Jesse Eisenberg vai viver o famoso mímico Marcel Marceau em filme de guerra
Conhecido por personagens verborrágicos, Jesse Eisenberg (“Batman vs. Superman”) vai viver em seu próximo filme o maior mímico de todos os tempos, Marcel Marceau. O detalhe é que a trama de “Resistance” vai se passar antes dele calar a boca. A trama, por sinal, vai explorar como o fato de falar bom inglês tornou Marcel Mangel, como ainda era chamado, um importante combatente na luta secreta da resistência francesa contra o nazismo. Escrito e dirigido pelo venezuelano Jonathan Jakubowicz (“Punhos de Aço”), o filme acompanhará a trajetória de Marcel durante a 2ª Guerra Mundial, quando serviu de ligação entre a resistência e o exército aliado e ajudou a resgatar milhares de crianças judias, com a ajuda de sua irmão e sua parceira Emma, papel de Haley Bennett (“Sete Homens e um Destino”), ao mesmo tempo em que perdeu o pai no holocausto. O elenco também inclui o alemão Matthias Schweighoefer (“Operação Valquíria”) como o terrível comandante nazista Klaus Barbie, também conhecido como o Açougueiro de Lyon, pelas táticas de tortura utilizadas contra os rebeldes na França. As gravações de “Resistance” estão previstas para o segundo semestre.
Scarlett Johansson se emociona ao descobrir história de sua família exterminada por nazistas
A atriz Scarlett Johansson (“Ghost in Shell”) não conseguiu segurar a emoção ao participar do programa “Finding Your Roots”, onde celebridades descobrem quem são seus antepassados. Uma prévia do episódio, que vai ao ar na terça-feira (31/10) nos Estados Unidos, foi disponibilizada na internet e pode ser conferida abaixo. Após ouvir do apresentador Henry Louis Gates Jr. que seu bisavô vendia doces em Nova York, ela conheceu a história trágica da família do irmão dele, exterminada no Gueto de Varsóvia, na Polônia, onde nazistas confinaram quase 400 mil judeus em condições desumanas durante a 2ª Guerra Mundial, e teve dificuldades para conter as lágrimas. “Uau”, ela suspirou, ao ler os obituários da família e ficar alguns segundos em silêncio. “Eu prometi a mim mesma que não iria chorar. Mas é difícil evitar. É difícil. É um horror que você não consegue imaginar. É simplesmente louco pensar nisso”, disse Johansson. “Seria tão diferente se eles tivessem vindo para os EUA. O destino de um irmão comparado ao outro. Isso me conecta mais com um lado de mim mesma e da minha família. Não esperava isso”, concluiu. O episódio também explora as raízes dinamarquesas da atriz. “Finding Your Roots” é um programa do canal público PBS e se propõe a examinar “o DNA da cultura americana”. A produção já está em sua 4ª temporada.
Bye Bye Alemanha usa de bom humor para tratar de tema sério
Os judeus alemães que conseguiram sobreviver ao regime nazista, logo após a 2ª Guerra Mundial, tinham um sonho comum: abandonar a Alemanha e partir para os Estados Unidos. É o caso de David Bermann (Moritz Bleibtreu) e seus amigos, em Frankfurt, em 1946. Com um negócio de família de venda de roupa fina para os alemães, foi possível obter o dinheiro para a viagem, e o visto para a América é quase automático na situação dele. Porém, ao examinar seus documentos e vasculhar seu passado recente, a oficial americana Sara Simon (Antje Traue) resolve investigar melhor e encontra coisas suspeitas. O filme “Bye Bye Alemanha”, do diretor Sam Garbarski, conta a história desse personagem da vida real, do que ele relata e do que ele esconde, e vamos descobrindo uma personalidade cheia de nuances e jogo de cintura, que explicam sua sobrevivência. David tem também uma malandragem e uma vivacidade intelectual que, certamente, contam muito em situações extremas. Basta dizer que um dos elementos centrais nessa história é sua capacidade de contar piadas, nos momentos e situações mais improváveis. E o humor salva. A trama é muito boa e muito bem contada, pelo cineasta que já nos deu dois bons filmes antes: “Irina Palm”, em 2007, e “O Tango de Rashevski”, em 2003. Seu estilo de narrar é tradicional e popular. Comunicativo e bem humorado, geralmente abordando temas bem sérios, como é o caso aqui. O ator alemão Moritz Bleibtreu é talentoso e compõe muito bem o tipo retratado no filme. Ainda assim, para um personagem que conta piadas, ele é discreto demais. Ele optou por uma interpretação contida, considerando o contexto, mas talvez tenha exagerado um pouco na dose. A personagem de Sara também comportaria mais expansividade. Ela enfatiza mais as suspeitas em relação ao personagem do que o acolhimento e o direito de considerá-lo uma pessoa inocente até prova em contrário, na maior parte do filme. Curiosamente, os dois atores principais trabalharam juntos em outro filme recente sobre as consequências do nazismo, “A Dama Dourada” (2015). “Bye Bye Alemanha” traz uma boa caracterização de época, incluindo uma fotografia que, em tons sépia, cinza e ambientação escurecida, nos remete ao passado, e um passado nada glorioso. Não fosse o tom bem-humorado da realização, poderia resultar em um filme pesado. Não é o caso. Esse é um dos méritos de “Bye Bye Alemanha”: tratar com respeito, mas sem muita dramaticidade, um assunto grave. E por um ângulo inesperado, como verá quem for assistir ao filme.
