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    Morre Jacques Rozier, último cineasta da Nouvelle Vague

    5 de junho de 2023 /

    O cineasta Jacques Rozier, o último membro sobrevivente do movimento Nouvelle Vague, a “nova onda” do cinema francês dos anos 1960, faleceu na última sexta-feira (2/6) na França, sua cidade Natal, aos 96 anos. O cineasta já estava hospitalizado há um curto período e a notícia de sua morte foi confirmada por um conhecido próximo. Ele ganhou notoriedade pelos longas franceses “Maine Ocean” (1986), “Fifi Martingale” (2001) e “Adeus Philippine” (1962). Embora nunca tenha alcançado o mesmo sucesso de contemporâneos como Jean-Luc Godard (“Masculino-Feminino”), François Truffaut (“Contatos Imediatos do Terceiro Grau”), Agnès Varda (“Os Renegados”), Jacques Demy (“Pele de Asno”), Claude Chabrol (“Mulheres Diabólicas”) ou Eric Rohmer (“Conto de Verão”), seu trabalho teve um lugar importante no movimento francês, abrindo caminho para os cineastas contemporâneos. Após estudar na escola de cinema francesa IDHEC (Instituto de Altos Estudos Cinematográficos), Rozier iniciou sua carreira como assistente de TV, ao mesmo tempo em que produziu seus próprios curtas-metragens, incluindo “Rentrée des Classes” (1956) e “Blue Jeans” (1958). Com este último trabalho, ele participou do Festival de Curtas-Metragens da cidade de Tours, onde foi destacado pela crítica, ao lado de curtas de Varda e Demy.   Filmes que marcaram época Seu primeiro longa-metragem, “Adeus Philippine” (1962), estreou na primeira edição da Semana Internacional da Crítica, no Festival de Cannes. Ambientado no verão de 1960, o filme gira em torno de um jovem assistente de TV prestes a partir para o serviço militar obrigatório na Argélia. Determinado a aproveitar seus últimos dias de liberdade, ele abandona o emprego e parte para a Córsega com duas amigas que conheceu recentemente em Paris. Com um elenco jovem e amador, capturado nas ruas de Paris e caracterizado por uma estética neorrealista italiana, o filme retratou de forma autêntica o espírito da juventude francesa da época. Esse aspecto conceitual foi algo que se estendeu no segundo filme de Rozier, intitulado “Du Côté d’Orouët” (1971), lançado quase dez anos depois. A trama acompanha três jovens em férias na Bretanha. Ao longo de sua carreira, Rozier dirigiu apenas cinco longas-metragens, mas também se manteve ocupado com curtas, videoclipes e séries de TV. Um de seus curtas notáveis é “Paparazzi” (1964), explorando a relação da atriz e ativista francesa Brigitte Bardot com os fotógrafos que tentavam captar imagens da mesma durante sua estadia na ilha italiana de Capri, nas filmagens do clássico “O Desprezo”. Inclusive, este foi um dos primeiros trabalhos a abordar o surgimento da cultura das celebridades e a perda de privacidade que acompanha o estrelato internacional. Entre seus outros trabalhos estão “The Castaways of Turtle Island” (1976), ambientado no trem que percorre o trajeto entre Paris e a cidade portuária de Saint-Nazaire. Anos mais tarde, o longa ganhou o Prêmio Jean Vigo de 1986. Seu último filme, “Fifi Martingale” (2001), foi estrelado por Jean Lefebvre (“Diabolique”) no papel de um diretor de teatro e escritor de sucesso que reescreve sua nova obra para escapar das garras de uma conspiração com consequências inesperadas.   O fim da Nouvelle Vague A morte de Rozier marca o fim de uma era para o cinema francês, como previsto por seu amigo e defensor de longa data, Godard, que faleceu em setembro do ano passado. Citado pela mídia francesa, Godard escreveu em 2019: “Quando Agnès Varda faleceu, pensei: a verdadeira Nouvelle Vague, só restam dois de nós, eu… e Jacques Rozier, que começou um pouco antes de mim”. A Nouvelle Vague foi um momento importante para a estética do cinema francês, que teve início no final da década de 1950 na França. Mostrando uma nova maneira de pensar o audiovisual, o movimento questionava muitos elementos do cinema tradicional, tentando inovar no formato – filmando em ângulos não convencionais e com a câmera na mão – e no conteúdo das produções. Com o passar dos anos, essa atitude influenciou artistas do mundo todo.

