“Gran Turismo” e novo terror de “Drácula” estreiam nos cinemas
A programação de cinema desta semana destaca a adaptação do game “Gran Turismo” e uma nova versão de “Drácula”, centrada num capítulo específico da obra de Bram Stoker. A lista também inclui dois thrillers estrelados pelos veteranos Liam Neeson e Morgan Freeman, além do primeiro longa documental de Kleber Mendonça Filho, o premiado diretor de “Bacurau”. Confira abaixo mais detalhes dos filmes que estreiam na quinta-feira (24/8). GRAN TURISMO – DE JOGADOR A CORREDOR Baseado no famoso jogo de corrida do PlayStation, o filme narra a história real de Jann Mardenborough, um campeão de “Gran Turismo”, que entra em uma competição patrocinada pela Nissan para encontrar jogadores capazes de se tornarem pilotos reais. A trama se destaca por conseguir criar uma narrativa a partir de um jogo que originalmente não possui uma história definida. Embora siga uma fórmula esportiva familiar, com o treinador durão, o rival carismático, sucessos, fracassos e a inevitável volta por cima no terceiro ato, a transição de Jann de um jogador virtual para um piloto real é habilmente retratada, com destaque para elementos visuais que mesclam o mundo dos jogos com a realidade. Por conta dos clichês, porém, a obra teve apenas 58% de aprovação da crítica americana, na média apurada pelo Rotten Tomatoes. O papel principal é vivido por Archie Madekwe (“See”), enquanto o elenco também destaca Djimon Hounsou (“Guardiões da Galáxia”) como seu pai, David Harbour (“Stranger Things”) como seu treinador e Orlando Bloom (“Carnival Row”) na pele de um executivo do marketing que vê potencial comercial no novo piloto. Já a direção é do sul-africano Neill Blomkamp, que até então só tinha dirigido filmes de ficção científica, como “Distrito 9” e “Elysium”. DRÁCULA – A ÚLTIMA VIAGEM DO DEMÉTER Dramatização estendida de um breve capítulo do clássico literário “Drácula”, de Bram Stoker, o filme se passa em 1897, a bordo de um navio russo chamado Demeter, que carrega caixões sinistros em sua viagem da Romênia para a Inglaterra. A jornada é marcada por uma série de mortes e horrores indescritíveis, culminando na chegada do navio vazio ao seu destino. A narrativa, extraída dos detalhes do diário do capitão, descreve como o Conde Drácula sai de seu caixão à noite e causa estragos, atacando primeiro os animais a bordo e depois a tripulação. A história também inclui uma mulher chamada Anna, não incluída no capítulo original, uma noiva do vampiro que também sai de seu caixão, mas para tentar ajudar a tripulação. Dirigido pelo norueguês André Øvredal, que ficou conhecido por terrores indies como “O Caçador de Troll” e “A Autópsia”, o filme apresenta uma cinematografia que contribui para a atmosfera sombria da história. A representação de Drácula, interpretada por Javier Botet, é inspirada no visual de “Nosferatu”, e os efeitos especiais são usados para realçar os momentos de terror. Com um clima retrô, a produção lembra tanto os longas da antiga produtora britânica de terror Hammer quando a claustrofobia de “Alien”, em que um monstro começa a matar, um por um, toda a tripulação isolada na vastidão do espaço/mar. O elenco inclui Corey Hawkins (“Tempestade”) como o principal protagonista, Aisling Franciosi (“Imperdoável”) como Anna e Liam Cunningham (“Game of Thrones”) como o capitão da nau dos condenados. A CHAMADA O novo thriller de ação estrelado por Liam Neeson (“Assassino Sem Rastro”) é um remake do espanhol “El Desconocido” (2015), que também já rendeu uma versão sul-coreana, “Ligação Explosiva” (2021) – exibida em novembro do ano passado no Brasil. A trama começa em uma manhã aparentemente normal, mas que rapidamente se transforma em um pesadelo. O protagonista conduz seus dois filhos em seu carro quando recebe uma ligação misteriosa informando que há uma bomba no veículo, que será detonada caso tente parar. Após ser convencido da seriedade da ameaça, o pai faz tudo que pode pela sobrevivência de sua família, enquanto o interlocutor não identificado o força a cometer crimes. O enredo também lembra o clássico “Velocidade Máxima”, ao desencadear uma perseguição em alta velocidade pela cidade. Dirigido por Nimród Antal (“Predadores”), o elenco ainda conta com Matthew Modine (“Stranger Things”), Noma Dumezweni (“Bem-Vindos à Vizinhança”), Jack Champion (“Pânico 6”), Lilly Aspell (“Mulher-Maravilha 1984”) e Embeth Davidtz (“Influencer de Mentira”). MUTI – CRIME E PODER O suspense trash destaca Morgan Freeman (“Truque de Mestre”) no papel de um especialista em um caso de serial killer. A trama segue uma série de assassinatos que vão de Roma ao Mississippi, ligados a um aspecto obscuro de um ritual sul-africano chamada “Muti”, que envolve o uso de partes de um corpo numa feitiçaria. O personagem de Freeman é um professor de estudos africanos, que é trazido à investigação para ajudar a decifrar as evidências bizarras, reconhecendo a presença de “muti”. O vilão, um africano com cicatrizes chamado Randoku (interpretado pelo ex-jogador de futebol americano Vernon Davis), é apoiado por um rico empresário, enquanto um dos policiais (Cole Hauser, de “Yellowstone”) tenta resolver o caso motivado pela morte de sua filha. A direção é de George Gallo, especialista em thrillers de baixo orçamento, que já tinha trabalhado com Freeman em “A Rosa Venenosa” (2019) e possui a inabalável reputação de raramente fazer filmes bons. Nem a presença de seis roteiristas e 18 produtores diferentes conseguiu impedir seu novo longa de ser considerado lixão, com apenas 11% de aprovação no Rotten Tomatoes. SEM DEIXAR RASTROS O drama polonês é baseado num caso real e notório de assassinato, que aconteceu em 1983. A trama começa com o estudante Grzegorz Przemyk (Mateusz Górski) e seu amigo Jurek (Tomasz Ziętek) celebrando o fim do ensino médio em Varsóvia, quando são abordados pela milícia e levados à delegacia, onde Grzegorz é brutalmente espancado. A história segue a luta de Jurek, a única testemunha do crime, e da mãe de Grzegorz, a poeta e ativista Barbara Sadowska (Sandra Korzeniak), para