Top model sueca vira demônio de neon no novo clipe de The Weeknd
O cantor canadense conhecido como The Weeknd lançou o clipe da música “Party Monster”, terceiro single do seu disco “Starboy”. A balada de estrutura repetitiva (chatinha) tem vocais de Lana del Rey. E felizmente o clipe é bem melhor que sua melodia. O vídeo é uma combinação de temas de dois filmes de terror, o recente “Demônio de Neon” (2015) e o remake “A Marca da Pantera” (1982), mostrando The Weeknd ora dirigindo um carro rumo ao nada, ora chegando numa festa em que as garotas parecem modelos da Victoria’s Secret prestes a virarem monstros de neon. A principal demônio de neon é Zoe Mantzakanis, modelo sueca de ascendência grega, também conhecida como a atriz Zoe Aggeliki, que viveu uma deusa em “Percy Jackson e o Mar de Monstros” (2013). O visual psicodélico, por sua vez, é dirigido pela dupla Alex Lee e Kyle Wightman, que assina seus vídeos como BRTHR. A dupla já tinha feito um clipe com elefante para Iggy Azalea e com peixes para The Drums. E antes de deixar sua marca da pantera também tinha feito o vídeo de “In the Night” para o próprio The Weeknd, com tiros e crocodilos. Um verdadeiro zoológico musical.
Cahiers du Cinéma elege Aquarius o quarto melhor filme de 2016
A revista francesa Cahiers du Cinéma, provavelmente a mais antiga publicação sobre cinema ainda em circulação, divulgou sua tradicional lista de melhores filmes do ano, como sempre antes das principais estreias do ano e com uma típica seleção polêmica. A lista traz o brasileiro “Aquarius”, do cineasta Kleber Mendonça Filho, em 4º lugar, após ter incluído o filme na capa de sua edição de setembro. Entretanto, logo acima dele há um dos piores filmes do ano. O Top 3 abre com o alemão “Toni Erdmann”, de Maren Ade, que vem ganhando popularidade no circuito das premiações mundiais, após ser ignorado pelo juri do Festival de Cannes. Igualmente esnobado em Cannes, o francês “Elle”, de Paul Verhoeven, ficou com o 2º lugar. Mas enquanto os dois primeiros contam com simpatia da crítica mundial, o 3º lugar ficou com um terror execrado: “Demônio de Neon”, de Nicolas Winding Refn, que na melhor das hipóteses pode ser considerado divisivo. A lista também traz um dos trabalhos mais fracos de Pedro Almodóvar, “Julieta”, por sinal outro filme ignorado pelo júri de Cannes, e até “Carol”, de Todd Haynes, que esta mania de listar os melhores do ano em novembro tinha deixado de fora da seleção dos destaques de 2015. A principal ironia da lista é que ela contém basicamente filmes exibidos em Cannes, casos inclusive de “Aquarius” e “Demônio de Neon”. Mas nenhum filme premiado no festival foi incluído na relação. O recado bipolar parece endereçado à organização do evento, que fez um excelente trabalho de curadoria, entretanto prejudicado por péssimas decisões do júri de celebridades, presidido pelo cineasta George Miller (“Mad Max: Estrada da Fúria”). Também se nota que os críticos franceses ainda não viram nenhum dos filmes americanos cotados para o Oscar. Ou não gostaram de nada ou os lançamentos estarão na lista de melhores do próximo ano, se ainda forem lembrados até lá. Confira a lista completa abaixo: 1. “Toni Erdmann” – Maren Ade 2. “Elle” – Paul Verhoeven 3. “Demônio de Neon” – Nicolas Winding Refn 4. “Aquarius” – Kleber Mendonça Filho 5. “Ma Loute” – Bruno Dumont 6. “Julieta” – Pedro Almodóvar 7. “Rester Vertical” – Alain Guiraudie 8. “La Loi de la Jungle” – Antonin Peretjakto 9. “Carol” – Todd Haynes 10. “Le Bois dont les Rêves sont Faits” – Claire Simon
Demônio de Neon é um catálogo mórbido de moda interpretado por manequins
Verdade seja dita: nem todos eram familiarizados com o nome de Nicolas Winding Refn antes do sucesso de “Drive” (2011). Responsável por filmes como a trilogia “Pusher” (iniciada e 1996) e “Bronson” (2008), o realizador dinamarquês incorporou em “Drive” a sua estilização em um texto palatável para a audiência americana, ao mesmo tempo em que se mostrava sedutor para a plateia europeia, recebendo até mesmo o prêmio de direção no Festival de Cannes. A pegadinha é que Refn não conseguiu aliar o melhor desses dois mundos em que transitou nos seus passos seguintes. “Só Deus Perdoa” (2013) soou mais como um filme indesejado para o público ainda inebriado pela potência de “Drive”. Já “Demônio de Neon” resulta ainda mais desapontador. Trata-se de uma caricatura de si mesmo, com Refn autografando as suas pretensas iniciais como se fosse um equivalente a Yves Saint Laurent do cinema. Antes de se transformar a partir de sua segunda metade em um “Suspiria” (1977) do mundo da moda, a atmosfera de mistério é relativamente bem sustentada em “Demônio de Neon”. Acompanhamos com interesse a jovem de 16 anos Jesse (Elle Fanning), que se muda sozinha para Los Angeles sem deixar claro o que a atingiu para tomar uma decisão tão extrema. Hospedada em um motel decadente gerenciado por Hank (Keanu Reeves), ela pretende seguir uma carreira de modelo, conseguindo um feedback positivo e imediato de uma prestigiada agência. A beleza de Jesse pode ser comparada com a de uma flor que acabou de desabrochar, daquela impossível de ser reproduzida por suas concorrentes plastificadas, em especial Gigi (Bella Heathcote) e Sarah (Abbey Lee), duas “veteranas” derrubadas com a sua vinda. Essa realidade implacável acaba por contaminar Jesse, que logo mais será vista superando a sua ingenuidade para abraçar uma depravação nem sempre focada pelas lentes dos estúdios fotográficos e passarelas. Todos os personagens de “Demônio de Neon” são caricaturas grosseiras. Até mesmo o namorado de Jesse, Dean (Karl Glusman), o menos vil dos homens a serem apresentados, corresponde aquele padrão de garoto rico com predileções um tanto mórbidas. O propósito crítico de Refn com essa escolha é mais do que evidente, mas impossível de ser levado a sério. A inverosimilhança das interações chega a gritar, especialmente ao mostrar Jesse estreitar laços com a maquiadora Ruby (Jena Malone) no segundo em que se conhecem. Sem nenhum embaraço, Ruby compartilha para Gigi e Sarah as confissões do passado de Jesse enquanto todas estão presentes no banheiro de uma boate. Tudo para as duas se reencontrarem aos sorrisos poucos dias depois como se essa traição nunca tivesse acontecido. Se Refn faz pouco caso com o fator humano de seu filme, o empenho estético, no fim das contas, não vem a ser muito recompensador. O deslumbramento por cores fortes, a amplitude dos espaços e a inserção de simbolismos sem qualquer ressonância (como o uso excessivo de retas que formarão uma espécie de trindade do mal) só explicitam a limitação narrativa de seu cinema. “Demônio de Neon” mais parece um longo catálogo de moda preenchido de manequins do que propriamente um filme.