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    Jean-Luc Godard, ícone da nouvelle vague, morre aos 91 anos

    13 de setembro de 2022 /

    O cineasta Jean-Luc Godard, maior nome da nouvelle vague e lenda do cinema francês, morreu nessa terça (13/9) aos 91 anos por suicídio assistido. Dono de uma carreira longeva e repleta de experimentações, Godard dirigiu mais de 130 obras, incluindo longas-metragens, curtas, séries de TV e documentários. Seus títulos mais conhecidos são também aqueles que ajudaram a revolucionar o cinema francês, como “Acossado” (1960), “Viver a Vida” (1962) e “O Demônio das Onze Horas” (1965). Nascido em Paris em 1930, Godard era filho de pais protestantes que viviam entre a França e a Suíça. Após terminar o ensino médio, ele se matriculou na universidade Sorbonne, em Paris, mas logo abandonou as aulas para frequentar os cinemas e cineclubes – onde encontrou outros colegas cinéfilos, como François Truffaut e Jacques Rivette. Os três, junto com Claude Chabrol e Maurice Scherer (mais conhecido como Eric Rohmer) começaram a escrever críticas e, em 1952, Godard publicou os seus primeiros artigos na revista Cahiers du Cinéma, fundada no ano anterior. Godard acabou expulso da revista depois de roubar o dinheiro do caixa e fugir para a Suíça, onde com a verba dirigiu o curta-documentário “Operação Beton” (1955). O roubo, de todo modo, não foi um caso isolado. Godard era conhecido por ser cleptomaníaco. Ele voltou para Paris em 1956, depois de trabalhar na TV suíça e passar um tempo em um hospital psiquiátrico. Ele começou a trabalhar como publicitário, escrevendo materiais promocionais para o estúdio 20th Century Fox, e conseguiu até voltar a escrever para a Cahiers du Cinéma. Neste período, dirigiu três curtas: “Charlotte e Seu Namorado” (1958), “Todos os rapazes se chamam Patrick” (1959) e “Uma História d’Água” (1961), co-dirigido com Truffaut. Com esta experiência, ele decidiu dirigir seu primeiro longa-metragem, que se tornou responsável por catapultar a sua carreira e por chamar atenção para um novo estilo de filmar, que foi batizado como “nouvelle vague” – ou, a nova onda do cinema francês. “Acossado” (1960) contava a história de um ladrão de carros (Jean-Paul Belmondo, que havia trabalhado com Godard no curta “Charlotte e Seu Namorado”) que usa seu charme para seduzir Jean Seberg embora fosse procurado por ter matado um policial. O filme é uma homenagem ao cinema clássico hollywoodiano, ao mesmo tempo que traz personagens sexualmente liberados e propõe a desconstrução da narrativa convencional, colocando câmeras onde escolas de cinema diziam para nunca colocar e fazendo uma edição de cenas que os mestres considerariam errada. Só que essa era a ideia da nova onda. Godard também empregou um estilo de montagem muito mais ágil, fazendo diferentes experimentos com imagens e sons dessincronizados, e chamando a atenção para a artificialidade do cinema – o oposto do que o naturalismo da montagem clássica pretendia. A novidade jogou os manuais de cinema no lixo. Mas foi um sucesso. “Acossado” venceu o Urso de Prata no Festival de Berlim e deu origem aos filmes totalmente autorais. Depois disso, Godard começou a fazer um filme atrás do outro, sempre empregando doses de experimentalismo visual. Seus melhores trabalhos na década de 1960 foram: “Uma Mulher É Uma Mulher” (1961), “Viver a Vida” (1962), “Alphaville” (1965) e “O Demônio das Onze Horas” (1965), clássicos existencialistas. Mas paralelamente também desenvolveu uma fase maoísta, mais evidente em “A Chinesa” (1967), que se acirrou após os protestos estudantis de maio de 1968 e o viu perder adeptos. Ironicamente, também foi a fase em que filmou o documentário “Sympathy for the Devil” (One + One, 1968) com os Rolling Stones. Muitos destes primeiros filmes foram estrelados pela atriz e modelo dinamarquesa Anna Karina, que se casou com o diretor em 1961. Os dois tiveram um relacionamento tumultuado, que acabou em 1965. Godard chegou a adaptar esse relacionamento para o cinema no filme “O Desprezo” (1963), em que escalou ninguém menos que Brigitte Bardot como a versão ficcional de Karina. Em 1967, Godard se casou com a atriz Anne Wiazemsky, que também começou a atuar nos seus filmes. Este casamento durou até 1979. Na década de 1970, ele se juntou a um grupo de ativistas e cineastas de esquerda para formar o “Grupo Dziga Vertov”, nomeado em homenagem ao famoso cineasta russo. O grupo comandou diversos filmes, como “Tudo Vai Bem” (1972) e “Letter to Jane: An Investigation About a Still” (1972), ambos estrelado por Jane