Annabelle 2 leva terror a mais de mil salas de cinema
O segundo filme da boneca maldita, “Annabelle 2: A Criação do Mal”, é o maior lançamento da semana, com distribuição em 1,2 mil salas nesta quinta (17/8). O primeiro foi um fenômeno de bilheteria nacional e a continuação mostrou suas garras ao abrir em 1º lugar no fim de semana passado na América do Norte. Ao contar a origem da personagem do título, o terror também surpreendeu a crítica, com 69% de aprovação no site Rotten Tomatoes – um alívio diante dos 29% do primeiro “Annabelle” em 2014. Apesar deste predomínio absoluto, os cinemas vão receber mais nove filmes, dois deles em circuito (quase) amplo. A animação alemã “Uma Família Feliz” é a opção para as crianças, com criaturas de terror que não assustam. A trama acompanha uma família cheia de problemas que é transformada em monstros por uma bruxa. A dublagem nacional destaca Juliana Paes (novela “A Força do Querer”) como a mãe protagonista. Há nada menos que cinco estreias nacionais. A principal é “João, O Maestro”, que traz Alexandre Nero (novela “Império”) como o maestro João Carlos Martins. Com roteiro e direção de Mauro Lima (“Meu Nome Não É Johnny” e “Tim Maia”), a cinebiografia mostra o treinamento intenso, o virtuosismo e as paixões despertadas por Matins, mas também sua luta contra a paralisia que interrompeu sua carreira, levando-o à depressão, até a volta por cima edificante, quando ele se reinventa como maestro. O marketing faz questão de focar o aspecto de “uma história de superação”. Destaque do circuito limitado, “Corpo Elétrico” é o longa de estreia do premiado curtametragista Marcelo Caetano (“Verona”). Drama de temática LGBT+, o filme gira em torno de Elias (o estreante Kelner Macêdo), gay nordestino que encontra trabalho como costureiro de uma fábrica em São Paulo e se divide entre o prazer de fazer o que gosta, a amizade com os colegas e a vida noturna repleta de encontros com outros homens – entre eles o funkeiro Linn da Quebrada. Com carreira internacional, o longa foi selecionado para o Festival de Roterdã, na Holanda, e premiado no Festival de Guadalajara, no México. “El Mate” é um suspense de humor negro escrito, dirigido e estrelado por Bruno Kott, que foi premiado como Ator Coadjuvante no Festival de Gramado de 2016 pelo papel. Na trama, ele vive um pregador evangélico que acaba refém de uma situação caótica e tarantinesca, detido por um criminoso ao bater na casa errada. A estreia do diretor é um filme de cinéfilo. Os outros brasileiros são documentários. “O Homem que Matou John Wayne” faz um registro do diretor cinemanovista Ruy Guerra, com ótimas entrevistas (Chico Buarque, Werner Herzog, etc), mas dispensáveis e longas sequências encenadas. “Intolerância.doc” acompanha o trabalho da Decradi – Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância, mas foca mais as torcidas de futebol. E “Viva o Cinema!” é resultado de um programa da Cinemateca Francesa, em que crianças do 5º ano da Escola Carlitos, em São Paulo, tiveram a oportunidade de experimentar a vivência cinematográfica. A programação se completa com dois ótimos dramas europeus para poucos. São os dois melhores lançamentos da semana, que a distribuição limitada mantém à distância do grande público, enquanto os shoppings recebem o horror. Uma das produções britânicas mais comentadas do ano, “Lady Macbeth” adapta o romance homônimo de Nikolai Leskov e destaca a performance de Florence Pugh (“The Falling”), que tem causado sensação entre a crítica por sua atuação contida, mas também provocante, como Katherine, uma jovem presa num casamento sem amor na Inglaterra rural do século 19, obrigada a se relacionar com um homem com o dobro de sua idade e a agradar sua família fria e cruel. Mas, como ele vive viajando, ela logo embarca num caso romântico com um dos empregados, o que tem consequências terríveis para todos os envolvidos. Além de 88% de aprovação no Rotten Tomatoes, o drama acumula diversos prêmios da crítica em festivais internacionais (San Sebastian, Zurique, Dublim, Jerusalém, etc). “Afterimage” é a última obra do maior diretor do cinema polonês, Andrzej Wajda, falecido no ano passado, e mais um excelente trabalho sobre seu tema favorito: a denúncia da intolerância, do autoritarismo e da repressão comunista. A cinebiografia do pintor vanguardista Wladyslaw Strzeminski também serve para lembrar que, embora a direita fascista tenha ficado com a fama, a esquerda radical também ataca a cultura quando toma o poder. Herói da 1ª Guerra Mundial, onde perdeu um braço e uma perna, Strzeminski revolucionou as artes, mas foi perseguido pelo stalinismo por ser um modernista e não replicar a estética oficial do realismo socialista. Com 83% de aprovação no Rotten Tomatoes, o filme foi o candidato polonês a uma vaga no Oscar 2017. Clique nos títulos dos filmes para assistir os trailers de todas as estreias.
