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    Daphne evidencia camada psíquica de uma juventude medíocre

    17 de março de 2018 /

    Daphne é uma mulher jovem, que chega aos 30 anos bastante perdida, em relação a si mesma e ao mundo. Apesar de viver em Londres, uma cidade cheia de opções e possibilidades, sua vida é medíocre, de uma mesmice sem fim. Não tem planos claros de vida ou de carreira e a experiência amorosa inexiste. Resume-se a noitadas regadas a álcool, cocaína e outras drogas e sexo casual, sem compromissos. Um quadro de desencontros e alienação. Apesar de tudo, ou talvez por isso mesmo, a personagem Daphne, encarnada com brilho pela atriz Emily Beecham (a Viúva da série “Into the Badlands”), é muito interessante e envolvente. Estar desconectada de si e dos outros permite uma espécie de suspense por algo que possa surgir e como ela lidará com a nova situação. Quando a novidade aparece, a sensação do espectador é de frustração, já que Daphne é obrigada a se envolver num assalto com vítima que presenciou, mas ela não se compromete, nem demonstra intensidade de sentimentos. Tenta passar ao largo, mais uma vez. O registro do incidente, porém, trará consequências. Do nada, o serviço de saúde liga para o celular de Daphne, oferecendo psicoterapia para que ela possa lidar com a situação supostamente traumática. Ela, a princípio, nem quer saber do que se trata, depois, rejeita. Mas acaba aparecendo, mostra resistência ao tratamento e tudo o mais que se pode esperar desse tipo de personagem. No entanto, a verdade é que uma porta se abre e, mesmo a contragosto, pode se constituir numa saída para o impasse que era a sua vida. O que me parece importante ressaltar aqui é o quão valioso é um atendimento coletivo de saúde de qualidade. Proporcionado e, mais ainda, oferecido, até com insistência, a uma população que, de outro modo, não teria acesso a isso. Com as condições econômicas precárias da personagem e sem dar valor nem desconfiar do que poderia lhe trazer de benefícios, ela jamais buscaria esse tipo de ajuda, ou gastaria algum dinheiro nisso. Repetiria a busca pela via da droga, gastando seu dinheiro lá, ou numa opção religiosa fundamentalista, talvez. Reencenaria o círculo vicioso em que sempre esteve. O filme do diretor escocês Peter Mackie Burns, estreante em longa-metragem, escrito por Nico Mensinga, trabalha bem com uma personagem sem clichês ou estereótipos, que tem complexidade e vai além das aparências. Põe em evidência a realidade psíquica de uma camada feminina da juventude. São dois homens, mas a ideia de que só quem vive o problema de dentro é capaz de entendê-lo é falsa. Também são válidos os diferentes pontos de vista que podem oferecer-se para se compreender um determinado problema ou camada da realidade. Bom trabalho o desses homens que se propuseram a prescrutar o universo feminino, no filme “Daphne”.

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  • Música

    Documentário resgata vida e morte intensas de Torquato Neto

    17 de março de 2018 /

    A escolha do personagem Torquato Neto para um documentário não poderia ser mais feliz. O poeta, que viveu pouco, mas teve intensa e profunda atuação cultural, estava mesmo precisando ser lembrado e resgatado em sua obra, que envolvia música, como letrista, cinema, como criador e intérprete, jornalismo, com seus textos e poemas, e a produção cultural, de modo geral. Isso foi feito. O filme de Eduardo Ades e Marcus Fernando resgata a poesia e a prosa de Torquato Neto, na voz do ator Jesuíta Barbosa, e compreende a sua atuação por meio de muitos depoimentos e trechos de filmes em que ele participou, com o personagem do curta “Nosferato no Brasil” (1970), dirigido por Ivan Cardoso, e muitos exemplares do cinema marginal, com quem ele interagia, e do cinema novo. Sua vida cultural envolveu trabalhos com Edu Lobo, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Jards Macalé, Wally Salomão, Hélio Oiticica, e muitos outros que compunham com ele a geleia geral brasileira do período em que ele viveu. Esse piauiense tão talentoso, inovador e provocador, suicidou-se aos 28 anos de idade, em 1972, e falar da sua vida é, inevitavelmente, falar dessa escolha, que sempre o acompanhou como ideia e que ele acabou por concretizar. Não há respostas, há tentativas de aproximação e entendimento. O que importa hoje é a obra que ficou, que é muito relevante e merece ser revisitada. Não faltam elementos, informações, referências visuais ao documentário “Torquato Neto – Todas as Horas do Fim”, mas ele seria mais interessante se tivesse se preocupado um pouquinho mais em ser didático, o que costuma ser mal visto pelos documentaristas atuais, mas que faz falta, muitas vezes. E não é nenhum pecado mortal, convenhamos. As falas, os depoimentos, são ouvidos quase o tempo todo, enquanto as imagens mostram filmes e fotos. Algumas vezes, aparece o nome da pessoa que fala, outras, não. Quem não identificar o tom de voz, fica sem saber quem está falando. Caetano, Gil, Tom Zé, têm timbres bem conhecidos e divulgados, outros, nem tanto. É possível dizer que o importante é o que se diz, não quem disse. Mas, sem dúvida, o espectador quer saber e tem esse direito. Outro aspecto que causa estranheza é a ausência de Edu Lobo no filme. A música de Torquato Neto que mais se ouve ainda hoje é “Pra Dizer Adeus”, parceria com Edu, tocada duas vezes no filme. Porém, a única referência a Edu Lobo na vida de Torquato é uma foto, junto com outras pessoas, e o crédito na música citada, ao final. Enquanto isso, Caetano e Gil aparecem prodigamente. Nada contra. Mas há um descompasso que poderia ter sido pelo menos compensado por alguma citação, se é que Edu não pôde ou não quis dar depoimento para o filme. Ficou faltando a sua presença, que certamente é menos provocadora, mas não menos importante. O tropicalismo, movimento que Torquato Neto ajudou a criar e militou culturalmente, tem grande destaque no documentário e as imagens dele, no papel de vampiro, perpassam todo o filme. As palavras que ele manejava como poucos inundam a tela. Ao final, um resgate bonito e necessário.