Fonda. Em 1977, Godard voltou para a Suíça e passou a morar com a cineasta Anne-Marie Miéville. Foi o relacionamento mais duradouro da vida do diretor, que persistiu até o final da sua vida. Abrindo uma nova fase, ele dirigiu em 1980 “Salve-se Quem Puder (A Vida)”, uma obra que se propôs a examinar os relacionamentos sexuais acompanhando três protagonistas que interagem entre si. O filme foi exibido no Festival de Cannes e saudado como o grande retorno do cineasta. Foi também um enorme sucesso de bilheteria no país. “Salve-se Quem Puder (A Vida)” deu um novo fôlego para a carreira de Godard, que passou a realizar vários filmes consagrados, como “Paixão” (1982), “Detetive” (1985) e principalmente “Eu Vos Saúdo Maria” (1985), que teve grande repercussão pelo tema: uma estudante universitária, que fica grávida sem ter relações sexuais. Considerado uma blasfêmia, foi proibido em vários países, inclusive no Brasil. A polêmica voltou a sacudir a carreira do infant terrible, que a partir daí radicalizou de vez. Seu filme “Rei Lear” (1987), estrelado por nomes como Woody Allen, Leos Carax, Julie Delpy e Burgess Meredith, dividiu a crítica. O Washington Post afirmou que se tratava de um “total desrespeito de Godard a uma apresentação sustentada e coerente das suas ideias”, enquanto o Los Angeles Times afirmou que se tratava de “obra de um gênio certificado.” Na década de 1990, Godard comandou filmes como “Nouvelle Vague” (1990), estrelado por Alain Delon, “Infelizmente Para Mim” (1993), com Gerard Depardieu, e “Para Sempre Mozart” (1996). Porém, o grande destaque desse período foi a série documental “Histoire(s) du cinéma”, iniciada em 1989 e finalizada em 1999. Com um total de 266 minutos e exibida pela emissora francesa Canal Plus, a série consistiu de entrevistas, cenas de filmes clássicos e imagens de arquivo para narrar um século da História do Cinema. Numa entrevista ao jornal francês Libération, publicada anos após o lançamento, Godard descreveu o projeto como “um pouco como meu álbum de fotos de família – mas também o de muitos outros, de todas as gerações que acreditaram no amanhecer. Só o cinema poderia reunir o ‘eu’ e o ‘nós’”. Com a chegada do novo século, Godard voltou a inovar em obras como “Filme Socialismo” (2010), “3x3D” (2013) e “Adeus à Linguagem” (2014), filmes que, como o último título sugere, rompiam de vez com a linguagem tradicional cinematográfica – algo que Godard já vinha fazendo, pouco a pouco, desde o início da sua carreira. Radicais, mantiveram a divisão crítica entre os que consideraram as obras geniais e os que não viram mais cinema nas realizações do cineasta, apenas instalações de arte. Seus últimos créditos como diretor foram o documentário “Imagem e Palavra”, basicamente uma colagem de imagens de arquivo e gravações aleatórias, e o curta “Spot of the 22nd Ji.hlava IDFF”, ambos de 2018. Nos seus últimos anos, Godard se tornou completamente recluso. Ele se recusava a dar entrevistas, não aceitava prêmios e não viajava para os festivais. Quando lhe foi oferecida a Ordem Nacional do Mérito da França, ele recusou, dizendo: “Não gosto de receber ordens e não tenho méritos”. E quando foi premiado com um Oscar honorário em 2010, ele se recusou a viajar para Los Angeles para aceitá-lo pessoalmente. Anne-Marie Miéville disse na época que Godard “não irá para a América, ele está ficando velho demais para esse tipo de coisa. Você faria todo esse caminho apenas por um pedaço de metal?” Ao longo da carreira, Godard colecionou mais de 50 “pedaços de metal”, incluindo prêmios nos principais festivais de cinema do mundo, como o Urso de Ouro no Festival de Berlim (que ele venceu por “Eu Vos Saúdo Maria”), no Festival de Cannes (por “Imagem e Palavra” e “Adeus à Linguagem”), entre muitos outros. Ao saber da morte do cineasta, o ex-ministro da Cultura da França, Jack Lang, disse à rádio France Info que Godard era “único, absolutamente único… Ele não era apenas cinema, era filosofia, poesia”. O presidente francês Emmanuel Macron também prestou a sua homenagem, chamando-o de “iconoclasta”. “Inventou uma arte decididamente moderna, intensamente livre. Nós perdemos um tesouro nacional, um olhar de gênio”, definiu o governante. Ce fut comme une apparition dans le cinéma français. Puis il en devint un maître. Jean-Luc Godard, le plus iconoclaste des cinéastes de la Nouvelle Vague, avait inventé un art résolument moderne, intensément libre. Nous perdons un trésor national, un regard de génie. pic.twitter.com/bQneeqp8on — Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) September 13, 2022

