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    Atividade Paranormal – Dimensão Fantasma exalta agonia do terror “found footage”

    14 de novembro de 2015 /

    Após um hiato de três anos, “Atividade Paranormal – Dimensão Fantasma”, quinto filme da franquia – que ainda inclui dois spin-offs passados no Japão e numa comunidade latina – chega aos cinemas para finalmente responder as perguntas da trama original. O problema é que os produtores parecem não saber como responder também à proliferação, repetição e esgotamento da tendência iniciada pelo primeiro filme: o terror baseado na estética “found footage” (gravações encontradas). A solução parece mais uma mostra de desespero do que realmente uma inovação: usar o 3D para tentar assustar mais as plateias. Acontece que, por mais que algumas cenas em close-up incomodem e até ameacem render sustos (daqueles bem baratos), o recurso só serve para tornar a fotografia (de câmera amadora) mais escura. É um tiro no pé, pois distrai ainda mais o espectador no cinema. E como o enredo é fraco, a direção é ruim e os atores piores ainda, sobram pontos negativos para o filme, que não consegue ser nem sombra dos demais. Nem mesmo do mais fraco da franquia, justamente o anterior. O fato deste quinto capítulo ter relação com eventos que ocorreram em vários longas é um complicador adicional, pois há a necessidade de relembrar/conhecer detalhes sobre uma seita diabólica de sequestro de crianças, com ligações com entidades malignas. Na nova trama, outra família se muda para a mesma casa que foi palco dos eventos mostrados anteriormente e lá encontra algumas fitas VHS antigas. A princípio, o pai acredita se tratar de fitas pornôs caseiras. Mas logo percebe o quão estranhas são as imagens, ainda mais quando elas dialogam com ele: a garotinha do vídeo parece enxergá-lo e ouvi-lo. Para completar, ele também encontra uma câmera que é capaz de visualizar espíritos ou entidades invisíveis ao olho humano. É a deixa para a entrada em cena do 3D, com efeitos especiais que destoam completamente da proposta dos filmes precedentes, de mostrar imagens mais realistas, mais próximas mesmo dos registros de uma câmera caseira. Ao final, o resultado escancara a referência, até então mal-disfarçada na franquia, de “Poltergeist” (1982), e consegue se sair muito pior do que o péssimo remake recente do clássico de Tobe Hooper. “Atividade Paranormal ” foi responsável pela popularização da estética “found footage “, este último (espera-se que seja mesmo o último) serve, ao menos, para enterrar de vez a tendência. “Found footage ” com 3D? Não há mais o que apelar.

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    Sicario provoca convicções morais com suspense e violência

    14 de novembro de 2015 /

    Com “Sicario – Terra de Ninguém”, Denis Villeneuve deixa mais claras sua vocação temática e suas obessões. Assim como no anterior “Os Suspeitos” (2013), o novo filme é um conto moral elaborado com a intenção de adentrar o lado mais sombrio da alma humana. A trama acompanha a agente do FBI Kate Macer (Emily Blunt, de “No Limite do Amanhã”), que, após descobrir corpos de vítimas de um cartel do tráfico, é convidada a integrar uma força-tarefa secreta. O que ocorre, porém, é que os homens que a convidam a deixam no escuro sobre suas reais intenções, sabendo que ela é uma agente que atua de acordo com as normais legais, não se deixando corromper ou adentrar o caminho de perdição, por assim dizer. Concebida como uma operação de combate, a missão da força-tarefa é atacar um chefe do tráfico mexicano. Mas seus integrantes são homens de funções obscuras, vividos pelos ótimos Josh Brolin (“Homens de Preto 3”) e Benicio Del Toro (“Guardiões da Galáxia”). Este último rouba o filme, tanto pela força de sua caracterização quanto pela importância de seu personagem, principalmente à medida que o filme se aproxima de sua conclusão. Com algumas cenas de violência impactante, “Sicario” até poderia ser mais pesado, caso a intenção de Villeneuve fosse apenas chocar a audiência – por exemplo, nas cenas de tortura. Mas a opção do diretor é mesmo pelo suspense, baseado na construção de uma atmosfera de tensão e auxiliado por um excelente desenho de som. Um dos pontos altos do filme acontece durante um engarrafamento em pleno México, quando o grupo de americanos, auxiliado pela polícia mexicana, percebe um grupo de criminosos nos carros ao lado. O que eles efetuam ali, em público, é impressionante. É a partir daí que o foco muda para Alejandro, personagem de Del Toro, que ganhará ainda mais força quando seu passado e o seu real interesse pela missão vier à tona. Mas até chegar onde precisa, o filme deixa os espectadores tão perdidos quanto a protagonista, alimentando uma situação desconfortável. Afinal, é possível confiar naqueles homens e em seus métodos? Até que a sensação de escuridão deixa de ser metáfora para assumir a forma de um túnel clandestino, sob a fronteira entre Estados Unidos e México. Claustrofóbica, a sequência sob a terra foi filmada pelo diretor de fotográfia Roger Deakins – de obras admiráveis como “Onde os Fracos Não tem Vez” (2007), “007 – Operação Skyfall” (2012) e o próprio “Os Suspeitos” – com câmeras termais e de visão noturna, que realçam a falta de iluminação. Trata-se, por sinal, de um momento-chave para a jornada da personagem de Emily Blunt. E é precisamente quando ocorre uma reviravolta no foco dos personagens, que acaba sendo muito bem-vinda. Algumas das melhores cenas serão guardadas para esse final. Cenas em que Villeneuve mais uma vez provoca o espectador a questionar suas convicções morais: até que ponto é possível aceitar violência em nome da justiça? O mesmo questionamento estava na base de “Os Suspeitos”. E, novamente, os resultados são danosos – sem falar nas implicações racistas de apresentar o México, caricaturalmente, como um lugar perigoso e que precisa ser “limpo”, nem que seja por pessoas dispostas a fazer o trabalho sujo.