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  • Filme

    Ao abordar crimes, Cartas Para um Ladrão de Livros revela valores culturais

    4 de março de 2018 /

    O cidadão Laéssio Rodrigues de Oliveira, considerado o principal ladrão de obras raras no Brasil, é o foco do documentário “Cartas Para um Ladrão de Livros”, de Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros. Os feitos desse ladrão, que começou roubando revistas antigas com Carmen Miranda na capa e objetos relacionados à antiga cantora, a quem ele adorava, chegaram a atingir dimensões impressionantes. Ele praticou furtos em bibliotecas públicas de, pelo menos, cinco estados brasileiros, incluindo fotos da corte brasileira, mapas antigos feitos a mão, gravuras de artistas europeus icônicos, como Rugendas, e todo tipo de livro valioso e raro, ou de partes extraídas deles. Antes de mais nada, isso revela que o então estudante de biblioteconomia Laéssio era um cara bem informado, culto, que sabia o valor das coisas e também encontrou um meio de vendê-las a pessoas muito ricas que topavam pagar fortunas por esses roubos. Certamente, sabendo que seriam produto de roubo tais preciosidades. Como sempre acontece no nosso país, o ladrão está preso e já havia cumprido dez anos de detenção, anteriormente. Os muito ricos são desconhecidos e usam de seus poderes para permanecerem à sombra, sem qualquer consequência. Alguns, que teriam sido citados em depoimentos, utilizaram seus meios de pressão para que permanecessem desconhecidos e não pudessem ser investigados. Muito menos, punidos. Para além da audácia do ladrão sofisticado e de seu público comprador, há a questão da preservação da memória e do patrimônio nacional. É inacreditável a facilidade com que ele atuou nas bibliotecas e museus, sem que ninguém se desse conta do que estava acontecendo, sem registros filmados, sem controle de acervo periódico. Só quando, finalmente, ele foi indiciado e condenado é que alguns logradouros culturais se deram conta do desaparecimento das obras, ou de parte delas. Inacreditável! O filme foca nos depoimentos de Laéssio, de quem com ele conviveu ou foi furtado por ele, além dos agentes públicos e policiais que o investigaram. Destaca, também, a correspondência do ladrão com os diretores do filme, Carlos Juliano Barros e Caio Cavechini, durante períodos em que ele esteve preso. E, ainda, as cartas que ele trocou com um rapaz, seu amante, que acabou sendo também envolvido na questão dos roubos. “Cartas Para um Ladrão de Livros” ajuda a refletir sobre diversas questões ligadas à educação e cultura, valores e flagrantes desigualdades, a partir da figura retratada no documentário. Entre as pérolas de Laéssio, está algo assim: Não sei o que é melhor, estar livre pobre ou estar preso rico.

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    Pequena Grande Vida se encolhe até virar irrelevante