Valerian e a Cidade dos Mil Planetas é a maior estreia da semana
Os cinemas recebem três estreias amplas nesta quinta (10/8), além de quatro lançamentos em circuito limitado. Com maior distribuição, “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas” marca a volta do cineasta francês Luc Besson à ficção científica, duas décadas após “O Quinto Elemento” (1997). Filme mais caro já produzido por um estúdio europeu, o longa custou US$ 177 milhões e teve um péssimo desempenho nos EUA, caindo abaixo do Top 10 em três semanas. Por outro lado, causou sensação na França. “Valerian” também dividiu a crítica, com exatos 50% de aprovação no site Rotten Tomatoes. Os maiores elogios são para os efeitos visuais, considerados deslumbrantes. Já a história, que adapta uma história em quadrinhos dos anos 1960, não convenceu. O visual também é destaque de “Malasartes e o Duelo com a Morte”, filme com mais efeitos digitais já feito no Brasil. Longe de ser uma extravagância como “Valerian”, afinal custou só R$ 9,5 milhões, a comédia utiliza computação gráfica em 40% de sua projeção, o que fez com que passasse dois anos em pós-produção. Dá para perceber: Leandro Hassum (“Até que a Sorte nos Separe”) ainda estava gordo em cena. O filme gira em torno de personagens do folclore e se apresenta como uma comédia caipira. Na trama, o matuto Pedro Malasartes é o homem mais esperto que existe, mas vai precisar se superar para enfrentar ao mesmo tempo o irmão de sua namorada, a Morte e a Parca Cortadeira. Jesuita Barbosa (“Praia do Futuro” e minissérie “Nada Será Como Antes”) vive o herói do título e o elenco ainda inclui Isis Valverde (“Faroeste Caboclo”), Milhem Cortaz (“O Lobo Atrás da Porta”), Vera Holtz (“TOC: Transtornada Obsessiva Compulsiva”) e Júlio Andrade (“Redemoinho”), como a Morte. “O Reino Gelado: Fogo e Gelo” é a terceira aventura da franquia animada russa, que se inspira na mesma fábula que rendeu “Frozen”. Longe de lembrar o desenho da Disney, a produção computadorizada depende da fama de seus dubladores nacionais para atrair as crianças. A principal estrela é Larissa Manoela, que empresta sua voz à princesa Gerda desde o segundo filme. Neste, ela ainda se junta ao ex-namorado João Guilherme, que estreia na franquia como dublador do aventureiro Rony, um novo personagem que inclui piratas na história. O público infantil ainda tem a opção de “Diário de um Banana: Caindo na Estrada”, mas num circuito bem menor. Vale lembrar que “Diário de um Banana” (2010) chegou ao Brasil sem muito alarde, direto em DVD, o que fez com que as sequências fossem lançadas em poucos cinemas. O novo capítulo representa um reboot da franquia, com a estreia de um novo elenco – incluindo Alicia Silverstone (“Patricinhas de Beverly Hills”) como a mãe. Já a trama é a típica comédia de férias frustadas. “O Estranho que Nós Amamos” recria um western estrelado por Clint Eastwood em 1971. Sob a direção de Sofia Coppola (“Bling Ring”), premiada no Festival de Cannes deste ano, o suspense aumenta e vira quase um terror gótico, passada numa antiga mansão rural à luz de velas. Colin Farrell (“Animais Fantásticos e Onde Vivem”) vive um soldado ianque ferido na Guerra Civil, socorrido por alunas e professoras de uma escola sulista para meninas, que aos poucos passam a ver o inimigo com outros olhos. Com 78% de aprovação no site Rotten Tomatoes, o longa é a segunda parceria de Coppola com a atriz Elle Fanning (as duas trabalharam juntas em “Um Lugar Qualquer”) e a terceira com Kirsten Dunst (após “As Virgens Suicidas” e “Maria Antonieta”). Além delas, as atrizes Nicole Kidman (“Olhos da Justiça”) e Angourie Rice (“Dois Caras Legais”) se destacam na seleção de loiras da produção. Duas produções europeias completam a programação limitada. “A Viagem de Fanny” é basicamente a versão feminina de “Os Meninos que Enganavam Nazistas”, que entrou em cartaz na semana passada, mostrando as aventuras de meninas judias em fuga dos nazistas pela Europa dos anos 1940. Bem superior, “O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki” é uma estilosa cinebiografia de um boxeador finlandês que se apaixona do dia em que pode se tornar campeão mundial. Filmado em preto e branco, lembra um filme antigo, recriando com perfeição a época e a estética do cinema do começo dos anos 1960. Venceu a mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes em 2016 e o prêmio de “Descoberta do Ano” da Academia Europeia. Clique nos títulos de cada filme para ver os trailers das estreias.
Planeta dos Macacos: A Guerra e novo filme de Selton Mello chegam aos cinemas
“Planeta dos Macacos: A Guerra” é a maior estreia desta quinta (3/8), com lançamento em mais de mil cinemas. O longa encerra com chave de ouro a trilogia da Fox, mostrando o confronto final entre o último exército humano e os símios evoluídos liderados por César, numa escala épica e com efeitos visuais bastante realistas. Andy Serkis, o intérprete de César, esteve no Brasil para divulgar a produção, resumindo seu tema como “empatia”. Dirigido por Matt Reeves, que assinou “Planeta dos Macacos: O Conflito”, a continuação estreou com elogios rasgadíssimos e em 1º lugar nas bilheterias norte-americanas. Ao atingir 93% de aprovação no Rotten Tomatoes, ainda realizou uma façanha rara, encerrando uma trilogia com o capítulo mais bem-avaliado de todos. Nem “Star Wars” conseguiu isso. A semana registra apenas outro lançamento com distribuição ampla, o nacional “O Filme da Minha Vida”, terceiro longa dirigido por Selton Mello, que chega em 274 salas. E também é um caso em que o terceiro é o melhor, apesar de “O Palhaço” (2011) já ser sensacional. Selton Mello virou um senhor diretor, entregando um filme belíssimo justamente sobre o amadurecimento. A trama adapta o livro “Um Pai de Cinema”, do escritor chileno Antonio Skármeta (“O Carteiro e o Poeta”). Passado nos anos 1960, gira em torno de Jacques (Johnny Massaro, de “A Frente Fria que a Chuva Traz”), jovem professor de um povoado que foi abandonado pelo pai, um forasteiro francês (Vincent Cassel, de “Em Transe”), há vários anos, herdando apenas uma motocicleta e um amigo, papel do próprio Selton Mello. O elenco também destaca Bruna Linzmeyer (“A Frente Fria que a Chuva Traz”), mais linda que nunca. Outro bom drama nacional chega em circuito limitado. Exibido no Festival de Berlim, premiado no Festival de Brasília e vencedor do Festival de Jeonju, na Coreia do Sul, “Rifle” marca a estreia em longas de ficção do diretor Davi Pretto, que já tinha chamado atenção internacional com seus curtas e documentários. A trama é um western gaúcho, sobre um jovem que vive isolado com sua família em uma região rural e remota do sul do país. Quando um rico proprietário tenta comprar suas terras, ele passa a carregar sempre um rifle para defender seu território. O circuito alternativo também destaca o argentino “Eva Não Dorme”, de Pablo Agüero (“Salamandra”), estrelado por Gael García Bernal (“Neruda”). Com atmosfera claustrofóbica de terror, o drama conta o destino insólito e mórbido do cadáver de Eva Peron, refletindo ao mesmo tempo os horrores que se abateram sobre a Argentina após sua morte. Completam a programação três filmes falados em francês. “Os Meninos que Enganavam Nazistas” é uma coprodução franco-canadense sobre as aventuras de dois meninos judeus em fuga dos nazistas pela Europa dos anos 1940, e reflete a tradição do diretor Christian Duguay (“Belle e Sebastian: A Aventura Continua”) em filmes comerciais medianos. “O Reino da Beleza” é de outro cineasta canadense, Denys Arcand (“As Invasões Bárbaras”), e gira em torno da infidelidade de um arquiteto, o que explica sua estética de revista de decoração. Por fim, “Saint Amour – Na Rota do Vinho” é uma desculpa para Gérard Depardieu encher a cara e ser pago por isso, cortesia dos diretores Gustave Kervern e Benoît Delépine, que já o tinham dirigido em “Mamute” (2010). Trata-se de mais um filme de turismo gourmet, desta vez rodado com câmera na mão para criar um realismo de pseudo-documentário. Clique nos títulos de cada filme para ver os trailers de todas as estreias da semana.