levar os culpados à justiça, enfrentando a corrupção e a intimidação do governo comunista. Dirigido por Jan P. Matuszyński (“Deep Love”), o longa é meticuloso em detalhes, capturando a atmosfera dos anos 1980 e a tensão política da época. A narrativa traça cuidadosamente as manobras políticas, acordos, acobertamentos e coerção que definiram a tentativa do estado de se esquivar da responsabilidade pelo assassinato. Mas o ritmo lento e a duração de 160 minutos podem se tornar uma experiência desafiadora para o espectador. O ACIDENTE O primeiro longa do diretor gaúcho Bruno Carboni foi premiado por seu roteiro no Festival Internacional de Pequim, na China. A trama segue Joana (Carol Martins), uma ciclista que sofre um atropelamento inusitado após confrontar uma motorista que a fechou no trânsito. Carregada no capô do carro por alguns metros, Joana sai aparentemente ilesa, mas o vídeo do incidente viraliza, e ela se vê obrigada a lidar com as consequências que se desenrolam a partir disso. A narrativa é bem amarrada, com cada ação reverberando em uma consequência direta, e o atropelamento e suas reverberações ocasionam voltas e revoltas abruptas na vida de Joana. Carboni já havia demonstrado seu talento no curta-metragem “O Teto Sobre Nós”, que competiu no prestigiado Festival de Locarno, na Suíça, e faturou o troféu de Melhor Direção no 43º Festival de Gramado. Graças a este trabalho, ele foi selecionado para participar do Berlinale Talents em 2016 e da Locarno Filmmakers Academy em 2015, programas que reúnem jovens talentos promissores do cinema mundial. Para completar, desenvolveu o roteiro de “O Acidente” no laboratório do Torino Film Lab em 2018, na Itália. Sua habilidade para ir direto ao ponto, sem perder a profundidade e a complexidade, é evidente no longa, que consegue transformar um incidente aparentemente banal em uma reflexão profunda sobre temas sociais e humanos, como homofobia, misoginia e classicismo, além de oferecer um estudo delicado de personagens. RETRATOS FANTASMAS O novo filme de Kleber Mendonça Filho, o premiado cineasta de “O Som ao Redor”, “Aquarius” e “Bacurau”, é seu primeiro longa documental. A obra também é uma ode à sua cidade natal, Recife, e à sua paixão pelo cinema. Dividido em três capítulos, a obra explora as memórias do diretor, principalmente sua cinefilia. Mendonça Filho mistura vídeos caseiros antigos com suas próprias filmagens, e se aventura para explorar os cinemas de rua de sua infância, que alimentaram sua obsessão, mas que em sua maioria fecharam, vítimas da decadência urbana e da concorrência dos multiplexes suburbanos. Ele também explora o futuro alternativo dessas salas, visitando aquelas que foram transformadas em igrejas evangélicas, refletindo as tendências religiosas no Brasil moderno. “Retratos Fantasmas” é uma rica crônica da cinefilia, entrelaçada à jornada pessoal do cineasta. O documentário estreou fora de competição no Festival de Cannes e atraiu a atenção de distribuidores internacionais simpáticos à sua visão nostálgica pela exibição tradicional em cinemas. VIDAS DESCARTÁVEIS Premiado no Festival Cine-PE, o documentário de Alberto Graça (“Beatriz”) e Alexandre Valenti (“Amazônia – Heranças de uma Utopia”) aborda a escravidão moderna em áreas rurais e a exploração de mão de obra imigrante na indústria têxtil de São Paulo. A obra expõe as condições precárias de trabalho no Brasil, resultantes das dinâmicas migratórias movidas por falsas promessas de melhoria de vida. Entre os casos apresentados, estão os de imigrantes latinos que confeccionam roupas para marcas famosas e o caso da Fazenda Brasil Verde, no Pará. A narrativa é construída através de depoimentos de trabalhadores humildes, muitos deles analfabetos, que relatam suas experiências traumáticas, e monta um mosaico abrangente sobre o assunto, ampliando progressivamente a discussão e o choque. Trata-se de cinema enquanto canal de denúncia.
Festival de Gramado inicia 51ª edição com várias novidades
Um dos mais tradicionais festivais de cinema no Brasil, o Festival de Gramado, inicia sua 51ª edição neste sábado (12/8), com uma programação repleta de atrações e novidades. Este ano, os organizadores do festival apostam em uma programação em diferentes formatos. A ausência de filmes estrangeiros, que faziam parte do line-up do festival desde 1992, marca uma seleção totalmente nacional, com reforço na seleção de documentários, que disputarão prêmios exclusivos. Além disso, pela primeira vez, haverá o lançamento de uma série: “Cangaço Novo”, que estreia na Amazon Prime Video no dia 19. Filme de abertura A abertura do evento traz a exibição fora de competição do documentário “Retratos Fantasmas”, dirigido por Kleber Mendonça Filho, que narra a história do centro da cidade do Recife, com foco nos cinemas de rua que marcaram o local ao longo do século 20. Além da celebração da cinefilia, também aborda questões políticas e culturais, como o constante assédio da especulação imobiliária nas grandes cidades brasileiras – tema que Mendonça abordou num de seus filmes mais conhecidos, “Aquarius”, estrelado por Sonia Braga em 2016. O documentário, que foi aplaudido de pé no Festival de Cannes e selecionado para o Festival de Toronto, será seguido pela exibição de curtas e do longa “Angela”, de Hugo Prata, na mostra competitiva. Cinebiografia de Ângela Diniz “Angela” é uma cinebiografia de Ângela Diniz, estrelada por Isis Valverde. A socialite mineira foi vítima de feminicídio em 1976, em um caso que chocou o Brasil. O crime cometido por Raul “Doca” Street tornou-se um divisor de águas no movimento feminista e no Direito brasileiros. Durante o julgamento do assassino, que deu quatro tiros no rosto da companheira, a defesa alegou “legítima defesa da honra” para tentar absolvê-lo do caso. Ele alegou ter matado “por amor”. O argumento gerou polêmica. Militantes feministas organizaram um movimento cujo slogan – “quem ama não mata” – tornou-se, anos mais tarde, o título de uma minissérie da Globo. Até o grande poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) se