    4 de março de 2018 /

    Desde, pelo menos, “O Incrível Homem que Encolheu” (1957), de Jack Arnold, o cinema tem gostado de brincar com a ideia de encolher as pessoas. Há “Viagem Fantástica” (1966), “Querida, Encolhi as Crianças” (1989) e muitos outros exemplos. Até o filme “Fale com Ela” (2001), de Pedro Almodóvar, inclui um curta chamado “O Amante Minguante”, inspirado no conto “15 Centímetros”, de Charles Bukowski. “Pequena Grande Vida”, dirigido por Alexander Payne, volta ao tema da miniaturização das pessoas. Agora, a média de altura seria de 13 centímetros. Só que aqui a brincadeira toma um ar de seriedade que, apesar da ironia e da crítica, reflete as preocupações da atualidade. A miniaturização definitiva das pessoas, a partir de uma descoberta norueguesa, que não produz efeitos colaterais, parece se constituir numa solução para a humanidade, que está destruindo o planeta e poluindo tudo. É só criar comunidades em miniatura, onde será possível viver em casas maravilhosas, sem trabalhar, já que o dinheiro existente se multiplicará, devido à redução brutal dos gastos. É a lazerlândia, a cidade dos sonhos, a vida ideal se todos aderirem à ideia. De esmola demais o santo desconfia, lembram-se desse provérbio? Pois é, assim é. Toda idealização desmorona porque, fincada na ilusão de uma utopia, por mais bem intencionada que seja, não resiste ao confronto com o real da vida. Até aí muito bem, mas o filme vai se perdendo em detalhes e situações irrelevantes e acaba buscando abrigo na questão social, na opressão da desigualdade de classes e coletividades e na questão ecológica. Faz uma mistura que não funciona muito bem e que acaba por anular qualquer viés cômico que a ideia da miniaturização pudesse ter. Além disso, é desnecessariamente longo. O resultado não corresponde à intenção. A sensação é de uma boa proposta que se perdeu no caminho, mesmo contando com uma boa produção e um bom elenco. Destaque para o desempenho brilhante da atriz tailandesa Hong Chau, num casting que ainda inclui Matt Damon, Christoph Waltz, Jason Sudeikis e Kristen Wiig.

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    Elegância de Trama Fantasma ilumina o cinema e faz o tempo parar

    24 de fevereiro de 2018 /

    O cineasta Paul Thomas Anderson nunca optou pelo caminho cinematográfico mais simples – talvez “Boogie Nights”, de 1997, seja o mais próximo do popular que ele tenha chegado, e olha que é um filme sobre os bastidores da indústria pornô. “Trama Fantasma”, seu novo projeto indicado a seis Oscars, já traz em sua premissa um rigor artístico que o cineasta vem perseguindo arduamente desde “Magnólia” (1999), que alcançou seu ápice em “Sangue Negro” (2007), e rendeu ainda grandes momentos posteriores (e nada fáceis) com “O Mestre” (2012) e “Vicio Inerente” (2014). Nele, é possível vislumbrar uma linha visual, textual e sonora (na quarta colaboração consecutiva com Jonny “Radiohead” Greenwood, talvez a melhor) que Anderson persegue filme após filme, e que faz de “Trama Fantasma” uma (nova) obra atemporal que mais tem relação com a Arte (com A maiúsculo) do que com a programação tradicional de entretenimento semanal dos cinemas. Não há aceleração, correria, desperdício. Pelo contrário, o tempo parece quase parar em “Trama Fantasma”. O espectador observa como o cotidiano metódico de Reynolds Woodcock (Daniel Day-Lewis, de “Sangue Negro”, em outro reencontro), um renomado estilista que trabalha ao lado da irmã Cyril (Lesley Manville) para vestir grandes nomes da realeza e da elite britânica nos anos 1950, altera-se com a chegada de Alma (Vicky Krieps), sua nova modelo-musa de inspiração. O destino dela é embalar e aguçar a criatividade de Reynolds até que ele se canse e a dispense (lembra “Mãe!”?). A não ser que ela lhe ofereça algo que nenhuma outra tenha oferecido. Silenciosamente cômico, elegantemente cínico e meticulosamente apaixonante, “Trama Fantasma” é a simples construção de um código de conduta entre duas pessoas, algo que acontece toda hora, todos os dias, ainda que não com o delicioso sarcasmo deste filme, que deve ser saboreado nos mínimos detalhes, como uma frestinha de sol que insiste em iluminar o olhar e sumir em meio a nuvens densas de um dia londrino frio, cinzento, nublado e chuvoso. Aproveite este pedacinho de luz até o último segundo.

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    A Grande Jogada consuma transformação de roteirista premiado em autor de cinema