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    Evereste é um filme de desastre sem surpresas

    14 de novembro de 2015 /

    “Evereste” é aquele tipo de filme que todo mundo vai assistir sabendo o que vai encontrar. Situações limites, angústia e algum melodrama. Um produto calculado e realizado para despertar estes sentimentos em pessoas que querem passar por isso. O filme tem todos os clichês esperados do subgênero dos filmes de desastre. Estão lá o personagem irresponsável e o ultrarresponsável, os que ficam em casa e sustentam momentos piegas, além das inevitáveis decisões esdrúxulas. Na trama, um alpinista experiente transformou sua paixão em um negócio lucrativo. Jason Clarke (“O Exterminador do Futuro: Gênesis”) interpreta o dono de uma empresa especializada em conduzir escaladas pelo monte Evereste e acaba de juntar equipe e clientes para mais uma expedição. Só que uma tempestade inesperada acontece na metade da travessia, levando todos ao desespero. O elenco também inclui Jake Gyllenhall (“O Abutre”), Josh Brolin (“Os Caça-Fantasmas 3”), Keira Knightley (“O Jogo da Imitação”), Sam Worthington (“Fúria de Titãs”), John Hawkes (“As Sessões”) e Robin Wright (série “House of Cards”), entre outros. Mas isso acaba não fazendo muita diferença, porque, no meio do caos e sob camadas e mais camadas de roupa e neve, pouca gente consegue ser reconhecida. Além disso, a trama não exige grandes atuações. Poderiam ter convidado todo mundo que fez “Pânico na Floresta 13” que daria no mesmo. Mas se os clichês negativos estão presentes, há também bons momentos de tensão em travessias vertiginosas. Tanto que, para os não adeptos daquele modo de vida, é difícil entender porque alguém se sujeitaria a algo tão extremo. Outro destaque positivo do longa-metragem, a construção do Evereste e de seus perigos é impressionante. A fotografia, bastante auxiliada pelas locações, somada ao trabalho de efeitos visuais e de som, confere realismo ao filme.

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    A Colina Escarlate materializa a beleza do terror