manifestou: “Aquela moça continua sendo assassinada todos os dias e de diferentes maneiras”, referindo-se à estratégia da defesa de culpabilizar Angela Diniz por seu próprio assassinato. A tese da “legítima defesa da honra” constava no Código Penal da época, mas mesmo assim Doca Street foi condenado a 15 anos de prisão. Na década seguinte, a nova Constituição, elaborada ao fim da ditadura, acabou com essa desculpa para o feminicídio, mas só agora, em agosto de 2023, o STF (Supremo Tribunal Federal) a tornou oficialmente inconstitucional. Outros títulos em destaque A lista de produções selecionadas também incluem outra cinebiografia: “Mussum — O Filmis”, dirigido por Sílvio Guindane, que traz Ailton Graça como o músico e comediante Mussum, um dos integrantes do grupo Os Originais do Samba e do humorístico “Os Trapalhões”. A mostra competitiva de ficção ainda traz “Uma Família Feliz”, thriller dirigido por José Eduardo Belmonte e estrelado por Grazi Massafera, “O Barulho da Noite”, drama do Tocantins sobre infância roubada, dirigido por Eva Pereira, “Mais Pesado É o Céu”, novo drama de Petrus Cariry, e “Tia Virgínia”, de Fabio Meira e estrelado por Vera Holtz. Homenagens femininas Em um feito inédito, a edição de 2023 do Festival de Gramado vai homenagear exclusivamente mulheres que contribuíram significativamente para o cinema brasileiro. A produtora Lucy Barreto receberá o Troféu Eduardo Abelin, a atriz Ingrid Guimarães será agraciada com o Troféu Cidade de Gramado, Laura Cardoso e Léa Garcia serão homenageadas com o Troféu Oscarito, e Alice Braga contemplada com o Troféu Kikito de Cristal. Lucy Barreto, mineira de Uberlândia, é uma das produtoras mais ativas do cinema brasileiro. Com uma carreira que remonta ao final dos anos 1960, Barreto é reconhecida por sua contribuição à indústria audiovisual nacional e internacional, tendo produzido importantes obras do cinema brasileiro como “Dona Flor e Seus Dois Maridos” (1976), “O Quatrilho” (1995), e “Flores Raras” (2013). Com uma carreira de mais de 35 anos e inúmeros sucessos no teatro e na televisão, Ingrid Guimarães foi responsável por uma revolução comerial no cinema nacional com a trilogia “De Pernas Pro Ar” (2010-2019), um dos maiores sucessos cinematográficos do século, além de ter participado do primeiro “Minhã Mãe É uma Peça” (2013) e de comédias como “Fala Sério, Mãe” (2017), que consolidaram seu nome entre os mais populares do cinema brasileiro. A veterana atriz Laura Cardoso, de 95 anos e mais de sete décadas dedicadas à atuação, é uma pioneira na televisão brasileira. Estreou em 1952 e coleciona prêmios até hoje. No cinema, participou de clássicos como “Corisco, O Diabo Loiro” (1968), “Tiradentes, O Mártir da Independência” (1977) e “Terra Estrangeira” (1995). Seu trabalho mais recente é a comédia “De Perto Ela Não é Normal” (2020). Também com vasta experiência, Léa Garcia está com 90 anos e soma mais de 100 produções no cinema, teatro e televisão. Peça fundamental na quebra da barreira dos personagens até então destinados a atrizes negras, ela se destacou em novelas como “Selva de Pedra” (1972), “Escrava Isaura” (1976), “Xica da Silva” (1996) e “O Clone” (2001). Além disso, já foi premiada no próprio Festival de Gramado com “Filhas do Vento” (2004) e os curtas “Hoje tem Ragu” (2008) e “Acalanto” (2013). Mais jovem da lista, aos 40 anos Alice Braga é mais vista em Hollywood que no Brasil. Sobrinha da famosa Sonia Braga, ela estourou com “Cidade de Deus” (2002) e, desde então, já participou de 40 produções, atuando ao lado de nomes como Will Smith, Anthony Hopkins, Margot Robbie, Ben Affleck e Matt Damon. Mas nem por isso abandonou a terra natal, encontrando tempo para filmar obras como “Entre Idas e Vindas” (2016) e “Eduardo e Mônica” (2020). O Festival de Gramado acontece até o próximo dia 19, quando serão entregues os troféus Kikitos.
Novo filme de Kleber Mendonça Filho é aplaudido de pé em Cannes
O diretor Kleber Mendonça Filho (“Bacurau”) foi aplaudido de pé no 76º Festival de Cannes após a exibição de seu novo filme, o documentário “Retratos Fantasmas”, que foi exibido na sexta-feira (19/5). A première mundial da produção do cineasta pernambucano ocorreu em Sessão Especial da Seleção Oficial, fora do circuito de competição. O documentário é a quarta obra do cineasta a ser exibida em Cannes. “Retratos Fantasmas” mostra a história do centro de Recife desde o século 20 por meio de suas salas de cinema. A inspiração parte das memórias de Kleber, que se mudou na adolescência para o bairro de Setúbal. Dividida em três atos, a obra traz na segunda parte a observação do diretor sobre como os cinemas já fizeram parte da vida das pessoas e da cultura das cidades. Em tom de crônica, a narração de Mendonça Filho tem um aspecto pessoal que aborda a relação dos espectadores com os cinemas. O longa ainda traz uma reflexão sobre como os letreiros dos filmes eram verdadeiros marcos de suas épocas. Durante a sessão francesa, o diretor fez questão de homenagear a secretária do Audiovisual, Joelma Gonzaga, que estava presente no evento. “Ela é a responsável pela política audiovisual do Ministério da Cultura. Pensamos que deveríamos dar esta informação por que isso é bom e é normal ter alguém do governo nos apoiando e basicamente dizendo ‘o que vocês estão fazendo é bom’. A gente não teve isso por sete anos. Então, muito obrigado!”, afirmou Mendonça Filho. Thierry Frémaux, diretor geral do Festival, fez um paralelo com Martin Scorsese (“O Irlandês”) e Bertrand Tavernier (“O Palácio Francês”) ao apresentar “Retratos Fantasmas”. “O filme visita a história do Brasil e da cidade de Recife. Como Martin Scorsese filmou Nova York, como Bertrand Tavernier filmou Lyon, em sua forma de introspecção pessoal de juventude, que ultrapassa o pessoal para se tornar universal. É um filme magnífico que eu penso que vai inspirar muitos cineastas”, exaltou. O festival francês teve início na terça-feira (16/5) e vai até o dia 27 de maio. “Retratos Fantasmas” estreia nos cinemas brasileiros no segundo semestre, ainda sem data exata definida.