    24 de fevereiro de 2018 /

    Na edição de janeiro de 1954 da revista francesa Cahiers du Cinema, François Truffaut escreveu uma matéria sobre aquilo que viria a ser conhecida como a “Teoria do Autor”. Essa teoria afirma que, por mais que o cinema seja uma arte colaborativa, é a visão do diretor a que prevalece sob todas as demais, mesmo quando trabalha sob o comando de estúdios e produtores poderosos (nomes como Alfred Hitchcock e John Ford foram alçados à condição de “artistas” por conta disso). Via de regra, o cinema passou a ser visto, desde então, como a “arte do diretor”. Mas no atual cenário, em que as séries se sobrepõem, cada vez mais complexas e apreciadas, parece haver uma mudança de paradigma, onde o autor é, reconhecidamente, quem assina os roteiros. E alguns roteiristas vindos da TV já começaram a sobrepujar diretores populares de cinema, com obras que chamam mais atenção pelo personalismo do texto do que pelas qualidades estéticas da cinematografia. E talvez o mais celebrado deles seja Aaron Sorkin, criador das séries “West Wing” e “The Newsroom”, entre outras, que venceu o Oscar por “A Rede Social” (2010), fez “O Homem Que Mudou o Jogo” (2011), “Steve Jobs” (2015) e disputa o Oscar 2018 pelo roteiro de “A Grande Jogada”. Em todas as obras que ele escreveu, sua voz sempre se sobressaiu, as vezes encaixando-se de maneira orgânica com a direção (como em “A Rede Social”), as vezes batendo de frente com ela (“Steve Jobs”). De um jeito ou de outro, a voz de Sorkin nunca se cala. E em “A Grande Jogada” ele assume de vez o papel central atrás das câmeras, ao dobrar a aposta e realizar seu primeiro filme como diretor. Repetindo a mesma fórmula adotada em “A Rede Social”, Sorkin usa o artifício de um processo judicial para contar, em retrospecto, uma história real, neste caso a de Molly Bloom (vivida por Jessica Chastain), uma ex-patinadora olímpica que gerenciou partidas milionárias de pôquer e acabou sendo perseguida pelo FBI. Os jogos gerenciados por Molly eram frequentados por atores de Hollywood, celebridades do esporte, bilionários e, de vez em quando, mafiosos. Ela chegou a escrever um livro detalhando sua vida, mas não citou os nomes das pessoas envolvidas. Em vez de simplesmente adaptar o livro, o texto de Sorkin o inclui na trama. Aqui, quando conhecemos Molly, dois anos já se passaram desde que ela parou de gerenciar os jogos, e passa a revisar todos os detalhes da sua vida e do seu trabalho com o advogado Charlie Jaffey (Idris Elba). Essa revisão não inclui apenas os detalhes relacionados aos jogos, mas também a sua experiência como patinadora e a relação conturbada com seu pai, Larry (Kevin Costner). Aliás, assim como fez em “Steve Jobs”, o autor posiciona a paternidade como um tema central, mas não evidente. Outro elemento narrativo presente na filmografia do roteirista/autor é a constante movimentação em cena, seja quando os personagens andam e falam ao mesmo tempo (o famoso “walk and talk”), o que determina a urgência daquela situação, ou quando ficam trocando de lugares no tribunal, numa gag visual que serve para quebrar um pouco da tensão (algo similar ao que ele fez em “Jogos de Poder”). Mas apesar de todas as semelhanças, existe uma diferença crucial entre esta e as outras obras escritas por Sorkin. Pela primeira vez na sua carreira, o protagonista é uma mulher. Ainda que já tenha chegado perto disso em “Questão de Honra” (1992), ao fazer Demi Moore dividir a tela com Tom Cruise, aqui o show é todo de Jessica Chastain. A atriz compõe a sua personagem como uma mulher de fala rápida, inteligente e extremamente metódica, que chega a justificar o uso de drogas para manter ativo o seu verdadeiro vício. Da mesma maneira, ela reconhece que a sua beleza a auxilia a manipular os homens à sua volta. Como realizador, Sorkin imprime um ritmo frenético à sua narrativa – algo que combina com a verborragia do seu roteiro –, apoiando-se numa montagem acelerada como forma de explicitar a velocidade do pensamento da sua protagonista. Pode-se dizer que ele dirige como escreve. Para materializar isso, conta com a direção de fotografia de Charlotte Bruus Christensen (“A Garota do Trem”), que registra algumas metáforas visuais interessantes, como nos dois momentos em que Molly sai da luz para entrar na escuridão. O primeiro é quando ela confronta um dos jogadores (interpretado por Michael Cera), colocando-se frente a frente com ele, de igual para igual. O segundo é quando ela é espancada por um mafioso e busca refúgio na escuridão. São situações diferentes e motivações diferentes, que a levam ao mesmo lugar. Momentos como estes apontam que, embora alguns temas já tenham sido melhor explorados em filmes anteriores do roteirista, “A Grande Jogada” marca a estreia de um diretor promissor. Assim, até os saudosistas da “crítica francesa” podem ficar mais à vontade e render a Sorkin seu merecido reconhecimento como autor.

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    Chichezão sci-fi, The Cloverfield Paradox faz a Terra e a lógica desaparecerem