Tom Holland vai viver herói adolescente da 2ª Guerra Mundial
O ator Tom Holland vai protagonizar uma nova produção de Amy Pascal, a ex-presidente da Sony que produziu “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” . Segundo o site Deadline, ele irá estrelar a adaptação do romance “Beneath a Scarlet Sky”, livro de Mark Sullivan que se encontra no topo da lista dos mais vendidos da Amazon. A trama se passa na Itália durante a 2ªGuerra Mundial e conta a história real de Pino Lella, um jovem comum que tem sua vida alterada quando os nazistas chegam em Milão. Ele tenta ajudar os judeus, mas é obrigado a se alistar no exército aos 18 anos e se torna motorista de Hans Leyers, braço direito de Hitler. Relutante, ele acaba recrutado pela resistência e se torna um espião, conhecido pelos aliados apenas pelo codinome “O Observador”. Pino Lella é vivo até hoje. Ele acaba de completar 91 anos e ainda mora na Itália. Apesar de contar com a aparência juvenil de Holland para interpretar um adolescente, o projeto pode acabar demorando a sair do papel, já que o ator tem diversos filmes na frente desta produção. Atualmente envolvido com as filmagens de “Vingadores 4” , ele vai estrelar a sci-fi “Chaos Walking” , a adaptação do game de aventuras “Uncharted” e a continuação de “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”. “Beneath a Scarlet Sky” ainda não definiu diretor nem roteirista, e não possui data de lançamento prevista.
Kenneth Branagh vai filmar luta para publicar O Diário de Anne Frank
A luta para a publicação da obra mais famosa sobre o Holocausto, “O Diário de Anne Frank”, será tema do filme “Keeper of the Diary”. Segundo o site Deadline, o cineasta inglês Kenneth Branagh (“Cinderela”) está negociando para dirigir e estrelar o projeto. O drama vai se passar entre o final da 2ª Guerra Mundial e o começo da década de 1950, acompanhando a jornada do pai de Anne Frank, Otto Frank, em busca de um editora para lançar o livro. Ele acaba encontrando Barbara Zimmerman, uma jovem ambiciosa que ajuda Otto a organizar os manuscritos da adolescente judia, que registrou seu cotidiano até morrer vítima do nazismo. O sucesso do livro acabou transformando Zimmerman numa lenda do mercado editorial. O papel de Branagh será o de Otto Frank, caso as negociações cheguem à resolução esperada. A produção está sendo desenvolvida pela Fox Searchlight. Kenneth Branagh tem bastante familiaridade com o tema do filme. Ele narrou o documentário “Anne Frank: Remembered”, vencedor do Oscar da categoria em 1996. A seguir, ele será visto no remake de “O Assassinato no Expresso Oriente”, que ele dirigiu e também estrela, ao lado de um elenco grandioso, com lançamento marcado para 23 de novembro no Brasil.
