Chadwick Boseman (1977 – 2020)
O ator Chadwick Boseman, estrela do blockbuster “Pantera Negra”, morreu na noite de sexta (28/8) de câncer de cólon em sua casa, ao lado de sua família, aos 43 anos. Boseman manteve sua luta contra a doença em segredo do público, mas sua família revelou que ele tinha sido diagnosticado há quatro anos. “Um verdadeiro lutador, Chadwick perseverou em tudo e trouxe para vocês muitos dos filmes que vocês tanto amam”, disse sua família em um comunicado. “De ‘Marshall’ a ‘Destacamento Blood’ e vários outros, todos foram filmados durante e entre incontáveis cirurgias e quimioterapia. Mas a grande honra de sua carreira foi dar vida ao Rei T’Challa em ‘Pantera Negra’.” Kevin Feige, presidente da Marvel Studios e Chefe Criativo da Marvel, classificou o falecimento de Boseman de “absolutamente devastador. Ele era nosso T’Challa, nosso Pantera Negra e nosso querido amigo. Cada vez que ele pisava no set, ele irradiava carisma e alegria, e cada vez que ele aparecia na tela, ele criava algo verdadeiramente indelével”. “Ele incorporou muitas pessoas incríveis em seu trabalho, e ninguém era melhor em dar vida a grandes homens. Ele era tão inteligente, gentil, poderoso e forte quanto qualquer pessoa que retratou. Agora ele ocupa seu lugar ao lado deles como um ícone para todos os tempos. A família da Marvel Studios lamenta profundamente sua perda, e estamos de luto esta noite com sua família.” Robert A. Iger, presidente executivo e presidente do conselho da The Walt Disney Company, também emitiu uma declaração em luto por Boseman. “Estamos todos com o coração partido pela trágica perda de Chadwick Boseman – um talento extraordinário e uma das almas mais gentis e generosas que já conheci. Ele trouxe enorme força, dignidade e profundidade para seu papel inovador de Pantera Negra; destruindo mitos e estereótipos, tornando-se um herói tão esperado para milhões ao redor do mundo e inspirando todos nós a sonhar mais alto e exigir mais do que o status quo. “Ficamos tristes por tudo o que ele foi, assim como por tudo o que estava destinado a se tornar. Para seus amigos e milhões de fãs, sua ausência da tela é apenas eclipsada por sua ausência de nossas vidas. Todos nós da Disney enviamos nossas orações e sinceras condolências à família dele. ” Chadwick Boseman nasceu e foi criado na cidade de Anderson, na Carolina do Sul, e mais tarde estudou na Howard University, formando-se em 2000 com um Bacharelado de Belas Artes em Direção. Depois disso, fez cursos de teatro em Londres e conseguiu seu primeiro papel na TV em 2003, um episódio de “Third Watch”. Ele passou a aparecer em séries como “Law & Order”, “CSI: NY” e “ER”, até conseguir seu primeiro papel recorrente em 2008, na série “Lincoln Heights”. No mesmo ano, foi escalado no primeiro filme, “No Limite – A História de Ernie Davis”. A grande virada em sua carreira veio cinco anos depois, quando se tornou o protagonista de “42: A História de uma Lenda” (2013), cinebiografia do pioneiro do beisebol Jackie Robinson, o primeiro jogador negro a entrar na liga principal do esporte. O papel veio quando ele estava pensando em mudar de carreira e se tornar diretor, após assinar dois curta-metragens. “42” adiou definitivamente os planos de passar para trás das câmeras, tornando Boseman um ator requisitado. Em seguida, ele integrou o elenco de outro drama esportivo, “A Grande Escolha” (2014) e encarou mais uma cinebiografia, “Get on Up: A História de James Brown” (2014), encarnando o pai do funk. A mudança para as fantasias de ação com grandes orçamentos e muitos efeitos visuais se deu em “Deuses do Egito” (2016), filme que rendeu polêmica ao escalar atores brancos como egípcios. Ele não se esquivou da situação racista e foi incisivo durante as entrevistas de divulgação. “Quando me