Atriz de “Jackie Brown” vai estrelar 2ª temporada de “Eles”
A atriz Pam Grier, ícone do cinema blaxpoitation e protagonista do filme “Jackie Brown” (1997), vai estrelar a 2ª temporada da série “Eles” (Them), desenvolvida para o serviço de streaming Amazon Prime Video. Intitulada em inglês “Them: The Scare”, a nova temporada vai contar uma história diferente, com novos personagens. Passada em 1991, a trama vai acompanhar a detetive Dawn Reeve, que precisa investigar um assassinato horrível. Porém, à medida que ela se aproxima da verdade, algo malévolo se apodera dela e da sua família. A detetive será interpretada por Deborah Ayorinde, que também estrelou a 1ª temporada de “Eles”, mas que aqui viverá uma personagem diferente. Grier será Athena, a mãe da protagonista, descrita como uma personagem inteligente e orgulhosa, mas cheia de segredos. O elenco ainda conta com Luke James (“The Chi”) no papel de um ator iniciante e sensitivo, Joshua J. Williams (“Manto e Adaga”) como o filho de Reeve, Jeremy Bobb (“The Outsider”) interpretando um detetive corrupto, e Wayne Knight (“12 Órfãos Poderosos”) como o supervisor da protagonista. Além deles, a série também contará com as participações de Carlito Olivero (“Step Up: High Water”), Charles Brice (“À Tona”) e Iman Shumpert (“The Chi”), “Eles” foi criada por Little Marvin, que também vai escrever a 2ª temporada e atuar como produtor e showrunner da atração. Ainda não há previsão de estreia. Pam Grier tem outros projetos encaminhados, como a sequência de “Cemitério Maldito” e o suspense “Cinnamon”, ambos já filmados, mas ainda sem data de lançamento.
Robert Forster (1941 – 2019)
O ator Robert Forster, indicada ao Oscar por “Jackie Brown”, de Quentin Tarantino, morreu na sexta-feira (11/11) em sua casa em Los Angeles de câncer no cérebro. Ele tinha 78 anos. De longa e celebrada carreira, Robert Wallace Forster Jr. era filho de um treinador de animais de circo e fez sua estréia no cinema em 1967, ao lado de Marlon Brando e Elizabeth Taylor em “Os Pecados de Todos Nós”, virando protagonista no cultuadíssimo “Dias de Fogo” (1969), como um cinegrafista em crise ética. A transformação em ator se deu por acaso. Ele estudava na Universidade de Rochester com a intenção de se tornar advogado, mas uma garota surgiu em seu caminho. “Eu estava no último ano. Segui uma garota até o auditório da universidade, tentando pensar em como chegar e falar com ela. Ao entrar lá, vi que eles estavam fazendo testes para uma peça e essa garota já estava no elenco. Eu pensei: ‘É assim que eu vou conhecê-la!'”, Forster contou em um entrevista ao site The AV Club em 2000. Ele conseguiu uma vaga na peça… e também a garota, June Provenzano, com quem se casou e teve três filhas. Depois de se formar, Forster seguiu nos palcos. Ele estreou na Broadway na peça “Mrs. Dally”, em 1965, e sua interpretação elogiada levou a um teste no estúdio 20th Century Fox, onde se tornou um dos últimos artistas contratados pelo lendário chefe do estúdio Darryl F. Zanuck, após ser aprovado pelo diretor John Huston para “Os Pecados de Todos Nós”. No filme, Forster retratava uma pracinha de espírito livre, que se tornava uma obsessão do Major vivido por Brando. Seguindo papéis coadjuvantes em “A Noite da Emboscada” (1968), de Robert Mulligan, e “Justine” (1969), de George Cuckor, Forster foi estrelar o lendário “Dias de Fogo” (Medium Cool), de Haskell Wexler. O filme, que tratava de tópicos políticos e sociais, como o autoritarismo do governo, os direitos raciais, a Guerra do Vietnã e a crescente importância dos noticiários da TV, tornou-se um marco da agitação contracultural do período, resultando numa combinação bombástica de ficção e imagens documentais, captadas pelo diretor durante a tumultuada Convenção do Partido Democrata em Chicago, em 1968. “Muitas das imagens eram reais. Dizem que é o melhor ou talvez o único exemplo real de cinema vérité americano”, disse Forster ao The AV Club. “Eu acho que a frase ‘O mundo inteiro está assistindo’ foi cunhada naquele momento, quando os militares tentaram reprimir a multidão diante da imprensa. Eles estavam empurrando-os, separando-os e a multidão gritava ‘Não deixem, não deixem, o mundo inteiro está assistindo.” Depois desse filme impactante, ele viveu uma coleção de personagens heroicos, como o capitão de uma nave espacial no ambicioso thriller de ficção científica da Disney, “O Buraco Negro” (1979), mas sua carreira não tomou o rumo imaginado, o que acabou conduzindo-o para o lado B do cinema e produções de televisão. “Fiquei 21 