    14 de novembro de 2015 /

    “A Colina Escarlate” oferece um sopro de beleza, de amor, de violência e de intensidade num ano escasso de obras de terror relevantes. E ainda assim tem dividido bastante as opiniões de público e crítica. Não é difícil entender porquê. Assim como seu filme anterior, “Círculo de Fogo”, homenagem aos filmes de monstros gigantes japoneses, a nova obra de Guillermo del Toro é um presente para os fãs de um subgênero muito específico: o horror gótico de Roger Corman (as adaptações de contos de Edgar Allan Poe), da produtora britânica Hammer (o sobrenome Cushing não foi escolhido à toa) e até dos pioneiros do giallo italiano. Trata-se de uma homenagem aos filmes de pavor dos anos 1960, inclusive no modo como o cineasta constrói seus personagens, que às vezes parecem um tanto exagerados em suas intenções. A direção de arte e a fotografia são impressionantemente estupendas em sua elegância, e por isso o local onde acontece a maior parte da trama é fundamental: um castelo decadente na Inglaterra. O castelo está submergindo numa espécie de lama vermelha, que é a matéria-prima da obsessão de Thomas, o personagem de Tom Hiddleston (“Thor”), que planeja, junto com sua irmã Lucille (Jessica Chastain, de “Interestelar”), conseguir dinheiro casando-se com a jovem herdeira americana Edith (Mia Wasikowska, de “Segredos de Sangue”). Na verdade, a intenção dos dois é ainda mais criminosa do que aparenta. Chama a atenção o modo como os monstros e os fantasmas são ao mesmo tempo horríveis e aterrorizantes na trama, mas não tanto quanto os vivos, esses sim capazes de causar dor e morte. Edith é assombrada pelo fantasma de sua mãe, que surge parecida com a criatura de “Mama” (2013), não por acaso uma produção de del Toro estrelada por Chastain. Entretanto, falta à “Colina Escarlate” justamente o sentimentalismo de “Mama” (dirigido pelo argentino Andrés Muschietti). A frieza marca os personagens, como costumava marcar os papeis de Vincent Price e Peter Cushing nos clássicos de referência da obra. Assim como a canastrice. Na pele de Lucille, a irmã fria e malévola, Jessica Chastain rouba todas as cenas em que aparece. Há quem considere uma composição exagerada. Mas é a melhor personagem do filme, a que mais se aproxima do mal arquétipo das bruxas de contos de fadas ou dos filmes de horror góticos. O forte do cineasta mexicano, porém, é a construção do conto macabro, pontuando a trama com violência gráfica, que mancha a tela de vermelho. O tom, aliás, já se pronuncia desde o início do filme, quando o logo da Universal Pictures desponta em escarlate, apontando para a valorização da cor pelo diretor A beleza das cenas sangrentas e violentas não encontra paralelos no horror contemporâneo, evocando os clássicos de Mario Bava e Dario Argento. Mas Del Toro não desaparece por trás das referências, manifestando sua marca autoral por meio de algumas de suas obsessões, como o pavor de insetos, insinuado desde seus primeiros filmes, “Cronos” (1993) e “Mutação” (1997), além de refazer o labirinto de “O Labirinto do Fauno” (2006) como a mansão que esconde segredos atrás de cada porta. Um terror belo não é um paradoxo. É uma obra de Guillermo del Toro.

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    Shaun, O Carneiro é um filme mudo que diz muito

    14 de novembro de 2015 /

    A grande beleza de “Shaun, O Carneiro” não é ser uma espécie de filme mudo para crianças. Mas o fato de usar como arma uma falsa inocência para manipular como quiser a garotada e os adultos. Seja para fazer rir ou passar a mensagem sobre a principal mudança que podemos fazer em nossas vidas, que não é necessariamente sair de casa ou ir a lugares diferentes. A animação prega que a mudança de atitude é o que mais importa; logo, a felicidade está dentro de nós mesmos. A mensagem sobre mudança de atitude é importante para os pequenos, mas ela é sutil. Talvez não seja notada até mesmo por adultos, afinal não está desenhadinha e, claro, jamais é explicada através de palavras. Mas com elegância, e indo direto ao ponto, “Shaun, O Carneiro”conseguiu “dizer” isso bem mais rápido que uma produção badalada e consagrada como “Madagascar”, que levou três filmes para chegar a essa conclusão. É mais uma bela diversão em stop motion do estúdio Aardman, que nos brindou anteriormente com “Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais” (2005) e o maravilhoso “A Fuga das Galinhas” (2000). Valorizando truques básicos da narrativa da época do cinema mudo, a versão para o cinema da série britânica de mesmo nome aposta em inspiradas gags para contar a história de Shaun, um carneirinho que cresceu numa fazenda e não aguenta mais viver a rotina no piloto automático. Numa tentativa de subverter positivamente o local e se divertir um pouco, algo dá errado pelo caminho e seu dono vai parar na cidade grande. E com amnésia. Resta a Shaun ir até lá e resgatá-lo. Ok. Não é exatamente um silent movie, porque os personagens emitem certos barulhinhos, mas a essência está presente em cada frame. Vale tropeçar, escorregar, trombar, transmitir emoções pelo olhar e manter as mesmas expressões faciais do início ao fim, inclusive a hilária risadinha de lado. Então Shaun e seus amigos são representações de Buster Keaton? Bom, por que não? Para um filme sob esse tipo de influência, a música tem um papel fundamental. E a trilha sonora de “Shaun, O Carneiro” é um capítulo à parte. Destaque para o tema “Feels Like Summer”, de Tim Wheeler, Ilan Eshkeri e o ex-Kaiser Chiefs Nick Hodgson, cujo significado traduz o espírito do próprio filme. Se a falsa inocência gera gargalhadas surpreendentes – e o filme é genuinamente engraçado –, o artifício permite mascarar referências. A aventura é repleta de menções a grandes produções do cinema, mas nenhuma delas quer chamar mais atenção que a própria história, como acontece em “Shrek”. De forma discreta, o cinéfilo é capaz de reconhecer citações a filmes que devem passar bem longe das crianças, como “O Silêncio dos Inocentes” (1991) e “Cabo do Medo” (1991). Tem até referência ao clássico “A Revolução dos Bichos”, livro de 1945 de George Orwell (com os porcos dentro de casa), e aos Beatles na Abbey Road. Pena que a animação não seja discreta o tempo todo, caindo na tentação das piadas grosseiras, incluindo flatulências e uma cabeça presa na bunda de um Cavalo de Troia. Bem light, de todo modo, porque a criançada adora.