abordaram com o roteiro do filme, eu rezei para que essa polêmica acontecesse. E eu sou grato que aconteceu, porque, na verdade, eu concordo com ela”, disse na época à revista GQ, lamentando que Hollywood “não faz filmes de US$ 140 milhões estrelados por negros e pardos”. A atitude demonstrada durante o caos de “Deuses do Egito” poderia prejudicar um ator como ele em outros tempos. Mas em 2016 ajudou a mudar o jogo, encerrando a tradição de embranquecimento cinematográfico de Hollywood. Logo em seguida, Boseman jogaria a pá de cal no preconceito contra protagonistas negros em produções milionárias. Ele virou super-herói da Marvel em seu filme seguinte, “Capitão América: Guerra Civil” (2017), aparecendo pela primeira vez como T’Challa, príncipe de Wakanda, que se tornava rei e o lendário herói Pantera Negra. Mas foi só o aperitivo, num contrato para cinco produções, servindo de teaser para o filme solo do herói, “Pantera Negra”. Mais que um blockbuster de enorme sucesso mundial, com bilheteria de US$ 1,3 bilhão, “Pantera Negra” representou um fenômeno cultural, criando o bordão “Wakanda Forever”, com tudo o que ele representa. Não só um país extremamente avançado, Wakanda foi encarado como uma ideia, afrofuturismo como o cinema jamais tinha ousado apresentar, que subvertia gerações de colonialismo cinematográfico e a representação da África como um continente miserável. A África de “Pantera Negra” era um lugar de dar orgulho por sua inovação e progresso. Como T’Challa, Boseman reinou sobre essa visão, que empoderava não apenas homens negros, mas também mulheres negras, apresentadas como guerreiras imbatíveis e cientistas inigualáveis. O diretor Ryan Coogler pretendia continuar a explorar esse mundo numa continuação, anunciada para 2022, mas o ator vai ficar devendo o filme. Ele realizou quatro dos longas de seu contrato, aparecendo ainda na dobradinha “Vingadores: Guerra Infinita” e “Vingadores: Ultimato”, maior bilheteria do cinema em todos os tempos. Entre as aparições como Pantera Negra, Boseman ainda estrelou “Marshall: Igualdade e Justiça” (2017), outra cinebiografia, desta vez de Thurgood Marshall, o advogado que se tornaria o primeiro juiz afro-americano da Suprema Corte dos EUA. Ele ainda voltou a se reunir com os diretores de “Vingadores: Ultimato”, desta vez como produtores, no thriller de ação “Crime sem Saída” (2019), mas seus últimos trabalhos foram com cineastas negros. Neste ano, ele posou novamente como um herói lendário no filme “Destacamento Blood”, de Spike Lee. E chegou a terminar sua participação em “A Voz Suprema do Blues” (Ma Rainey’s Black Bottom), como um trumpetista ambicioso da banda da rainha do blues Ma Rainey. Baseado numa peça de August Wilson (“Fences”), o filme do diretor George C. Wolfe é coestrelado por Viola Davis e ainda não tem previsão de estreia. “A Voz Suprema do Blues” será sua derradeira aparição nas telas, mas ele ainda poderá ser ouvido numa participação especial no lançamento da série animada “What If”, da Disney+ (Disney Plus), onde deixou registrada sua voz como Pantera Negra pela última vez. A morte do jovem astro no auge de sua carreira deixou o mundo do entretenimento atordoado e dominou as redes sociais na madrugada, com reações de surpresa e lamentações, inclusive uma declaração inédita da DC Comics, declarando “Wakanda Forever” para “o herói que transcende universos”. “Este é um golpe esmagador”, disse o cineasta Jordan Peele no Twitter, um dos muitos que expressaram choque quando a notícia foi confirmada. “Estou devastado”, afirmou Chris Evans, o Capitão América da Marvel, acrescentando que “ele ainda tinha tanto por criar”. “Isso me quebrou”, assumiu a atriz Issa Rae. “Uma perda imensa”, resumiu o Twitter oficial da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos EUA.