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    A Prima Sofia explora liberdade feminina com atriz que viveu escândalo sexual

    3 de outubro de 2020 /

    Alguns filmes que envolvem o público pela trama acabam por se tornar ainda mais interessantes por detalhes de seus bastidores. É o caso da escalação de Zahia Dehar em “A Prima Sofia”, novo drama de Rebecca Zlotowski, diretora do charmoso e torto “Além da Ilusão” (2016). A hiper-sexualização da personagem de Dehar, beirando o vulgar, é o elemento principal da forma como o filme registra a liberdade sexual feminina, a falta de pudor e a vontade amoral de se entregar aos prazeres. Ela escandaliza e mexe frontalmente com o machismo do público. Nisto lembra um filme de algumas décadas atrás, “A Mulher Pública” (1984), de Andrzej Zulawski. Mas a polêmica em torno do filme, ao menos na França, deu-se principalmente por Dehar ter se tornado bastante conhecida no país como garota de programa. Ela virou notícia em 2010 durante os escândalos que envolveram dois jogadores da seleção francesa de futebol, Franck Ribéry e Karim Benzema, que foram acusados de pagá-la por serviços sexuais quando ela ainda tinha 17 anos. Os jogadores se livraram de condenação por afirmar que não sabiam que ela era menor de idade. Mas ela não lamenta a exposição, que acabou ajudando sua carreira, transformando-a em modelo, designer e agora atriz no filme de Zlotowski. Seu papel em “A Prima Sofia” guarda muita similaridade com as páginas do noticiário de sua vida real, trazendo referências que são mais bem apreciadas por quem conhece os bastidores do caso. No filme, ela vive a prima do título, que surge na cidade de Cannes de surpresa para visitar a jovem Naïma (a estreante Mina Farid), de 16 anos, que a recebe com muita alegria e entusiasmo. Há algo nessa prima que veio de Paris que fascina Naïma, como seu sex appeal, sua tranquilidade em se expor de topless e também seu ar de liberdade, que ela expressa o tempo todo em seu desejo de aproveitar a vida – uma vontade tatuada acima do bumbum, com a frase em latim “Carpe diem”. Num determinado momento, quando as duas estão tomando sol na praia, dois rapazes surgem atraídos pelo corpo exuberante de Sofia. E a garota não se importa com a admiração. Ao contrário: chega a deixá-los desconfortáveis com sua sexualização, ao aproximar a mão de um deles de seu seios e falar como sua pele é macia, especialmente em outra parte de seu corpo. O comportamento da prima deixa Naïma escandalizada, mas aos poucos a jovem começa a olhá-la como um exemplo de vida. A prima Sofia é uma típica bad girl – em entrevista, Zahia Dehar disse adorar as bad girls, por serem mais fortes e mais livres que qualquer mulher – e a percepção da rejeição social a seu comportamento é muito clara no filme. Isto se manifesta em olhares e comentários toda vez que Sofia passa com seus trajes provocantes, seja um vestido totalmente transparente para a noite, seja um vestido leve e florido, como o que ela usa para ir a um palacete na Itália, com os rapazes que ela conhece. As cenas na Itália são deliciosas por lidarem com a questão do julgamento social – o preconceito. Em determinado momento, Sofia decide se manifestar num roda de pessoas ricas, dizendo que aquele lugar lhe fazia lembrar Marguerite Duras. Uma das mulheres (Clotilde Courau) ri e desconfia que aquela garota com jeito de prostituta não sabe nada da escritora, e decide perguntar quais seus livros preferidos de Duras. Mas o que enriquece a cena é outro detalhe de bastidores, já que Courau é casada com o Príncipe de Veneza e uma integrante real da elite italiana, em mais um acerto de casting de Zlotowski. “A Prima Sofia” é também um conto sobre a brutalidade masculina, ainda que narre isso de maneira relativamente leve – em comparação, por exemplo, a “20 Anos”, de Fernando Di Leo, que mostra a violência despertada pela liberdade sexual feminina de maneira infinitamente mais impactante. Entretanto, por mais que Sofia atraia as atenções, o filme é na verdade sobre Naïma, do quanto ela aprende naquele breve período de férias de verão, que aproveitará para sua vida, para o seu futuro. Nisto, encontram-se semelhanças com o clássico “A Colecionadora” (1967), de Éric Rohmer, que tem sido citado em algumas críticas. E tem mesmo tudo a ver.

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    Bruno Ganz (1941 – 2019)

