Tommy Lane (1936–2021)
O ator Tommy Lane, que participou de “Com 007 Viva e Deixe Morrer” e “Shaft”, morreu na segunda-feira (29/11) no Florida Medical Center em Fort Lauderdale após uma longa luta contra a doença pulmonar obstrutiva crônica. Ele tinha 83 anos. Nascido e criado no bairro de Liberty City, em Miami, Lane começou a carreira de ator com participações da série “Flipper”, filmada na Flórida, entre os anos de 1964 e 1966, e chegou em Hollywood durante o auge da tendência blaxploitation, de filmes criminais de trilha soul e elenco negro. Sua estreia no cinema foi em “Rififi no Harlem” (1970), um dos primeiros lançamentos de blaxploitation. E logo em seguida foi enfrentar Shaft. No filme de 1971, Lane deu vida a um pequeno gângster chamado Leroy, capanga do rei do crime do Harlem, Bumpy (Moses Gunn). O destino de seu personagem foi ser jogado pela janela pelo detetive particular eternizado por Richard Roundtree. A participação marcante em “Com 007 Viva e Deixe Morrer” (1973) também foi como capanga. Filmadas na Jamaica e no estado de Louisiana, as cenas de Lane envolveram uma famosa perseguição de barco, além do característico racismo policial, a tentativa de transformar o James Bond vivido por Roger Moore em ração de crocodilos e uma saída de cena literalmente explosiva, com chamas para todos os lados. Ele também figurou em “Paixão pelo Perigo” (1973), estrelado por Burt Reynolds, “Ganja & Hess” (1973), “O Piloto” (1980), estrelado e dirigido por Cliff Robertson, “Eureka” (1983), dirigido por Nicolas Roeg, e na série “Carga Dupla” (Simon & Simon). Como a carreira de ator não lhe rendeu o reconhecimento que buscava, ele acabou trocando as telas pela música nos anos 1980, assumindo sua paixão pelo jazz como integrante da banda do clube Blue Note, em Nova York. Tocou trompete e flugelhorn por vários anos no clube mais tradicional do jazz americano.
Grant Imahara (1970 – 2020)
O engenheiro elétrico Grant Imahara, responsável pela criação do programa “Os Caçadores de Mitos” (MythBusters), no Discovery Channel, morreu na segunda-feira (13/7) de aneurisma cerebral, aos 49 anos. “Estamos com o coração partido ao ouvir essas tristes notícias sobre Grant”, afirmou o Discovery em comunicado. “Ele era uma parte importante da nossa família Discovery e um homem realmente maravilhoso. Nossos pensamentos e orações vão para a família dele”. Além da criação da atração de ciência pop, o especialista em eletrônica e rádio trabalhou em grandes filmes de Hollywood, como “Star Wars: A Ameaça Fantasma” (1999), “Matrix Reloaded” (2003) e “O Exterminador do Futuro 3” (2003), entre outros. Ele também apareceu, como ator, na série “Eureka” (em 2012) como um cientista de robótica, dublou o vilão Kang na animação “Avengers Assemble!” (2012-2014), figurou no telefilme “Sharknado 3: Oh, Não!” (2015) e estrelou a série não oficial “Star Trek Continues” no papel do Sr. Sulu, entre 2013 e 2017. Imahara nasceu em Los Angeles e se formou em 1993 no curso de engenharia elétrica pela University of Southern California. Ele acabou se especializando em “engenharia hollywoodiana”, criando animatrônicos, dispositivos robóticos que dão ilusão de vida a personagens do cinema, para a Industrial Light & Magic, a empresa de efeitos especiais fundada por George Lucas em 1975. Entre os muitos trabalhos que desenvolvem em Hollywood, Imahara operou o robô R2-D2 nos filmes da saga “Star Wars”. Ele também trabalhou em “O Mundo Perdido: Jurassic Park” (1997) e nas sequências de “Matrix”, além de ter participado da equipe técnica de muitos filmes de Steven Spielberg. A experiência em Hollywood levou Imahara a se tornar um dos criadores de “Os Caçadores de Mitos”, em 2005. A princípio, ele deveria aparecer como um construtor de equipamentos. Mas logo seu carisma ficou evidente e ele se tornou apresentador do programa, que coloca à prova lendas urbanas. Juntamente com seus colegas caçadores de mitos, Imahara também criou o “Projeto Coelho Branco”, um programa da Netflix que analisava as maiores invenções e assaltos da história. Mas esta iniciativa não repetiu o sucesso da produção do Discovery e foi cancelada após sua única temporada em 2016. Ele também era consultor da Disney e trabalhou no projeto que desenvolveu robôs acrobatas para servirem como dublês em cenas perigosas. O protótipo de “stuntronics” causou sensação quando foi revelado há dois anos.