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    Netflix faz estreia impactante no cinema com Beasts of No Nation

    14 de novembro de 2015 /

    Primeiro longa metragem produzido pelo Netflix, “Beasts of No Nation” conta a história do jovem Agu (o pequeno e impressionante Abraham Attah) que após a morte de sua família é adotado pelo Comandante de um grupo guerrilheiro de um obscuro país da África, tornando-se parte de um exército formado em sua maioria por crianças. Escrito e dirigido por Cary Fugunaga (da 1ª temporada de “True Detective”), possui ecos inegáveis de “Apocalipse Now” (1979), seja na figura ao mesmo tempo fascinante e repugnante do personagem do Comandante interpretado por Idris Elba (“Círculo de Fogo”) como na própria trajetória de Agu, que vai se tornando cada vez mais violenta e surreal, numa espiral de violência regada a lavagem cerebral, rituais sadísticos e abuso de todo os tipos. Baseado no livro homônimo de Uzondinma Iweala, “Beasts of No Nation” não faz questão de – e nem precisa – identificar o país em que Agu vive. Em determinando momento, sabemos que o exército nigeriano atua nas forças de paz, mas é o máximo que temos de qualquer localização possível. Não que isso importe. Para Fugunaka, a bestialidade da guerra não precisa de limites ou fronteiras para se estabelecer. Da mesma forma, aos poucos percebemos que tanto as forças do governo quanto os rebeldes são apenas dois lados da mesma moeda, já que veem espiões e conspirações por todos os lados, executando a sangue frio qualquer pessoa que passar pela frente. O filme mostra, a princípio, como Agu vive na miserável vila que habita. Há nestes momentos iniciais, uma sequência absolutamente fascinante, na qual Agu e seus amigos tentam vender uma carcaça de televisão – a TV da Imaginação – na qual enxergam e representam um mundo quase ideal, de brincadeiras, jogos, lutas de caratê e romances. Fica evidente que Fukunaga evita fantasiar tanto uma infância como um família ideal, mas é visível a segurança e a felicidade de Agu ao lado de seus pais. Quando o pai e o irmão são assassinados pelo exército do governo, Fukunaga trata estas sequências com uma displicência quase cruel, mostrando que na guerra a violência atinge qualquer um, objetificando pessoas e transformando-as em simples estatísticas de um massacre. Ainda que o garoto Abraham conduza o filme com a segurança de um adulto, é Idris Elba, no papel do Comandante, que merece todos os aplausos – e prêmios – do mundo por encarnar um dos personagens mais complexos de sua carreira, um líder carismático capaz de convencer dezenas a lutar por sua causa – e uma pessoa absolutamente abjeta por usar deste poder para sua satisfação e realização pessoal. Elba é um guerrilheiro falastrão, de roupas coloridas e óculos escuros, que usa de todo o seu arsenal de palavras e conceitos deturpados para convencer crianças a segui-lo. Quase como um pastor – a crítica religiosa é pontual e acertada -, sua eloquência atira para todos os lados: seja no discurso sobre justiça e sobre devolver o país a seus donos, na conversa ao pé da fogueira sobre como as mulheres amam homens de guerra ou nas danças e canções de viés ritualístico. E quando tudo isso já fez o seu estrago, há ainda a droga, injetada em crianças para que estas consigam sobreviver ao pesadelo em que vivem. Para as crianças menores, como Agu e seu amigo Stryka (o também impressionante Emmanuel Nii Adom Quaye), há ainda outros fardos mais pesados que o filme indica com uma frieza contundente. Beirando muitas vezes o insuportável, o filme estabelece com clareza o conceito de perda da inocência, tão comum em filmes de guerra. Que vejamos isso em crianças de 10 ou 12 anos tornadas assassinos frios e cruéis é algo absolutamente perturbador. Há outro momento particularmente impressionante e gráfico no filme, justamente na prova final de Agu para mostrar-se digno de carregar uma arma. Ali, aliado a uma narração em off econômica e pontual, percebemos que Agu trilha agora um caminho sem volta, algo que já havia evidentemente destruído seu irmão de armas Stryka. À medida que o filme avança, a narrativa vai se tornando cada vez mais surreal, culminando em um momento em que Fukunaga chega a trocar a paleta de cores e transforma toda a selva verde em um inferno vermelho, uma opção estética mais do que apropriada para o estado mental do pequeno Agu – que, em determinado momento, chega a acreditar que encontra sua mãe ao ver uma senhora indefesa numa casa, para logo em seguida tratá-la com a violência usual a que se acostumou. O filme ainda encontra espaço para lidar com as questões políticas referentes à guerra – repleta de acordos, tratados, cargos e dinheiro -, mas este desvio, ainda que importante por estabelecer ainda mais o caráter podre do Comandante, soa infinitamente menos interessante do que a trajetória de Agu. E ainda que o filme termine com uma nota levemente otimista, Fukunaga faz questão de nos mostrar – em um último e brilhante diálogo – que, para Agu, a TV da Imaginação será para sempre uma lembrança de uma época e de uma vida que não voltarão mais. Tudo o que resta para ele é viver a cada dia, com seus fantasmas e com o sangue que jamais sairá de suas mãos. “Beasts of No Nation” não é apenas um filme tecnicamente impecável e com interpretações antológicas. É uma obra tão atual e relevante que ninguém fica imune após conhecê-la.

