Paul Morrissey, diretor de filmes cult e colaborador de Andy Warhol, morre aos 86 anos
Cineasta conhecido por filmes como "Flesh" e "Trash" e por sua parceria com o artista pop faleceu após enfrentar pneumonia
Stanley Donen (1924 – 2019)
Morreu Stanley Donen, o último diretor da era de ouro de Hollywood, que assinou clássicos como “Cantando na Chuva” (1952), “Cinderela em Paris” (1957) e “Charada” (1963). Ele tinha 94 anos e nenhum detalhe adicional sobre sua morte, revelada na manhã deste sábado (23/2), foi fornecido pela família. Considerado um dos diretores mais influentes dos musicais americanos, ele foi responsável – junto com Vincent Minnelli e Busby Berkeley – por estabelecer a estética dos filmes da MGM, celebrados até hoje – e homenageados recentemente por “La La Land”. Mas, inacreditavelmente, nunca recebeu uma indicação ao Oscar e nunca venceu um troféu do Sindicato dos Diretores. Não por acaso, seu filho, que tuitou a notícia de sua morte, o descreveu como “um enorme talento muitas vezes menosprezado”. Stanley Donen nasceu em 13 de abril de 1924, na cidade de Columbia, Carolina do Sul. Apaixonado pela dança, ele começou a dançar aos 10 anos em peças de teatro locais. “Vi Fred Astaire em ‘Voando para o Rio’ quando eu tinha 9 anos e isso mudou minha vida”, ele contou para a revista Vanity Fair em 2013. “Pareceu maravilhoso e minha vida não era maravilhosa. A alegria de dançar um musical! E Fred era tão incrível, e Ginger [Rogers] – meu Deus, e Ginger!” Ele foi aprovado para a Universidade da Carolina do Sul, mas em vez de seguir os estudos resolveu mudar-se para Nova York em busca de vagas no teatro musical. Sua estreia como dançarino da Broadway aconteceu em 1940, quando entrou no elenco de apoio da montagem de “Pal Joey”, estrelada por Gene Kelly. Sua dedicação chamou atenção de Kelly, que acabou se tornando seu padrinho profissional. Ao ser contratado para coreografar a comédia musical “Best Foot Forward”, Kelly escolheu Donen para ajudá-lo como coreógrafo assistente. Na época, o futuro cineasta tinha apenas 17 anos. E conseguiu impressionar até o diretor do espetáculo, George Abbott. Em 1943, a MGM adquiriu os direitos da peça para transformá-la em filme – lançado como “A Rainha dos Corações” no Brasil. Os produtores resolveram trazer um integrante da montagem da Broadway para ajudar na transposição para o cinema, e assim começou a carreira hollywoodiana do jovem Donen, praticamente junto com sua maioridade. Nos cinco anos seguintes, o jovem trabalhou na coreografia de nada menos que 14 filmes, quatro na Columbia e o restante na MGM. Dois desses filmes foram estrelados por seu velho amigo Gene Kelly, “Modelos” (1944) e “Vida à Larga” (1947). A amizade da dupla se fortaleceu ainda mais no cinema e os dois se tornaram parceiros criativos. Juntos, coreografaram e escreveram a história do clássico musical “A Bela Ditadora” (1949), estrelado por Kelly, Frank Sinatra e Esther Williams. E a experiência foi tão positiva, que a dupla resolveu dar um novo passo, assumindo pela primeira vez a direção de um filme. Os dois estrearam juntos como diretores – co-diretores, portanto – no clássico instantâneo “Um Dia em Nova York” (1949), em que Kelly e Sinatra viveram marinheiros com um dia de folga para se divertir e se apaixonar na metrópole. Donen comandou sozinho seu trabalho seguinte, quando teve a oportunidade de dirigir o dançarino que o inspirara a seguir carreira. Ele filmou Fred Astaire num dos maiores sucessos do astro, “Núpcias Reais” (1951), criando uma das sequências mais famosas da história dos musicais – quando Astaire dança nas paredes e no teto, décadas antes de existirem efeitos especiais de computador. O diretor tinha só 27 anos e já fazia mágica cinematográfica. Mas