Festival de Cannes começa com polêmica, volta de brasileiros e recorde de cineastas femininas
O 76º Festival de Cannes inicia nesta terça-feira (16/5), em meio a críticas e mudanças. Após uma versão simbólica em 2020 e uma mais enxuta em 2021, o festival reconquista neste ano o seu posto como a maior e mais glamourosa plataforma da indústria no planeta. Saudado por sua importância na revelação de grandes obras, que pautarão o olhar cinematográfico pelo resto do ano, o evento francês também costuma enfrentar críticas por elencar personalidades envolvidas em escândalos. Neste ano, o evento abrirá com a exibição do drama histórico “Jeanne du Barry” (fora de competição), estrelado por Johnny Depp (“Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindewald”), que está recuperando sua imagem após ser acusado de agredir e violentar sua ex-esposa, Amber Heard. Em relação às críticas, o diretor do evento, Thierry Fremaux, afirmou não se importar com o julgamento do ator. “Não conheço a imagem de Johnny Depp nos Estados Unidos. Não sei o que é, Johnny Depp só me interessa como ator. Sou a pessoa menos indicada para falar de tudo isso, porque se há alguém que não se interessou por este mesmo julgamento midiático, sou eu”, declarou Frémaux. Esta não é a primeira vez que o evento é criticado por ignorar pautas femininas. O festival, que estendeu tapete vermelho para Woody Allen exibir “Meia-Noite em Paris” e “Café Society” (durante o auge do #MeToo), também “perdoou” o cineasta Lars von Trier (“Melancolia”), acusado pela cantora Björk de assédio sexual. Neste ano, porém, há uma pequena mudança: dentre os 19 filmes competindo pela Palma de Ouro (premiação máxima), seis deles são dirigidos por mulheres – um recorde para o festival. São eles: “Club Zero” de Jessica Hausner; “Les Filles D’Olfa” de Kaouther Ben Hania; “Anatomie D’une Chute” de Justine Triet; “La Chimera” de Alice Rohrwacher; “L’Ete Dernier” de Catherine Breillat e “Banel Et Adama” de Ramata-Toulaye Sy. O Festival de 2023 também bateu recorde de mulheres selecionadas fora da competição principal – ou seja, incluindo mostras alternativas como a Un Certain Regard e exibições especiais. São 14 títulos dirigidos por mulheres entre os 51 anunciados. Depois da ausência no ano passado, o cinema brasileiro também retorna em grande estilo em 2023. O país está sendo representado por quatro longas-metragens na programação: “A Flor do Buriti” , dirigido por João Salaviza (“Russa”) e Renée Nader Messora (“Chuva e Cantoria na Aldeia dos Mortos”), na mostra Um Certo Olhar; “Levante”, de Lillah Halla (“Menarca”), na Semana da Crítica; “Nelson Pereira dos Santos — Uma Vida de Cinema”, dirigido por Aída Marques (“Estação Aurora”) e Ivelise Ferreira (“A Música Segundo Tom Jobim”), na Cannes Classics; e “Retratos Fantasmas”, de Kleber Mendonça Filho (“Bacurau”), nas Sessões Especiais. Para completar, o cineasta cearense Karim Aïnouz (“A Vida Invisível”) dirige a produção britânica “Firebrand”, que está competindo pela Palma de Ouro. Aïnouz comentou sobre a importância da exibição de longas brasileiros no festival. “É lindo ter essa presença brasileira em Cannes este ano. É importante estarmos de volta à arena cinematográfica internacional”, disse ao jornal O Globo. “Confesso que ficaria mais feliz ainda se ‘Firebrand’ fosse inteiramente brasileiro. Mas tudo bem, a alma dele é brasileira, tem muito calor, independentemente de falar sobre a família real inglesa do século XVI”, completou. O programa apresenta ainda uma seleção de destaque do cinema internacional, incluindo renomados diretores como Wim Wenders (“Papa Francisco: Um Homem de Palavra”), Wes Anderson (“A Crônica Francesa”), Ken Loach (“Eu, Daniel Blake”), Nuri Bilge Ceylan (“A Árvore dos Frutos Selvagens”), Todd Haynes (“Carol”), Nanni Moretti (“Habemus Papam”), Pedro Almodóvar (“Mães Paralelas”), Steve McQueen (“12 Anos de Escravidão”) e Marco Bellocchio (“O Traidor”), juntamente com jovens cineastas de diferentes origens. Além disso, duas aguardadas superproduções de Hollywood estão programadas para terem sua estreia na pequena cidade da Riviera Francesa: “Indiana Jones e a Relíquia do Destino”, o quinto e último capítulo da famosa franquia estrelada por Harrison Ford (“Falando a Real”), e “Assassinos da Lua das Flores”, dirigido por Martin Scorsese (“As Últimas Estrelas do Cinema”) e estrelado por Leonardo DiCaprio (“Não Olhe para Cima”). A recém-empossada presidente do festival Iris Knobloch comentou sobre o evento ao anunciar o programa. “Poderíamos falar de uma volta às origens, mas eu prefiro dizer que Cannes está de volta para o futuro. Cannes oferece uma fotografia do presente cinematográfico, e a seleção dá uma ideia do que agita o cinema neste momento. É um programa estética e geograficamente abrangente. Os filmes e o público estão de volta aos cinemas”, destacou. Confira abaixo a lista atualizada dos títulos em competição nas principais mostras do evento. Concorrentes à Palma de Ouro Club Zero – Jessica Hausner The Zone of Interest – Jonathan Glazer Fallen Leaves – Aki Kaurismaki Les Filles D’Olfa – Kaouther Ben Hania Asteroid City – Wes Anderson Anatomie d’Une Chute – Justine Triet Monster – Kore-Eda Hirokazu Il Sol dell’Avvenire – Nanni Moretti L’Été Dernier – Catherine Breillat Kuru Otlar Ustune – Nuri Bilge La Chimera – Alice Rohrwacher La Passion de Dodin Bouffant – Tran Anh Hun Rapito – Marco Bellocchio May December – Todd Haynes Jeunesse – Wang Bing The Old Oak – Ken Loach Banel e Adama – Ramata-Toulaye Sy Perfect Days – Wim Wenders Firebrand – Karim Aïnouz Filmes indicados ao prêmio Un Certain Regard Le Règne Animal – Thomas Cailley Los Delincuentes – Rodrigo Moreno How to Have Sex – Molly Manning Walker Goodbye Julia – Mohamed Kordofani Kadib Abyad – Asmae El Moudir Simple Comme Sylvain – Monia Chokri A Flor do Buriti – João Salaviza e Renée Nader Messora Los Colonos – Felipe Gálvez Augure – Baloji Tshiani The Breaking Ice – Anthony Chen Rosalie – Stéphanie Di Giusto The New Boy – Warwick Thornton If Only I Could Hibernate – Zoljargal Purevdash Hopeless – Kim Chang-hoon Terrestrial Verses – Ali Asgari e Alireza Khatami Rien à Perdre – Delphine Deloget Les Meutes – Kamal Lazraq Filmes que serão exibidos no Festival de Cannes 2023 Jeanne Du Barry – Maïwenn (abertura do festival) Indiana Jones e o Chamado do Destino – James Mangold (fora de competição) Cobweb – Kim Jee-woon (fora de competição) The Idol – Sam Levinson (fora de competição) Killers of the Flower Moon – Martin Scorsese (fora de competição) Kennedy – Anurag Kashyap (sessão da meia-noite) Omar la Fraise – Elias Belkeddar (sessão da meia-noite) Acide – Just Philippot (sessão da meia-noite) Kubi – Takeshi Kitano (Cannes Première) Bonnard, Pierre et Marthe – Martin Provost (Cannes Première) Cerrar Los Ojos – Victor Erice (Cannes Première) Le Temps d’Aimer – Katell Quillévéré (Cannes Première) Man in Black – Wang Bing (sessões especiais) Occupied City – Steve McQueen (sessões especiais) Anselm (Das Rauschen der Zeit) – Wim Wenders (sessões especiais) Retratos Fantasmas – Kleber Mendonça Filho (sessões especiais)
Com brasileiros e recorde de mulheres, Festival de Cannes anuncia filmes selecionados
