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    Paixão Obsessiva é tão ruim que até diverte

    27 de abril de 2017 /

    Impressionante como há obras que conseguem ser deliberadamente ruins. “Paixão Obsessiva”, estreia na direção de longas da produtora Denise Di Novi, parece ter sido feito a partir da seguinte ideia: “ei, por que não fazemos um filme totalmente ruim, desses bem vagabundos mesmo, para lançar no mercado internacional? E aí a gente convida um par de atrizes mais ou menos do primeiro time de Hollywood, que dá tudo certo.” Lembrando que Denise tem no currículo outro notável filme ruim, ainda que como produtora, “Mulher-Gato” (2004), que também contava com duas atrizes respeitadas em papéis constrangedores. O grande trunfo de “Paixão Obsessiva” é Katherine Heigl (“Como Agarrar Meu Ex-Namorado”) no papel de Tessa, uma “Barbie psicopata” (termo usado no próprio filme por uma das personagens) que faz de tudo para destruir o casamento do ex-marido (o apagado e inexpressivo Geoff Stults, da série “The Odd Couple”) com a sua nova noiva, Julia, vivida por Rosario Dawson (série “Punho de Ferro”). No começo do filme, Tessa ainda não sabe que o relacionamento do ex está prestes a chegar a um casamento e logo que descobre passa a fazer coisas inimagináveis, como trazer de volta o grande pesadelo da vida de Julia, um homem que a espancou e que está sob uma ordem judicial para se manter distante. A semelhança com alguns thrillers da década de 1990 é evidente, tanto que o aspecto de reciclagem marca a trama até o fim, horrível como tem que ser. Afinal, se é para ser ruim, que seja o pior possível. Mas há uma grande desvantagem deste longa na comparação com os thrillers de psicopatas femininas que ganharam força há 20 anos. Os originais tinham apelo erótico, o que hoje é minimizado por um mercado mais conservador e politicamente correto, ainda que de vez em quanto surja um “O Garoto da Casa ao Lado”, para explorar o sex appeal de sua protagonista. “Paixão Obsessiva” não tem coragem e nem vontade de fazer o mesmo com Rosario e Katherine, ainda que insinue uma cena sensual muito sutil em determinado momento: a cena do banheiro do casal de noivos entrecortada com uma conversa apimentada via Messenger. Não há, claramente, a intenção de fazer uma cena erótica dali. Aquele momento é para ser psicologicamente perturbador para Julia e por isso a diretora usa uma montagem picotada que tenta trazer à tona o estado de espírito fora de controle da personagem. Na verdade, o filme até poderia ser acusado de ser ainda mais vagabundo se usasse esse momento para explorar a nudez ou a sensualidade das atrizes. No fim das contas, é possível se divertir com “Paixão Obsessiva”. Não é o tipo chato de filme ruim, a ponto de funcionar como uma comédia involuntária. Nos Estados Unidos, as poucas críticas positivas a esse trabalho se referiram a ele como um “good trash”. Ou seja, é filme com roteiro estúpido e manjado, intriga de telenovela barata, mas que ao menos sabe investir na briga de puxar cabelos entre as duas protagonistas, com a vantagem ainda de trazer a sempre boazinha Katherine Heigl para o lado negro, o que quase redime o resultado final e cria uma curiosidade que vale a espiada.