Documentário celebra cinco mestres de Hollywood que filmaram a 2ª Guerra Mundial
A Netflix divulgou o pôster e o trailer legendado de “Five Came Back”, um série de documentários que todo cinéfilo deveria assistir. A produção reflete sobre o surgimento da propaganda política, sob o nazismo, e a reação de Hollywood, com o alistamento de cinco dos maiores cineastas que os EUA já produziram, para lutar no front com luzes, câmeras e ação. O filme conta a história destes mestres, que produziram documentários sobre a guerra real, com cenas heroicas, mas também imagens chocantes. E, ao retornarem dessa experiência, devotaram suas energias para criar os melhores filmes de suas carreiras, verdadeiras obras-primas. “Five Came Back” é a história da luta de Frank Capra (“A Felicidade Não se Compra”), John Ford (“No Tempo das Diligências”), George Stevens (“Os Brutos Também Amam”), John Huston (“O Tesouro de Sierra Madre”) e William Wyler (“Ben-Hur”) na 2ª Guerra Mundial, com imagens rodadas por eles mesmos, e comentada por cinco mestres contemporâneos, Steven Spielberg, Francis Ford Coppola, Paul Greengrass, Guillermo del Toro e Lawrence Kasdan. De quebra, ainda há a narração de Meryl Streep para alinhavar a história. Com direção de Laurent Bouzereau (“Roman Polanski: A Film Memoir”), os três episódios de “Five Came Back” estreiam em 31 de março.
Rachel Weisz precisa provar que o Holocausto existiu no trailer legendado de Negação
A Sony divulgou o trailer legendado de “Negação” (Denial), cuja trama ganha uma atualidade desconsertante nestes tempos de pós-verdade. Drama britânico baseado em fatos reais, o filme traz Rachel Weisz (“Oz, Mágico e Poderoso”) como uma historiadora confrontada por um famoso escritor (o excelente Timothy Spall, de “Mr. Turner”) com ideias radicais sobre a existência do Holocausto. A disputa vai parar nos tribunais, levando a professora a ter que provar que o extermínio de judeus realmente aconteceu durante o nazismo. A disputa aconteceu em 1996, mas apesar do clima apresentado no vídeo, resultou no descrédito absoluto do escritor David Irving, que já experimentava problemas com suas teorias e era considerada persona non grata na Alemanha, além de ter um mandato de prisão expedido na Áustria por defender o nazismo. Ao decidir confrontar Deborah Lipstadt (a personagem de Weisz), caiu em desgraça, passou um período preso, deixou de ser convidado para palestras e eventos literários e viu suas obras serem ridicularizadas. Baseado no livro de memórias da própria Lipstadt, o filme foi escrito por David Hare, já indicado ao Oscar pelos roteiros adaptados de “As Horas” (2002) e “O Leitor” (2008). A direção está a cargo de Mick Jackson, diretor do sucesso “O Guarda-Costas” (1992), que estava afastado do cinema desde 2002. E o elenco também inclui Andrew Scott (série “Sherlock”), Tom Wilkinson (“Selma”), Mark Gatiss (também de “Sherlock”) e Harriet Walter (série “Downton Abbey”). A estreia está marcada para 9 de março no Brasil.
Jessica Chastain vive heroína do holocausto no trailer legendado de O Zoológico de Varsóvia
A Universal divulgou a versão legendada do trailer de “The Zookeeper’s Wife”, drama sobre o holocausto estrelado por Jessica Chastain (“A Colina Escarlate”), que ganhou o título nacional de “O Zoológico de Varsóvia” – o mesmo do livro no Brasil. Baseado no livro e nos diários reais de Antonina Żabiński, o filme se passa na Polônia e conta como Antonina (Chastain) e seu marido (Johan Heldenbergh, de “As Confissões”) transformaram o jardim do zoológico de Varsóvia num abrigo secreto para esconder judeus durante a invasão nazista do país, mesmo diante da vigília constante do comandante do Reich (Daniel Brühl, de “Capitão América: Guerra Civil”). A adaptação foi escrita por Angela Workman (“Flor de Neve e o Leque Secreto”) e dirigida por Niki Caro (“Terra Fria”). A estreia está marcada para 27 de abril no Brasil, um mês após o lançamento nos EUA.