O Festival de Cannes anunciou nesta quinta-feira (13/4) os filmes selecionados para a disputa da Palma de Ouro na 76ª edição da premiação, além dos títulos que vão fazer parte de exibições e mostras. A 76ª edição do evento, que ocorre de 16 e 27 de maio, vai contar com três longas brasileiros e é marcado pelo recorde de mulheres indicadas. A edição de 2023 do Festival de Cannes traz o recorde de seleção de produções dirigidas por mulheres. São seis diretoras indicadas na categoria principal e outras 14 foram em outras categorias, de um total de 51 filmes selecionados. Apesar de ser o maior número já registrado desde, a participação delas ainda não chega a 50%. Na premiação principal, as produções dirigidas por mulheres indicados ao prêmio são: La Chimera (Alice Rohrwacher), Club Zero (Jessica Hausner), Last Summer (Catherine Breillat), Anatomie d’une chute (Justine Triet), Banel et Adama (Ramata-Toulaye Sy), e Olfa’s Daughters (Kaouther Ben Hania). O recorde anterior é da edição de 2022, com 5 mulheres na categoria principal. Até então, apenas duas mulheres venceram a Palma de Ouro desde a criação do prêmio: Jane Campion, com “O Piano”, em 1993, e Julia Ducournau, com “Titane”, em 2021. O Festival traz também o Brasil na disputa principal com o diretor Karim Aïnouz> (“A Vida Invisível”) e seu filme “Firebrand”, que tem como enredo o casamento da rainha Catarina Parr e do rei Henrique VIII, e traz Jude Law e Alicia Vikander no elenco. Além de “Firebrand”, o documentário “Retratos Fantasmas”, de Kleber Mendonça Filho (“Bacurau”), vai estrear na mostra Cannes Premières, trazendo o centro de Recife como personagem principal. Já “A Flor do Buriti”, da brasileira Renée Nader Messora com o português João Salaviza, vai estar na mostra Um Certo Olhar (Un Certain Regarde). Entre os filmes que vão fazer parte do Festival, vale destacar “Asteroid City”, de Wes Anderson (“O Grande Hotel Budapeste”), que traz nomes de peso no elenco, como Tom Hanks, Margot Robbie, Scarlett Johansson e Tilda Swinton. Os aguardados “Killers of the Flower Moon”, de Martin Scorsese, o quinto filme da saga “Indiana Jones” e até a série “Idol”, da HBO, também estarão em Cannes. São destaques ainda o novo curta de Almodóvar, “Strange Way of Life”, que traz Pedro Pascal e Ethan Hawke como um casal gay, e “Jeanne Du Barry”, que abre o evento e marca a volta de Johnny Depp às telonas como Luís XV, após o midiático julgamento por difamação contra sua ex, Amber Heard. Mas o evento também contará com outros nomes conhecidos dos cinéfilos e habituês do evento, como Jonathan Glazer (“Sob a Pele”), Aki Kaurismaki (“O Outro Lado da Esperança”), Hirokazu Kore-eda (“Assunto de Família”), Nanni Moretti (“Tre Piani”), Nuri Bilge Ceylan (“Sono de Inverno”), Todd Haynes (“Carol”), Marco Bellocchio (“O Traidor”) e os veteranos multipremiados Ken Loach (“Eu, Daniel Blake”) e Wim Wenders (“O Sal da Terra”). Confira abaixo os títulos que vão passar por Cannes. Filme de abertura: Jeanne Du Barry, de Maïwenn Mostra Competitiva (Palma de Ouro) Club Zero, de Jessica Hausner The Zone of Interest, de Jonathan Glazer Fallen Leaves, de Aki Kaurismaki Les Filles d’Olfa, de Kaouther Ben Hania Asteroid City, de Wes Anderson Anatomie d’une Chute, de Justine Triet Monster, de Hirokazu Kore-eda Il Sol dell’Avvenire, de Nanni Moretti L’été Dernier, de Catherine Breillat Kuru Otlar Ustune, de Nuri Bilge Ceylan La Chimera, de Alice Rohrwacher La Passion de Dodin Bouffant, de Tran Anh Hùng Rapito, de Marco Bellocchio May December, de Todd Haynes Jeunesse, de Wang Bing The Old Oak, de Ken Loach Banel e Adama, de Ramata-Toulaye Sy Perfect Days, de Wim Wenders Un Certain Regarde: Règne Animal, de Thomas Cailley (filme de abertura) Los Delincuentes, de Rodrigo Moreno How to Have Sex, de Molly Manning Walker Goodbye Julia, de Mohamed Kordofani Kadib Abyad, de Asmae El Moudir Simple Comme Sylvain, de Monia Chokri A Flor do Buriti, de João Salaviza e Renée Nader Messora Los Colonos, de Felipe Gálvez Augure, de Baloji Tshiani The Breaking Ice, de Anthony Chen Rosalie, de Stéphanie Di Giusto The New Boy, de Warwick Thornton If Only I Could Hibernate, de Zoljargal Purevdash Hopeless, de Kim Chang-hoon Terrestrial Verses, de Ali Asgari e Alireza Khatami Rien à Perdre, de Delphine Deloget Les Meutes, de Kamal Lazraq Exibições fora de competição Indiana Jones e a Relíquia do Destino, de James Mangold Cobweb, de Kim Jee-woon The Idol, de Sam Levinson Killers of the Flower Moon, de Martin Scorsese Sessões da meia-noite Kennedy, de Anurag Kashyap Omar la Fraise, de Elias Belkeddar Acide, de Just Philippot Estreias em Cannes Kubi, de Takeshi Kitano Bonnard, Pierre et Marthe, de Martin Provost Cerrar Los Ojos, de Victor Erice Le Temps d’Aimer, de Katell Quillévéré Exibições Especiais Man in Black, de Wang Bing Occupied City, de Steve McQueen Anselm (Das Rauschen der Zeit), de Wim Wenders Retratos Fantasmas, de Kleber Mendonça Filho
Johnny Massaro grava série policial produzida por Kleber Mendonça Filho
O ator Johnny Massaro (de “Verdades Secretas 2”) começou a gravar a nova série policial “Delegado”. Na atração, ele dá vida ao personagem-título, um jovem concursado que assume uma delegacia da capital de Pernambuco. A produção começou a ser rodada na região na quinta-feira (24/11) e ganhou sua primeira foto oficial. “Delegado” tem direção dos cineastas Leonardo Lacca (de “Permanência”) e Marcelo Lordello (de “Animal Político”) e produção assinada pela CinemaScópio, produtora criada por Kleber Mendonça Filho (de “Bacurau”) e Emilie Lesclaux (de “Recife Frio”). Kleber Mendonça Filho, por sinal, descreve a trama como “o melhor roteiro que eu li nos últimos anos. É muito Brasil, complexo e engraçado”. O projeto está sendo realizado sem destino definido, mas com negociações avançadas com canais por assinatura e plataformas de streaming interessadas. Além de Massaro, o elenco conta com nomes como Georgette Fadel (de “Rio Cigano”), Virgínia Cavendish (de “Lisbela e o Prisioneiro”), Hermila Guedes (de “Assalto ao Banco Central”) e Rubens Santos (de “Bacurau”), entre outros. Johnny Massaro também está envolvido com “Terra Vermelha”, a próxima novela das nove, que tem texto de Walcyr Carrasco e substituirá “Travessia” na programação da Globo em 2023. Ver essa foto no Instagram Uma publicação compartilhada por Kleber Mendonça Filho (@kleber_mendonca_filho)
Cantor e ator Jr. Black, de “Bacurau”, morre aos 46 anos
O cantor, compositor e ator pernambucano Jr. Black morreu na noite de sábado (22/10), no Recife, após sofrer uma parada cardíaca aos 46 anos. O falecimento foi informado pelo cineasta Kleber Mendonça Filho, que dirigiu Jr. Black em “Bacurau”, onde o artista deu vida ao personagem DJ Urso, um locutor de carro de som. Ele estava hospitalizado desde a semana passada devido a um pico de glicose, quando foi diagnosticado com diabetes. Black não sabia que tinha diabetes até ser internado. A suspeita é de que a morte do músico tenha sido provocada por uma trombose. Jr. Black nasceu em 22 de janeiro de 1976 em Garanhuns (PE) e começou a carreira em 2001, como vocalista da banda Negroove. A carreira solo teve início em 2008 e rendeu parcerias musicais com artistas como China, Mombojó, DJ Dolores, Bruno Lins e Dado Villa-Lobos. Como ator, teve presença em várias produções do novo cinema pernambucano, incluindo no curta “Recife Frio”, que consagrou o diretor Kleber Mendonça Filho com vários prêmios em 2009. Ele também participou dos dois longas dirigidos por Hilton Lacerda, “Tatuagem” (2013) e “Fim de Festa” (2013). Seu último trabalho nas telas foi em “Carro Rei”, de Renata Pinheiro, que venceu o Festival de Gramado do ano passado. A Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura do Recife lamentou, por nota, a morte do “artista imenso em criatividade e gentileza, que sempre levantou sua voz forte e impecavelmente empostada a favor das melhores causas e causos”. As duas candidatas ao governo de Pernambuco também se manifestaram. Marília Arraes lembrou que Jr. Black integrou sua equipe de campanha e suspendeu as atividades para que os colegas pudessem se despedir do artista. “Lamento, em nome de toda a equipe, a perda do querido Jr Black, que emprestou sua voz e talento para a nossa campanha. Estamos suspendendo as atividades para que todos possam se despedir. Meus sentimentos ao seu filho Francisco, sua família e amigos. Que Deus conforte a todos”, declarou. Raquel Lyra também se pronunciou assim que soube da morte do artista. “Acabo de saber da partida de Jr. Black, grande artista, músico, ator, e muito querido por todos. Ficará para sempre nas nossas lembranças. Que Deus ilumine sua passagem e proteja sua família. Meus sentimentos mais sinceros”, publicou nas redes sociais. Ele deixa um filho de 13 anos chamado Francisco, fruto do relacionamento com a produtora cultural Célia Lima.