    24 de fevereiro de 2018 /

    Lançado de surpresa (na noite do Super Bowl), numa estratégia até então inédita da Netflix, “The Cloverfield Paradox” é o terceiro capítulo da saga “Cloverfield”. Enquanto o primeiro era um típico filme de monstros, que se utilizou da estética “found footage” como forma de inovar a sua narrativa, o segundo, “Rua Cloverfield, 10”, foi um thriller claustrofóbico passado quase que inteiramente em um abrigo subterrâneo. Este terceiro se assemelha ao anterior na sua ambientação, trocando o abrigo por uma estação espacial, mas apresenta um tom não só diferente como bem mais convencional que os demais. Escrito por Oren Uziel (“Anjos da Lei 2”) e dirigido por Julius Onah (“The Girl Is in Trobule”), acompanha Hamilton (Gugu Mbatha-Raw) – única personagem que ganha algum tipo de desenvolvimento dramático e história prévia –, uma cientista que precisa lidar com o trauma da perda recente dos filhos, ao mesmo tempo em que a Terra sofre com o fim iminente das suas fontes de energia – o que inicia conflitos internacionais e a possibilidade de uma guerra. Convencida pelo marido Michael (Roger Davies), ela decide fazer parte da equipe de cientistas e astronautas que, a bordo de uma estação espacial, realizará um experimento com o intuito de gerar energia suficiente para alimentar todo o planeta. O experimento, porém, dá errado e a equipe passa a presenciar estranhos acontecimentos, ao passo que a população da Terra sofre as consequências dessa falha. As referências do texto de Uziel são claras e nem um pouco originais. De “Alien – O 8º Passageiro” (1979) ele tirou a cena em que o peito de John Hurt explode com o nascimento do alien. De “2010 – O Ano Em Que Faremos Contato” e “Projeto Filadélfia” (ambos de 1984) vieram, respectivamente, o conceito de tratar os astronautas como um microcosmo da nossa sociedade, refletindo lá em cima os conflitos que acontecem aqui embaixo, e a ideia da mulher fundida à fiação da estação. JJ Abrams, produtor do longa, construiu a sua carreira em cima da nostalgia, mas é inegável que o novo “Cloverfield” exagera e tropeça em alguns aspectos básicos da narrativa. Afinal, é bastante conveniente que alguém explique o problema do paradoxo do título poucos segundos antes de o tal paradoxo acontecer, o que se mostra uma estratégia preguiçosa para avançar a trama. Além disso, existem diversas incongruências grosseiras. Numa cena, é dito que são necessárias três pessoas para desacoplar uma parte da estação espacial – o velho truque do desacoplamento manual de toda sci-fi – , mas, quando chegam lá, duas ficam observando a terceira fazer todo o trabalho sozinha. Isso sem falar como é incrível a capacidade da estação em continuar funcionando após tantas explosões, perdas de energia e peças faltando. As incongruências são muitas e atrapalham, sim, mas, ao mesmo tempo em que chuta a lógica, o filme também diverte com suas situações absurdas, como a que envolve um braço com vida própria, personagens que surgem dentro das paredes, além do desaparecimento da própria Terra. É tudo tão bizarro que se torna impossível levar a trama a sério. O diretor Julius Onah parece ter ciência disso, ao imbuir as cenas de tensão com toques de humor (além de um pouco de humor involuntário). E ainda que avance em cima de clichês, consegue manter o ritmo da narrativa em meio às viradas na história, fazendo que só ao final o espectador perceba o quanto a subtrama do marido da protagonista foi perda de tempo, por exemplo. “The Cloverfield Paradox” não é tão bom quanto os anteriores, mas, ao menos, a ideia de construir uma franquia com personagens e tons completamente diferentes a cada lançamento mantém um aspecto criativo na obra. O fato de ser o clichezão de sci-fi espacial do trio, porém, não a torna nem mais nem menos memorável. Visto isoladamente, é mais do mesmo, descartável e esquecível como uma produção feita diretamente para DVD – que, neste século 21, sai direto em streaming.

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    Sem Amor transforma falta de afeto em cinema de alto nível

    24 de fevereiro de 2018 /

    Quem viu “Leviatã”, o filme de Andrey Zvyagintsev de 2014, já percebeu que o estilo do diretor é duro, seco, realista. E que, por meio de uma narrativa forte e firme, ele diz muita coisa ao mundo de hoje. “Sem Amor”, o novo filme do cineasta russo, traz à tona a impactante questão da rejeição. Em tese, quem resolve ter filhos teria de assumir não só responsabilidades materiais sobre eles, mas responsabilidades afetivas que têm tanto peso quanto aquelas. Aqui, um garoto de 12 anos que nunca foi desejado, nem aceito, nem incorporado à família, mesmo que a contragosto, pelo pai ou pela mãe, chega a uma situação-limite, quando eles resolvem se separar. E com muitas brigas no caminho. Alyosha (Matvey Novikov), o garoto, é um dos motivos de briga, pois nem o pai e nem a mãe querem ficar com ele. Com tanta rejeição à vista, ainda lhe restaria um quarto confortável em casa e alguns equipamentos tecnológicos para sobreviver. Restaria, no condicional, já que, com a separação, a casa será vendida. O que sente e como se comporta uma criança numa situação assim? Só fugindo, seja lá para onde for, mesmo sem rumo ou condição de sobrevivência. E aí começa uma nova fase na vida de todos. Dele próprio, de cada um dos genitores e de seus novos parceiros amorosos. O que sentem eles, como lidam com a nova situação? Que clima, então, vai se estabelecendo na vida de cada um e de todos? É por aí que Andrey Zvyagintsev foca sua trama. Produz uma situação de suspense, em que a incerteza e a dúvida dominam a cena o tempo todo e prioriza o clima psicológico que tudo isso gera. Sua forma de narrar se dirige, mais do que tudo, aos efeitos que são produzidos por essa rejeição e fuga. É grave isso, pode ser demolidor. E permanecer pela vida afora. Inútil esperar por soluções salvadoras. A vida não é fácil e o ser humano é capaz de muita crueldade e egocentrismo. Até para tentar encobrir ou aplacar o ressentimento, a frustração e o desespero. Andrey Zvyagintsev consegue obter do elenco um desempenho preciso para o clima que quer criar. Há muita aridez afetiva nas atuações do casal Boris (Alexey Rozin) e Zhenya (Maryana Spivak), assim como dos policiais que cuidarão do caso e até da ONG que investigará, de fato, o desaparecimento do garoto. Há exceções, mas, no geral, vive-se um deserto afetivo que os atores e atrizes acentuam em seus papéis, inclusive Novikov, o ator mirim, que mostra bem a impotência que vive. A fotografia contribui com suas cores frias e toda a ambientação anuncia uma tragédia: com aquele tempo terrível, frio, chuvoso, com neve, sobreviver é um desafio, virtualmente impossível para um garoto desprotegido. No conjunto, um trabalho cinematográfico de alto nível, que se destaca na disputa pelo Oscar 2018 de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Tem muita chance e muito mérito para isso. Venceu o Festival de Londres e o prêmio do Júri do Festival de Cannes.