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  • Filme

    Vida orbita o espaço de Alien e Gravidade

    26 de abril de 2017 /

    O aspecto positivo de se referenciar uma ou mais obras conhecidas é que o uso de material conhecido permite um diálogo quase metalinguístico com o público, aumentando assim a apreciação do que é apresentado. O lado negativo é que isso também pode sugerir uma comparação de qualidade entre referenciado e referenciador, e em muitos casos esse confronto é injusto, ampliando os pontos positivos do primeiro e apontando os negativos do segundo. É o que acontece com “Vida”, mistura de ficção científica com terror dirigida por Daniel Espinosa (“Protegendo o Inimigo”). Escrito pela dupla Rhett Reese e Paul Wernick (de “Zumbilândia” e “Deadpool”), o longa tem duas grandes referências: “Gravidade” (2013) e “Alien, o 8º Passageiro” (1979). A trama acompanha um time de cientistas a bordo de uma estação espacial que se depara com um organismo unicelular, vindo de Marte, que constitui a primeira prova irrefutável de vida no espaço. O problema é que o ser, batizado de Calvin, evolui rapidamente, se adapta ao ambiente e tem uma necessidade grande de se alimentar e de proteger a sua própria existência, algo que pode representar um problema mundial se ele cair na Terra. A comparação com “Alien” é inevitável, tanto temática quanto narrativamente. À medida que a criatura cresce e ganha força, começa a eliminar cada um dos membros da tripulação, demonstrando inteligência na execução dos seus “planos”. Além do mais, “Vida” também se assemelha à obra de Ridley Scott pela forma como parece introduzir seu protagonista aos poucos naquela história, ascendendo e preenchendo uma vaga que parecia não lhe pertencer à primeira vista. As semelhanças com “Gravidade”, por sua vez, são muito mais estéticas. Espinosa tentou replicar muito do que Alfonso Cuarón fez naquele trabalho que lhe rendeu o Oscar, e as vezes até consegue. É o caso, por exemplo, logo no início do filme, de um plano-sequência para ilustrar a interação da equipe, enquanto apresenta todos os ambientes do interior da nave. Além disso, ambos iniciam a projeção com uma imagem da imensidão do espaço e um pequeno ponto se movimentando em meio às estrelas. Não há nada de errado em fazer referências a outras obras. Alguns realizadores – como Quentin Tarantino – construíram suas carreiras assim. O principal problema de “Vida” é não saber dar, vá lá, vida a esse material. São evidentes os problemas de desenvolvimento, que as obras referenciadas não tinham, ou ao menos sabiam disfarçar muito melhor. Os defeitos são muitos, a começar pela concepção da criatura. Inicialmente apresentado como um organismo formado por “olhos, músculo e cérebro”, Calvin não é um ser muito ameaçador. Mesmo colocando a tripulação em risco, na sua “infância” ele se parece mais com uma versão malvada de “Flubber” (1997). Quando se torna adulto, essa ideia de ele ser todo olhos, músculos e cérebro é abandonada, já que ganha um corpo definido e até um rosto, ainda que continue não sendo tão assustador quanto deveria ser. O roteiro não explica a transformação. Teoricamente, Calvin é um grande cérebro com tentáculos (essa sim seria uma imagem aterrorizante), mas algumas das decisões que o alienígena toma não podem ser explicadas nem por um intelecto superior. Não dá pra entender como um ser até então unicelular consegue decifrar o funcionamento de uma estação espacial, ao ponto de realizar proezas como manipular os trajes dos astronautas. Pode-se imaginar que ele aprendeu sobre aquele lugar ao ler os pensamentos das suas vítimas – como em “Independence Day” –, mas tal explanação não é oferecida. Da mesma maneira, o filme parece querer empurrar o envolvimento emocional com os personagens sem que eles tenham sido propriamente desenvolvidos. Sabemos que um deles (Hiroyuki Sanada) tem um filho recém-nascido, outro era paralítico na Terra (Ariyon Bakare), tem também um prefere ficar no espaço (Jake Gyllenhaal) e não falta o engraçadinho da turma (Ryan Reynolds). Dessa lista, sobraram ainda as personagens femininas interpretadas por Olga Dihovichnaya e Rebecca Ferguson, que apesar de serem mulheres fortes, são ainda menos trabalhadas que seus colegas masculinos. Mesmo diante de material tão limitado, Daniel Espinosa demonstra apuro estético e narrativo que impedem – por pouco – que “Vida” se transforme num desastre espacial completo. Ele cria belíssimas tomadas externas da estação espacial e alimenta o suspense, dando “vida” à produção.