Artistas se revoltam contra “manual do aborto” que propõe investigar vítimas de estupro
Artistas brasileiras estão fazendo um apelo urgente nas redes sociais contra uma audiência pública do Ministério da Saúde, marcada para a manhã de terça-feira (28/6) para discutir um “manual do aborto”. Uma versão preliminar do tal documento, divulgada no dia 7, afirmava que todo aborto é crime. Mais que isso: todo abordo precisaria ser investigado criminalmente para comprovar que ele foi realizado nos casos de “excludente de ilicitude” previstos em lei – se foi fruto de estupro, se representa risco à vida da gestante ou se há anencefalia do feto. Uma campanha online contra o manual está sendo divulgada nas redes sociais, com links para uma petição já assinada por cerca de 40 mil pessoas, algumas bem famosas. “URGENTE: amanhã de manhã vai rolar uma audiência pública para discutir o novo manual do aborto do Ministério da Saúde, que prevê que pessoas que sofreram violência sexual e fizeram um aborto legal sejam investigadas pela polícia”, informaram Dira Paes, Camila Pitanga, Ana Hikari e muitas outras, num texto coletivo feito para divulgar a campanha. As postagens também lembraram o caso recente da menina de 11 anos que foi estuprada e teve seu direito ao aborto legal negado. “Não podemos permitir que casos como o da menina de Santa Catarina se repitam. Pessoas que engravidaram em decorrência de estupro, que gestam fetos anencéfalos ou que correm risco de morrer, caso levem adiante a gestação, precisam acessar o serviço de abortamento de forma segura e humanizada”, disse. As artistas convidaram seus seguidores a pressionarem o Ministério da Saúde para que o projeto não siga adiante: “O Ministério abriu um canal para que pessoas como eu e você se manifestem sobre o manual. Vamos lotar a caixa de email deles com um só coro – não vamos ‘aguentar mais um pouquinho’ [frase dita à menina de Santa Catarina]! Exija que eles cuidem de nossas meninas”. Marcela McGowan acrescentou outro protesto: “Vítima não é suspeita! É inadmissível que um manual do Ministério da Saúde incentive a investigação de vítimas de violência sexual que tentam acessar o serviço de aborto legal!” As cantoras Teresa Cristina e Maria Rita, o diretor Kleber Mendonça Filho e o comediante Gregorio Duvivier, também participaram da divulgação, entre muitos outros. O texto preliminar foi desenvolvido pelo secretário de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde e militante antiaborto Raphael Câmara. “Não existe aborto ‘legal’ como é costumeiramente citado, inclusive em textos técnicos”, diz o esboço do manual. “O que existe é o aborto com excludente de ilicitude. Todo aborto é um crime, mas quando comprovadas as situações de excludente de ilicitude após investigação policial, ele deixa de ser punido, como a interrupção da gravidez por risco materno.” A iniciativa gerou repúdio de especialistas. A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) lamentou que haja um esforço para produzir um “manual” com “inúmeros equívocos e incoerências”, enfatizando recomendações que vão contra todas as definições de organizações internacionais do setor, em defesa da vida das mães. “A Febrasgo reafirma que sim, existe aborto legal no Brasil, devendo ser o aborto tratado como uma questão de saúde pública e que, a construção de documentos e normativas assistenciais devam contar com a participação das sociedades científicas que representam os profissionais envolvidos na atenção à saúde”, diz a Febrasgo em comunicado oficial sobre o tema. A audiência do “manual do aborto” deve começar às 9h e será transmitida pelo YouTube do Ministério da Saúde. 🚨 URGENTE: amanhã de manhã vai rolar uma audiência pública para discutir o novo manual do aborto do Ministério da Saúde, que prevê que pessoas que sofreram violência sexual e fizeram um aborto legal sejam investigadas pela polícia. — Dira Paes (@DiraPaes) June 27, 2022 🚫 Não podemos permitir que casos como o da menina de SC se repitam. Pessoas que engravidaram em decorrência de estupro, que gestam fetos anencéfalos ou que correm risco de morrer caso levem adiante a gestação precisam acessar o serviço de abortamento de forma segura e humanizada — Ana Hikari (@_anahikari) June 27, 2022 📣 O Ministério abriu um canal para que pessoas como eu e você se manifestem sobre o manual. Vamos lotar a caixa de email deles com um só coro – não vamos "aguentar mais um pouquinho"! Exija que eles #CuidemDeNossasMeninas em: https://t.co/EVBxJSsoIO — Camila Pitanga (@CamilaPitanga) June 27, 2022 VÍTIMA NÃO É SUSPEITA! É inadmissível que um manual do Ministério da Saúde incentive a investigação de vítimas de violência sexual que tentam acessar o serviço de aborto legal! Pressione agora pela revogação: https://t.co/vBEufXxmIf #CuidemDeNossasMeninas — Marcela Mc Gowan 🔮 (@marcelamcgowan) June 27, 2022 Acabei de assinar a campanha #CuidemDeNossasMeninas, que pressiona o Ministério da Saúde pela derrubada do novo manual sobre aborto, que quer investigar criminalmente as vítimas de violência sexual que fazem um aborto legal. https://t.co/4bV30r4lw7 — Maria Rita (@MariaRita) June 27, 2022 Para assinar a campanha #CuidemDeNossasMeninas, que pressiona o Min da Saúde pela derrubada do novo manual sobre aborto, que quer investigar criminalmente vítimas de violência sexual que abortam legalmente. Temos 24h pra agir, eu assinei, faça vc também: https://t.co/qSFHTHsmZX — Kleber Mendonça Filho (@kmendoncafilho) June 27, 2022
Spike Lee chama Bolsonaro de gângster no Festival de Cannes