Rutger Hauer (1944 – 2019)
O ator holandês Rutger Hauer, que ficou mundialmente conhecido como o líder dos replicantes no filme “Blade Runner” (1982), morreu na sexta-feira (19/7) após um curto período de doença, aos 75 anos. Um dos mais famosos atores europeus de sua geração, Hauer era fluente em várias línguas e se projetou em parceria com o cineasta holandês Paul Verhoeven em diversos projetos, a começar pela série medieval “Floris”, em 1969. Sua estreia no cinema foi no segundo longa de Verhoeven, o cultuadíssimo “Louca Paixão” (1973), em que viveu um romance de alta voltagem erótica com a atriz Monique van de Ven. E de cara chamou atenção de Hollywood, graças à indicação do filme ao Oscar. Ele ainda protagonizou mais três filmes de Verhoeven – “O Amante de Kathy Tippel” (1975), “Soldado de Laranja” (1977) e “Sem Controle” (1980) – e outros longas europeus antes de estrear numa produção americana, enfrentando Sylvester Stallone como o vilão terrorista de “Falcões da Noite” (1981). Mas foi ao desempenhar um outro tipo de vilão, o replicante Roy Beatty em “Blade Runner”, que se estabeleceu como astro de grandes produções. Androide que buscava respostas para perguntas existenciais, enquanto lutava por mais tempo para viver, o personagem caçado por Harrison Ford no longa de Ridley Scott tinha uma profundidade incomum para o gênero sci-fi de ação. Era, ao mesmo tempo, um assassino frio e robótico, mas também capaz de amar e filosofar sobre o sentido da vida, apresentando-se mais humano que seu perseguidor. A performance encantou gerações – e cineastas. Ele foi trabalhar com Nicolas Roeg em “Eureka” (1983) e ninguém menos que Sam Peckinpah em “O Casal Osterman” (1983), antes de protagonizar outro blockbuster, vivendo um amor amaldiçoado na fantasia medieval “Ladyhawke – O Feitiço de Áquila” (1985), de Richard Donner. No mesmo ano, fez sua última parceria com Verhoeven em outra produção medieval grandiosa, “Conquista Sangrenta” (1985), em que subverteu expectativas como anti-herói marginal. Hauer também traumatizou o público de cinema como o psicopata de “A Morte Pede Carona” (1986), um dos filmes mais subestimados de sua carreira e um dos mais copiados por imitadores do mundo inteiro. E até caçou o líder da banda Kiss, Gene Simmons, transformado em terrorista em “Procurado Vivo ou Morto” (1986), adaptação de uma série televisa dos anos 1950. O reconhecimento da crítica veio finalmente com o telefilme “Fuga de Sobibor” (1987), no qual liderou uma fuga em massa de um campo de concentração nazista. Ele venceu o Globo de Ouro de Melhor Ator, enquanto a produção levou o prêmio de Melhor Telefilme. A consagração continuou com o drama italiano “A Lenda do Santo Beberrão” (1988), de Ermanno Olmi. Sua interpretação como um bêbado sem-teto que encontra redenção levou o filme a vencer o Leão de Ouro no Festival de Veneza. Foi um de seus melhores desempenhos, mas não conseguiu chamar atenção do grande público, graças ao lançamento limitado em circuito de arte. Ele ainda contracenou com Madonna na comédia “Doce Inocência” (1989), mas a busca por novo sucesso de bilheterias o levou ao thriller convencional de ação “Fúria Cega” (1989), de Phillip Noyce, que iniciou um padrão negativo em sua carreira. A partir dos anos 1990, Hauer foi de produção B a produção C, D e Z. Seu rosto continuou por um bom tempo nas capas dos títulos mais alugados em VHS, mas a qualidade dos papéis despencou. Para citar um exemplo, o menos pior foi “Buffy: A Caça-Vampiros” (1992), no qual viveu um lorde dos vampiros. Os papéis televisivos passaram a se alternar com os de cinema/vídeo, e Hauer até recebeu outra indicação ao Globo de Ouro por “A Nação do Medo” (1994). Mas isso foi exceção. Ele chegou a gravar até sete produções só no ano de 2001, e nenhuma delas relevante. No anos 2000, começou a aparecer cada vez mais em séries, como “Alias”, “Smallville”, “True Blood”, “The Last Kingdom” e “Channel Zero”. Mas depois de figurar em duas adaptações de quadrinhos de 2005, “Sin City” e “Batman Begins”, voltou ao cinema europeu, estrelando vários filmes que repercutiram em 2011: “O Sequestro de Heineken”, no papel de Alfred Heineken, o dono da cervejaria holandesa, “Borboletas Negras”, “O Ritual”, “A Aldeia de Cartão”, em que retomou a parceria com Olmi, e principalmente “O Moinho e a Cruz”, uma pintura cinematográfica do polonês Lech Majewski, premiada em diversos festivais internacionais. Bastante ativo na fase final de sua carreira, Hauer ainda viveu o caçador de vampiros Van Helsing em “Dracula 3D” (2012), de Dario Argento, o Presidente da Federação Mundial em “Valerian e a Cidade dos Mil Mundos” (2017), de Luc Besson, e o Comodoro do premiado western “Os Irmãos Sisters” (2018), de Jacques Audiard. E deixou vários trabalhos inéditos, entre eles o drama “Tonight at Noon”, novo longa de Michael Almereyda (“Experimentos”), a aventura épica “Emperor”, de Lee Tamahori (“007 – Um Novo Dia Para Morrer”) e a minissérie “Um Conto de Natal”, do cineasta Steven Knight (“Calmaria”), na qual encarna o Fantasma do Natal Futuro. Sua atuação, porém, não se restringia às telas. Hauer foi ativista de causas sociais, como fundador da Starfish Association, organização sem fins lucrativos dedicada à conscientização sobre a AIDS, e patrocinador da organização ambientalista Greenpeace. Todos esses momentos não devem se perder no tempo, como lágrimas na chuva.