meses sem emprego. Eu tinha quatro filhos, aceitava qualquer emprego que pudesse”, confessou ao jornal Chicago Tribune em 2018. “Minha carreira esteve por cima por cinco anos e depois ficou pra baixo por 27. Toda vez que atingia o nível mais baixo que eu pensava que podia tolerar, caía um pouco mais e depois mais um pouco. Até que eu fiquei sem agente, empresário, advogado, nada. Eu pegava o que quer que aparecesse”. Fã de Forster desde criança, Quentin Tarantino ajudou a mudar essa trajetória. Ele chegou a pensar no ator para “Cãos de Aluguel” (de 1992), mas acabou contratando-o apenas para “Jackie Brown” (1997). Ele escreveu a adaptação do romance de Elmore Leonard, “Rum Punch”, com Foster em mente para o papel de Max Cherry. “Anos se passaram desde que conversamos pela primeira vez numa cafeteria. Àquela altura, a minha carreira estava muito, muito morta”, lembrou Forster em uma entrevista em 2018 ao Fandor. “Na primeira vez, nós blá-blá por alguns minutos, mas seis meses depois ele apareceu na mesma cafeteria com um script nas mãos e o entregou para mim. Quando eu li, mal podia acreditar que ele queria que eu vivesse Max Cherry. Então, quando questionei, ele disse: ‘Sim, é Max Cherry que escrevi para você’. Foi quando eu disse pra ele: ‘Tenho certeza que eles não vão deixar você me contratar’. E ele disse: ‘Contrato quem quiser’. E foi aí que eu percebi que conseguiria outra chance na carreira”. E que chance. Foster recebeu sua primeira e única indicação ao Oscar por seu desempenho no filme, e os convites para filmes com bons orçamentos voltaram a aparecer. Forster foi procurado por vários cineastas famosos e trabalhou em filmes como o remake de “Psicose” (1998), de Gus van Sant, na comédia “Eu, Eu Mesmo e Irene” (2000), dos irmãos Farrelly, “Cidade dos Sonhos” (2001), de David Lynch, “Natureza Quase Humana” (2001), de Michel Gondry, “As Panteras: Detonando” (2003), de McG, “Xeque-Mate” (2006), de Paul McGuigan, e o premiado “Os Descendentes” (2011), de Alexander Payne. O ator ainda interpretou o general Edward Clegg no filme de ação “Invasão a Casa Branca” (2013) e sua sequência, “Invasão a Londres” (2016), e deu show no drama indie “Tudo o que Tivemos” (2018), como um marido que tenta cuidar de sua esposa (Blythe Danner) com Alzheimer. Paralelamente, colecionou papéis notáveis em séries. Foi o pai de Carla Gugino em “Karen Cisco”, série que também adaptou uma obra de Elmore Leonard, o patriarca de uma família de pessoas superpoderosas em “Heroes”, o pai de Tim Allen em “Last Man Standing” e o irmão do xerife Harold Truman (Michael Ontkean) no revival de “Twin Peaks” de 2017. Mas o papel televisivo pelo qual é mais lembrado foi do homem conhecido apenas como Ed, que esconde Walter White (Bryan Cranston) no penúltimo episódio da série “Breaking Bad”. Seu último trabalho foi justamente uma reprise do personagem no filme derivado da série, “El Camino”, que estreou no dia da sua morte na Netflix.
Sid Haig (1939 – 2019)
O ator Sid Haig, lenda do cinema B americano, morreu no sábado (21/9), aos 80 anos. A morte foi anunciada por sua esposa, Susan L. Oberg, no Instagram: “Isto veio como um choque para todos nós. Como família, nós pedimos privacidade e tempo para que nosso luto seja respeitado”. Segundo a Variety, Haig faleceu de uma infecção pulmonar, após complicações respiratórias causadas por uma queda, sofrida semanas atrás. A vasta filmografia do ator tem quase 150 títulos, a maioria de temática violenta. Mas antes de encarar as telas, ele tentou a música. Na adolescência, foi baterista da banda T-Birds e chegou a gravar um hit, “Full House”, que atingiu o 4º lugar na parada de sucessos em 1958. Graças a essa experiência, conseguiu um de seus primeiros papéis no cinema, aparecendo como baterista dos Righteous Brothers no filme “Farra Musical” (1965). A tendência de viver monstros, psicopatas, assassinos e degenerados teve início no mesmo ano num episódio da sitcom “The Lucy Show”, de Lucille Ball, em que encarnou uma múmia. Mas foi por diversão, assim como sua passagem pelos quadrinhos, como capanga do Rei Tut (Victor Buono) na série clássica “Batman” (em 1966), e pela sci-fi, como alienígena na 1ª temporada de “Jornada nas Estrelas” (em 1967). Os primeiros papéis aproveitavam-se de seu visual exótico. Descendente de armênios, ele tinha um ar de estrangeiro perigoso. Ao decidir raspar a cabeça, também adquiriu uma aparência demente. Mas sua transformação definitiva em astro de filmes sanguinários se deu pelas mãos do cineasta Jack Hill. O primeiríssimo trabalho