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    Respire destaca direção inspirada de Mélanie Laurent

    14 de novembro de 2015 /

    Mélanie Laurent é uma artista multifacetada. Além de ser aquela atriz fantástica que vem chamando atenção desde, pelo menos, “Bastardos Inglórios” (2009), ela também é excelente cantora e diretora de cinema. “Respire” já é o seu segundo longa-metragem, tendo participado, inclusive, do Festival de Cannes. Ela também assina o roteiro do filme que, por sua vez, é baseado no romance de uma escritora, Anne-Sophie Brasme. O longa precisava mesmo de um toque feminino para abordar com tanta segurança o universo íntimo de duas jovens garotas colegiais. Na trama, Charlie (Joséphine Japy) é uma jovem relativamente popular na escola, embora se perceba logo no início que lhe falta entusiasmo no trato com suas amigas, bem como na rotina de sua vida, seja na escola, seja em casa. Essa vontade de viver com mais intensidade surge quando ela conhece Sarah (Lou de Laâge), recém-chegada na escola e já demonstrando muito charme e um brilho todo próprio. Aos poucos, as duas viram melhores amigas. E essa amizade também passa a se tornar algo a mais, principalmente na cabeça de Charlie, que vai se mostrando cada vez mais apegada a Sarah, que por sua vez vai revelando uma faceta um tanto sádica. Pode-se dizer que “Respire” é um filme dividido em dois registros complementares: a delicadeza de um filme de amizade e intimidade entre duas garotas e também a tensão de um suspense de tirar o fôlego. O fato de Charlie ser asmática ajuda bastante na composição desse segundo momento, e é o motivo mais óbvio para o título desse trabalho de Laurent, embora haja outros motivos também. E por isso é importante ter cuidado para não entregar o impactante final. “Respire” ainda chama atenção pela forma como retrata as mães das protagonistas, que ou moram sozinhas ou são mal-tratadas por seus maridos. No caso do pai de Charlie, ele é pintado como um sujeito mau caráter que a mãe teima em amar. Esse tipo de relação acaba por se refletir na relação entre as duas adolescentes, em meio à humilhações e tudo o mais que envolve a narrativa. A maior parte do elenco é de estreantes, o que destaca o modo como Laurent extrai de suas atrizes momentos de forte carga dramática, como se elas tivessem nascido para aqueles papéis. O trabalho foi reconhecido com indicações ao Cesar (o Oscar francês) e o prêmio Lumiere para as jovens Joséphine Japy e Lou de Laâge, na categoria de Atrizes Mais Promissoras do ano. Além disso, a obra também registra um uso extremamente elegante da movimentação de câmera, entre vários outros. Por isso, que venham os próximos filmes dirigidos por esta moça talentosa.