Dunkirk e Em Ritmo de Fuga são as principais estreias da semana
Dois dos filmes americanos mais elogiados de 2017 chegam simultaneamente aos cinemas brasileiros nesta quinta (27/7). “Dunkirk” desembarca após estrear em 1º lugar nas bilheterias dos EUA, acompanhado por críticas que o chamam de “filme do ano” e “obra-prima”. Dirigido por Christopher Nolan, responsável pela trilogia “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, o filme retrata a batalha de Dunquerque, uma das maiores derrotas das forças aliadas na 2ª Guerra Mundial. Mas poderia ter sido muito pior. Acuados numa ponta de praia, os soldados aliados contaram com um esforço logístico sobre-humano para não serem exterminados durante uma ofensiva por terra e ar, embarcando em fuga, sob bombardeio, para dezenas de navios mobilizados para resgatá-los rumo ao Reino Unido, inclusive com a ajuda de pequenos barcos civis. Combinando atores famosos com iniciantes, destaca no seu elenco Tom Hardy (“Mad Max: Estrada da Fúria”), Cillian Murphy (“No Coração do Mar”), Kenneth Branagh (“Operação Sombra – Jack Ryan”), Mark Rylance (“Ponte dos Espiões”), Jack Lowden (“71: Esquecido em Belfast”) e até o cantor Harry Styles, ex-One Direction. Um dos filmes mais grandiosos de Hollywood neste século, é daqueles de que se diz que precisa ser visto numa tela grande. Por sinal, foi rodado com câmeras de IMAX. “Em Ritmo de Fuga” traz Ansel Elgort (“A Culpa É das Estrelas”) como um ás dos volantes, que tem de ouvir música o tempo todo para evitar um zumbido em sua cabeça. Capaz de escapar de qualquer perseguição, ele é utilizado por um chefão do crime para uma série de fugas espetaculares durante assaltos. Com muito rock e cenas intensas de perseguição, o filme consegue a façanha de superar “Dunkirk” nos elogios e adorações da crítica americana. Ansel Elgort esteve no fim de semana no Brasil para ajudar a promover o filme, que está se consolidando como o maior sucesso da carreira do diretor Edgar Wright (“Scott Pilgrim Contra o Mundo”). O elenco ainda inclui Lily James (“Cinderela”), Kevin Spacey (série “House of Cards”), Jamie Foxx (“Django Livre”), Jon Hamm (série “Mad Men”), Jon Bernthal (série “Demolidor”), Eiza González (série “Um Drink no Inferno/From Dusk Till Dawn”), Flea (baixista do Red Hot Chili Peppers) e a cantora Sky Ferreira (vista em “Canibais”). A programação ainda inclui mais duas produções americanas com distribuição em shopping centers. A comédia “Como se Tornar um Conquistador” traz o ator mexicano Eugenio Debez (“Não Aceitamos Devoluções”) como uma amante latino da terceira idade, que precisa se virar após sua coroa rica lhe trocar por um modelo mais jovem. Estreia na direção do ator Ken Marino (série “Childrens Hospital”), serve mais para rever a sumida Rachel Welch (“Legalmente Loira”), sex symbol dos anos 1960, que não estrelava um filme há mais de uma década. Novo terror de John R. Leonetti (de “Annabelle”), “7 Desejos” é uma coleção de clichês, que gira em torno de uma lição de moral: “cuidado com o que se deseja”. Na trama, uma caixa de música mágica dá a uma menina de 17 anos (Joey King, de “Independence Day: O Ressurgimento”) o direito de realizar sete desejos, mas nenhum deles surpreende, assusta ou ajuda o filme a evitar seu fracasso. Três filmes completam as estreias em circuito limitado, dois deles coproduções do Brasil com vizinhos sul-americanos. Exibido no Festival Varilux, o francês “O Reencontro” traz a veterana Catherine Deneuve (“Potiche”) como uma mulher extrovertida e descompromissada, que volta a procurar a filha de um ex-amante, 30 anos após sumir, em busca de companhia e apoio, ao ser diagnosticada com câncer. Apesar dessa premissa, o filme não é depressivo. Coprodução entre Brasil e Argentina, “Esteros” é um drama de temática gay falado em espanhol, que mostra o reencontro de dois velhos amigos de infância. Separados quando começavam a despertar suas sexualidades, voltam a se ver no mesmo cenário idílico, quando um deles chega com a namorada para passar férias. Coprodução entre Brasil e Colômbia, “Love Film Festival” acompanha uma roteirista brasileira, vivida por Leandra Leal (“O Lobo Atrás da Porta”), e um diretor colombiano, Manolo Cardona (“Macho”), numa filmagem que se estende por quatro anos – estilo “Boyhood” (2014), mas menos ambicioso. Os dois se conhecem nos bastidores de um festival europeu de cinema, vivem um relacionamento, separam-se e acabam voltando a se cruzar em novos eventos internacionais. Com roteiro de Manuela Dias (série “Justiça”), câmera na mão e um registro semi-documental, rodado em festivais reais de cinema por quatro diretores diferentes – entre eles Vinicius Coimbra (“A Floresta que se Move”) e Bruno Safadi (“Eden”) – , a produção contraria sua aparente ousadia ao assumir clichês de cinema em sua encenação. Mas vale como curiosidade cinéfila, e porque todo filme com Leandra Leal justifica a ida ao cinema.
