CEO da Disney diz que governador “só prejudica a Flórida” com ataques à empresa
O CEO da Disney Bob Iger fez um raro comentário político durante o encontro trimestral com acionistas nesta segunda-feira (3/4), defendendo a posição da Disney em relação a questões de gênero e criticando o governador da Flórida, Ron DeSantis, por sua decisão de “punir” a empresa por conta disso. Segundo Iger, as decisões anti-Disney do político “não são apenas anti-business, mas anti-Flórida”. Neste segunda-feira (3/4), o New York Times noticiou que DeSantis pediu às autoridades da Flórida que investigassem o conselho da Disney World. “Parece que ele decidiu retaliar contra nós”, disse Iger durante a reunião dos acionistas da empresa, e referiu-se aos vários ataques do governador como uma tentativa de “punir uma empresa pelo exercício de um direito constitucional”, que seria a Liberdade de Expressão. “Isso parece muito errado para mim”, acrescentou Iger, que voltou ao cargo de CEO no final do ano passado, após a dispensa de Bob Chapek. “Atualmente, estamos planejando investir mais de US$ 17 bilhões na Disney World pelos próximos 10 anos”, continuou Iger, observando que a Disney estima que isso levará a 13 mil novos empregos e “milhares de empregos indiretos” no estado, trazendo assim mais impostos para a Flórida. O empresário apontou que qualquer tentativa feita por DeSantis para “frustrar” esses esforços “só prejudica a Flórida”. A reunião dos acionistas da Disney também teve o CEO respondendo várias perguntas relacionadas à situação da Disney no estado, incluindo por que a empresa se posicionou contra o Projeto de lei apelidado de “Don’t Say Gay”, que proíbe escolas de ensinarem sobre identidade de gênero e dá aos pais o poder de processar escolas por supostas violações. “Há uma verdadeira razão para isso. Isso afeta diretamente nossos negócios ou pessoas”, disse Iger, citando como a Disney se posicionou durante o movimento dos direitos civis e a 2ª Guerra Mundial. “Aqueles que ficaram em silêncio, de certa forma, ainda carregam a mancha da indiferença”. E continuou: “Enquanto eu estiver no cargo, seremos guiados por um senso de decência. Confiaremos em nosso instinto de que a questão é realmente relevante para nós e para as pessoas com quem trabalhamos”. “Eu apenas espero que a Disney continue sendo uma fonte de esperança e otimismo para o mundo. Estamos honrados em levar adiante o legado inspirador de alegria e admiração de Walt Disney para todos”, finalizou Iger. DeSantis encerrou um contrato que dava autonomia à Disney World e isenções fiscais para a empresa na Flórida, acusando a Disney de promover uma agenda LGBTQIAP+ para “injetar sexualidade na programação que é fornecida aos nossos filhos mais novos”. E declarou: “Não quero no meu estado esse tipo de agenda recebendo tratamento especial. Eu simplesmente não aceito”.
Governador da Flórida corta isenção do Disney World: “Não quero no meu estado”
O governador da Flórida, Ron DeSantis venceu uma batalha contra a Walt Disney Co. O republicano agora tem controle efetivo do conselho que supervisiona o desenvolvimento dentro e ao redor dos parques temáticos da empresa. O projeto de lei, que recebeu aprovação legislativa nessa sexta-feira (10/2), dá ao político autoridade para nomear cinco supervisores para administrar o que hoje é conhecido como Reedy Creek Improvement District, um distrito autônomo da Disney, criado em 1967, que cobre quase 64 quilômetros quadrados dos condados de Orange e Osceola, abrangendo os parques temáticos e resorts da Disney. O distrito dava grande autonomia e isenção fiscal à empresa. DeSantis travoua uma guerra política e ideológica contra o lar de Mickey Mouse após a Disney se opor à chamada lei “Não diga gay”, que proíbe professores do ensino fundamental do estado de abordarem questões de gênero e dá aos pais o poder de processar escolas por supostas violações. Em abril do ano passado, o político criou o projeto para acabar com as isenções da Disney como retaliação. Reforçando que se tratava de um ato puramente ideológico, em 2022 ele acusou a Disney de promover uma agenda LGBTQIAP+ para “injetar sexualidade na programação que é fornecida aos nossos filhos mais novos”. E declarou: “Não quero no meu estado esse tipo de agenda recebendo tratamento especial. Eu simplesmente não aceito.” Comemorando a vitória legislativa, Bryan Griffin, o porta-voz de DeSantis, escreveu em seu Twitter: “Reedy Creek concedeu privilégios especiais extraordinários a uma única corporação. Até que o governador Ron DeSantis agisse, a Disney mantinha o controle exclusivo de toda a área. Isso equivalia a um reino corporativo irresponsável, mas tudo isso acabou e estamos começando uma nova era de responsabilidade e transparência”. A Disney World é a maior empregadora da Flórida, com cerca de 75 mil funcionários, atraindo 36,2 milhões de visitantes em 2021, de acordo com a Themed Entertainment Association. Especialistas em impostos e legisladores alertaram que a eliminação do distrito, em junho de 2023, deixará a Disney em dívida com os condados de Orange e Osceola num valor que pode ultrapassar US$ 1 bilhão, referente à manutenção de estradas e sistemas de esgoto até seus parques, e pelo fornecimento de outros serviços públicos, como água e luz. Além disso, só Orange County estima faturar US$ 163 milhões por ano em impostos da Disney. O novo projeto de lei preserva o distrito especial de Reedy Creek, embora dentro de 2 anos ele seja renomeado como Distrito de Supervisão do Turismo da Flórida Central e terá autoridade para arrecadar receitas, saldar dívidas e fornecer uma série de serviços governamentais. A partir de junho, o distrito estará proibido de – por exemplo – operar seu próprio aeroporto ou construir usinas nucleares. A legislação também proíbe expressamente qualquer pessoa com vínculo com os parques temáticos nos últimos três anos de servir no seu conselho. O presidente do Walt Disney World Resort, Jeff Vahle, disse em um comunicado: “Por mais de 50 anos, o Reedy Creek Improvement District operou com os mais altos padrões de qualidade e agradecemos tudo o que o distrito fez para nos ajudar a crescer e se tornar um dos maiores contribuintes econômicos do estado. Agora estamos focados no futuro e prontos para trabalhar dentro desta nova estrutura”.
