Eu Não Sou Seu Negro é o filme mais contundente do Oscar 2017
Pouco antes de morrer, o escritor James Baldwin (1924-1987) trabalhava num livro, “Remember This House”, que pretendia contar uma parte da história dos Estados Unidos, por meio da morte de três amigos dele, todos que militaram pelos direitos civis ou por um separatismo negro: Medgar Evers (1925-1963), Malcolm X (1925-1965) e Martin Luther King (1928-1968). Vinte anos depois da morte de Baldwin, o manuscrito veio a inspirar o filme de Raoul Peck “Eu Nâo Sou Seu Negro”. O documentário chega agora aos cinemas com a chancela da indicação ao Oscar 2017 em sua categoria. “Eu Não Sou Seu Negro” é um filme politicamente forte, muito bem documentado (com trechos de entrevistas televisivas do próprio Baldwin e imagens de arquivo das lutas dos movimentos civis, narradas por Samuel L. Jackson), que mostra como a história dos Estados Unidos é toda impregnada de um racismo atroz, de dar vergonha a qualquer país. Merece ser visto com atenção. É sempre bom lembrar que o Oscar 2016 foi criticado por sua brancura, injusta para com o talento negro de Hollywood. Deu resultado. Este ano há diversos filmes indicados que tratam da questão dos negros e muitos profissionais lembrados. Melhor assim. Entre todos, o que mais se destaca, pela contundência da denúncia e pelas provas cabais de racismo que apresenta, é justamente “Eu Não Sou Seu Negro”.
John Wick tem estreia matadora em semana repleta de filmes do Oscar 2017
Os lançamentos da semana se dividem claramente entre filmes de shopping center e filmes de Oscar. Mesmo assim, a estreia mais ampla também conquistou excelente avaliação crítica. Com 90% de aprovação no site Rotten Tomatoes, “John Wick – Um Novo Dia para Matar” mostra que é possível fazer cinema de ação de qualidade. Com ritmo desenfreado e muita violência, o filme traz Keanu Reeves de volta ao papel do matador profissional John Wick, que ele desempenhou em “De Volta ao Jogo” (2014). O sucesso inesperado daquele longa animou a distribuidora a dobrar o circuito na continuação. A estreia acontece em 358 salas, contra 230 do primeiro filme. A diferença de qualidade para o segundo maior lançamento é abissal. Estrelado por Brad Pitt e Marion Cottilard, o romance de espionagem “Aliados” consegue ser mais brega que “Cinquenta Tons Mais Escuros”, mas a crítica americana foi bondosa, com 61% de aprovação. Fracasso nos EUA, onde já saiu de cartaz, o longa faturou US$ 40 milhões no mercado doméstico, menos da metade de seu orçamento de US$ 85 milhões. A terceira e última estreia comercial é “A Cura”, que marca a volta de Gore Verbinski ao terror, 15 anos após “O Chamado” (2002). E todo seu capricho visual não esconde que se trata de uma trama pouco original, já vista várias vezes antes. Com 41% de aprovação, a história do spa do qual ninguém consegue sair é tão medíocre quanto a parceria anterior do diretor com o roteirista Justin Haythe, “O Cavaleiro Solitário” (2013). A maior estreia do Oscar 2017 é “Lion – Uma Jornada para Casa”, que chega em 100 salas. O filme traz Dev Patel, estrela de “Quem Quer ser um Milionário?” (2008), como um jovem adotado por uma família australiana, após se perder da família biológica na Índia. Anos depois, ele busca pistas para reencontrar sua mãe. Ao todo, o longa recebeu seis indicações, incluindo para os troféus de Melhor Ator Coadjuvante e Atriz Coadjuvante (Patel e Nicole Kidman). Há ainda mais quatro estreias de indicados ao prêmio máximo do cinema. Entretanto, elas chegam em circuito ridículo, eufemisticamente chamado de “circuito de arte”. Para se ter ideia, o maior lançamento, depois de “Lion”, ocupa 13 salas. Ironicamente, é uma animação com potencial para alcançar o grande público, a produção suíça “Minha Vida de Abobrinha”. Outro candidato ao Oscar de Melhor Animação, a produção franco belga “A Tartaruga Vermelha”, impressiona por ocupar apenas quatro salas – uma em São Paulo, uma no Rio, uma em Brasília e uma em Porto Alegre. Indicado ao Oscar de Melhor Documentário, “Eu Não Sou Seu Negro”, sobre a história do racismo nos EUA, estreia em seis capitais, e a comédia sueca “Um Homem Chamado Ove”, que disputa o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, tem lançamento em nove salas. Completa o circuito o drama tcheco “Eu, Olga Hepnarová”, que abriu no ano passado a mostra Panorama do Festival de Berlim, venceu vários prêmios internacionais e foi exibido na Mostra de São Paulo. Estará disponível em quatro salas entre São Paulo, Rio e Salvador. Clique nos títulos dos filmes para assistir aos trailers das estreias da semana.