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  • Filme

    Paterson eleva o cotidiano com poesia cinematográfica

    24 de abril de 2017 /

    Quantas vezes deixamos passar momentos preciosos de nossas vidas só porque eles não parecem dignos de serem lembrados – por não serem, por assim dizer, extraordinários? E quantas vezes deixamos de perceber que estamos, sim, diante de momentos extraordinários, apesar de ordinários? É tudo uma questão de perspectiva, de olhar a vida como poeta, de perceber a beleza nos detalhes, como a posição dos sapatos de uma dupla de pessoas que conversam no ônibus ou uma simples caixa de fósforos. Isso pode ser alimento para a poesia. “Paterson”, o novo trabalho de Jim Jarmusch, serve para lembrar disso. E o faz com uma beleza e uma humanidade tão delicada que combina muito bem com seu personagem-título, vivido por Adam Driver. Trata-se, aliás, do melhor papel de sua carreira até o momento, superando e contrastando com o intenso Adam, seu personagem em “Girls”, a série recém-encerrada de Lena Dunham. Paterson, ao contrário de Adam, tem uma sobriedade e uma serenidade para lidar com a vida que dá até vontade de tomar como exemplo. Quando um colega de trabalho pergunta sobre sua vida, ele diz que está tudo bem, enquanto o tal colega está sempre reclamando de algumas coisas (várias, na verdade). Mas, de fato, Paterson é um homem de sorte: é casado com uma mulher amável e que ele ama (lindas as cenas do amanhecer, com os dois na cama), tem uma rotina tranquila em um bairro tranquilo e consegue tempo para transformar os seus pensamentos em poemas, os quais guarda em um caderninho. Sua esposa Laura (a iraniana Golshifteh Farahani, de “Procurando Elly”, de Asghar Farhadi) tenta fazer com que Paterson faça uma cópia de seus escritos e mostre ao mundo seus belos poemas. Ele, porém, hesita. O filme não diz, mas talvez a fama ou uma possível e indesejada mudança de rotina atrapalhasse o modo como ele vê a vida. Esse talvez seja um dos motivos também de ele não querer um telefone celular ou mesmo um computador. A vida de motorista de ônibus, para ele, lhe basta, provavelmente. A esposa gosta de pintar coisas em sua casa e planeja ser cantora de música country, além de cozinheira de cup cakes e outras novidades, geralmente com uma obsessão pelo contraste entre o preto e o branco. Quanto a Paterson, sua poesia se nutre do cotidiano, que se faz necessário na rotina de uma pessoa comum – no caso, alguém que é motorista de ônibus, é casado, tem um cachorro que leva para passear e que também gosta de tomar uma cerveja no mesmo bar todos os dias. Além do mais, no ônibus, ele aprecia ouvir as conversas dos passageiros. Tudo é combustível para sua poesia. Por outro lado, a opção narrativa de Jarmusch, de apresentar os eventos separados em dias da semana, parece antecipar algo de muito extraordinário ou mesmo perigoso. Afinal, isso é comum em filmes que abordam motoristas. Mas se há algo que vai mexer com o equilíbrio de Paterson no desenrolar da trama – e também afetar o telespectador – , não é nenhum fim do mundo. O sentimento despertado pelo filme não é apenas um modo de envolver o público com o personagem, mas também uma forma de encontrar afinidade no que se refere à valorização da arte como meio de expressar de forma transcendental a vida. A arte nos eleva. E de vez em quando é bom sair de um filme que consegue passar uma mensagem sobre a linguagem lírica utilizando a força da palavra sensível, falada e escrita, mas também extraindo poesia do próprio fazer cinematográfico.

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  • Série

    Série Girls chega ao fim após marcar época

    20 de abril de 2017 /

    Uma das séries mais marcantes dos novos tempos chegou ao seu fim. Poderíamos dizer que “Girls” seria uma versão feminina de “Entourage” (2004-2011). Ou uma versão mais explícita de “Sex and the City” (1998-2004), por também tratar da vida de quatro amigas, mas a verdade é que se trata de algo completamente diferente, diferente da série dos rapazes de Hollywood, diferente da série das mulheres ricas de Nova York. O que vemos aqui são quatro moças no início dos seus vinte e poucos anos. Tão inseguras talvez quanto um adolescente e tão irritantes também, embora possam ser adoráveis e enternecer nossos corações à medida que vamos conhecendo cada uma delas, em seus dramas individuais. Lena Dunham, a criadora e protagonista da série, como Hannah, é o centro das atenções, embora com o tempo dê espaço para seus colegas brilharem. Inclusive, talvez o melhor dos episódios da série seja um todo centrado em Marnie (Alisson Williams). Trata-se de “The Panic in Central Park”, da 5ª e melhor de todas as temporadas. A 6ª e última não teve a intenção de superar a obra-prima que foi a anterior, mas há vários episódios que brilham e que trazem discussões muito pertinentes aos dias de hoje. O que dizer de “American Bitch”, no qual Hannah vai até a casa de um famoso autor que ela admirava, mas que foi alvo dela em um site feminista? O escritor estava envolvido em um escândalo em que se dizia que ele assediava garotas universitárias durante as turnês promocionais de seu livro. A relativamente longa e muito interessante discussão entre os dois personagens é o grande destaque deste episódio tão diferente, feito sob medida para esses dias em que tanto se discute o assédio e o abuso sexual. Se “Girls” já era uma série mais ou menos feminista, com “American Bitch” esse posicionamento se torna mais claro ainda. É o tipo de episódio que pode ser visto separadamente, por alguém que apenas tem curiosidade pelo assunto em questão e não quer necessariamente se envolver com o universo da série. Já para aqueles que desejam mergulhar no cotidiano das “Girls”, talvez o episódio mais poderoso seja “What Will We Do This Time About Adam?”, em que Hannah tem um reencontro com o seu ex-namorado (Adam Driver), depois de já ter vencido a dor de ter sido trocada por Jessa (Jemima Kirke), que nesta temporada ganha menos espaço em cena e mais antipatia dos espectadores, com ares de megera e bem menos glamour. E isso até pode ser visto como uma falha (ou melhor, ato falho), já que beneficia Hannah, na comparação. Quem ganha também episódios especiais na nova temporada é Elijah (Andrew Rannells), o amigo gay e roommate de Hannah, sendo o principal deles “The Bounce”, sobre sua tentativa de ser ator de uma peça da Broadway. Ele também está bem presente em “Gummies”, episódio focado na mãe de Hannah e seu processo de aceitação da nova fase, após a separação do marido que saiu do armário. O episódio final, “Latching”, que mostra a confrontação de Hannah com as responsabilidades da vida adulta e com o bebê, é dos mais estranhos, contrariando tudo o que se esperaria de uma “series finale”. Está mais para um epílogo, já que o penúltimo episódio, “Goodbye Tour”, é que tem mais cara de desfecho, como o último a reunir as quatro amigas. Ou ex-amigas. Afinal, a conclusão da série mostra que vida pode ser bem diferente de uma telenovela.