Globo quer Alice Braga e Rodrigo Santoro em minissérie histórica sobre o holocausto
A Globo quer juntar dois dos atores brasileiros mais bem-sucedidos de Hollywood numa minissérie histórica sobre o holocausto. A emissora carioca quer contar com Alice Braga no papel principal, e Rodrigo Santoro no elenco de “O Anjo de Hamburgo” (título de trabalho), dramatização da história de Aracy Moebius de Carvalho Guimarães Rosa (1908-2011), a brasileira que salvou cerca de 200 famílias de judeus da prisão e da morte na Alemanha nazista. O roteiro está sendo escrito por Mário Teixeira, autor de “Liberdade, Liberdade”, e a direção-geral está a cargo de Jayme Monjardim, que filmou “Olga” (2004), sobre Olga Benário Prestes, morta em 1942 justamente em um campo de extermínio nazista. A Globo tenta conciliar as agendas dos dois atores nos EUA para planejar as gravações da minissérie, que aconteceriam no ano que vem, visando uma estreia em 2018. Segundo o blog Notícias da TV, eles já leram o material de apresentação da obra e ficaram entusiasmados. Alice estrela a série “The Queen of South” (A Rainha do Sul) no canal pago americano USA Network e Santoro está no elenco de “Westworld”, do HBO. Ambas as séries foram renovadas, mas isso não os impede de fazer outros trabalhos. Aracy foi casada com o escritor João Guimarães Rosa (1908-1967), que dedicou a ela o clássico literário “Grande Sertão: Veredas”, lançado em 1956. Era católica praticante, filha de pai português e mãe alemã. Poliglota, virou secretária do consulado brasileiro em Hamburgo, por onde emitiu vistos para judeus perseguidos pelo nazismo migrarem para o Brasil. Em alguns casos, ainda os ajudava a sair da Alemanha, às vezes usando seu próprio carro. Fez isso clandestinamente e sob alto risco, entre os anos 1930 e 1940. Na época, inclusive, vigorava uma circular do governo brasileiro que recomendava o veto à entrada de judeus no país. Seu heroísmo foi reconhecido pela comunidade judaica, que a homenageou em 1982. Seu nome está registrado no memorial das vítimas do Holocausto, em Israel, e no Museu do Holocausto de Washington. Foi, por sinal, graças à esta ação humanitária que Aracy se aproximou de Guimarães Rosa, que foi cônsul-adjunto em Hamburgo. Embora não tenha sido revelado, é provável que Santoro esteja sendo cotado para viver o escritor.
The Zookeeper’s Wife: Jessica Chastain vive heroína do holocausto em trailer dramático
A Focus Features divulgou o pôster, as fotos e o primeiro trailer de “The Zookeeper’s Wife”, drama sobre o holocausto estrelado por Jessica Chastain (“A Colina Escarlate”). Baseado no livro homônimo e nos diários reais de Antonina Żabiński, o filme se passa na Polônia e conta como Antonina (Chastain) e seu marido (Johan Heldenbergh, em cartaz em “As Confissões”) transformaram o jardim do zoológico de Varsóvia num abrigo secreto para esconder judeus durante a invasão nazista do país, mesmo diante da vigília constante do comandante do Reich (Daniel Brühl, de “Capitão América: Guerra Civil”). A adaptação foi escrita por Angela Workman (“Flor de Neve e o Leque Secreto”) e dirigida por Niki Caro (“Terra Fria”). A estreia está marcada para 31 de março nos EUA e não há previsão de lançamento no Brasil.