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    Indicado ao Oscar 2018, O Insulto já chegou longe pelo que oferece

    24 de fevereiro de 2018 /

    O filme libanês “O Insulto” é um dos cinco finalistas na disputa pelo Oscar 2018 de Melhor Filme em Língua Estrangeira. É a primeira produção do Líbano que chega a tanto. E é uma proeza estar entre títulos de peso. Não que ao tema com que lida falte apelo. Ao contrário, é assunto de todos os dias no noticiário internacional. Uma divergência absolutamente banal, uma calha que verte água por onde não podia, molhando as pessoas, opõe dois homens: o mecânico cristão-libanês Tony (Adel Karam) e o refugiado palestino Yasser (Kamel El Basha, premiado como Melhor Ator no Festival de Veneza pelo papel). Um desentendimento, um insulto, e tudo vai parar nos tribunais. A partir daí, o conflito localizado não só se estabelece como vai progressivamente se ampliando, para acabar abarcando toda a questão judaico-palestina que envolve o Oriente Médio. Tema espinhoso, sem solução, tratado com uma certa ingenuidade política pelo diretor e roteirista Ziad Doueiri (que começou a carreira como assistente de Quentin Tarantino em filmes como “Cães de Aluguel” e “Pulp Fiction”). Vamos descobrindo, ao longo das discussões que o filme mostra, que, afinal, os dois contendores em conflito sofreram ambos violências atrozes. São, portanto, vítimas. O que abre espaço para o discurso da conciliação, como se nessa história toda as coisas simplesmente se equiparassem. O que falta é o quê? Boa vontade, disposição política? Não é tão fácil assim. Há questões históricas complexas aí envolvidas, fanatismos de todos os tipos: políticos, religiosos, culturais, étnicos. Boas intenções não bastam. Aliás, o próprio filme apresenta esses impasses quando mostra as reações dos grupos envolvidos e representados nas ações dos tribunais, suas repercussões midiáticas e tudo o mais. As pessoas, individualmente, podem se pacificar, tornarem-se tolerantes, praticar a empatia. Ainda assim, o impasse coletivo continuará lá. O social e o político não são a soma das ações individuais. Assumem outra dimensão que tem de ser encarada e a verdade é que ninguém mais sabe encontrar o tal caminho da conciliação, nem mesmo sabe se, neste caso, ele ainda existe. “O Insulto” é bem produzido, mas é um filme absolutamente convencional. Já alcançou uma evidência e um sucesso de público pelo mundo surpreendentes pelo que oferece.

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    Relevante e atual, Pantera Negra não é só um filme de super-heróis