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  • Filme

    O Novato é uma bela história de amizade e superação na adolescência

    20 de abril de 2017 /

    A ótima safra de filmes da edição passada do Festival Varilux de Cinema Francês continua gerando bons frutos no circuito comercial brasileiro. Agora é a vez de “O Novato”, longa-metragem de estreia de Rudi Rosemberg, que conta, de maneira sensível, a história de um garoto tímido que tem dificuldade em conseguir amizade na nova escola e acaba por se apaixonar por uma linda garota sueca, que também encontra dificuldade em se socializar, até por não falar direito o francês. “O Novato” não tem nada de tão diferente entre as tantas comédias que lidam com amores da juventude. Até lembra um pouco o ótimo e mais romântico “ABC do Amor”, de Mark Levin. Mas aqui não há uma intenção de focar tanto assim no amor do garoto pela menina. As amizades que ele faz até ganham mais importância, assim como as questões do bullying e da rejeição, tão comuns no perverso universo estudantil. Na trama, Benoît (Réphaël Ghrenassia) acaba de entrar em uma nova escola e os pais o incentivam a fazer amizade com os colegas da turma. Acontece que pra ele a coisa não é tão simples. A timidez e a total falta de sensibilidade da maioria dos meninos e meninas acabam prejudicando a sua socialização. Quem primeiro quer sua amizade são justamente garotos que também já têm fama de serem rejeitados por não se enquadrarem nos padrões, como o jovem nerd Constantin (Guillaume Cloud-Roussel) e o gordinho Joshua (Joshua Raccah). Mas quem traz alegria e palpitação para o coração de Benoît é a também recém-chegada sueca Johanna (Johanna Lindsteadt). Junte-se a beleza da garota com a carência afetiva de Benoît e temos aí um caso de fácil identificação e solidariedade do espectador com o personagem. Afinal, quem nunca passou por algo parecido? Vale destacar a excelente direção de atores do elenco jovem, quase todo composta por estreantes. A única “veterana” do grupo principal é a garota que interpreta a deficiente física Aglaée (Géraldine Martineau, e “Atirador de Elite”), que já conta com uma carreira sólida para a idade. Sua personagem, aliás, traz algo de muito interessante por nunca se fazer de vítima devido a sua deficiência. Ao contrário, tem uma autoestima incrível e que ajuda a compor sua fortaleza. A presença de Aglaée também acentua o caráter marginal do grupo. Há vários momentos de riso ao longo do filme, o que faz com que “O Novato” seja uma dessas obras que encantam o espectador também pela leveza da condução narrativa. No final, o que temos é uma bela história de amizade e superação em um momento bastante difícil da vida, que é a adolescência.

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  • Filme

    As Falsas Confidências traz Isabelle Huppert e Louis Garrel em jogo de aparências

    20 de abril de 2017 /

    “As Falsas Confidências” é uma comédia de Marivaux, ou Pierre Carlet de Chamblain de Marivaux (1688-1763), um dos principais dramaturgos franceses do século 18. Nesta peça, o que está em jogo são o relacionamento romântico e os jogos sociais de aparências. O diretor suíço Luc Bondy encenou esse texto de Marivaux no teatro Odéon de Paris e transformou-o em filme. Foi seu último trabalho antes de falecer, em 2015, após ter dirigido mais de 40 peças de teatro e óperas e ter feito também muitos filmes, como ator e diretor. Os atores do filme, os famosos Isabelle Huppert, no papel de Araminte, e Louis Garrel, no de Dorante, foram também os atores da peça teatral. Assim como todo o elenco da montagem. Uma curiosidade: eles fizeram muitas apresentações da peça no teatro Odéon, à noite, após terem filmado no próprio teatro e em seus arredores, representando os mesmos personagens, durante o dia. Uma interessante e intensa fusão de cinema e teatro, que parece ser uma forma econômica de investir nos personagens e nas decorações de seus diálogos. O texto é muito bom, as falas, cheias de espertezas, artimanhas e jogos de engano e sedução, vão envolvendo o público, numa trama onde o que parece espontâneo, na verdade, nunca é. “Me engana que eu gosto” parece ser uma máxima perfeitamente aplicável àqueles personagens. Dorante, um homem sem dinheiro, consegue ser secretário de Araminte, uma viúva rica, que ele ama secretamente e, naturalmente, tem grande interesse em usufruir de sua fortuna. Dubois (Yves Jacques), que já trabalhou com Dorante, planeja um esquema para que Araminte também se apaixone por seu amigo. Araminte esconde seu jogo e procura enredar os dois em seus objetivos. E por aí vai. “As Falsas Confidências” pode não ser um grande filme, mas é uma boa diversão. Tem na base um texto teatral clássico, um diretor de teatro e cinema competente, um elenco muito bom, encabeçado por Isabelle Huppert e Louis Garrel, e uma leveza inteligente que respeita o público.