Andrzej Wajda (1926 – 2016)
Morreu Andrzej Wajda, um dos maiores cineastas da Polônia, vencedor da Palma de Ouro de Cannes e de um Oscar honorário pela carreira de fôlego, repleta de clássicos humanistas. Ele faleceu no domingo (9/10), aos 90 anos, em Varsóvia, após uma vida dedicada ao cinema, em que influenciou não apenas a arte, mas a própria História, ao ajudar a derrubar a cortina de ferro com filmes que desafiaram a censura e a repressão do regime comunista. Nascido em 6 de março de 1926 em Suwalki, no nordeste polonês, Wajda começou a estudar cinema após a 2ª Guerra Mundial, ingressando na recém-aberta escola de cinema de Lodz, onde também estudaram os diretores Roman Polanski e Krzysztof Kieslowski, e já chamou atenção em seu primeiro longa-metragem, “Geração” (1955), ao falar de amor e repressão na Polônia sob o regime nazista. Seu segundo longa, “Kanal” (1957), também usou a luta contra o nazismo como símbolo da defesa da liberdade, e abriu o caminho para sua consagração internacional, conquistando o prêmio do juri no Festival de Cannes. Com “Cinzas e Diamantes” (1958), que venceu o prêmio da crítica no Festival de Veneza, ponderou como pessoas de diferentes classes sociais e inclinações políticas tinham se aliado contra o nazismo, mas tornaram-se inimigas após o fim da guerra. Os três primeiros filmes eram praticamente uma trilogia temática, refletindo as ansiedades de sua geração, que tinha sobrevivido aos nazistas apenas para sofrerem com os soviéticos. Ele também filmou várias vezes o Holocausto, do ponto de vista da Polônia. Seu primeiro longa sobre o tema foi também o mais macabro, contando a história de um coveiro judeu empregado pelos nazistas para enterrar as vítimas do gueto de Varsóvia, em “Samson, a Força Contra o Ódio” (1961). Aos poucos, suas críticas foram deixando de ser veladas. Num novo filme batizado no Brasil com o mesmo título de seu terceiro longa, “Cinzas e Diamantes” (1965), lembrou como os poloneses se aliaram a Napoleão para enfrentar o império russo e recuperar sua soberania. A constância temática o colocou no radar do governo soviético. Mesmo com fundo histórico conhecido, “Cinzas e Diamantes” disparou alarmes. Aproveitando uma tragédia com um ator local famoso, Wajda lidou com a perigosa atenção de forma metalinguista em “Tudo à Venda” (1969), sobre um diretor chamado Andrzej, que tem uma filmagem interrompida pelo súbito desaparecimento de seu ator principal. Considerado muito intelectual e intrincado, o filme afastou o temor de que o realizador estivesse tentando passar mensagens para a população. Mas ele estava. Em “Paisagem Após a Batalha” (1970), o diretor voltou suas câmeras contra o regime, ao registrar o sentimento de júbilo dos judeus ao serem libertados dos campos de concentração no fim da guerra, apenas para sepultar suas esperanças ao conduzi-los a outros campos cercados por soldados diferentes – russos – , inspirando a revolta de um poeta que busca a verdadeira liberdade longe disso. Seus três longas seguintes evitaram maiores controvérsias, concentrando-se em dramas de família e romances de outras épocas, até que “Terra Prometida” (1975) rendeu efeito oposto, celebrado pelo regime a ponto de ser escolhido para representar o país no Oscar. E conquistou a indicação. Ironicamente, a obra que o tornou conhecido nos EUA foi a mais comunista de sua carreira. Apesar de sua obsessão temática pela liberdade, “Terra Prometida” deixava claro que Wajda não era defensor do capitalismo. O longa era uma denúncia visceral de como a revolução industrial tardia criara péssimas condições de trabalho para os operários poloneses, enquanto empresários enriqueciam às custas da desumanização na virada do século 20. Brutal, é considerado um dos maiores filmes do cinema polonês. Satisfeito com a consagração, Wajda manteve o tema em seus filmes seguintes, acompanhando a evolução da situação dos operários poloneses ao longo do século. Mas os resultados foram o avesso do que a União Soviética gostaria de ver nas telas. A partir daí, sua carreira nunca mais foi a mesma. Seus filmes deixaram de ser cinema para virarem registros históricos, penetrando nas camadas mais profundas da cultura como agentes e símbolos de uma época de transformação social. “O Homem de Mármore” (1977) encontrou as raízes do descontentamento dos trabalhadores da Polônia no auge do stalinismo dos anos 1950. O filme era uma metáfora da situação política do país e também usava de metalinguagem para tratar da censura que o próprio Wajda sofria. A trama acompanhava uma estudante de