Stuart Gordon (1947 – 2020)
O cineasta Stuart Gordon, que assinou filmes cultuadíssimos de terror como “Re-Animator” e criou a franquia infantil “Queria, Encolhi as Crianças”, morreu na terça (24/3) aos 72 anos. A causa não foi revelada. Natural de Chicago, Gordon também foi roteirista, dramaturgo e diretor de teatro, consagrando-se em trabalhos de vanguarda. Sua carreira começou nos anos 1960, quando montou o grupo teatral Screw Theatre. Em 1968, a trupe fez uma adaptação anti-guerra de “Peter Pan” que resultou na prisão de Gordon e de sua então namorada (e depois esposa) Carolyn Purdy por obscenidade – as acusações foram retiradas após o caso chamar atenção nacional. Ele também dirigiu o Organic Theater – descrito como um “teatro de nudez, gritos e sangue” – , responsável pela montagem de “Perversidade Sexual em Chicago”, de David Mamet, em 1974. Gordon migrou para o cinema em meados dos anos 1980, fazendo sua estreia como cineasta justamente com o clássico “Re-Animator” (1985), uma adaptação de contos de HP Lovecraft, que raramente é chamado pelo título nacional de “A Hora dos Mortos-Vivos”, graças à relançamentos em vídeo sem esse nome absurdo. Seu plano original era desenvolver uma peça, mas o produtor, futuro cineasta e grande parceiro Brian Yuzna lhe ofereceu orçamento para um longa-metragem. Graças a sua mistura de efeitos especiais horripilantes, banhos de sangue (supostamente inspirados em fotografias de cadáveres do necrotério de Cook County) e humor selvagem, “Re-Animator” virou um cult instantâneo e exemplar essencial da onda de terrir (comédia e horror) que revolucionou o cinema trash de sua época – ajudando a estabelecer a fama da produtora Empire, de Charles Band. Ele deu sequência à filmografia com outra adaptação cultuada de Lovecraft na Empire, “Do Além” (From Beyond, 1986), e assinou vários outros longas marcantes de terror, como “Bonecas Macabras” (Dolls, 1987), a adaptação de “O Poço e o Pêndulo” (1991), de Edgar Allan Poe, “Herança Maldita” (Castle Freak, 1995) e “Dagon” (2001), seu retorno ao universo lovecraftiano – e único da lista não produzido por Charles Band. Paralelamente, fez incursões de sucesso em outros gêneros, chegando a dirigir uma sci-fi de orçamento médio, “A Fortaleza” (1992), estrelada por Christopher Lambert. O mais inusitado, porém, é lembrar que o diretor de “Re-Animator” é a mesma pessoa que criou a franquia “Querida, Encolhi as Crianças” para a Disney. Ele co-escreveu o roteiro do filme original de 1989 e produziu até a sequência, “Querida, Estiquei o Bebê” (1992), além de dirigir um episódio da série inspirada pelos filmes em 1998. O cineasta também co-escreveu “Os Invasores de Corpos: A Invasão Continua” (Body Snatchers, 1993), continuação do clássico “Vampiros de Almas” (1956), dirigida por Abel Ferrara para a Warner, e criou a franquia de terror inaugurada por “O Dentista” (1996), comandada por seu parceiro Brian Yuzna (e co-autor de “Querida, Encolhi as Crianças”). Seus últimos longas como diretor foram a adaptação de “Submundo” (2005), peça dramática de David Mamet, e o suspense “Em Rota de Colisão” (2007), baseado em um caso de assassinato real. Depois disso, ainda assinou episódios das antologias televisivas “Mestres do Terror” e “Fear Itself: Antologia do Medo”, e encerrou a carreira audiovisual com um curta inspirado em “Re-Animator”, chamado de “From the Dark” (2009). Em 2011, Gordon finalmente levou “Re-Animator” aos palcos, transformando-o em um musical de sucesso, com sangue falso abundante na “zona de respingo” – as primeiras filas do auditório. Sua peça derradeira foi “Taste” (2014), inspirada pelo caso verídico do canibal austríaco Armin Meiwes.
Ricky Jay (1948 – 2018)
Morreu o ator e entertainer novaiorquino Ricky Jay, conhecido por papéis em filmes de David Mamet e pela série “Deadwood”. Ele tinha 70 anos e também era um mágico profissional renomado, que se especializou como consultor de grandes produções que envolviam ilusionismo no cinema. Richard Jay Potash já era uma figura conhecida do showbusiness por seus números de mágica em talk shows e especiais televisivos quando chegou a Hollywood. Seu primeiro trabalho no cinema foi como consultor de Francis Ford Coppola na produção de “O Pequeno Mágico” (1982), mas seu talento foi explorado até para ensinar Robert Redford a fazer truques com moedas em “Um Homem Fora de Série” (1984). Sua estreia diante das câmeras se deu pelas mãos do diretor David Mamet. O suspense dramático “Jogo de Emoções” (1987), que também foi o primeiro longa de Mamet, inaugurou uma grande parceria, que se estendeu à praticamente todos os filmes do cineasta, como “As Coisas Mudam” (1988), “Homicídio” (1991), “A Trapaça” (1997), “Deu a Louca nos Astros” (2001), “O Assalto” (2001) e “Cinturão Vermelho” (2008), além do especial de mágica “Ricky Jay and His 52 Assistants” (1996). Em muitos desses filmes, Ricky Jay também trabalhou como consultor técnico. Entre esses longas, ele atuou em dois dos melhores filmes de outro jovem iniciante em Hollywood, Paul Thomas Anderson, “Boogie Nights” (1997) e “Magnolia” (1999), antes de entrar na série western “Deadwood” (2004) para viver um jogador de pôquer que usava habilidades especiais para ser sempre vencedor. As habilidades mágicas de Ricky Jay também lhe renderam destaque num episódio de 2000 de “Arquivo X”, em que Mulder e Scully investigavam o assassinato de um famoso ilusionista, e principalmente um papel em “O Grande Truque” (2006), o filme de mágicos de Christopher Nolan, do qual também foi consultor. Como mágico, ele foi responsável por criar o truque da cadeira de rodas que dava a impressão de que Gary Sinise não tinha pernas em “Forest Gump” (1994) e foi consultor dos truques de “O Ilusionista” (2006), de Neil Burger, e “Treze Homens e um Novo Segredo” (2013), de Steven Soderbergh. Como ator, a filmografia de Ricky Jay ainda inclui “Últimos Dias” (2005), de Gus Van Sant, “Vigaristas” (2008), de Rian Johnson, e um papel de vilão num filme de James Bond, “007 – O Amanhã Nunca Morre” (1997).