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    O Ornitólogo enverada pelo erotismo místico em busca de Deus

    20 de abril de 2017 /

    O diretor português João Pedro Rodrigues é conhecido por abordar a homossexualidade em seus filmes desde “O Fantasma” (2000), passando por “Odete” (2005) e “Morrer como um Homem” (2009). Nesse sentido, até que “O Ornitólogo” (2016) é sutil no que se refere à quantidade de cenas com apelo homoerótico. Na verdade, só há uma cena erótica: quando o protagonista Fernando (Paul Hamy, de “Apesar da Noite”) encontra Jesus, na figura de um pastor de cabras surdo-mudo. De enredo onírico e simbolista, não deixa de ser uma realização admirável desde o começo, acompanhando Fernando em seu trabalho como cientista observador de pássaros. Sua vida muda quando seu caiaque é tragado pela correnteza de um rio. Ele é resgatado por duas chinesas católicas que o salvam e dizem precisar de sua ajuda para chegar no caminho de Santiago. Em vez disso, porém, elas o amarram e têm planos sádicos para o rapaz. Fernando desde o começo se mostra ateu. Afirma para as chinesas que não existem demônios nem Deus. Seu encontro com a espiritualidade acontece de maneira curiosa, culminando numa completa conversão, com a rejeição total da vida que levava, da identidade e até das próprias feições. Suas novas feições aos poucos são percebidas pelo ponto de vista das aves. É quando vemos seu outro eu, Antônio, vivido pelo próprio cineasta João Pedro Rodrigues. Completam o rol de bizarrices um trio de amazonas seminuas que falam latim, o encontro com um homem morto, um grupo de homens fantasiados para um ritual ao mesmo tempo macabro e idiota, e uma pomba branca, que deve ser a representação do Espírito Santo. Nessa brincadeira entre o sagrado e o profano, o protagonista, por mais que o vejamos com algum distanciamento, é o único elo com a normalidade do mundo dito real em comparação ao mundo místico que João Pedro Rodrigues projeta em seu caminho, que curiosamente apresenta paralelos à história de Santo Antônio de Pádua. Premiado em festivais menos tradicionais, confirma o talento de Rodrigues como um dos melhores representantes do cinema queer atual.

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    Joaquim é retrato sujo e realista do mártir que virou alegoria nacional