cinema que busca filmar um documentário sobre um antigo herói do proletariado, que acreditava na revolução comunista e na igualdade social, mas, ao ter acesso a antigas filmagens censuradas para sua pesquisa, ela descobre que foi exatamente isto que causou sua queda e súbito desaparecimento da história. Diante da descoberta polêmica, a jovem vê seu projeto de documentário proibido. A censura política voltou a ser enfocada em “Sem Anestesia” (1978), história de um jornalista polonês que demonstra profundo conhecimento político e social numa convenção internacional, o que o faz ser perseguido pelo regime, que cancela suas palestras, aulas e privilégios, culminando até no fim de seu casamento, para reduzir o homem inteligente num homem incapaz de se pronunciar. Após ser novamente indicado ao Oscar por um longa romântico, “As Senhoritas de Wilko” (1979), Wajda foi à luta com o filme mais importante de sua carreira. “O Homem de Ferro” (1981) era uma obra de ficção, mas podia muito bem ser um documentário sobre a ascensão do movimento sindicalista Solidariedade, que, anos depois, levaria à queda do comunismo na Polônia e, num efeito dominó, ao fim da União Soviética. A narrativa era amarrada por meio da reportagem de um jornalista enviado para levantar sujeiras dos sindicalistas do porto de Gdansk, que estavam causando problemas, como uma inusitada greve em pleno regime comunista. Ao fingir-se simpatizante da causa dos estivadores, ele ouve histórias que traçam a longa trajetória de repressão aos movimentos sindicais no país, acompanhadas pelo uso de imagens documentais. O filme chega a incluir em sua história o líder real do Solidariedade, Lech Walesa, que depois se tornou presidente da Polônia. Apesar da trajetória evidente do cineasta, o regime foi pego de surpresa por “O Homem de Ferro”, percebendo apenas o que ele representava após sua première mundial no Festival de Cannes, onde venceu a Palma de Ouro e causou repercussão internacional. Sem saber como lidar com a polêmica, o governo polonês sofreu pressão mundial para o longa ir ao Oscar, rendendo mais uma indicação a Wajda e um confronto político com a União Soviética, que exigiu que o filme fosse banido dos cinemas. Assim, “O Homem de Ferro” só foi exibido em sessões privadas em igrejas em seu país. Considerado “persona non grata” e sem condições de filmar na Polônia, que virara campo de batalha, com o envio de tropas e tanques russos para sufocar o movimento pela democracia despertado pelo Solidariedade, Wajda assumiu seu primeiro longa internacional estrelado por um grande astro europeu, Gerard Depardieu. O tema não podia ser mais provocativo: a revolução burguesa da França. Em “Danton – O Processo da Revolução” (1983), o diretor mostrou como uma revolução bem intencionada podia ser facilmente subvertida, engolindo seus próprios mentores numa onda de terrorismo de estado. A história lhe dava razão, afinal Robespierre mandou Danton para a guilhotina, antes dele próprio ser guilhotinado. E mesmo assim o filme causou comoção, acusado de “contrarrevolucionário” por socialistas e comunistas franceses, que enxergaram seus claros paralelos com a União Soviética. Ficaram falando sozinhos, pois Wajda ganhou o César (o Oscar francês) de Melhor Diretor do ano. Sua militância política acabou arrefecendo no cinema, trocada por romances e dramas de época, como “Um Amor na Alemanha” (1983), “Crônica de Acontecimentos Amorosos” (1986) e “Os Possessos” (1988), adaptação de Dostoevsky que escreveu com a cineasta Agnieszka Holland. Em compensação, acirrou fora das telas. Ele assinou petições em prol de eleições diretas e participou de manifestações políticas, que levaram ao fim do comunismo na Polônia. As primeiras eleições diretas da história do país aconteceram em 1989, e Wajda se candidatou e foi eleito ao Senado. A atuação política fez mal à sua filmografia. Filmando menos e buscando um novo foco, seus longas dos anos 1990 não tiveram a mesma repercussão. Mas não deixavam de ser provocantes, como atesta “Senhorita Ninguém” (1996), sobre uma jovem católica devota, que acaba corrompida quando sua família se muda para a cidade grande, numa situação que evocava a decadência de valores do próprio país após o fim do comunismo. Por outro lado, seus filmes retratando o Holocausto – “As Duzentas Crianças do Dr. Korczak” (1990), sobre um professor que tenta proteger órfãos judeus no gueto de Varsóvia e morre nos campos de concentração, e “Semana Santa” (1995), evocando como a Polônia lidou com a revolta do gueto de Varsóvia em 1943 – receberam