Transformers: O Último Cavaleiro chega em mais de mil salas de cinema do Brasil
“Transformers: O Último Cavaleiro” é o lançamento mais amplo da semana nos cinemas brasileiros. A distribuição em 1.146 salas é o maior circuito da franquia até hoje. A ambição visa fazer frente ao sucesso de “Homem-Aranha: De Volta ao Lar”, que lidera as bilheterias nacionais há duas semanas e nem tomou conhecimento de “Carros 3” no fim de semana passado. Nos Estados Unidos, “Transformers” não conseguiu superar o “Homem-Aranha”. Na verdade, o quinto filme dos carrinhos-robôs de brinquedo foi um fiasco no mercado doméstico, além de ter recebido a pior avaliação de toda a franquia – míseros 15% de aprovação no site Rotten Tomatoes. Mas como o público chinês compensou as bilheterias, “O Último Cavaleiro” não será ainda “O Último Transformers”. Sob medida para os fãs do diretor de Michael Bay, o lançamento capricha nas explosões grandiosas, efeitos mirabolantes, piadas sem graça e nonsense ultrajante. Lançado em pré-estreia antecipada na semana passada, “DPA – O Filme” já ocupa o 4º lugar no ranking dos filmes mais vistos do Brasil, antes da estreia oficial em mais de 500 salas. O filme da série dos “Detetives do Prédio Azul” do canal Gloob mostra bruxos bonzinhos, crianças com lupas, varinhas que soltam raios e outras mágicas do gênero infantil. Na trama, após uma festa de bruxos adultos (mas censura livre), o prédio azul aparece com múltiplas rachaduras e os detetives mirins decidem desvendar o mistério. A direção é de André Pellenz (“Minha Mãe É uma Peça – O Filme”) e o elenco é repleto de atores da Globo. Com tantos blockbusters em cartaz, o circuito limitado só recebeu três lançamentos. “De Canção em Canção” é outro fracasso hollywoodiano, o terceiro consecutivo de Terrence Malick. O diretor rodou o longa de forma fluída em 2012, paralelamente a “Cavaleiro de Copas” (2015). Juntou uma porção de astros famosos, que improvisaram quase todo o texto, e o resultado equivale a um “Transformers para cinéfilos”, com fotografia belíssima e pouquíssimo sentido – 43% de aprovação no Rotten Tomatoes. A história emaranha dois casais nos bastidores da indústria fonográfica, vividos por Ryan Gosling (“La La Land”), Rooney Mara (“Carol”), Michael Fassbender (“Assassin’s Creed”) e Natalie Portman (“Jackie”). Fecham a programação duas comédias francesas, exibidas no Festival Varilux. “Tal Mãe, Tal Filha” faz a linha besteirol, com Juliette Binoche (“A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell”) e Camille Cottin (“Beijei uma Garota”) como mãe e filha que engravidam ao mesmo tempo. E “Monsieur & Madame Adelman” acompanha décadas do casamento vivido por Doria Tillier e Nicolas Bedos, que também escreveram o roteiro em parceria. Foi o primeiro longa dirigido por Bedos, roteirista de “Os Infiéis” (2012) e ator de “A Datilógrafa” (2012). Clique nos títulos dos filmes para assistir aos trailers das estreias da semana.
Carros 3 marca época de férias escolares e estreias infantis nos cinemas
A programação de cinema entrou em ritmo de férias escolares. A animação “Carros 3” é o maior lançamento da semana, que ainda conta com pré-estreia ampla do nacional “DPA – O Filme”“, versão de cinema da série “Detetives do Prédio Azul”. O primeiro só não é o lançamento mais infantil da Disney-Pixar, porque “Carros 2” saiu antes. Mas mesmo sem a complexidade de “Divertida Mente”, embute uma mensagem de valorização da autoestima e empoderamento feminino, graças a uma nova personagem coadjuvante, que compensa possíveis engarrafamentos no pedágio das bilheterias. “DPA – O Filme” só estreia oficialmente na semana que vem, mas já ocupa mais telas que os demais filmes da semana. Historinha para o público da série do canal Gloob e das reprises de “Os Feiticeiros de Waverly Place” no canal Disney, o filme mostra bruxos bonzinhos, crianças com lupas, varinhas que soltam raios e outras mágicas. Na trama, após uma festa de bruxos adultos (mas censura livre), o prédio azul aparece com múltiplas rachaduras e os detetives mirins do Gloob decidem desvendar o mistério. A direção é de André Pellenz (“Minha Mãe É uma Peça – O Filme”) e o elenco é repleto de atores da Globo. O maior destaque do circuito limitado é outra estreia nacional, “Fala Comigo”, de Felipe Sholl. Vencedor do último Festival do Rio – além de Melhor Filme, também rendeu o prêmio de Melhor Atriz para Karine Teles – , conta a história de Diogo (Tom Karabachian), um adolescente de 17 anos que desenvolve o fetiche de se masturbar enquanto telefona para as pacientes da mãe terapeuta (Denise Fraga). Uma dessas pacientes é Angela, de 43 anos, com quem Diogo passa a se relacionar. Foi o papel que deu a Karine Teles o troféu Redentor. Apesar de ser um trabalho de diretor estreante, Sholl não é exatamente um novato. Ele já exibiu curta no Festival de Berlim e tem uma filmografia interessante como roteirista. Seu roteiro de “Hoje” (2011) venceu o troféu Candango no Festival de Brasília. Também escreveu o filme que, para a Pipoca Moderna, foi o melhor lançamento brasileiro de 2015, “Casa Grande”, além de “Histórias que Só Existem Quando Lembradas” (2011) e “Trinta” (2014). Os cinemas de perfil cineclubista ainda recebem quatro lançamentos europeus, um drama argentino e dois documentários. Três longas são franceses e tiveram première no Festival Varilux. “Julho Agosto” é o mais convencional, uma comédia sobre família, em que duas irmãs adolescentes passam as férias com os pais divorciados, em meses alternados, e descobrem que a vida continua. “Tour de France” também foca o lugar-comum, com mais um papel de velho racista, reacionário e impertinente que Gerard Depardieu faz o público achar adorável. E “A Vida de uma Mulher” leva às tela uma nova adaptação do primeiro romance de Guy de Maupassant. O diretor Stéphane Brizé busca rever o papel submisso da protagonista, presa num casamento sem amor no século 18, ecoando o fato de que contextos mudam conforme as épocas. Venceu o prêmio da crítica no Festival de Veneza. O português “Cartas da Guerra” é o lançamento limitado que chama mais atenção. Não só pela fotografia em preto e branco belíssima, mas porque chega legendado, mostrando como o cinema luso soa estranho no Brasil, que fala o mesmo idioma. A questão ganha ainda mais proporção por o filme de Ivo Ferreira se passar em Angola, país que buscava sua própria identidade durante um período que os brasileiros deveriam conhecer melhor: os últimos anos da colonização portuguesa na África. A produção ganhou diversos prêmios em Portugal. “O Futuro Perfeito” lida de outra forma com a questão do idioma e do conflito cultural, ao acompanhar a vida de uma jovem imigrante chinesa, recém-chegada na Argentina. A dificuldade com a língua estrangeira é traduzida por diálogos de espanhol primário, que aproximam a história de uma fábula infantil. Por fim, os dois documentários são “A Luta de Steve”, sobre um astro do futebol americano que começa a sofrer os efeitos da paralisia e resolve filmar um diário para seu filho, perdendo os movimentos na medida em que o menino aprende a andar, e “Gatos”, sobre gatos de rua de Istambul, que viram “personagens” com nomes e aventuras próprias – quase como uma ficção da Disney. Clique nos títulos em destaque dos filmes para assistir aos trailers de todas as estreias da semana.