Destacamento Blood ajuda a ampliar debate sobre racismo
Nos dias atuais, certas mensagens e certos filmes que desejam passar mensagens, especialmente políticas, precisam ser bastante claros. Didáticos, até. A fim de expressar sem sombra de dúvidas aquilo que se deseja dizer. Em tempos de ascensão de uma extrema direita com claros vínculos com o fascismo, uma extrema direita que tem jogado com mensagens cifradas para confundir, isso se torna ainda mais necessário. “Destacamento Blood” é dirigido por um dos cineastas mais ativistas dos últimos 30 anos e se torna ainda mais pertinente pelo timing de seu lançamento, após a morte de George Floyd e das manifestações antirracistas que isso desencadeou não apenas nos Estados Unidos, mas em muitos países do mundo. O novo filme de Spike Lee, que seria o presidente do júri do Festival de Cannes 2020, cancelado por conta da pandemia, deveria ter recebido première no festival. Mesmo sendo uma produção da Netflix, em outras circunstâncias poderia ter sessões especiais nos cinemas, como ocorreu com “Roma”, “O Irlandês”, “Os Miseráveis” e “Atlantique”, por exemplo. De todo modo, ter a visibilidade propiciada pela Netflix acabou sendo positivo neste momento, permitindo que uma quantidade enorme de pessoas possa apreciá-lo mundialmente. Claramente um produto do momento, mas interligado a várias outras décadas, em especial aos tempos da Guerra do Vietnã, “Destacamento Blood” é um autêntico manifesto antirracista. Lee sempre fez questão de aproveitar o seu espaço no cinema para enaltecer a cultura e a luta negras, e aqui insere não apenas Muhammad Ali e Malcolm X, que aparecem em imagens de arquivo; ele embute a questão racial em cada fotograma, com referências aos atletas Tommy Smith e John Carlos, à ativista Angela Davis, ao ano de 1619, quando foram trazidos os primeiros africanos escravizados ao solo americano, e a outros fatos marcantes. Discute-se até como um herói branco feito Rambo foi escolhido para representar o fracasso da Guerra do Vietnã, quando o cinema poderia ter destacado muitos jovens negros mortos em combate como exemplo da fatalidade do conflito. E falando em herói, chega a ser simbólico ver o ator Chadwick Boseman, o intérprete do Pantera Negra, como a figura mítica da história, pelo menos entre os seus amigos e parceiros do chamado “Da 5 Bloods”, o destacamento do título original. Ele é um exemplo de alguém que tinha a sabedoria de entender a situação dos negros diante de um mundo desigual e a melhor maneira de travar a luta. Como um deles diz: Norman era “nosso Malcolm (X) e o nosso Martin (Luther King)”. A trama segue os quatro amigos sobreviventes da Guerra do Vietnã, que voltam ao país do conflito para cumprir uma nova missão. Ou duas. Uma delas tem a ver com uma mala cheia de barras de ouro encontrada nos anos 1970, quando estavam em ação – e que foi enterrada em algum lugar do campo de batalha. A outra tem a ver com o corpo do companheiro perdido na guerra (Boseman). Cada um desses quatro homens lida com o presente de maneira muito particular. Um deles se destaca, vivido por Delroy Lindo, por ser o único que, para vergonha dos demais, votou em Donald Trump e até usa um boné com o lema “Make America Great Again”. Na missão de procurar o ouro, como é de se esperar, ocorre um conflito de interesses e a ambição passa a envenenar o espírito coletivo. As referências ao clássico “O Tesouro de Sierra Madre” (1948), de John Huston, são claras e passam, inclusive, na admissão de que este é um dos filmes favoritos de Lee. A parte técnica também é muito interessante, como a utilização de três formatos diferentes de tela – o início em scope, as cenas no passado em formato 4:3, e em seguida a proporção 1,85:1, quando se inicia a missão. Há também uma brincadeira acertada com as cores na fotografia e a escolha de uma trilha sonora relevante, com faixas cantadas por Marvin Gaye, que famosamente questionou a época com seu clássico “What’s Going On”. Particularmente curiosa é a decisão estilística de incluir os atores idosos nos