    17 de fevereiro de 2018 /

    “Pantera Negra” é um triunfo em quase todos os aspectos. Não é apenas o filme mais maduro do universo cinematográfico da Marvel, iniciado há 10 anos com “Homem de Ferro”; é um dos mais relevantes, ao elencar questões raciais, sociais e políticas que foram eventualmente pinceladas em “Guerra Civil”. Que fique claro: “Pantera Negra” não é o primeiro filme da Marvel protagonizado por um herói negro como alardeiam inadvertidamente alguns veículos sem muita credibilidade, ignorando três longas de “Blade”. Mas é o primeiro filme de herói africano, e é fato que poucas vezes a riqueza da cultura negra foi retratada com tanta pujança em uma produção com este calibre – ainda mais em um universo repleto de protagonistas que variam entre um deus nórdico, um playboy milionário, um adolescente deslocado, um ladrão de bom coração, um soldado idealista e… todos brancos. Ainda que lide com o universo fictício do país de Wakanda, o filme de Ryan Coogler – diretor dos excelentes “Fruitvale Station” (2013) e “Creed” (2015) – torna-se palpável ao lidar com questões absolutamente contemporâneas – como o isolamento político de uma nação versus a tragédia da imigração sem controle. O filme tem uma energia pulsante que é visível em cada fotograma, uma força narrativa que desafia com inteligência as convenções do gênero. Mas a trama é simples em sua essência. O soberano T’Challa (Chadwick Boseman) precisa lidar com suas novas funções como Rei de Wakanda, ao mesmo tempo em que sofre as ameaças de um jovem mercenário de passado misterioso – Erik Killmoger, papel de Michael B. Jordan, parceiro constante do diretor e cuja vilania encontra respaldo e autenticidade no roteiro. Com sabedoria, o diretor dedica tempo suficiente para desenvolver seus personagens de forma absolutamente satisfatória, desde a agente secreta interpretada por Lupita Nyong’o até a fortaleza moral que é a general Okoye, responsável pela segurança do reino. Isso sem contar a jovem Shuri (Letitia Wright) uma versão adolescente do personagem Q, da saga 007, e provavelmente uma das figuras mais carismáticas já apresentadas no universo cinematográfico da Marvel. Os veteranos Forest Whitaker e Angela Bassett, por sua vez, transmitem com talento toda a sabedoria e o peso decorrente de suas ações e responsabilidades. Dentre as figuras conhecidas, Andy Serkis parece um pouco fora da casinha, enquanto Martin Freeman faz a ponte correta entre este e os outros filmes do estúdio. Como ponto negativo, é um tanto desapontador perceber que o personagem de Daniel Kaluya (de “Corra!) é o único cujas motivações giram unicamente em função de avançar a história. Visualmente, o filme se alinha à nova tendência dos filmes do estúdio, investido mais em cores, texturas e elementos gráficos impactantes – como visto em “Thor Ragnarok” e “Guardiões da Galáxia 2”, no ano passado. Junte a isso uma trilha sonora arrebatadora – um mix de canções de Kendrick Lammar e ritmos tribais com muita percussão – e o resultado é um espetáculo de imagens que ainda evoca com propriedade elementos que parecem saídos de uma versão live action de “O Rei Leão”. Enquanto faz um trabalho merecedor de aplausos em relação aos personagens, é preciso admitir que, nas cenas de ação, Coogler não vai muito além do genérico. As perseguições e lutas funcionam sem problemas, mas não trazem nada que já não tenha sido visto, por exemplo, em “Guerra Civil” ou “Soldado Invernal” – filmes do Capitão América, que embutem um viés tão dramático quanto a nova produção. O desempate acontece nos efeitos visuais, com as criações de computação gráfica mostrando-se bem artificiais, o que eventualmente prejudica alguns momentos que deveriam ser impactantes – como todo o terceiro ato e em especial o embate final entre T’Challa e Killmonger. Tudo isso, porém, pouco conta diante dos inúmeros pontos positivos que o filme vai marcando ao longo de sua exibição. Ao trazer de forma orgânica, sem soar panfletário ou forçado, temas atuais para um universo quase sempre descompromissado, “Pantera Negra” revela-se um filme não apenas antenado com o seu tempo, mas consciente de que mesmo obras criadas para o entretenimento podem discutir questões que falam diretamente a uma boa parte da humanidade. Quando, em determinado momento, o soberano de Wakanda diz que “os sábios constroem pontes, enquanto os tolos constroem muros”, compreendemos que não estamos vendo apenas um simples filme de super-heróis.

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    Fábula de A Forma da Água é bela, politicamente correta e também convencional

    17 de fevereiro de 2018 /

    Ah, o cinemão clássico norte-americano… Desta vez, conduzido por um cineasta mexicano, “estirpe” que vem dominando – com méritos – Hollywood nesta década. Em 1962, no período da Guerra Fria, uma criatura estranha é capturada na América do Sul e levada por um militar (um vilão caricatural interpretado por Michael Shannon) para estudos em um laboratório ultra-secreto do governo dos EUA. Os norte-americanos desejam utilizar a criatura na corrida espacial, e espiões russos acompanham os estudos, pensando num sequestro. A parte disso tudo, a faxineira (muda) Elisa Esposito (a ótima Sally Hawkins) segue uma rotina diária: ela acorda, coloca alguns ovos para cozinhar, entra no banho, se masturba, toma café, pega o ônibus para o trabalho e chega quase sempre em cima do horário. Elisa trabalha no laboratório e em um momento de faxina se depara com a criatura, iniciando uma história de amor nos moldes do clássico “A Bela e a Fera”. O cineasta Guillermo Del Toro recria com capricho o território de fábula que o tornou conhecido com “O Labirinto do Fauno” (2006) num filme sexy que ora homenageia o “O Monstro da Lagoa Negra” (1954), ora acena para “La La Land” (2016), e tem todos os elementos politicamente corretos para os tempos modernos: Elisa é latina e seus melhores amigos são uma negra, a também faxineira Zelda (Octavia Spencer sempre excelente e merecidamente indicada ao Oscar como Atriz Coadjuvante), e um gay, o ilustrador Giles (Richard Jenkins eficiente e também indicado no papel de coadjuvante). A criatura é feia, mas também tem um bom coração e se comove com música, tanto quanto se apaixona pelos ovos feitos por Elisa. O romance destes dois perdidos numa banheira suja é delicadamente bonito e a paisagem gótica um dos pontos altos de um filme que recebeu 13 indicações ao Oscar, e deve levar entre três e quatro para casa (o México?), mas falta alguma coisa nesse oceano de citações, recortes, clichês e acusações de plágio que torne o filme… único. O resultado: uma bela e bem-feita fábula tradicional.