Homem-Aranha: De Volta ao Lar estreia em 1,4 mil cinemas no Brasil
Maior estreia da semana, “Homem-Aranha: De Volta ao Lar” ocupa quase metade dos cinemas disponíveis no Brasil, com uma distribuição em 1,4 mil salas. A estratégia é respaldada por críticas muito positivas – 93% de aprovação no site Rotten Tomatoes – que alimentam o interesse pelo primeiro filme do herói no universo compartilhado da Marvel. Diferente dos anteriores, o Homem-Aranha vivido por Tom Holland não é um personagem traumatizado – esta versão não mostra a morte do Tio Ben – , mas um adolescente que se diverte ao usar seus superpoderes, ao mesmo tempo em que sofre a condescendência dos adultos – a figura paterna de Tony Stark, em particular. Robert Downey Jr. fará falta à Marvel, quando decidir deixar de viver o Homem de Ferro. Outro destaque é o vilão Abutre, que a interpretação de Michael Keaton (“Birdman”) torna um dos melhores antagonistas da Marvel desde Loki no primeiro “Thor”. Sua presença ameaçadora oferece uma contraposição sombria às cenas ensolaradas de Peter Parker no colegial, extraídas de comédias de John Hughes e preenchidas por adolescentes completamente diferentes de suas versões nos quadrinhos. Além do blockbuster, a semana reserva mais seis lançamentos, quatro deles nacionais. A animação “As Aventuras do Pequeno Colombo” visa as crianças com uma aventura inspirada por personagens históricos: os meninos Cris (o pequeno Cristóvão Colombo) e Leo (Leonardo Da Vinci), que embarcam com a amiga Lisa (a Mona Lisa) em busca de uma terra distante. No caminho, encontram piratas, sereias e um povo disposto a tudo para permanecer perdido. A trama entretém, até esbarrar em seu único personagem negro, um menino rebelde, cuja presença alude à escravidão e revela estereótipos pouco elogiáveis. Vale destacar a participação de José Wilker num de seus últimos trabalhos, dublando o líder dos Cavaleiros Templários. A melhor opção dramática é “Soundtrack”, estrelado por Selton Mello (“O Palhaço”) e passado num cenário desolado do Ártico, entre muita neve e horizontes brancos. Selton vive um fotógrafo que chega à estação polar com o objetivo de realizar um projeto artístico. Ele quer reproduzir em imagens as sensações causadas pelas músicas de uma playlist. Mas sua presença cria atrito com os cientistas, que não entendem o que ele realmente pretende fazer naquele fim de mundo. O filme inclui em seu elenco internacional Seu Jorge (“Tropa de Elite 2”), o inglês Ralph Ineson (“A Bruxa”), o dinamarquês Thomas Chaanhing (série “Marco Polo”) e o sueco Lukas Loughran (“Nina Frisk”), e marca a estreia na direção de longas da dupla Manitou Felipe e Bernardo Dutra (que assinam como “300ml”), após comandarem Selton e Seu Jorge num curta-metragem há mais de uma década: “Tarantino’s Mind” (2006). “Os Pobres Diabos” chega ao circuito comercial quatro anos após vencer o prêmio do público no Festival de Brasília de 2013. Dirigido pelo veterano Rosemberg Cariry (“Corisco e Dadá”), acompanha uma trupe circense pelo sertão, que tenta manter viva sua arte em meio à pobreza generalizada. Estão presentes todos os clichês do gênero, do palhaço ladrão de mulher ao leão falso, mas humanizados pelas dificuldades. Cansados, os personagens não demoraram a ter que decidir se continuam lutando ou se seguem caminhos separados. Último drama nacional, “Cada Vez Mais Longe” tem a história mais lenta e contemplativa de todas, mas também a maior beleza visual. A trama é mínima, basicamente uma metáfora, em que o pescador João, para sustentar a família, precisa ir cada vez mais longe no rio, estendendo sua ausência do lar ao longo dos anos, enquanto o meio ambiente se deteriora pela poluição. Estreia na direção de Oswaldo Lioi (diretor de arte de “A Família Dionti”) em parceria com Eveline Costa. A programação alternativa se completa com a comédia francesa “Perdidos em Paris”, novo trabalho da dupla de cineastas-atores Dominique Abel e Fiona Gordon (“Rumba”), exibido no Festival Varilux, e a produção chilena “Poesia sem Fim”, segundo filme em que o diretor Alejandro Jodorowsky lembra sua juventude, evocando imagens delirantes e deslumbrantes, que reforçam sua fama de mestre surreal. Clique nos títulos dos filmes para assistir aos trailers das estreias da semana.