    16 de fevereiro de 2019 /

    O ator suíço Bruno Ganz, que viveu um anjo em “Asas do Desejo” e Adolf Hitler em “A Queda! As Últimas Horas de Hitler”, morreu de câncer neste sábado (16/2) aos 77 anos em Zurique, informou seu agente. Nascido em 22 de março de 1941, Ganz desenvolveu a maior parte de sua carreira artística no cinema, na televisão e no teatro alemães durante mais de meio século de interpretações. Ele foi atraído para a atuação ainda muito jovem, quando um amigo, técnico de iluminação de um teatro local, passou a deixá-lo assistir às produções. A trajetória cinematográfica começou em 1960 no cinema suíço, mas só deslanchou quando foi filmar no exterior, ao se envolver com ícones da nouvelle vague francesa. Em 1976, coadjuvou em “No Coração, a Chama”, primeiro filme dirigido pela atriz Jean Moreau, e se tornou protagonista em “A Marquesa d’O”, de Éric Rohmer. Falado em alemão, o longa do mestre francês foi premiado em Cannes e rendeu a Ganz o primeiro reconhecimento de sua carreira, como Melhor Ator na votação anual da Academia Alemã-Ocidental. No ano seguinte, ele iniciou uma das principais parcerias de sua filmografia, ao estrelar o filme que lhe apresentou para o mundo, “O Amigo Americano” (1977), adaptação do suspense noir de Patricia Highsmith realizada pelo alemão Win Wenders. Na trama, Ganz vivia um emoldurador de quadros casado, com filho, endividado e vítima de uma doença terminal, que, por não ter muito a perder, é convencido a virar assassino profissional pelo amigo americano do título, ninguém menos que o serial killer Tom Ripley (que depois teria sua origem filmada em “O Talentoso Ripley”), interpretado por Dennis Hopper. O resultado, filmado de forma altamente estilizada por Wenders, e a presença de Hopper – e dos diretores Nicholas Ray e Samuel Fuller, em papéis coadjuvantes – transformou a obra em cult movie e deu a Ganz audiência cativa mundial. Fez, a seguir, seu primeiro filme americano, o terror “Meninos do Brasil” (1978), de Franklin J. Schaffner, sobre clones de Hitler, embarcou no remake do marco do expressionismo alemão “Nosferatu: O Vampiro da Noite” (1979), com direção de Werner Herzog, voltou à França para “A Dama das Camélias” (1981), adaptação do clássico literário de Alexandre Dumas Filho, em que contracenou com Isabelle Huppert, e trabalhou com ainda outro mestre do Novo Cinema Alemão, Volker Schlöndorff, em “O Ocaso de um Povo” (1981), sobre a questão Palestina. O segundo encontro com Wenders rendeu novo papel memorável, como um anjo pairando sobre Berlim em “Asas do Desejo” (1987). Filmado em preto e branco – e novamente com participação de um americano, Peter Falk – , o filme se tornou o postal definitivo de Berlim Ocidental, uma cidade à beira de um muro com uma juventude à beira do abismo, embalado por trilha/shows de rock depressivo – Nick Cave and the Bad Seeds e Crime and the City Solution. Cultuadíssimo, venceu o troféu de Melhor Direção no Festival de Cannes, o Prêmio do Público na Mostra de São Paulo e o de Melhor Filme Estrangeiro no Film Independent Spirit Awards americano. Ganz