flashbacks – em vez de elencar outros intérpretes, mais jovens, para contracenar com Boseman – , como se Lee buscasse demonstrar que, mesmo já sessentões, eles ainda teriam fôlego e coragem para enfrentar uma missão mortal. De fato, a missão que eles empreendem é muito mais perigosa do que imaginam. Ainda há minas, mas felizmente também há pessoas especializadas em localizar e desativar essas minas, como a bem-vinda personagem de Mélanie Thierry – atriz que brilhou recentemente no drama de guerra “Memórias da Dor”, de Emmanuel Finkiel. Aqui ela é uma jovem francesa chamada Hedy, em homenagem à estrela hollywoodiana Hedy Lammar, outra das inúmeras referências cinematográficas do filme. Nesta lista, ainda chama atenção o uso da “Cavalgada das Valquírias”, ópera que se tornou indissociável de “Apocalypse Now”, de Francis Ford Coppola. No filme de Lee, a inclusão da música de Richard Wagner ganha um ar de deboche. Para completar, um drama pessoal de um dos personagens acentua a questão do racismo, dessa vez no Vietnã. O veterano vivido por Clarke Peters reencontra um amor do passado, uma mulher vietnamita, descobre que tem uma filha com ela e fica sabendo, com dor, o quanto a garota foi maltratada pela sociedade por causa de sua cor. Ou seja, a violência do racismo se amplia no cinema de Spike Lee, não apenas nos Estados Unidos, aparecendo também em um país do outro lado do mundo. Nada mais justo que ampliar esse debate para o mundo. Pois é isso que está acontecendo, por meio do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). Disponível na Netflix
Destacamento Blood: Trailer do novo filme de Spike Lee revisita a guerra do Vietnã
A Netflix divulgou um novo pôster e o primeiro trailer legendado do novo filme do diretor Spike Lee, “Destacamento Blood” (Da 5 Bloods). Embalada por rock psicodélico (“Time Has Come Today”, dos Chamber Brothers), a prévia combina cenas da época da guerra do Vietnã com uma trama passada nos dias de hoje. O filme tem roteiro assinado por Lee e Kevin Willmott, que dividiram o Oscar por “Infiltrado na Klan”, e acompanha veteranos traumatizados da guerra. Décadas depois do film do conflito, eles resolvem retornar ao Vietnã em busca do corpo do líder do seu esquadrão, que nunca foi recuperado, e também de uma fortuna em ouro que estaria enterrada com ele. Chadwick Boseman (“Pantera Negra”) é o líder do destacamento, enquanto Delroy Lindo (“The Good Fight”), Clarke Peters (“His Dark Materials”), Norm Lewis (“Scandal”) e Isiah Whitlock Jr. (“Infiltrado na Klan”) interpretam as versões maduras dos ex-soldados. O elenco também inclui Jonathan Majors (“A Rebelião”) como filho do personagem de Delroy Lindo (“The Good Fight”), além de Jean Reno (“O Profissional”), Mélanie Thierry (“Um Dia Perfeito”), Jasper Pääkkönen e Paul Walter Hauser (ambos também de “Infiltrado na Klan”). A estreia está marcada para 12 de junho em streaming.
Destacamento Blood: Novo filme de Spike Lee ganha fotos
A revista Vanity Fair divulgou quatro fotos do novo filme do diretor Spike Lee, “Destacamento Blood” (Da 5 Bloods), que será lançado pela Netflix. O filme tem roteiro assinado por Lee e Kevin Willmott, que dividiram o Oscar por “Infiltrado na Klan”, e acompanha veteranos traumatizados da guerra, que décadas depois resolvem retornar ao Vietnã em busca do corpo do líder do seu esquadrão, que nunca foi recuperado, e também de uma fortuna em ouro que estaria enterrada com ele. Chadwick Boseman (“Pantera Negra”), que não aparece nas fotos, é o líder do destacamento, enquanto Delroy Lindo (“The Good Fight”), Clarke Peters (“His Dark Materials”), Norm Lewis (“Scandal”) e Isiah Whitlock Jr. ( Infiltrado na Klan”) interpretam as versões maduras dos ex-soldados. O elenco também inclui Jonathan Majors (“A Rebelião”) como filho do personagem de Delroy Lindo (“The Good Fight”), além de Jean Reno (“O Profissional”), Mélanie Thierry (“Um Dia Perfeito”), Jasper Pääkkönen e Paul Walter Hauser (ambos também de “Infiltrado na Klan”). A estreia está marcada para 12 de junho em streaming.