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    Operações Especiais não é Tropa de Elite 3

    14 de novembro de 2015 /

    Ecoando o momento de desencanto, onde se percebe a corrupção em cada canto do país, chega aos cinemas o filme de ação “Operações Especiais”, dirigido por Tomas Portella (“Isolados”) e com Cleo Pires (“O Tempo e o Vento”) no papel principal. A atriz interpreta Francis, uma jovem formada em Turismo que resolve fazer concurso para a Polícia Civil pelo motivo mais bobo do mundo. Depois de ser aprovada no curso de formação com louvor, ela passa seus dias desempenhando trabalho burocrático. Até a tomada do Morro do Alemão e a consequente migração dos chefes do morro para cidades próximas ao Rio de Janeiro. Essa, pelo menos, é a ideia que o filme quer passar, ao apresentrar o aumento da violência na fictícia São Judas do Livramento. Quando duas crianças morrem, vítimas de bala perdida, a Polícia Civil fluminense resolve dar um jeito na situação. Para isso, monta uma equipe especial, mesclando policiais veteranos e novatos. Chefiados pelo delegado Fróes (Marcos Caruso, de “Sorria, Você Está Sendo Filmado”), o único pré-requisito necessário para entrar na operação é ser honesto. E assim a inexperiente personagem de Cleo Pires vai parar no meio dos tiros cruzados. Bobinho no argumento, o filme acaba se valendo de bons momentos de tensão. O jogo de câmeras nas incursões, além de boas sequências de perseguição e tiroteio, chegam exatamente onde gostariam de chegar e conseguem causar sensações na plateia. Como já comprovado em “Isolados”, o diretor é capaz de criar ambiência e manipular sentimentos. Apesar de não sobreviver a certos tropeços na direção de atores. As atuações são irregulares. Embora a maioria do elenco não comprometa, Fabrício Boliveira (“Faroeste Caboclo”) está muitos tons acima dos colegas de cenas, seja na empostação da voz ou nos muitos e exagerados trejeitos. Outra que também deixa a desejar na construção de seu personagem é Fabíula Nascimento (“O Lobo Atrás da Porta”), mas a dificuldade parece vir de um sotaque que não funciona em hora nenhuma. O cinema policial brasileiro já conseguiu combinar ação, desempenho e roteiro capaz de gerar reflexão, mas “Operações Especiais” não é “Tropa de Elite 3”. Trata-se apenas de um passatempo, que prefere divertir o público a fazê-lo pensar.

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    Bata Antes de Entrar encontra diversão na tortura erótica

    13 de novembro de 2015 /

    Eli Roth fez “Bata Antes de Entrar” (2015) depois de “Canibais” (2013), seu filme-homenagem a “Canibal Holocausto” (1980), mas com as dificuldades enfrentadas para distribuir aquela obra, o novo trabalho acabou chegando antes aos cinemas. Muito provavelmente por ser um exemplar mais leve da filmografia sangrenta do cineasta, que ganhou notoriedade por conta de “O Albergue” (2005). Vale lembrar que “O Albergue” surgiu durante um momento particularmente intenso dos filmes de horror, a fase ultraviolenta dos chamados “torture porns”. A mistura de sexo e tortura ainda está presente em “Bata Antes de Entrar”, mas seu terror é muito mais psicológico do que físico, num diálogo com “Violência Gratuita” (1997), de Michael Haneke. Pena que Eli Roth não tenha a classe de Haneke para compor a história do homem de família (Keanu Reeves) que cai na teia de duas moças sedutoras, ao abrir a porta de sua casa para um inferno crescente. A premissa é típica de VHS pornô. Duas gostosas batem na porta de um pai de família que passa o fim de semana sozinho. Apropriadamente molhadas de chuva, elas só querem usar o telefone. E, claro, tirar logo as roupas para materializar a cena de sexo a três. O fato de Keanu Reeves estar exageradamente canastrão – como se ele não estivesse levando a sério o filme – contribui para que a sensação de suspensão da descrença seja abalada. Reeves é um ator limitado, mas já demonstrou ser mais funcional em outras ocasiões. Assim, o filme sobra nas mãos das duas meninas, as chilenas Lorenza Izzo (mulher do diretor) e Ana de Armas. Elas dominam as cenas em todos os sentidos, explorando a fraqueza masculina para benefício próprio e impondo suas presenças até quando deixam de ser bem-vindas. Por mais que os filmes de horror tenham como característica recorrente punir a promiscuidade com a morte, Roth parece não ter a intenção de criar um conto moral sobre tentação e pecado. Embora se preste ao formato de parábola sobre infidelidade conjugal, “Bata Antes de Entrar” está mais para uma sátira desse tipo de horror moralista, assumida na diversão delirante das duas atrizes – embora as acusações de pedofilia brandidas contra o protagonista tendam a cruzar a fronteira para o tipo de acerto de contas de “Menina Má.com” (2005). Na verdade, a ideia não é original. “Bata Antes de Entrar” é um remake de “Jogo Mortal” (1977), um suspense obscuro, mas cultuado, dirigido por Peter S. Traynor e estrelado por Sondra Locke e Colleen Camp, que aparecem no filme de Roth como coprodutores. O original era sombrio, perigoso e tratado quase como tabu, pelo conteúdo sadomasoquista. Já a refilmagem se dá com cores vivas, clima lúdico e liberada para maiores de 14 anos no Brasil.