filmou ainda um terceiro longa com Wenders, “Tão Longe, Tão Perto” (1993), novamente ao lado de Peter Falk e com Willem Dafoe. E embarcou numa turnê cinematográfica mundial, rodando produções na Itália (“Sempre aos Domingos”, 1991), Austrália (“O Último Dia em Que Ficamos Juntos”, 1992), Islândia (“Filhos da Natureza”, 1991) e Reino Unido (“A Vida de Saint-Exupery”, 1996). Até criar outro clássico com um grego, Theodoros Angelopoulos, em “A Eternidade e um Dia” (1998). Após filmes de menor evidência, voltou com tudo em 2004 com duas produções que lhe deram grande visibilidade: o remake de “Sob o Domínio do Mal”, dirigido pelo americano Jonathan Demme, e principalmente “A Queda! As Últimas Horas de Hitler”, de Oliver Hirschbiegel, em que interpretou o Hitler mais convincente já visto no cinema, amargurando seu final de vida no bunker de onde só sairia morto. A popularidade de “A Queda!”, indicado ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira, embalou outra volta ao mundo, que desta vez o levou até ao Japão (“The Ode to Joy”, 2006), antes de colocá-lo novamente em Hollywood, em “Velha Juventude” (2007), dirigido por Francis Ford Coppola, e numa nova parceria com Angelopoulos, “A Poeira do Tempo” (2008). Ele ainda realizou uma façanha, ao estrelar dois filmes indicados ao Oscar num mesmo ano: “O Grupo Baader Meinhof” (2008), de Uli Edel, sobre o grupo terrorista alemão dos anos 1970, que disputou o troféu de Melhor Filme em Língua Estrangeira, e “O Leitor” (2008), do inglês Stephen Daldry, sobre uma ex-funcionária nazista analfabeta, que rendeu o Oscar de Melhor Atriz para Kate Winslet. Membro ativo da comunidade cinematográfica alemã, Ganz também atuou como presidente da Academia Alemã de Cinema de 2010 a 2013. E, em 2010, recebeu uma homenagem da Academia Europeia por sua filmografia. Que só aumentou desde então. Extremamente versátil, Ganz acumulou filmes de alcance internacional na fase final de sua carreira, como os thrillers hollywoodianos “Desconhecido” (2011), de Jaume Collet-Serra, e “O Conselheiro do Crime” (2013), de Ridley Scott, o romance “Trem Noturno para Lisboa” (2013), de Bille August, o cult escandinavo de vingança “O Cidadão do Ano” (2014), de Hans Petter Moland – refilmado neste ano como “Vingança a Sangue Frio” – , o drama “Memórias Secretas” (2015), de Atom Egoyan, a comédia “A Festa” (2017), de Sally Potter, e o ultraviolento “A Casa que Jack Construiu” (2018), de Lars Von Trier, em que deu vida ao poeta Virgílio, acompanhando o serial killer interpretado por Matt Dillon numa jornada para o Inferno. No ano passado, os médicos o diagnosticaram com um câncer intestinal, mas, mesmo passando por tratamento com quimioterapia, ele continuou filmando. O ator deixou três longas inéditos, entre eles “Radegund”, do americano Terrence Malik. Para se ter ideia da importância de Ganz para o cinema e o teatro alemães, ele era portador do Anel de Iffland, uma honraria lendária do século 18, que apenas o melhor ator em língua alemã pode usar, e sua utilização é vitalícia, passando a outro intérprete apenas após sua morte.