Meu Malvado Favorito 3 estreia em mais de mil cinemas
A animação “Meu Malvado Favorito 3” é o único lançamento amplo da semana, ocupando mais de mil salas – o maior circuito da franquia até hoje. A história revela que Gru tem um irmão gêmeo mais malvado e cabeludo, Dru. Ambos são dublados no Brasil por Leandro Hassum. Mas a história não é das mais criativas, o que lhe rendeu a pior avaliação da trilogia. Ainda assim, são 67% de aprovação no Rotten Tomatoes. Ocupando uma faixa intermediária, chegam ao circuito comercial dois filmes franceses antecipados pelo Festival Varilux. A comédia “Uma Família de Dois” é um remake do sucesso mexicano “Não Aceitamos Devoluções” (2013), com Omar Sy (“Intocáveis”) no papel do farrista que se vê tendo que cuidar da filha pequena, até a mulher reaparecer em cena, anos depois. Você já viu esse filme. E ainda verá de novo, na versão brasileira com Leandro Hassum, programada para dezembro. O outro lançamento francês é o romance “Um Instante de Amor”, que teve oito indicações ao César 2017, o “Oscar francês”. Dirigido pela cultuada cineasta francesa Nicole Garcia (“O Adversário” e “Place Vendôme”), o filme se passa nos anos 1950 e acompanha uma mulher (Marion Cotillard, de “Aliados”) de espírito livre num casamento sem amor, que vai enlouquecendo. Sua “doença” é finalmente diagnosticada como pedras no rim. E ao ser internada num hospital para se curar, ela acaba conhecendo e se apaixonante por outro homem (Louis Garrel, de “Saint Laurent”). A programação se completa com quatro lançamentos brasileiros. “A Terra Vermelha” é uma coprodução dirigida pelo argentino Diego Martínez Vignatti (“Batalha no Céu”), que justapõe um romance à lutas sociais de trabalhadores rurais, em meio a protestos contra os problemas causados pelo trabalho com agrotóxicos. O drama “Introdução à Música do Sangue” tem direção do veterano Luiz Carlos Lacerda (“Leila Diniz”) e explora o despertar da sexualidade de uma adolescente (Greta Antoine, da série “Nada Será como Antes”), que vive com a família pobre no interior de Minas, numa casa pequena sem energia elétrica. Os pais, vividos por Ney Latorraca (novela “Negócio da China”) e Bete Mendes (novela “Gabriela”), têm que lidar com a chegada de um estranho (Armando Babaioff, de “Sangue Azul”), que desperta desejos. O filme levou dois anos para chegar aos cinemas, desde que foi exibido no Festival de Gramado de 2015. “Mar Inquieto”, do estreante em longas Fernando Mantelli, vai do melodrama ao suspense, acompanhando a história de uma viciada (Rita Guedes, da novela “Malhação”), que se livra das drogas apenas para cair num casamento abusivo. Logo, ela também se livra do marido (Daniel Bastreghi, de “O Sabor do Amor”). Mas cria novos problemas com os comparsas criminosos dele. Por fim, “Danado de Bom” é o único documentário da semana. Vencedor do 20º Cine-PE, o filme de estreia de Deby Brennand traça um perfil do compositor João Silva, parceiro de Luiz Gonzaga que morreu em 2003. Também foi exibido no festival É Tudo Verdade do ano passado.
Baywatch e Um Tio Quase Perfeito são as estreias mais amplas em semana repleta de comédias
Após estreias consecutivas de blockbusters em mais de mil telas, o parque exibidor assumiu a saturação ao reservar apenas 450 salas para o maior lançamento desta quinta (15/6). Pesa na decisão o fato de “Baywatch” ter fracassado nos EUA, onde foi lançado há um mês. A Paramount apostava que tinha uma nova franquia ao estilo “Anjos da Lei”, mas a versão comédia da série “SOS Malibu” se provou outro “CHiPs”. A aprovação de 19% no Rotten Tomatoes recebeu a culpa pelo péssimo desempenho nas bilheterias, um dos piores da carreira do astro Dwayne Johnson. Mas a produção serviu para algo: acabou com a ânsia dos estúdios de avacalhar séries clássicas no cinema. Quem quiser rir, tem mais três opções no circuito. Segunda maior estreia da semana, “Um Tio Quase Perfeito” é uma espécie de tupiniquização de “Quem Vê Cara Não Vê Coração” (1989), clássica Sessão da Tarde de John Hughes: um tio sem noção acaba tendo que cuidar dos sobrinhos – uma adolescente e duas crianças pequenas. O humorista Marcus Majella (“Tô Ryca!”) desempenha o papel de John Candy e a direção é de Pedro Antonio, que no ano passado tupiniquizou “Chuva de Milhões” (1985), também estrelado por Candy, em “Tô Ryca!” (2016). Num tom mais surreal, “Colossal” faz uma mistura improvável de “Godzilla” (2014) e “Quero Ser John Malkovich” (1999), centrada numa mulher comum (nem tanto, é a Anne Hathaway) que, após perder o seu emprego e o seu noivo, entra em depressão profunda. A maluquice começa quando ela vê a notícia de que um monstro gigante está destruindo a cidade de Seoul e gradualmente percebe que está conectada àquele evento. A direção é de Nacho Vigalondo, cineasta espanhol especialista em sci-fis bizarras como “Crimes Temporais” (2007) e “Extraterrestre” (2011), que são cultuadíssimas. Sua estreia em inglês atingiu 79% de aprovação no Rotten Tomatoes. A quarta e melhor comédia também vem da Espanha, mas, diferente das demais, é bem picante. “Kiki – Os Segredos Do Desejo” explora os fetiches sexuais, num remake do australiano “A Pequena Morte” (2014). Seu clima caliente seduziu a crítica americana, com 85% no Rotten Tomatoes, e até a Academia de Cinema Espanhol, recebendo quatro indicações ao Goya (o Oscar espanhol). Se, em vez de rir, a vontade for de chorar, a programação dos shoppings oferece “Tudo e Todas as Coisas”. O filme pertence a outra tendência que conta os minutos para se esgotar: o romance juvenil de doença. A culpa não é das estrelas, é da mania de copiar “tudo e todas as coisas”. No caso específico, copiar “O Rapaz da Bolha de Plástico” (1976), da época em que John Travolta era adolescente, mudando o sexo da personagem protegida de forma hermética, que daria a vida por um beijo cheio de germes. O resultado é mesmo de chorar, como atestam os 49% de aprovação no Rotten Tomatoes. Quatro documentários brasileiros completam a relação de estreias. “Sepultura Endurance” tem a maior distribuição, narrando a versão sem Cavaleras da história do Sepultura. No outro extremo, “Os Transgressores” resume a trajetória de quatro personalidades com formato de programa de TV educativa. Mas é o terceiro registro biográfico que rende abordagem mais original, ao focar uma desconhecida, como estabelece seu título, “Quem É Primavera das Neves”. O cineasta Jorge Furtado ficou intrigado com o nome paradoxal, ao encontrá-lo pela primeira vez em “Alice no País das Maravilhas”, identificando a tradutora do livro, e quis descobrir sua história. Uma belíssima história, por sinal. Por fim, “Cidades Fantasmas” venceu o festival É Tudo Verdade deste ano. Com direção de Tyrell Spencer, aborda o destino de quatro cidades latino-americanas que foram prósperas e hoje estão abandonadas e consumidas pelo tempo. Catástrofes naturais, motivações econômicas, embates políticos e guerras são algumas das condições que levaram esses lugares ao total despovoamento, rendendo imagens fantasmagóricas. Enfim, clique nos títulos de cada filme para ver os trailers de todas as estreias. E bom fim de semana.