de Haig como ator foi num curta universitário de Hill, feito em 1960 como parte do currículo da UCLA. Assim, quando conseguiu financiamento do rei dos filmes B, Roger Corman, o diretor o convocou para participar de seu primeiro longa oficial, “O Rastro do Vampiro” (1966), cujo título original era mais explícito em relação ao tom da produção – “Blood Bath”, literalmente “banho de sangue”. De todo modo, foi o filme seguinte de Hill, “Spider Baby” (1967), que transformou ambos, diretor e ator, em ícones do cinema B americano. Lançado sem fanfarra, “Spider Baby” saiu da obscuridade para se tornar um dos filmes mais cultuados dos anos 1960, ao ser redescoberto pelas novas gerações. A história girava em torno do personagem vivido pelo veterano astro de terror Lon Chaney (“O Lobisomem”), um cuidador de três irmãos mentalmente perturbados, que tenta proteger os jovens de primos gananciosos. De olho na velha mansão da família em que eles vivem, os parentes resolvem trazer advogados para despejá-los da propriedade. Mas a situação sai do controle, com violência generalizada, culminando na explosão da residência por parte do cuidador, numa mistura de ato de desespero, misericórdia e suicídio. Haig viveu o único irmão homem, incapaz de falar, mas capaz de atos terríveis, como o estupro de sua prima. Ator e diretor continuaram a pareceria em outros gêneros de filmes B, como o cultuado filme de prisão feminina “As Condenadas da Prisão do Inferno” (1971) e dois dos maiores clássicos da era blaxploitation “Coffy: Em Busca da Vingança” (1973) e “Foxy Brown” (1974), todos estrelados por Pam Grier. Essa conexão, por sinal, fez com que Haig fosse lembrado por Quentin Tarantino em sua homenagem ao gênero, “Jackie Brown” (1997), protagonizado pela mesma atriz. Sem abandonar violência, Haig também apareceu em clássicos do cinemão classe A, como “À Queima-Roupa” (1967), de John Boorman, “007 – Os Diamantes São Eternos” (1971), de Guy Hamilton, “O Imperador do Norte” (1973), de Robert Aldritch, e até “THX 1138” (1971), primeira sci-fi de um jovem visionário chamado George Lucas (sim, o criador de “Star Wars”). Mas as produções que costumavam escalá-lo com frequência eram mesmo de baixo orçamento, e elas entraram em crise com o fim das sessões duplas noturnas e dos drive-ins na metade final dos anos 1970. Por conta disso, o ator passou boa parte desse período fazendo séries. Chegou a viver nove vilões diferentes em “Missão Impossível”, quatro em “Duro na Queda”, três em “A Ilha da Fantasia”, dois em “MacGyver”, além de enfrentar “As Panteras”, “Police Woman”, “Buck Rogers”, “Os Gatões”, “Esquadrão Classe A”, “O Casal 20″m etc. Ele anunciou oficialmente sua aposentadoria em 1992, dizendo-se cansado de viver sempre o vilão que morria no episódio da semana. Assim, quando Tarantino o procurou para viver Marcellus Wallace em “Pulp Fiction” (1994), ele se recusou. O papel acabou consagrando Ving Rhames. Mas Tarantino não desistiu de tirar Haig da aposentadoria. Ele escreveu o personagem do juiz de “Jackie Brown” pensando especificamente no ator. E ao insistir foi bem-sucedido em convencê-lo a atuar novamente. Após aparecer em “Jackie Brown”, Haig foi convidado a participar de um clipe do roqueiro Rob Zombie, “Feel So Numb” (2001). E a colaboração deu início a uma nova fase na carreira de ambos. Zombie resolveu virar diretor de cinema e escalou Haig em seu papel mais lembrado, como o Capitão Spaulding, guia turístico de “A Casa dos 1000 Corpos” (2003), filme francamente inspirado em “Spider Baby”, entre outras referências de terror ultraviolento. O nome Capitão Spaulding também era citação a outro personagem famoso, o grande contador de “lorotas” vivido por Groucho Marx na célebre comédia “Os Galhofeiros” (1930). Spaulding voltou a matar, acompanhado por seus parentes dementes, na continuação “Rejeitados pelo Diabo” (2005), melhor filme da carreira de Rob Zombie. E Haig seguiu participando dos filmes do roqueiro cineasta, como “Halloween: O Início” (2007), “The Haunted World of El Superbeasto” (2009) e “As Senhoras de Salem” (2012). Ele ainda trabalhou em “Kill Bill: Volume 2” (2004), de Tarantino, no cultuado western de terror “Rastro de Maldade” (2015), de S. Craig Zahler, e em dezenas de títulos de horror lançados diretamente em vídeo na fase final de sua carreira. Para completar sua prodigiosa filmografia, vai se despedir das telas com o personagem que mais viveu, retomando o Capitão Spaulding em “Os 3 Infernais”, final da trilogia de Rob Zombie, que tem estreia prevista para outubro.