foi seu reencontro com Gene Kelly que representou sua canonização no panteão dos deuses do cinema. Os dois retomaram a parceria em 1952, naquele que viria a ser considerado o maior musical de todos os tempos: “Cantando na Chuva”. O filme marcou época porque, ao contrário de muitos outros musicais, foi concebido especificamente para o cinema e não era uma adaptação da Broadway. Tinha danças elaboradíssimas, criadas pela dupla de diretores, e com longa duração, que incluíam movimentos acrobáticos. Também representou uma síntese da história de Hollywood, referenciando vários filmes para narrar a transição da era do cinema mudo para o “cantado”. Ao mesmo tempo, explorou de forma vanguardista uma ousadia de Donen, que foi pioneiro em tirar os musicais das encenações em palcos para levá-los às ruas. No caso de “Cantando na Chuva”, ruas cenográficas, mas esburacadas e cheias de poças d’água, que faziam parte da coreografia. No ano em que a Academia premiou o ultrapassado “O Maior Espetáculo da Terra” (1952), “Cantando na Chuva” foi esnobado pelo Oscar. Sua vingança foi se tornar inesquecível, presente em todas as listas importantes de Melhores Filmes da História, influenciando novas e novíssimas gerações, dos responsáveis por “Os Guarda-Chuvas do Amor” (1964) a “O Artista” (2011) e “La La Land” (2016). A dupla ainda voltou a se reunir em “Dançando nas Nuvens” (1955), mas o fato da ex-mulher de Donen (a atriz Jeanne Coyne) se envolver com Kelly acabou afastando os dois amigos. De todo modo, o diretor acabou se destacando mais na carreira solo a partir de “Sete Noivas para Sete Irmãos” (1954), que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme. Em 1957, ele fez o fantástico “Cinderela em Paris”, reunindo-se novamente com Fred Astaire e iniciando sua parceria com a deslumbrante Audrey Hepburn. O filme teve grande impacto na moda, consagrando sua estrela como musa fashion – ela vive uma modelo existencialista, que prefere usar o pretinho básico. Mas também na dança e no cinema, graças ao passo seguinte da ousadia de Donen. Desta vez, ele organizou uma grande coreografia do casal ao ar livre – e à luz do dia – , à beira de um lago real. Os musicais nunca mais foram os mesmos. Donen ainda dividiu créditos de direção com seu antigo diretor da Broadway, George Abbott, em “Um Pijama para Dois” (1957), filme que avançou ainda mais as coreografias ao ar livre, ao transformar um piquenique numa grande dança. A dupla também assinou o bem-sucedido “O Parceiro de Satanás” (1958). Foram muitos outros musicais, até que o gênero começou a sair de moda, levando o diretor a levar sua ousadia para novas vertentes. Ao filmar “Indiscreta” (1958), chegou a desafiar os censores com uma cena em que mostrou Cary Grant na cama com Ingrid Bergman. Para burlar a proibição da época, ele editou a sequência de forma a mostrar os dois simultaneamente numa tela dividida – sua justificativa para demonstrar que eles não estavam juntos no cenário íntimo, embora aparecessem juntos na mesma cena. O cineasta ainda reinventou-se à frente de thrillers filmados em technicolor vibrante, que combinavam suspense e aventura delirante. Com filmes como “Charada” (1963), estrelado por Audrey Hepburn e Cary Grant, e “Arabesque” (1966), com Sophia Loren e Gregory Peck, Donen se tornou o mais hitchcockiano dos diretores americanos de sua época, aperfeiçoando a fórmula de “Ladrão de Casaca” (1955) e “Intriga Internacional” (1959) – clássicos de Alfred Hitchcock que, por sinal, foram estrelados por Cary Grant. Ele ainda dirigiu comédias de sucesso, como “Um Caminho para Dois” (1967), novamente com Audrey Hepburn, e “O Diabo É Meu Sócio” (1967), com Dudley Moore. Também foi responsável pela adorada adaptação do livro infantil “O Pequeno Príncipe” (1974). Mas fracassou com “Os Aventureiros do Lucky Lady” (1975) e ao se aventurar pela ficção científica em “Saturno 3” (1980), despedindo-se de Hollywood com a comédia “Feitiço do Rio” (1984), estrelada por Michael Caine. Dois anos depois, surpreendeu o mundo ao dirigir um clipe musical, no começo da era da MTV. Ele assinou o célebre vídeo de “Dancing in the Ceiling” (1986), em que o cantor Lionel Ritchie aparecia dançando no teto, de cabeça para a baixo – uma citação direta de seu clássico “Núpcias Reais”. Seus últimos trabalhos foram um episódio da série “A Gata e o Rato” (Moonlighting) em 1986 e o telefilme “Cartas de Amor” (1999). Em 1998, Donen finalmente foi homenageado pela Academia, que lhe concedeu um Oscar honorário pela carreira, “em apreciação a uma obra marcada pela graça, elegância, inteligência e inovação visual”. Ele recebeu sua estatueta das mãos de Martin Scorsese e, então, docemente cantarolou a letra da música “Cheek to Cheek”: “O céu, eu estou no céu, meu coração bate de modo que mal posso falar…” Ao longo da vida, o diretor teve seis relacionamentos amorosos importantes, casando-se cincoo vezes: com a dançarina, coreógrafa e atriz Jeanne Coyne (que o trocou por Kelly), a atriz Marion Marshall, a condessa inglesa Adelle Beatty, a atriz Yvette Mimieux e a vendedora Pamela Braden. Ele vivia, desde 1999, com a cineasta Elaine May.
Arthur Hiller (1923 – 2016)
Morreu o cineasta Arthur Hiller, que em sua longa carreira foi capaz de levar o público às lágrimas, com “Love Story – Uma História de Amor” (1970), e ao riso farto, com muitas e muitas comédias. Ele também presidiu a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas nos anos 1990, e veio a falecer nesta quarta-feira (17/8) de causas naturais aos 92 anos de idade. Nascido em 22 de novembro de 1923, em Edmonton, no Canadá, Hiller começou sua carreira de diretor com “Se a Mocidade Soubesse” (1957), um drama romântico moralista, sobre jovens de diferentes classes sociais que querem se casar após o primeiro encontro, estrelado pelo então adolescente Dean Stockwell. E, durante seus primeiros anos na profissão, alternou sua produção cinematográfica com a direção de múltiplos episódios de séries clássicas, como “Alfred Hitchcock Apresenta”, “Os Detetives”, “Cidade Nua”, “Rota 66”, “O Homem do Rifle”, “Gunsmoke”, “Perry Mason” e “A Família Addams”. A situação só foi mudar a partir do sucesso de suas primeiras comédias românticas, “Simpático, Rico e Feliz” (1963) e “Não Podes Comprar Meu Amor” (1964), ambas estreladas por James Garner. Após repetir as boas bilheterias com “A Deliciosa Viuvinha” (1965), com Warren Beatty, e “Os Prazeres de Penélope” (1966), com Natalie Wood, ele passou a se dedicar exclusivamente ao cinema. Hiller se especializou em comédias sobre casais atrapalhados, atingindo o auge com “Forasteiros em Nova York” (1970), escrito por Neil Simon, em que a mudança de Jack Lemmon e Sandy Dennis para Nova York dá hilariamente errada, mas também soube demonstrar desenvoltura em outros gêneros, enchendo de ação o clássico de guerra “Tobruk” (1967), com Rock Hudson e George Peppard, e, claro, fazendo chover lágrimas com “Love Story” (1970). “Love Story” foi um fenômeno digno de “Titanic” (1997), com filas, cinemas lotados e muito choro. A história do casal apaixonado, vivido por Ali MacGraw e Ryan O’Neal, é considerada uma das mais românticas do cinema (entrou no Top 10 do American Film Institute), mas também uma das mais trágicas. Opostos em tudo, O’Neal vivia Oliver, um estudante atlético e rico de Direito, enquanto MacGraw era Jenny, uma estudante de Música pobre. Os dois se conhecem na faculdade e conseguem ver, além das diferenças óbvias, tudo o que tinham em comum para