    20 de abril de 2017 /

    O cinema de Marcelo Gomes é um cinema de generosidade. Dos seus cinco longas-metragens, dois deles foram feitos em parceria com outros cineastas: “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo” (2009), com Karim Aïnouz, e “O Homem das Multidões” (2013), com Cao Guimarães. Sua assinatura como autor acaba se tornando um pouco apagada, levando em consideração que os referidos trabalhos apresentavam algo muito em comum com a filmografia de seus colegas realizadores. Ele não havia dirigido sozinho um filme melhor do que sua brilhante estreia, “Cinemas, Aspirinas e Urubus” (2005) até agora, com “Joaquim”. Apesar de se passar no período colonial, o filme diz muito sobre o Brasil atual, seja na forma como mostra os índios como mendigos, os negros como um exemplo de alegria de espírito (que cena linda, a do escravo cantando com o índio à beira do rio), mas que devem se manter em posição subalterna, e os pobres explorados por interesse dos ricos. Sem importar quão raro tinha se tornado o ouro nas Minas Gerais, o reino europeu continuava cobrando pesados impostos. O quanto as coisas mudaram nos dias de hoje? No filme, Joaquim José da Silva Xavier lê os textos da independência das 13 colônias americanas e acredita que o Brasil também pode se livrar do fardo de Portugal. A trama se passa antes dos eventos mais famosos de sua vida, narrados em “Os Inconfidentes”, de Joaquim Pedro de Andrade, deixando claro que se trata de outra proposta, outro olhar cinematográfico, com um prólogo que parece didático na apresentação do personagem, mas cujo registro vai se provar o contrário já a partir da primeira cena com os personagens dialogando e agindo de maneira inquieta. O diálogo é ágil e natural, bem diferente do que se costuma ver em produções que retratam essa época, que em geral possuem uma linguagem mais empostada, o que acaba por distanciar o espectador. Aqui, até a câmera na mão nos aproxima de tudo. “Joaquim” quase nos faz sentir o cheiro daquele ambiente, em especial em uma das primeiras cenas: quando Preta (a atriz portuguesa Isabel Zuaa) leva comida para Joaquim (Júlio Machado) e Januário (Rômulo Braga). A câmera na mão segue inicialmente a escrava, para depois nos mostrar o relacionamento de proximidade entre aqueles personagens: Preta tirando piolho de Joaquim enquanto ele almoça. Esse aspecto mais sujo no retrato dos personagens e do ambiente também se distancia do que geralmente se vê em produções dessa época, mesmo as que trazem personagens pobres. Nessa mesma cena aparece um indiozinho pedindo comida. Januário diz para não dar, pra não acostumar. Joaquim é um pouco mais generoso. É um filme que faz questão de adotar um caminho contrário ou esperado o tempo todo. Em vez de vermos um herói, temos em Joaquim a figura de um perdedor. Marcelo Gomes o despe totalmente de sua glória, mesmo quando o reveste de uma obsessão pelo ouro para poder ficar rico e ter sua desejada mulher, que ainda por cima é uma escrava cujo corpo pertence a outro negro. O fato de Joaquim ter se tornado um mártir, e isso só é mostrado no prólogo, com uma apresentação dotada de ironia machadiana, é quase um acidente, fruto de sua revolta contra aquilo que ele acredita estar errado no Brasil colônia. No fim das contas, alguém precisou (precisou?) morrer por nossa causa e daí vem a imagem de Tiradentes até hoje parecida com a de um Jesus brasileiro, alguém que morreu por nós e que ganhou um feriado em 21 de abril que mais parece católico do que patriótico. No momento político opressivo e desesperançado em que vivemos, é natural que o público brasileiro se identifique não só com esse personagem, mas com todas as circunstâncias que o rodeiam, com figuras e eventos que podem muito bem ser vistos como alegorias do presente.

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    Velozes e Furiosos 8 transforma exagero em lugar-comum para superar os filmes anteriores

    14 de abril de 2017 /

    Quem lembra de “Uma Saída de Mestre” (2003), um belíssimo filme de assalto estrelado por Charlize Theron e Jason Statham? E que o diretor desse filme fez no mesmo ano “O Vingador”, com Vin Diesel? Pois 14 anos depois, F. Gary Gray está novamente à frente dessa turma, na direção de “Velozes e Furiosos 8”. Gray voltou a ser um nome quente em Hollywood com a aclamação de público e crítica a seu filme anterior, “Straight Outta Compton – A História do NWA” (2015), e é o principal responsável por a franquia furiosa sacudir a poeira e continuar acelerando após a trágica morte de Paul Walker. Galinha dos ovos de ouro da Universal, o oitavo lançamento da franquia tem orçamento milionário e se nota, pois tudo parece ainda maior, inchado e megalomaníaco. Se isso já era tendência nos trabalhos anteriores, no novo filme o exagero é o lugar-comum, desde a escolha de várias locações em países diferentes até o elenco de celebridades, que não só conta com uma vilã maravilhosa (Charlize Theron), como com uma coadjuvante de muito luxo (Helen Mirren). O que se percebe de imediato é que o quinto roteiro de Chris Morgan para a franquia foi concebido a partir das cenas de ação. Mais do que no fiapo de história, que até é interessante – já que traz a discórdia para a família de Dominic Toretto (Diesel) – , são as situações velozes e furiosas que se destacam. E elas são muitas. Algumas vão ficar grudadas na memória, envolvendo carros desgovernados, perseguição no gelo, fuga de prisão e o prólogo, em Cuba (trata-se do primeiro filme de Hollywood filmado na ilha de Fidel), que serve para lembrar ao público e aos próprios envolvidos na produção que essa história começou com um filme de rachas nas ruas. Apesar desse lembrete, a trama logo ganha ares de thriller de espionagem, com heróis e vilões tendo o poder de visualizar eventos em qualquer lugar do mundo, graças às maravilhas da tecnologia. O problema é que a ansiedade por mostrar ação ininterrupta não deixa tempo para um respiro e as tentativas de causar impacto emocional, como a própria separação de Toretto do grupo, acabam não sendo levadas a sério por ninguém. Se bem que essa falta de seriedade talvez seja intencional, já que Deckard, o personagem de Statham, acaba integrando-se ao grupo de protagonistas numa boa, mesmo tendo assassinado um deles em outro filme passado. A inclusão de Statham no time dos mocinhos rende, ainda, uma excelente parceria com Dwayne Johnson, resultando em algumas das melhores cenas da produção. Após ter participação reduzida no filme anterior – conflitos de agenda, segundo revelou o diretor de “Velozes e Furiosos 7”, James Wan – , ele assume a vaga de coprotagonista deixada por Paul Walker, aproveitando o gancho da trama, que mostra o personagem de Vin Diesel aliciado por uma megaterrorista (Charlize) para executar seus planos diabólicos. Conta muitos pontos positivos o fato de a vilã não ser nada estereotipada, o que poderia tornar tudo muito chato. Lembremos que Charlize já fez o papel de bruxa má duas vezes e se saiu muito bem. Ajudam também sua beleza, sua elegância e sua sensualidade natural, mas a verdade é que a atriz é uma força da natureza, como bem demonstrou em “Mad Max – Estrada da Fúria”. A combinação de filme leve de ação, paixão por carros e adrenalina, aliada a uma noção de amizade capaz de criar laços de família, faz com que “Velozes e Furiosos” continue sendo uma franquia apreciada pelo grande público. Seus personagens são carismáticos e encontraram espaço para se destacar individualmente, mesmo com o grupo se tornando maior a cada filme. Mas a franquia se beneficia mesmo é do show de pirotecnia, barulho e efeitos especiais sempre melhores, que superam as incongruências do gênero com o tipo de atordoamento que só Hollywood é capaz de criar.