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  • Filme

    Superestimado, Três Anúncios para um Crime é bom filme que corre risco de vencer o Oscar

    17 de fevereiro de 2018 /

    Apesar da carreira curta, em que se destaca “Na Mira do Chefe”, uma boa comédia B que utiliza a paisagem encantadora de Bruges e que recebeu indicação ao Oscar de Melhor Roteiro em 2009, o terceiro longa de Martin McDonagh, ainda que superestimado, foi uma das boas surpresas de uma temporada acima da média. Indicado a sete Oscars (incluindo Melhor Filme), “Três Anúncios para um Crime” conta a história de Mildred Hayes (Frances McDormand), mãe de uma garota que foi violentada e assassinada na pequena Ebbing, cidade (que não existe) caipiríssima do interior do Missouri. Para chamar a atenção da imprensa, da cidade e da polícia, que, segundo Mildred, “está ocupada demais torturando negros para resolver um crime de verdade”, ela aluga três outdoors visando cobrar uma solução para o caso. Sob o comando do delegado Willoughby (Woody Harrelson), uma policia local repleta de racistas, como Dixon (Sam Rockwel), tenta se movimentar, mas tudo foge ao controle num roteiro que soa (algumas vezes de forma até forçada) bastante inspirado nas obras originais dos irmãos Coen (o que faz a escalação de Frances, mulher de Joel Coen, parecer tanto um acerto quanto um disparate). Entretanto, lhe falte a sagacidade, a inventividade e a porralouquice dos irmãos. O resultado é um bom filme que consagra elenco, já premiado pelo Sindicato dos Atores. Frances é favoritíssima ao Oscar de Melhor Atriz, enquanto Sam Rockwel deve levar o de Melhor Ator Coadjuvante – prêmio a que Woody Harrelson, excelente, também foi indicado. O filme ainda disputa com menos chances a estatueta de Roteiro Original (“Corra!” é favorito) e Edição (num mundo justo, “Eu, Tonya” levaria), mas corre o risco de vencer a categoria de Melhor Filme e ser esquecido… como “Crash” (2004). Será?

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  • Filme

    Eu, Tonya recria tragédia real como espetáculo surreal de adrenalina, talento e diversão

    17 de fevereiro de 2018 /

    Patinadora artística, Tonya Harding disputou por duas vezes os Jogos Olímpicos, foi campeã norte-americana em 1990 e conquistou a medalha de prata no Campeonato Mundial de 1991. Sua carreira, porém, acabou aos 24 anos quando ela foi acusada de participar de uma conspiração que culminou em um ataque à adversária Nancy Kerrigan, que teve o joelho ferido. A vida “real” pode ser muito mais maluca (inventiva ou mesmo criativa) do que a arte, e caso “Eu, Tonya” não fosse inspirado em eventos reais, poderia muito bem ser taxado de inverossímil – ainda que duvide-se que tudo aquilo ali aconteceu… realmente do jeito que é contado. O que se vê em 120 minutos de exibição é uma produção divertidamente e tragicamente acelerada, com grandes méritos para a Edição, indicada ao Oscar, que se utiliza da constante quebra da quarta-parede para colocar o espectador ao lado de Margot Robbie (numa atuação magistral, digna do Oscar a que concorre), como protagonista de uma surreal epopeia esportiva dos tempos modernos. A narrativa flagra uma grande atleta (“caipirona”, segundo juízes, que não queriam uma garota “chucra” representando os Estados Unidos, mesmo que seu talento no rinque de patinação fosse inegável) abusada emocionalmente pela mãe (Allison Janney, também indicada ao Oscar) e fisicamente pelo marido (Sebastian Stan). Irmão torto de “A Grande Jogada” (2017) no quesito “os podres bastidores do esporte em níveis olímpicos” ou “o preço que cobramos dos jovens para nos trazer medalhas de ouro”, o filme do diretor Craig Gillespie (“Horas Decisivas”) é depressivamente realista e cinematograficamente empolgante, uma descarga imensa de adrenalina, violência (doméstica, social, esportiva, familiar e profissional) e dramatização que, ao final, deixa o gosto amargo de uma poça de sangue na boca.

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