pouca atenção. O que o fez se retrair para o mercado doméstico, onde “Pan Tadeusz” (1999), baseado num poema épico polonês do século 19 sobre amor e intriga na nobreza, virou um sucesso. Durante duas décadas, Wajda sumiu dos festivais, onde sempre foi presença constante, conquistando prêmios, críticos e fãs. Mas estava apenas recarregando baterias, para retornar com tudo. Seu filme de 2007, “Katyn” se tornou uma verdadeira catarse nacional, quebrando o silêncio sobre uma tragédia que afetou milhares de famílias na Polônia: o massacre de 1940 na floresta de Katyn, em que cerca de 22 mil oficiais poloneses foram executados pela polícia secreta soviética. Quarta indicação ao Oscar de sua carreira, “Katyn” foi seu filme mais pessoal. Seu pai, um capitão da infantaria, estava entre as vítimas. Durante a divulgação do filme, o cineasta fez vários desabafos, ao constatar que jamais poderia ter feito “Katyn” sem que o comunismo tivesse acabado, uma vez que Moscou se recusava a admitir responsabilidade e o assunto era proibido sob o regime soviético. “Nunca achei que eu viveria para ver a Polônia como um país livre”, Wajda disse em 2007. “Achei que morreria naquele sistema.” Após acertar as contas com a história de seu pai, focou em outro momento importante de sua vida, ao retomar a trama de “Homem de Ferro” numa cinebiografia. Em “Walesa” (2013), mostrou como um operário simples se tornou o líder capaz de derrotar o comunismo na Polônia. Na ocasião, resumiu sua trajetória, dizendo: “Meus filmes poloneses sempre foram a imagem de um destino do qual eu mesmo havia participado”. Ao exibir “Walesa” no Festival de Veneza, Wajda já demonstrava a saúde fragilizada. Mas cinema era sua vida e ele encontrou forças para finalizar uma última obra, que ainda pode lhe render sua quinta indicação ao Oscar, já que foi selecionada para representar a Polônia na premiação da Academia. Seu último filme, “Afterimage” (2016), é a biografia de um artista de vanguarda, Wladyslaw Strzeminski, perseguido pelo regime de Stalin por se recusar a seguir a doutrina comunista. Um tema – a destruição de um indivíduo por um sistema totalitário – que sintetiza o cinema de Wajda, inclusive nos paralelos que permitem refletir o mundo atual, em que a liberdade artística sofre com o crescimento do conservadorismo. Com tantos filmes importantes, Andrzej Wajda ganhou vários prêmios por sua contribuição ao cinema mundial. Seu Oscar honorário, por exemplo, é de 2000, antes de “Katyn”, e o Festival de Veneza foi tão precipitado que precisou lhe homenagear duas vezes, em 1998 com um Leão de Ouro pela carreira e em 2013 com um “prêmio pessoal”. Há poucos dias, em setembro, ele ainda recebeu um prêmio especial do Festival de Cinema da Polônia. O diretor também é um dos homenageados da 40ª edição da Mostra de Cinema de São Paulo, que começa no dia 20 de outubro. A programação inclui uma retrospectiva com 17 longas do grande mestre polonês.
Denial: Rachel Weisz tem que provar a existência do Holocausto em trailer dramático
A BBC Films divulgou o pôster e o primeiro trailer de “Denial”, drama britânico baseado em fatos reais, que traz Rachel Weisz (“Oz, Mágico e Poderoso”) como uma historiadora confrontada por um famoso escritor (o excelente Timothy Spall, de “Mr. Turner”) com ideias radicais sobre a existência do Holocausto. A disputa vai parar nos tribunais, levando a professora a ter que provar que o extermínio de judeus realmente aconteceu durante o nazismo. A disputa realmente aconteceu em 1996, mas apesar do clima apresentado no vídeo, resultou no descrédito absoluto do escritor David Irving, que já experimentava problemas com suas teorias e era considerada persona non grata na Alemanha, além de ter um mandato de prisão expedido na Áustria por defender o nazismo. Ele caiu em desgraça, passou um período preso, deixou de ser convidado para palestras e eventos literários e viu suas obras serem ridicularizadas. Baseado no livro de Deborah Lipstadt (a personagem de Weisz), o filme foi escrito por David Hare, já indicado ao Oscar pelos roteiros adaptados de “As Horas” (2002) e “O Leitor” (2008). A direção está a cargo de Mick Jackson, diretor do sucesso “O Guarda-Costas” (1992), que estava afastado do cinema desde 2002. O elenco, por sua vez, também inclui Andrew Scott (série “Sherlock”), Tom Wilkinson (“Selma”), Mark Gatiss (também de “Sherlock”) e Harriet Walter (série “Downton Abbey”). A estreia está marcada para 30 de setembro nos EUA e não há previsão de lançamento no Brasil. https://www.youtube.com/watch?v=