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    Stéphane Audran (1932 – 2018)

    27 de março de 2018 /

    Morreu a atriz francesa Stéphane Audran, uma das musas da nouvelle vague. Ela faleceu nesta terça-feira (27/3) aos 85 anos. “Minha mãe estava doente há algum tempo. Ela foi hospitalizada há dez dias e voltou para casa. Ela partiu pacificamente esta noite por volta das duas da manhã”, anunciou seu filho Thomas Chabrol à AFP. Nascida Colette Suzanne Dacheville, em 8 de novembro de 1932 na cidade de Versalhes, ela foi casada com o ator Jean-Louis Trintignant entre 1954 e 1956, antes dele se tornar famoso. Mas só virou atriz depois da separação. Em 1959, o cineasta Claude Chabrol a escalou na comédia “Os Primos” e foi amor à primeira vista. Os dois se casaram na vida e no cinema, criando 20 filmes juntos. Entre eles, estão alguns clássicos da nouvelle vogue, como “Entre Amigas” (1960), “A Mulher Infiel” (1969), “Amantes Inseparáveis” (1973) e especialmente “As Corças” (1968), sobre um relacionamento à três, em que ela encarnou uma bela bissexual. Pelo papel, a atriz venceu o Urso de Prata no Festival de Berlim. Stéphane também venceu o César por “Violette” (1978), e o BAFTA por “Ao Anoitecer” (1971), ambos dirigidos por Chabrol. Ela também estrelou inúmeros clássicos de outros cineastas, como “O Signo do Leão” (1962), de Éric Rohmer, “A Garota no Automóvel com Óculos e um Rifle” (1970), de Anatole Litvak, o vencedor do Oscar “O Discreto Charme da Burguesia” (1972), de Luis Buñuel, “Agonia e Glória” (1980), de Samuel Fuller, e o popular “A Festa de Babette” (1987), de Gabriel Axel, que também venceu o Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. O casamento com Chabrol acabou em 1980, mas não a parceria, que perdurou até os anos 1990. Após encerrar a carreira em 2008, num pequeno papel em “A Garota de Mônaco”, de Anne Fontaine, ela retornou recentemente para completar filmagens de um longa inacabado de Orson Welles, “The Other Side of the Wind”, que permanece inédito. “Stéphane era uma atriz muito boa. Era ótima para interpretar mulheres livres e independentes, como era na vida”, reagiu o diretor Jean-Pierre Mocky, que havia dirigido a atriz em “Les Saisons du Plaisir” em 1988.

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