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    Mulheres do Século 20 mostra surgimento da família moderna

    14 de abril de 2017 /

    O americano Mike Mills estava prestes a completar 40 anos quando finalmente decidiu se lançar como diretor de um longa de ficção com “Impulsividade” (2005), após produzir curtas e documentários. De lá, foi dirigir Christopher Plummer na interpretação que lhe valeu um Oscar em “Toda Forma de Amor” (2010). E agora retorna entregando aquele que é o seu melhor trabalho até aqui. Em “Mulheres do Século 20”, a própria adolescência do diretor serve de base para a narrativa, que enaltece a sua mãe, renomeada como Dorothea, numa interpretação magistral de Annette Bening (“Minhas Mães e Meu Pai”). No Sul da Califórnia do final dos anos 1970, era do punk/new wave, essa mãe solteira cuida do filho Jamie (Lucas Jade Zumann, de “A Entidade 2”) e divide a sua casa com Abbie (Greta Gerwig, finalmente num papel que não a obriga a repetir os cacoetes de “Frances Ha”), uma fotógrafa acometida por um câncer cervical, e William (Billy Crudup, de “Spotlight”), um carpinteiro que desconhece a importância de medidas estáveis. Embora não viva nesse mesmo teto, Julie (Elle Fanning, de “Demônio de Neon”) é uma das vizinhas que está a maior parte de seu tempo livre na residência, inclusive dormindo todas as noites com o jovem Jamie sem que esteja em jogo algo além da amizade. Desenha-se assim com esse quinteto uma espécie de panorama daquele período, especialmente importante para os modelos de novas famílias que se formavam com o boom dos divórcios e para a multiplicação de mulheres que vislumbraram um destino além daquele de meras donas de casa. Por se tratar de um projeto tão íntimo para Mike Mills, acaba havendo em “Mulheres do Século 20” certa superficialidade nos atritos entre mãe e filho, talvez por serem tão ratificados no curso do filme. Em contrapartida, existe um cuidado e carinho na construção de indivíduos que se atraem justamente por terem poucas coisas em comum. Paulatinamente, Jamie, um garoto em progresso, vai constituindo a sua própria personalidade com o processo de troca sempre enriquecedor com pessoas mais maduras, ainda que não seja o único a experimentá-lo, como se testemunha quando outros laços se estreitam, como o de Dorothea com William ou deste com Abbie. Por essas interações, as inevitáveis rupturas do desfecho, acompanhadas bela música de Roger Neill, tornam-se tão comoventes quanto uma última despedida.

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    Galeria F documenta época trágica, quando presos políticos eram condenados à morte no Brasil