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    Possessão do Mal é prego no caixão dos terrores de vídeo encontrados

    13 de novembro de 2015 /

    Protagonistas de filmes de terror não são os seres humanos mais inteligentes da face da Terra, mas Michael King, personagem de Shane Johnson (série “Power”) em “Possessão do Mal”, bate o recorde em termos de estupidez. Após a morte da esposa, ele resolve provar para o mundo que nem Deus ou o Diabo existem sob o Sol. Para isso, ele passa a documentar e participar de diversos rituais obscuros e bizarros. Como todo mundo imagina, isso não vai muito certo. O filme é mais um prego no caixão do estilo “found footage” (dos vídeos encontrados), esquecendo frequentemente do formato e fazendo a gente acreditar que, mesmo possuído pelo coisa-ruim, King ainda se preocuparia em filmar e editar sua obra para a posteridade. No mais, sobram cenas genéricas do protagonista sendo puxado para trás, pegando fogo, fazendo contorcionismo e desenhando pentagramas em si mesmo. Nem o cachorro da família escapa. Contando com alguns momentos hilários no melhor estilo “Um Espírito Baixou em Mim” (1984), o filme ainda conta com uma conclusão que plagia “O Exorcista” (1973) sem a menor vergonha.’,’Possessão do Mal é prego no caixão dos terrores de vídeos encontrados

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    A Travessia mostra porque Robert Zemeckis é um dos grandes cineastas de sua geração

    13 de novembro de 2015 /

    “A Travessia” anuncia em seu cartaz que se trata de um filme do mesmo diretor de “Náufrago” (2000) e “O Voo” (2012). A diferença de 12 anos entre os dois filmes se refere ao tempo em que Robert Zemeckis se dedicou à animação em experiências de captura de movimento. Em suma, “Náufrago” e “O Voo” foram seus últimos trabalhos com atores reais. Mas, por coincidência, têm uma forte relação com a premissa de “A Travessia”. Nesses três longas, Zemeckis se mostra obcecado pela queda, que nos filmes anteriores é elemento central da trama, mostrada como um espetáculo. Em “A Travessia”, a queda é uma possibilidade constante. Mas o espetáculo da trama está no fato dela não acontecer. Ao final, a “trilogia” se resume ao esforço de um homem em sobreviver à queda, deixando sua marca – seu legado – ao escapar da morte. A incrível história do equilibrista Philippe Petit já foi contada no documentário vencedor do Oscar “O Equilibrista” (2008), de James Marsh. Mas o filme estrelado por Joseph Gordon-Levitt (“Como Não Perder Essa Mulher”) também faz justiça ao feito, com auxílio de efeitos realistas, que projetam a vertigem em 3D e celebram as Torres Gêmeas de Nova York em sua glória anterior a 11 de setembro de 2001. rnrnO ano é 1974, quando Petit decide realizar a maior proeza já feita por um equilibrista, andar sobre um cabo de aço estendido entre os prédios mais altos do mundo. O próprio protagonista conta sua história – na tela, por meio de narração do ator, e nos bastidores, como consultor da trama. Em vários momentos, Petit reforça que não é um artista de circo, ele é um artista e ponto final. Sua arte é performática. Acontece uma vez na vida. Mas impacta a posteridade. Não é muito diferente do grafite, como ato de desobediência civil e transgressão. Toda a preparação para a realização da obra, por sinal, é feita como se ladrões planejassem um grande golpe. Com auxílio de seu grupo, ele pretende cometer um crime que só tem uma vítima em potencial: ele próprio. A capacidade de projetar tanto o suspense quanto a tensão do ato proibido e suicida de Petit, ao mesmo tempo em que transmite as emoções contraditórias do personagem, entre a possibilidade da morte, a realização de uma vida e a profunda paz de espírito, é, por sua vez, o grande feito de Zemeckis. E isto é atingido com precisão pelas imagens fabulosas que, aliadas à tecnologia IMAX 3D, reproduzem a sensação de caminhar sobre um fio acima de um grande vazio. Para quem tem medo de altura, o filme é um convite a desafiar esse medo. A um passo da eternidade, Petit se aproxima da solidão dos demais sobreviventes de Zemeckis. Mesmo que tenha contado com parceiros importantes para realizar seu grande ato, o feito se dá com ele sozinho, quando encontra sua força e seu nirvana. A cena em que um pássaro se aproxima para vê-lo de perto, por exemplo, tem uma carga espiritual poucas vezes vista no cinema. “A Travessia” também demonstra que os 12 anos em que Zemeckis privilegiou a tecnologia e as inovações de computação gráfica não foram desperdiçados. O filme é uma aula de como efeitos visuais grandiosos e o uso da tecnologia 3D podem ser utilizados de forma artística, em prol da apreciação fílmica. O resultado vai muito além do passeio de parque de diversões projetado rotineiramente nas telas dos multiplexes, demonstrando que Zemeckis é um dos grandes pioneiros do uso de tecnologias de ponta no cinema, mas, mais que isso, é também um dos grandes cineastas de sua geração.