compartilhar. Mas o casamento não é bem visto pela família rica do noivo, que corta Oliver de sua herança, deixando o casal desamparado quando ele descobre que Jenny tem uma doença terminal – leuquemia. A popularidade do filme também rendeu reconhecimento a Hiller, que foi indicado ao Oscar de Melhor Direção. Mas ele não quis se envolver com o projeto da continuação, “A História de Oliver” (1978). Em vez disso, preferiu rir das histórias de doença em sua obra seguinte, “Hospital” (1971), que lhe rendeu o Prêmio Especial do Juri no Festival de Berlim. A comédia acabou vencendo o Oscar de Melhor Roteiro, escrito por Paddy Chayefsky, considerado um dos melhores roteiristas de Hollywood, com quem o diretor já tinha trabalhado no começo da carreira, em “Não Podes Comprar Meu Amor”. A melhor fase de sua carreira também contou com “Hotel das Ilusões” (1971), seu segundo longa escrito pelo dramaturgo Neil Simon, “O Homem de la Mancha” (1972), versão musical de “Dom Quixote”, com Peter O’Toole e Sofia Loren, e o polêmico drama “Um Homem na Caixa de Vidro” (1975), sobre um nazista procurado que se disfarça de judeu rico em Nova York – que rendeu indicação ao Oscar de Melhor Ator para o austríaco Maximilian Schell. Mas apesar dos desvios, comédias continuaram a ser seu gênero preferido. Ele chegou, por sinal, a lançar uma das mais bem-sucedidas duplas cômicas de Hollywood, juntando Gene Wilder e Richard Pryor em “O Expresso de Chicago” (1976). O cineasta voltou a dirigir a dupla em outro grande sucesso, a comédia “Cegos, Surdos e Loucos” (1989), e perfilou um verdadeiro “quem é quem” do humor em filmes como “Um Casamento de Alto Risco” (1979), com Peter Falk e Alan Arkin, “Uma Comédia Romântica” (1983), com Dudley Moore, “Rapaz Solitário” (1984), com Steve Martin, “Que Sorte Danada…” (1987), com Bette Midler, e “Milionário num Instante” (1990), com Jim Belushi. Hiller, que também dirigiu cinebiografias (“Frenesi de Glória”, em 1976, e “Ânsia de Viver”, em 1992) e até um filme de horror (“Terrores da Noite”, em 1979), deixou muitas marcas no cinema, inclusive em produções nem tão famosas. Exemplo disso é “Fazendo Amor” (1982), um dos primeiros filmes a mostrar de forma positiva um gay que sai do armário e termina seu casamento para procurar encontrar o amor com outros homens. Após dominar as bilheterias das décadas de 1970 e 1980, o diretor conheceu seus primeiros fracassos comerciais nos anos 1990. O período coincidiu com seu envolvimento com a organização sindical da indústria. Ele presidiu o Sindicato dos Diretores de 1989 a 1993 e a Academia de 1993 a 1997. E não foram poucos fracassos, a ponto de fazê-lo desistir de filmar. A situação tornou-se até tragicômica por conta de “Hollywood – Muito Além das Câmeras” (1997), longa sobre os bastidores de um filme ruim, que explorava a conhecida prática de Hollywood de creditar ao pseudônimo Alan Smithee qualquer filme renegado por seu diretor. Pois Hiller renegou o trabalho, escrito pelo infame Joe Eszterhas (“Showgirls”), que virou metalinguisticamente a última obra de Alan Smithee no cinema – depois disso, o Sindicato dos Diretores proibiu que a prática fosse mantida. Ele ganhou um prêmio humanitário da Academia em 2002, em reconhecimento a seu trabalho junto à indústria cinematográfica, e a volta à cerimônia do Oscar o animou a interromper sua já evidente aposentadoria para filmar um último longa-metragem, nove anos após seu último fracasso. Estrelado pelo roqueiro Jon Bon Jovi, “Pucked” (2006), infelizmente, não pôde ser creditado a Alan Smithee. Hiller teve uma vida longa e discreta, estrelando sua própria love story por 68 anos com a mesma mulher, Gwen Hiller, com quem teve dois filhos. Ela faleceu em junho. Ele morreu dois meses depois.


