente dissipar a importância de episódios fundamentais de sua biografia, com um contorno mais atrevido em seu comportamento e até mesmo em sua inclinação sexual, suprimidos em outras versões. Bela ao ponto de não permitir que nossos olhos se distraiam com qualquer outra coisa, a sueca Malin Buska (“Dinheiro Fácil – Vida de Luxo”) interpreta a jovem rainha do título com fervor. Após uma introdução que trata de mostrá-la desamparada na infância, tendo ascendido ao trono com apenas seis anos, ela se perde os livros de seu imenso acervo e amadurece como uma intelectual, inebriada especialmente pela obra de René Descartes, pai do racionalismo e seu mentor. Mais inteligente de todos os monarcas de sua época, Cristina decide se opor à Guerra dos Trinta Anos, arquitetada na Europa do século 17 a partir do conflito entre católicos e protestantes, e isso lhe custa caro. Porém, muito mais que as ações da Cristina pública, Kaurismäki, que conta aqui com o roteiro assinado pelo canadense Michel Marc Bouchard (de “Tom na Fazenda”, de Xavier Dolan), também quer desvendar a Cristina privada. E para isso utiliza sua relação conflituosa com o chanceler Axel Oxenstierna (Michael Nyqvist, de “Os Homens que Não Amavam as Mulheres”, ótimo), que também exerce uma função paternal, e a condessa Ebba Sparre (Sarah Gadon, de “Drácula – A História Não Contada”), o grande amor de sua vida. Mesmo a fotografia do francês Guy Dufaux (“As Invasões Bárbaras”) desempenha um fascínio ao iluminar em excesso um período de trevas, dando tonalidades contemporâneas a uma monarca muito à frente de seu tempo.
Trailer de A Jovem Rainha apresenta a rainha lésbica que desafiou os costumes do século 17
A Mares Filmes divulgou o trailer de “A Jovem Rainha”, cinebiografia da rainha Cristina, da Suécia. A prévia oferece uma bela recriação do século 17, intrigas políticas, lesbianismo e guerra, para contar a história da polêmica rainha que era a mulher mais letrada de sua época, grande benfeitora das artes e que preferiu abdicar ao trono a se casar. A trama é uma adaptação do canadense Michel Marc Bouchard (“Tom na Fazenda”) de sua própria peça, com direção do finlandês Mika Kaurismäki (“O Ciúme Mora ao Lado” e irmão de Aki Kaurismäki) e destaca a bela sueca Malin Buska (“Dinheiro Fácil – Vida de Luxo”) como o “rei menina”, como define o título internacional, apaixonada pela canadense Sarah Gadon (“Drácula, a História Nunca Contada”). O elenco multinacional também inclui Michael Nyqvist (“De Volta ao Jogo”), Lucas Bryant (série “Haven”), Laura Birn (“Caçada Mortal”), François Arnaud (série “Blindspot”), Patrick Bauchau (“Tudo vai Ficar Bem”) e Hippolyte Girardot (“Os Sabores do Palácio”). A produção dividiu a crítica, mas foi premiada nos festivais de Montreal e Valladolid. A estreia está marcada para 23 de fevereiro no Brasil.