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    Documentário explora implosão criativa de Amy Winehouse

    13 de novembro de 2015 /

    “Amy”, o documentário assinado pelo mesmo Asif Kapadia que dirigiu “Senna” (2010), aborda de maneira ao mesmo tempo dura e delicada a trajetória de Amy Winehouse, que se tornou mundialmente conhecida a partir do estouro do álbum “Back to Black”, o seu segundo, nascido da dor de ter sido abandonada pelo namorado Blake Fielder-Civil. Seria o equivalente ao “Jagged-Little Pill”, da Alanis Morissette, que também nasceu da dor do abandono, mas a cantora canadense soube canalizar isso tudo e ainda veio com um álbum seguinte em completo restabelecimento emocional e com uma bonita espiritualidade. Infelizmente, Amy preferiu se afundar nas drogas. Ou não teve forças para resistir por causa do vício. E as apresentações dela em shows começaram a ficar cada vez mais aquém do que o que o mundo conheceu. Assim, o filme traz tanto a evolução da cantora e compositora a partir de imagens de arquivo da adolescência quanto sua decadência física até a morte, em 2011. O documentário pinta como vilões (ou quase isso) pelo menos duas pessoas: o namorado/marido e o pai de Amy, que é visto como um sujeito que não apenas não soube tratar da filha como deveria, como também a explorou. Tanto que há uma ação jurídica dos familiares contra os responsáveis pelo filme. Uma cena é particularmente digna de nota e causa arrepios, mesmo em quem não acompanhou de perto tudo isso na época em que estava se desenrolando, que é o nascimento no estúdio de “Back to Black”, a faixa-título do segundo álbum, uma das melhores canções a expressar o sentimento de ser abandonado pela pessoa amada já feitas. E não é apenas pelo significado, pela letra, pela situação, mas como isso é traduzido em música e pela voz de Amy. Dessa mesma lavra, veio também “Love Is a Losing Game”, outro lindo exemplar do amor como objeto cortante. Já outras cenas são tão dolorosas de ver que a gente fica até pensando se é ético da parte do diretor mostrar aquilo, o quanto uma pessoa é capaz de ir ao fundo do poço, como quando ela é flagrada na rua com o namorado, depois de terem usado drogas e de terem se cortado com uma garrafa. Ou nas vezes em que ela estava completamente fora de si para dar uma entrevista. Até que ponto esse tipo de coisa é aceitável? Neste sentido, Amy até lembra um pouco Kurt Cobain, que recentemente também foi motivo de documentário. Ambos surgiram como um meteoro, ou como uma bomba-relógio, com data iminente para explodir, devido tanto à dificuldade de lidar com a fama quanto ao consumo desmedido de álcool e drogas aliado à saúde física e mental frágeis.

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