O cineasta americano Spike Lee, que preside o júri da 74ª edição do Festival de Cannes, chamou Jair Bolsonaro de “gângster” durante a primeira entrevista coletiva do evento, nesta terça-feira (6/7). “O mundo está sendo comandado por gângsteres. Há o Agente Laranja [o ex-presidente americano, Donald Trump], o cara do Brasil [Jair Bolsonaro] e [o presidente russo Vladimir] Putin. São bandidos e vão fazer o que desejarem. Não têm moral ou escrúpulos e precisamos falar alto sobre gente assim.” A declaração foi só uma mostra do que vem por aí, já que o evento também conta com Kleber Mendonça Filho (“Bacurau”) em seu júri, responsável por um famoso protesto no tapete vermelho do festival francês contra o Impeachment de Dilma Rousseff. Na entrevista coletiva, ele defendeu que uma das formas de “resistir” é divulgar a informação e denunciar, por exemplo, “o fechamento da Cinemateca Brasileira há mais de um ano”, uma “forma muito clara de reprimir a cultura e o cinema”. Spike Lee é o primeiro artista preto a ocupar a presidência do festival francês, mas já participou três vezes da disputa pela Palma de Ouro. Ele venceu o grande prêmio do júri em 2018, por “Infiltrado na Klan”, mas é considerado injustiçado por ter sido preterido pelo júri presido por Wim Wenders em 1989, quando exibiu seu filme mais importante, “Faça a Coisa Certa”. “Muita gente disse que o filme daria início a uma série de motins raciais pelos EUA”, lembrou Lee, em referência ao conteúdo do filme, que termina com uma rebelião racial em um bairro negro em Nova York. “Escrevi o filme em 1988. Mas quando vejo o irmão Eric Garner e o rei George Floyd mortos [homens negros assassinados por policiais brancos, em 2014 e 2020], lembro do [personagem de ‘Faça a Coisa Certa’ também assassinado] Radio Raheem. Você imaginaria que 30 malditos anos depois a população negra não fosse mais caçada como animais.” O cineasta, que lançou seu filme mais recente (“Destacamento Blood”) pela Netflix, também comentou a resistência do Festival de Cannes ao streaming, proibindo a inclusão de filmes não feitos para o cinema na competição. Para Lee, o streaming não ameaça o cinema. “Não é uma novidade, porque é sempre um ciclo”, afirmou, lembrando que a TV e os vídeos também sofreram a acusação de causarem o fim da experiência cinematográfica. “O cinema e o streaming podem, sim, coexistir.” O Festival de Cannes começa oficialmente nesta terça na França, com a exibição da estreia mundial de “Annette”, aguardado longa do francês Leos Carax, estrelado por Marion Cotillard e Adam Driver. Além de Spike Lee e Kleber Mendonça Filho, o júri do festival também inclui duas diretoras de cinema: a francesa Mati Diop (“Atlantique”) e a austríaca Jessica Hausner (“Little Joe”). O corpo de jurados se completa com cinco atores: o sul-coreano Song Kang-ho (“Parasita”), o francês Tahar Rahim (“O Mauritano”), a americana Maggie Gyllenhaal (“Secretária”), a francesa Mélanie Laurent (“Oxigênio”) e a canadense Mylène Farme (“A Casa do Medo – Incidente em Ghostland”), que também é cantora e compositora. Com cinco mulheres e quatro homens, trata-se de um dos grupos mais diversos da história de Cannes, que terão a difícil tarefa de suceder o júri comandado pelo diretor mexicano Alejandro González Iñárritu (“O Regresso”), responsável por apresentar ao mundo “Parasita”, do sul-coreano Bong Joon Ho, vencedor da Palma de Ouro em 2019 e, posteriormente, do Oscar em 2020.
Festival de Cannes celebra volta ao cinema
O Festival de Cannes começa sua edição de 2021 nesta terça (6/7), estendendo seu tapete vermelho inaugural para a projeção de “Annette”. A ópera rock de Leos Carax, estrelada por Adam Driver, Marion Cotillard e com trilha da banda Sparks, abre a programação do evento, que seguirá com muitas exibições até o dia 17 de julho. Após o cancelamento do ano passado, devido à pandemia de covid-19, o clima deste ano é de celebração. Cannes quer aproveitar a participação presencial do público, astros e cineastas para comemorar a reabertura dos cinemas e a volta do público às sessões. Mas é bastante simbólico que esta festa esteja acontecendo sem a presença da Netflix ou de longas brasileiros em seu Palácio. Em plena pandemia, o festival francês manteve seu veto aos filmes de streaming, embora toda a indústria cinematográfica, incluindo o Oscar e festivais rivais de igual prestígio, tenham aberto suas portas às formas alternativas de exibição cinematográfica. A situação levou o chefe do festival, Thierry Fremaux, a ter que se justificar, citando “regras” da competição – mas até o Oscar mudou suas regras durante a pandemia. Ele também reiterou convite para a Netflix apresentar seus filmes fora de competição no festival, uma condição que a plataforma já recusou anteriormente, por considerar desrespeitoso com os cineastas de suas produções. Premiado na última competição presencial do festival com “Bacurau”, o Brasil, por sua vez, está representado na disputa da Palma de Ouro de 2021 somente pela participação nos bastidores de um dos diretores daquele filme, Kleber Mendonça Filho, convidado a integrar o júri presidido por Spike Lee. Mendonça é um dos artistas que escolherão os melhores trabalhos do evento. A ausência de longas brasileiros na competição do Palácio dos Festivais já é reflexo do desastre cultural do governo Bolsonaro, que implodiu o cinema nacional com o fim de patrocínios e financiamentos, retendo até o dinheiro arrecadado do próprio mercado, cerca de R$ 2 bilhões em taxas cobradas via Condecine e Fistel que deveriam alimentar o inativo Fundo Setorial do Audiovisual. Mesmo assim, dois curtas brasileiros foram selecionados para a disputa da Palma de Ouro de sua categoria: “Sideral”, de Carlos Segundo, e “Céu de Agosto”, de Jasmin Tenucci. Produção do Rio Grande do Norte, “Sideral” contou com ajuda financeira da Lei Aldir Blanc, solução encontrada pelo Congresso para apoiar parcialmente projetos paralisados pela inoperância da Ancine sob o governo Bolsonaro, enquanto “Céu de Agosto” teve première no Festival de Tiradentes deste ano. Já a programação de longas da competição destaca “A Crônica Francesa” (The French Dispatch), de Wes Anderson, que segue a linha de “O Grande Hotel Budapeste” e reúne um grande elenco para viver repórteres de um jornal francês de expatriados, e “Benedetta”, drama erótico do veterano diretor holandês Paul Verhoeven (de “Instinto Selvagem”) sobre uma freira do século 17 que sofre com visões místicas e tentação sexual. Ambos deveriam ter integrado a edição do ano passado, que não aconteceu devido à pandemia. Além desses, outros títulos com première mundial em Cannes