Maior estreia da semana, A Múmia amaldiçoa mais de mil salas no Brasil
“A Múmia” é a única estreia ampla da semana. Com lançamento em 1,1 mil salas, projeções em 3D e IMAX, vai disputar o público que está lotando “Mulher-Maravilha”, num circuito que já está saturado de produções milionárias. O lançamento foi planejado para inaugurar um universo de monstros da Universal, mas teve péssima repercussão entre a crítica americana, com 26% de aprovação no site Rotten Tomatoes e reputação de ser “o pior filme que Tom Cruise já fez”. Na trama, o astro de “Missão Impossível” vive um ladrão de relíquias, que acaba despertando a maldição da criatura do título. Russell Crowe (“Noé”) também está no elenco como o Dr. Henry Jeckyll, que lidera uma organização secreta de caçadores de monstros. Todas as demais produções estreiam em circuito limitado, que, por sinal, também está saturadíssimo com o início do Festival Varilux de cinema francês nesta quinta (8/6). Só há mais um lançamento americano na programação: “Paris Pode Esperar”, estreia como diretora de ficção de Eleanor Coppola, a mulher do cineasta Francis Ford Coppola (“O Poderoso Chefão”). E é basicamente turismo gastronômico. Um programa do GNT com um fiapo narrativo, com Diane Lane (“Batman vs. Superman”) indo de vilarejo em vilarejo no interior francês, experimentando delícias culinárias e visitando marcos históricos. Em contraste com o sucesso que tem feito na Argentina, o suspense “Neve Negra” também chega em curto circuito. Traz Ricardo Darín (“Truman”) e Leonardo Sbaraglia (“O Silêncio do Céu”) no papel de irmãos em desacordo, brigando pela venda de uma propriedade no meio da neve da Patagônia. Melhor opção da semana. A programação também inclui quatro estreias nacionais. O destaque pertence a “Filhos de Bach”, uma coprodução alemã, dirigida por um alemão, que narra uma história edificante com crianças pobres brasileiras, salvas de um destino miserável por outro alemão. Um maestro vem ao Brasil em busca de uma partitura original de Bach, que é roubada por trombadinhas, e em sua busca ele acaba se envolvendo num programa de música erudita para menores infratores. Com a mesma fórmula Disney, “Tudo Que Aprendemos Juntos” (2015) era mais realista. “Animal Político” segue caminho oposto, como filme feito para ruminar. O longa acompanha uma vaca em crise existencial, que busca descobrir se é feliz. A ideia é de sitcom animada, com direito a piada-citação de “2001 – Uma Odisseia no Espaço” (1968), mas foi realizada com gente de verdade, atores fantasiados e bichos reais, evocando o cinema marginal. A lista inclui ainda um documentário e uma animação. “Nunca Me Sonharam” traz adolescentes e professores opinando sobre a educação de Ensino Médio no Brasil, com ênfase nas dificuldades dos jovens mais pobres e nas generalizações. Já a animação “Café – Um Dedo de Prosa” narra a história do café de forma didática e será distribuída apenas no circuito SPCine (gratuíto).
Mulher-Maravilha estreia em mais de mil salas de cinema
“Mulher-Maravilha” é o maior lançamento da semana no Brasil, com uma distribuição em 1,2 mil salas. O longa chega precedido por críticas muito positivas, com 96% de aprovação no Rotten Tomatoes, que o apontam como uma das melhores adaptações de quadrinhos já feitas. Trata-se de uma mudança de percepção gigantesca em relação aos filmes de super-heróis da DC Comics, como “Batman vs. Superman” (2016), que introduziu a heroína. E isto acontece com a primeira superprodução de quadrinhos dirigida por uma mulher neste milênio. Patty Jenkins (do premiado “Monster: Desejo Assassino”) está fazendo História, mas também se destaca o desempenho de Gal Gadot, perfeita no papel. A segunda maior estreia é uma comédia nacional, “Amor.com”, com Ísis Valverde (“Faroeste Caboclo”) e Gil Coelho (“S.O.S.: Mulheres ao Mar 2”), que chega a 336 salas. Seu humor reflete o tema do reality show “As Gostosas e os Geeks”. Na trama, o geek conquista a gostosa, perde a gostosa e tenta reconquistá-la, com o diferencial de que boa parte disso é compartilhado nas redes sociais. Uma história convencional em tempos modernos. O filme marca a estreia solo na direção de Anita Barbosa, que foi diretora assistente de algumas das maiores bilheterias brasileiras do século – como “Se Eu Fosse Você 2” (2009), “De Pernas pro Ar” (2010) e “S.O.S.: Mulheres ao Mar 2” (2015). “As Aventuras de Ozzy” aparece em terceiro. Trata-se de uma animação espanhola sobre cachorros que, mesmo sem o pedigree de “Pets: A Vida Secreta dos Bichos” (2016), mostra que as alternativas no nicho da computação gráfica de bichos falantes estão se aprimorando. A premissa enfoca um dos grandes receios de quem tem cachorrinhos. Quando seus donos precisam viajar, Ozzy é deixado num hotel pet, cuja hospedagem de luxo se revela mera fachada para um regime carcerário, em que os cãozinhos são mal-tratadas e se vêem prisioneiros de ferozes cães de guarda. O drama épico “Z – A Cidade Perdida” completa a lista dos lançamentos de maior alcance. Com grande elenco, encabeçado por Charlie Hunnam (“Rei Arthur: A Lenda da Espada”), Robert Pattinson (“Mapas para as Estrelas”) e Tom Holland (o novo Homem-Aranha do cinema), conta a história do Indiana Jones da vida real, o Coronel Percy Harrison Fawcett (Hunnam), que deixou a carreira militar para se tornar explorador. Obcecado pela Amazônia, o britânico se embrenhou nas matas brasileiras para encontrar uma cidade que ele chamava de “Z” e acreditava ser El Dorado, a cidade de ouro. Sua última expedição aconteceu em 1925 no Mato Grosso, onde foi visto pela última vez. Há mais três filmes em circuito bastante limitado. “Inseparáveis” não é o que se poderia chamar de cinema de arte. Ao contrário, trata-se de uma comédia concebida como remake de um blockbuster internacional. Para resumir, é a versão argentina do francês “Intocáveis” (2014), que, curiosamente, elimina o elemento racial do original, alimentando o questionamento sobre a falta de negros no cinema argentino. A trama do paraplégico milionário que fica amigo de seu tratador pobre ainda ganhará remake americano em breve. O drama escandinavo “Ande Comigo” também lida com deficiência física e clichês. Após perder uma perna no Afeganistão, um ex-militar tem dificuldades para se reajustar à vida civil e é auxiliado em sua reabilitação por uma bailarina. Os opostos se atraem, como nos romances de cinema. Mas os cinéfilos podem minimizar os lugares-comuns por conta de mais uma boa performance do dinamarquês Mikkel Boe Følsgaard (o rei louco de “O Amante da Rainha”). Por fim, o documentário nacional “O Jardim das Aflições” tem lançamento apenas em sessões especiais, mas mesmo assim chega em cinco capitais (veja onde aqui). A obra do pernambucano Josias Teófilo é um passeio pelos pensamentos filosóficos de Olavo de Carvalho, o anticomunista que na juventude militou no PCB. Sem contraditórios, ele empilha discursos sobre a “autonomia da consciência individual” em oposição à “tirania da coletividade”, no conforto de sua residência nos Estados Unidos, mostrando-se culto e articulado. É bem feitinho com seu orçamento de R$ 300 mil, arrecadados em financiamento coletivo. Mas também um tédio, que se contrapõe à forma como eletrizou a esquerda, a ponto de cineastas provocarem o cancelamento do festival Cine-PE, ao se retirarem da programação num boicote coletivo contra sua inclusão no evento. As críticas ruidosas ao pensamento de Carvalho e a contrariedade com a ideia de se fazer um filme sobre ele são usadas, de forma inteligente, no material de marketing do lançamento. Mas as reações sobressaltadas dariam um filme bem melhor que o retrato plácido realizado. Clique nos títulos em destaque para ver os trailers de todas estreias da semana.