    14 de abril de 2017 /

    Num tempo em que a insanidade e a ignorância de alguns pretende trazer de volta os militares ao poder, é muito importante não esquecer o que foi o período de trevas da ditadura militar brasileira (1964-1985). Muitas histórias já foram contadas pelo caminho documental, outras foram recriadas pela via da ficção, mas ainda há muito a desvendar. E a memória precisa ser estimulada, refrescada, para que não nos esqueçamos do que vivemos e não venhamos a cometer os mesmos erros. Os mais jovens precisam se informar sobre o que aconteceu naquele período, para poderem avaliar o que se passa hoje e para se posicionarem com clareza, já que há muita confusão e desinformação no ar. O documentário “Galeria F”, de Emília Silveira, reconstrói uma história muito relevante do período: a do preso político baiano Theodomiro Romero dos Santos, que desde os 14 anos de idade lutou combatendo a ditadura. Entrou para a luta armada atuando junto ao Partido Comunista Brasileiro Revolucionário. Aos 18 anos, foi capturado junto com outros companheiros e reagiu à prisão, matando um militar que tentava alvejar um dos militantes detidos na rua. Foi preso, sobreviveu às bárbaras torturas que sofreu ao longo de 9 anos de prisão, até que veio a anistia, que não foi ampla, geral e irrestrita, como se pretendia. Classificado como terrorista, ficou de fora da anistia, foi mantido preso, enquanto poucos permaneciam encarcerados, e foi ameaçado de morte. Mais do que isso, estava de fato condenado à morte, o primeiro da história republicana. A única alternativa seria fugir da prisão, o que, surpreendentemente, aconteceu em 1979, deixando a todos perplexos. Incluído aí o governador Antônio Carlos Magalhães, que se refere na TV a essa fuga e à busca que se empreendeu a partir de então. O filme de Emília Silveira, ela também uma ex-prisioneira política, refaz com o próprio Theodomiro, seu filho Guga e outros participantes daquele período, a incrível fuga, os lugares por onde ele passou, os refúgios, e como foi possível ludibriar desde os carcereiros da prisão a toda a estrutura policial militar do cerco à sua recaptura. É um belo trabalho documental, cheio de humanidade, que não se alimenta de ódio nem de vingança, mas da retomada de um período histórico brasileiro que não pode ser esquecido, com os elementos emocionais que estão envolvidos na vida das pessoas. Por exemplo, o filho Guga, com o documentário, pôde finalmente conhecer a verdadeira história do pai. E a galeria F, onde fica a cela que abrigou o prisioneiro político por muitos anos, acaba sendo a testemunha de uma época trágica, que ainda estamos buscando superar definitivamente. Será possível?

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  • Filme

    A Vigilante do Amanhã é, acima de tudo, um espetáculo sensorial

    31 de março de 2017 /

    Com a tecnologia avançando ao ponto de viabilizar a fabricação de robôs com capacidade de obedecer a muito mais que uma dúzia de comandos, a diferença entre a realidade e as projeções da ficção científica é cada vez mais menor. Baseado tanto no mangá de 1989 de Masamune Shirow quanto no anime de 1995, “A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell” trata essencialmente dessa questão, ambientando a sua história em um futuro indeterminado, mas já menos distante em 2017. Interpretada por Scarlett Johansson (“Os Vingadores”), a protagonista Major é a primeira de sua espécie, com uma anatomia inteiramente robótica denominada “concha”, capaz de abrigar o “espírito” de um ser humano. Ou melhor, o cérebro de uma jovem que teria sido vítima de uma explosão terrorista e que recebe uma segunda chance para servir a um propósito maior. Integrada a uma equipe policial cibernética (Seção 9), ela ganha um parceiro, Batou (o dinamarquês Pilou Asbæk, da série “Os Borgias”), a supervisão de Aramaki (o japonês Takeshi Kitano, de “Zatoichi”, que não se presta a falar em inglês), e uma missão para interromper os crimes cibernéticos de Kuze (Michael Pitt, da série “Boardwalk Empire”), que estaria se infiltrando como um hacker na consciência de humanos com ciber-cérebros. Porém, essa caçada a reconecta com o seu eu anterior, que desconhecia por ter ficado apenas com fragmentos de memórias. Diretor de “Branca de Neve e o Caçador” (2012), que tinha nos visuais o maior atrativo, o inglês Rupert Sanders prova que é dono de um senso estético arrojado, ao materializar os cenários futurísticos do mangá ao estilo de “Blade Runner” (1982). Além da imaginação para apontar abismos sociais, dos edifícios periféricos aglutinados à uma metrópole tomada por hologramas gigantes, impressiona a caracterização de personagens, como as gueixas robôs que cometem um ataque terrorista. É tudo muito bonito, ainda que este deslumbre visual seja por vezes comprometido por um excesso de profundidade de campo, que borra a cenografia digital. Mas o bombardeio sensorial de efeitos vertiginosos não substitui o fator humano, tão importante em premissas como a de “A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell”. Nem a “controvertida” escalação de Scarlett Johansson em papel originalmente japonês traz prejuízos, uma vez que a produção optou por um elenco essencialmente globalizado (com destaque para a francesa Juliette Binoche, de “Acima das Nuvens”, e a romena Anamaria Marinca, de “Corações de Ferro”, em um papel que merecia ser mais amplo), apresentando um mundo cosmopolita, étnica e culturalmente integrado, que reflete o contexto da história.

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