incluem os novos trabalhos do americano Sean Penn (“Na Natureza Selvagem”), do italiano Nanni Moretti (“O Quarto do Filho”), do iraniano Asghar Farhadi (“A Separação”), do russo Kirill Serebrennikov (“O Estudante”), do dinamarquês Joachim Trier (“Mais Forte que Bombas”), do tailandês Apichatpong Weerasethakul (“Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas”), do australiano Justin Kurzel (“Macbeth: Ambição e Guerra”) e dos franceses François Ozon (“Frantz”), Jacques Audiard (“Ferrugem e Osso”), Bruno Dumont (“Camille Claudel 1915”), Mia Hansen-Love (“Eden”) e Leos Carax (“Holy Motors”). E vale observar que a nova obra de Hansen-Love, “Bergman Island”, apesar de ter equipe totalmente europeia, foi feita com investimento da produtora paulista RT Features. Entre os destaques das premières fora da competição, Oliver Stone traz à Croisette uma versão retrabalhada de “JFK – A Pergunta que Não Quer Calar”, de 1991, com cenas inéditas, o cineasta Todd Haynes (“Carol”) apresenta seu documentário sobre a banda The Velvet Underground e a atriz Charlotte Gainsbourg (“Ninfomaníaca”) estreia na direção com um documentário sobre sua mãe, a icônica estrela de cinema Jane Birkin (“A Bela Intrigante”). São nas sessões especiais e paralelas que se encontram os únicos longas de diretores brasileiros de toda a programação. Com exibição fora de competição, “O Marinheiro das Montanhas” resgata a história de amor dos pais do diretor Karim Ainouz (“A Vida Invisível”), enquanto “Medusa”, segundo longa de Anita Rocha da Silveira (“Mate-me Por Favor”), foi incluído na Quinzena dos Realizadores – é a única produção 100% brasileira, da Bananeira Filmes, com incentivos que antecedem o advento de Bolsonaro. Também na Quinzena, “Murina”, da croata Antoneta Alamat Kusijanovic, e “O Empregado e o Patrão”, do uruguaio Manuel Nieto Zas (Manolo Nieto), são outras coproduções brasileiras no festival, assim como “Noche de Fuego”, da salvadorenha/mexicana Tatiana Huezo, selecionado na mostra Um Certo Olhar e coproduzido pelo cineasta brasileiro Gabriel Mascaro. Foram as últimas obras realizadas antes que sumissem os editais e linhas de financiamento que permitiam aos produtores brasileiros injetar recursos em produções estrangeiras. Além de projetar filmes inéditos, o evento francês ainda prestará homenagens à atriz e diretora americana Jodie Foster (“O Silêncio dos Inocentes”) e ao cineasta italiano Marco Bellocchio (“Em Nome do Pai”) com Palmas de Ouro honorárias pelas realizações de suas carreiras. Entretanto, quem parece ser o grande homenageado do 74º festival é Spike Lee. O rosto do diretor nova-iorquino, extraído de uma campanha da Nike com o personagem de seu primeiro longa, “Ela Quer Tudo” (1986), ocupa cartazes, a marquise do Palácio, a decoração da sala de imprensa e toda a divulgação do evento. Só que ele não vai ganhar uma Palma honorária nem lançar um novo filme. Spike Lee vai entregar a Palma de Ouro oficial ao melhor filme, como presidente do júri. Ele é o primeiro artista preto a ocupar a presidência do festival francês e terá a difícil tarefa de suceder o diretor mexicano Alejandro González Iñárritu (“O Regresso”), que presidiu a premiação com louvor em 2019, apresentando ao mundo “Parasita”, do sul-coreano Bong Joon Ho, vencedor da Palma de Ouro em 2019 e, posteriormente, do Oscar em 2020.
Kleber Mendonça Filho integra o júri do Festival de Cannes 2021
A organização do Festival de Cannes anunciou os artistas que farão parte do júri internacional da competição de 2021. E o diretor brasileiro Kleber Mendonça Filho foi um dos selecionados. O cineasta de “Bacurau” vai se juntar a duas colegas de profissão: a francesa Mati Diop (“Atlantique”) e a austríaca Jessica Hausner (“Little Joe”). O júri também inclui cinco atores: o sul-coreano Song Kang-ho (“Parasita”), o francês Tahar Rahim (“O Mauritano”), a americana Maggie Gyllenhaal (“Secretária”), a francesa Mélanie Laurent (“Oxigênio”) e a canadense Mylène Farme (“A Casa do Medo – Incidente em Ghostland”), que também é cantora e compositora. Com cinco mulheres e quatro homens, trata-se de um dos grupos mais diversos da história de Cannes, que se somará ao presidente do júri, Spike Lee, para distribuir prêmios entre os 24 filmes da mostra competitiva e entregar a cobiçada Palma de Ouro. Spike Lee é o primeiro artista preto a ocupar a presidência do júri do festival francês. Ele terá a tarefa de suceder o diretor mexicano Alejandro González Iñárritu, que presidiu a premiação com louvor em 2019, apresentando ao mundo “Parasita”, do sul-coreano Bong Joon Ho, vencedor da Palma de Ouro em 2019 e, posteriormente, do Oscar em 2020. Um dos destaques daquele filme foi o ator Song Kang-ho, que agora retorna à Croisette com nova função. Do grupo de jurados, Diop, Hausner e Mendonça Filho também exibiram filmes na competição de Cannes em 2019, o último ano em que o festival foi realizado, e todos saíram premiados do evento. Eles agora vão escolher quem será premiado em 2021. Após ser cancelado no ano passado devido à pandemia de coronavírus, o Festival de Cannes 2021 vai acontecer entre os dias 6 e 17 de julho na Riviera Francesa.
Kleber Mendonça Filho entra em antologia francesa sobre sexo
O cineasta brasileiro Kleber Mendonça Filho (“Bacurau”) juntou-se a outros cinco diretores internacionais em “Shining Sex”, uma antologia francesa de curtas que tem como tema o êxtase sexual. Os demais integrantes do projeto são os franceses Lucile Hadzihalilovic (“Evolução”), Bertrand Mandico (“Os Garotos Selvagens”), o casal Hélène Cattet e Bruno Forzani (“Amer”) e o japonês Sion Sono (“Culpada por Romance”). O curta de Mendonça Filho deve representar o caso de amor entre duas pessoas que se entregam ao “prazer sensual” em um salão de dança no Brasil. A lista de histórias antecipadas também inclui a paixão de um jovem por uma sereia. A produção terá distribuição da empresa francesa Wild Bunch e foi anunciada no mercado paralelo de negócios do Festival de Cannes de 2021. Ainda em fase de desenvolvimento, o projeto não tem previsão de lançamento.