Maior estreia da semana, novo Piratas do Caribe tem distribuição de blockbuster no Brasil
Maior estreia de cinema da semana, “Piratas do Caribe – A Vingança de Salazar” chega em mais de 1,3 mil salas acompanhado de controvérsias de bastidores e críticas negativas – apenas 31% de aprovação no Rotten Tomatoes. Com o resgate de personagens da primeira trilogia, a produção acaba servindo de fecho para a franquia, já que seu próprio trailer a anuncia como capítulo final. Este é o maior atrativo para quem acompanha o Capitão Sparrow desde os primeiros filmes, mas é bom avisar que também há inúmeras reprises de situações já vistas. Além disso, o excesso de efeitos e atuações cartunescas funcionam como um desenho animado com atores, tendência dos últimos lançamentos da Disney. O grande circuito também recebe “Real – O Plano por Trás da História”, que radicais chamam de golpista – sua inclusão no Cine-PE teria motivado a desistência de cineastas de participarem do festival, em protesto contra a “direita conservadora e grupos que compactuaram e financiaram o golpe”. Seus problemas, porém, estão nas doses de fantasia e cartunismo com que descreve fatos e situações, contaminando seu potencial de docudrama com imaginação desvairada. Nem Itamar Franco foi um personagem de “Zorra Total”, nem Gustavo Franco foi o James Bond da economia nacional. Mas há um saldo positivo, na forma como o enredo explica, sem didatismo e com clareza, os debates por trás do plano Real, que tirou o Brasil do abismo – fatos importantes num país de memória seletiva. Infelizmente, faz isso com muitas frases de efeito e histeria, numa dramaturgia de telenovela, em que até os vilões são genéricos. A estreia nacional que merece maior destaque é outra: “Comeback”. Mas foi lançada em circuito limitado. Último filme de Nelson Xavier, falecido há duas semanas, traz o ator como um matador aposentado, que resolve voltar à ativa. Xavier foi premiado no Festival do Rio pela interpretação, e é uma pena que a distribuição não permita um alcance maior para a performance derradeira deste gigante do cinema brasileiro. A programação inclui outro filme brasileiro: “Muito Romântico”, coprodução alemã, dirigida e estrelada por Gustavo Jahn e Melissa Dullius em Berlim. Mas, neste caso, a distribuição limitada se justifica pelas atuações artificiais e abordagem experimental ao extremo. Com perfil de festival de cinema, onde pode agradar cinéfilos, a obra segue o manual de como entediar o espectador comum. O drama indie “Punhos de Sangue” tem a terceira maior distribuição da semana. E vale a pena. Trata-se da história real e obscura que originou um fenômeno pop. A cinebiografia resgata a façanha de Chuck Wepner, boxeador amador de Nova Jersey que aguentou 15 assaltos em uma luta de pesos-pesados contra Muhammad Ali em 1975, derrubando o campeão uma vez antes de ser derrotado. O feito foi tão impressionante que inspirou Sylvester Stallone a escrever “Rocky” (1976). Mas a vida de Chuck Wepner não teve direito a revanche vitoriosa, como em “Rocky II”. Sua façanha acabou esquecida, conforme Rocky Balboa se tornou mais e mais popular. Apesar do tom melancólico, o filme também inclui momentos doces e engraçados, além de uma performance campeã de Liev Schreiber (série “Ray Donovan”). Com maior alcance entre os lançamentos limitados, “Faces de uma Mulher” tem como atrativo a combinação de duas das melhores atrizes da nova geração francesa, Adèle Haenel (“Amor à Primeira Briga”) e Adèle Exarchopoulos (“Azul É a Cor Mais Quente”). A trama acompanha quatro mulheres em idades distintas, da infância à vida adulta, que flertam com o desastre permanente, até o título fazer sentido, mostrando que, por trás de nomes e intérpretes diferentes, há sempre a mesma mulher. Roteiro e direção são de Arnaud des Pallières (“Michael Kohlhaas – Justiça e Honra”), que transforma a trama complexa num filme fluído e acessível. O segundo filme francês da semana é o documentário “Reset – O Novo Balé da Ópera de Paris”, que capta com imagens belíssimas a criação do primeiro espetáculo de Benjamin Millepied como diretor artístico do Balé da Ópera de Paris. Millepied foi o criador da coreografia de “Cisne Negro” (2010), trabalho que lhe rendeu não apenas reconhecimento mundial, mas o casamento com a atriz Natalie Portman. Entretanto, foi considerado uma escolha pouco ortodoxa para seguir os passos dos gigantes da Ópera de Paris, como Serge Lifar e Rudolf Nureyev. Além de imagens deslumbrantes, o filme registra os dramas de bastidores, a luta contra o tempo e até um greve, entre os desafios que ele precisa superar. Mais restrita das estreias da semana, chega apenas no Rio. O circuito limitado ainda destaca filmes asiáticos das seleções do Festival de Cannes e Berlim do ano passado. O chinês “A Vida após a Vida” é um drama contemplativo e espiritual, que gira em torno de um menino possuído pelo espírito de sua falecida mãe, orientado a replantar uma árvore. Bem mais interessante, “Dégradé” combina comédia de salão de beleza com o clima da guerra permanente da Faixa de Gaza. O desequilíbrio é inevitável, mas não há como negar o apelo da premissa, em que se revelam vaidades de muçulmanas forçadas a usar véu, em meio ao cotidiano violento da Palestina. Clique nos títulos destacados para ver os trailers de todas as estreias da semana.











